"Cristina", ele disse, sua voz perigosamente baixa, cada sílaba esculpida em gelo. "O que você está fazendo? Causando problemas de novo?" Ele voltou sua atenção para meus amigos, sua expressão endurecendo. "E vocês", ele se dirigiu aos meus corajosos e perplexos amigos, "Deveriam saber que não devem se associar com alguém tão... perturbadora."
Meu sangue gelou. Perturbadora? Eu estava tentando proteger meus amigos de sua noiva bêbada e manipuladora.
"Perturbadora?", ecoei, uma risada amarga escapando de meus lábios. "Ela está assediando meus amigos, Heitor! Ela está bêbada e fora de controle!"
Kênia, ouvindo a comoção, se soltou dos meus amigos e tropeçou em direção a Heitor, seu rosto uma máscara de lágrimas teatrais. "Ela está mentindo, Heitor! Ela sempre teve ciúmes! Ela está tentando virar todo mundo contra mim, como sempre faz!" Ela agarrou o braço dele, enterrando o rosto em seu ombro.
Heitor, sem um momento de hesitação, envolveu-a com um braço, puxando-a para perto. Ele me fuzilou com o olhar, seus olhos ardendo com uma raiva feroz e protetora. "Veja o que você fez, Cristina?", ele rosnou, sua voz um grunhido baixo. "Você a aborreceu. Você a aborreceu deliberadamente." Ele se virou de volta para meus amigos, sua voz alta o suficiente para que todos na sala ouvissem. "Qualquer um associado a Cristina Mendonça enfrentará as consequências."
Meus amigos se encolheram, seus rostos empalidecendo. Eles conheciam o alcance de Heitor, seu poder.
"Não!", gritei, dando um passo à frente. "Não se atreva a ameaçar meus amigos!"
Heitor me ignorou, completamente focado em acalmar Kênia. Ele a conduziu para fora da sala VIP, seus soluços abafados ecoando no silêncio repentino. Ao passar, ele deu um aceno seco para seus seguranças. "Cuidem deles", ele ordenou, sua voz desprovida de emoção. "Ensinem-lhes uma lição sobre lealdade."
Os seguranças, enormes e inflexíveis, deram um passo à frente. Meus amigos, por mais corajosos que fossem, pareciam aterrorizados. Eles sabiam que eram impotentes contra o poder de Heitor Mendonça.
"Não!", gritei, lançando-me na frente de Sara. "Vocês não vão tocar neles!"
Um dos seguranças, um homem corpulento chamado Bruto, aproximou-se. "Sra. Mendonça", ele disse, sua voz surpreendentemente gentil, mas seus olhos eram firmes. "A senhora conhece o Sr. Heitor. Quando ele dá uma ordem, ela é cumprida. Especialmente quando se trata do conforto da Srta. Hewitt. Ele não hesitará em arruiná-los. Financeiramente. Socialmente. Completamente."
Uma onda de raiva impotente me invadiu. Lembrei-me de suas palavras frias, de sua dispensa casual. Seu poder era absoluto. Ele não piscaria. Ele esmagaria meus amigos sem pensar duas vezes, apenas para apaziguar Kênia. Meu coração se contraiu com uma percepção horrível: eu era impotente. Meu corpo ainda estava quebrado, meu espírito gravemente ferido. Eu não podia lutar contra ele. Mas eu tinha que proteger meus amigos.
Um pensamento desesperado e agonizante se formou em minha mente. Havia apenas uma maneira. Uma maneira de detê-lo.
Meus olhos percorreram a sala. Meu olhar pousou em um vaso de cristal ornamentado em uma mesa próxima. Minha mão disparou, agarrando-o.
"Parem!", gritei, minha voz ressoando com uma determinação recém-descoberta e desesperada. "Não toquem neles!"
Antes que alguém pudesse reagir, eu bati o vaso com toda a minha força em meu próprio pulso estendido. Um estalo doentio ecoou pela sala. Uma dor aguda e lancinante subiu pelo meu braço, fazendo-me ofegar. O sangue floresceu rapidamente em minha manga, encharcando o tecido. O vaso de cristal se estilhaçou, cacos se espalhando pelo chão.
"Cristina!", Sara gritou, correndo para frente, seu rosto contorcido de horror. Meus outros amigos ofegaram, seus olhos arregalados de choque.
Minha visão nadou, mas me forcei a permanecer consciente. "Diga a Heitor", ofeguei, agarrando meu pulso latejante, a dor fazendo minha cabeça girar. "Diga a ele que fui eu. Sou eu quem precisa ser punida. Não eles." Olhei para os seguranças, meus olhos ardendo apesar da agonia. "Esta é a minha penalidade. Deixem-nos em paz."
Os seguranças trocaram olhares inquietos. Eles estavam claramente surpresos com meu ato súbito e brutal de automutilação. Meus amigos, com lágrimas escorrendo por seus rostos, tentaram estancar o sangramento, suas mãos tremendo.
"Cristina, por quê? Por que você faria isso?", Sara sussurrou, sua voz quebrada.
Forcei um sorriso fraco. "Está tudo bem, Sara. É apenas um osso quebrado. Vai sarar. Vocês estão seguros."
Horácio gentilmente pegou meu braço. "Precisamos levá-la para um hospital, agora!", ele instou os outros. Eles me ajudaram a levantar, apoiando meu corpo trêmulo.
Enquanto tropeçávamos em direção à saída, um novo som cortou o ar. Um grito furioso vindo do andar de cima. Não era a voz de Heitor. Era a de Kênia, aguda e histérica.
Minha cabeça se ergueu bruscamente. Olhei para a grande varanda com vista para o salão principal. E lá estava ela. Kênia. Cambaleando precariamente no parapeito, uma garrafa de champanhe na mão, o rosto distorcido em uma fúria bêbada.
"Heitor! Você não me ama!", ela gritou, sua voz ecoando pelo salão silencioso. "Você simplesmente não ama! Você só se importa com seus negócios estúpidos! Eu vou pular! Juro que vou pular!"
Heitor, que estava a meio caminho da porta, correu de volta, o rosto uma máscara de pânico. "Kênia! Não! Não seja tola! Desça daí!" Ele estendeu a mão, sua voz carregada de um desespero frenético que eu nunca tinha ouvido antes. "Meu amor, eu te prometo, eu te amo. Mais do que tudo. Eu te darei tudo o que você quiser. Apenas se afaste do parapeito!"
Eu assisti, entorpecida de incredulidade. O homem que me ordenou friamente que me ajoelhasse, que me deixou para morrer, agora estava implorando, rastejando, por essa rainha do drama manipuladora. O absurdo de tudo aquilo era doentio. Meu sacrifício, minha dor, tudo parecia totalmente sem sentido diante de sua devoção cega a ela.
Assim que Heitor alcançou a varanda, Kênia balançou. Seu pé escorregou no mármore polido. Um suspiro coletivo subiu dos espectadores. Ela soltou um grito agudo, seu corpo caindo sobre o parapeito.
"Não!", Heitor rugiu.
Meus amigos e eu estávamos prestes a sair pela porta principal, tentando me proteger, quando aconteceu. Com um baque doentio, Kênia aterrissou. Não no chão de mármore duro.
Ela aterrissou diretamente em mim.
Uma dor branca e quente explodiu através do meu corpo já ferido. Meu pulso quebrado gritou em agonia. Minhas costelas, ainda em recuperação, estalaram sob o impacto. O ar foi arrancado dos meus pulmões. Desabei no chão, o corpo de Kênia um peso morto sobre mim.
"Kênia!", a voz de Heitor era um grito frenético. Ele desceu as escadas correndo, abrindo caminho pela multidão atônita. Ele nos alcançou, seus olhos arregalados de terror. Ele nem sequer olhou para o meu rosto, torcido em agonia sob Kênia. Ele cuidadosamente levantou o corpo mole dela do meu, aninhando-a perto.
"Meu amor, meu amor, você está bem?", ele sussurrou, sua voz grossa de preocupação avassaladora, seus olhos examinando-a em busca de qualquer ferimento.
Ele não olhou para mim. Nenhuma vez. Ele segurou Kênia perto, a cabeça dela balançando contra seu ombro, e sem outra palavra, sem um olhar para trás, ele se virou e saiu correndo da boate, deixando-me um monte quebrado no chão, meu sangue se misturando com o cristal estilhaçado.