Sentei-me no escuro, a luz azul fria do meu laptop iluminando meu rosto.
Eu observei.
Observei Sofia repreender as empregadas no momento em que Alexandre virava as costas. Observei-a vasculhar os arquivos particulares de Alexandre com facilidade praticada.
Recusei-me a ser a esposa cega por mais tempo.
A porta do meu quarto se abriu com violência.
Alexandre entrou. Ele não bateu. Parecia furioso, sua presença sugando instantaneamente o ar do quarto.
"Você está se escondendo aqui há dias," ele estalou, afrouxando a gravata. "Pare de ser tão dramática."
Ele se aproximou e fechou meu laptop com um baque. Ele não viu o que estava na tela, e eu não vacilei.
"Vista-se," ele disse. "Temos um jantar com a família Rossi esta noite."
"Não," eu disse.
Ele congelou. "O que você disse?"
"Eu disse não." Levantei-me. Eu usava nada além de um robe de seda, mas me sentia como se estivesse vestida com uma armadura. "Não vou a lugar nenhum com você."
Ele se aproximou, pairando sobre mim. Ele usava sua altura para intimidar. Costumava funcionar, quando eu me importava.
"Você é minha esposa," ele rosnou. "Você faz o que eu digo."
"E ela?" Apontei para a porta. "O que ela é?"
"Sofia é da família," ele disse automaticamente.
"Ela não é sua irmã, Alexandre," eu disse, minha voz baixa e perigosa. "Eu verifiquei. Os pais dela estão vivos em Nova Jersey. Ela deve três milhões ao Cartel. Ela não é um cordeiro perdido. Ela é uma vigarista."
O rosto de Alexandre ficou rígido. A cor drenou de suas bochechas, deixando-o pálido.
Ele ficou em silêncio por um longo tempo, o ar entre nós vibrando com tensão.
"Eu sei," ele disse finalmente.
A admissão me atingiu como um golpe físico.
"Você sabe?" eu sussurrei.
"Eu sei que ela não é quem diz ser," ele disse, sua voz de repente desafiadora. "Mas ela precisa de mim. Ela... ela me dá algo que você não pode."
"O quê?" Eu ri, um som áspero e irregular. "Mentiras? Caos?"
"Calor," ele disse. "Ela precisa que eu a salve. Você... você não precisa de ninguém, Catarina. Você é perfeita. Você é uma estátua. Ela me faz sentir humano."
Olhei para ele com absoluto nojo.
Ele estava escolhendo uma donzela em perigo em vez de uma parceira porque seu ego precisava ser alimentado. Ele queria tanto ser um herói que estava disposto a ser um tolo.
"Você é patético," eu disse.
Seu telefone vibrou.
Ele olhou para a tela, e seu rosto se suavizou instantaneamente.
"Eu tenho que ir," ele disse. "Sofia precisa de mim."
Ele se virou para sair. Na mesa perto da porta, havia uma caixa de veludo. Ele a trouxera consigo.
"Use isto esta noite," ele disse por cima do ombro. "Pare de fazer beicinho."
Ele saiu.
Abri a caixa. Era uma pulseira de diamantes. Cara. Genérica. Um presente para "calar a boca".
Fui até a lixeira e a joguei dentro.
Eu não ia ao jantar. Mas eu ia à Gala de Caridade na próxima semana.
Voltei para o meu laptop e reabri a tampa. Abri o arquivo de vídeo que acabara de gravar da câmera do escritório uma hora atrás.
Era uma conversa entre Sofia e seu "irmão" Rico.
Conectei um pen drive criptografado.
Arrastei o arquivo.
A barra de progresso se moveu lentamente. 10%... 50%... 100%.
Retirei o pen drive e fechei o punho em torno dele. O metal frio mordeu minha palma.
Alexandre queria calor? Eu ia queimar o mundo dele até o chão.
O jogo estava armado. E desta vez, era eu quem segurava o rei.