A Avó De Melo. A mulher que me desprezava por minhas "origens comuns" , sem saber que eu era a herdeira secreta do Grupo Amaro. Ela sempre me viu como uma oportunista, uma intrusa. E agora, ela estava prestes a me humilhar novamente, e, pior, a Liz.
Ela desprezava Liz, assim como desprezava a mim. Liz, a filha inocente, o peão involuntário nos jogos de poder dos adultos. Seus olhares e comentários maliciosos tinham contaminado toda a casa. Até as empregadas me olhavam com escárnio.
Eu peguei a mão de Liz, que estava meio sonolenta, e a levei para a sala principal. O lugar estava cheio. Todos os membros importantes da família De Melo estavam lá, com seus rostos sérios e olhares curiosos. E então, eu os vi. Rodolfo e Susana, de pé, lado a lado. Susana estava radiante, com um sorriso vitorioso no rosto. Rodolfo estava segurando a mão de Susana, e seus olhos estavam cheios de ternura enquanto ele olhava para a barriga dela.
A Avó De Melo se levantou, um sorriso satisfeito em seus lábios.
"Amigos e família, temos uma grande notícia! Susana está grávida! Nosso herdeiro está a caminho!"
Um burburinho excitado percorreu a sala. A Avó De Melo continuou.
"E com esta boa nova, é com grande alegria que anuncio que Rodolfo De Melo assumirá o controle da construtora Império De Melo! Ele provou ser digno de nosso legado!"
Meu coração afundou. Era isso então. O preço do poder. A minha humilhação.
"E em breve, marcaremos a data para a união de Rodolfo e Susana, para que nosso herdeiro nasça em uma família unida e forte!"
Eu olhei para Rodolfo. Ele estava sorrindo, um sorriso tão genuíno que me rasgou por dentro. Ele olhou para Susana, acariciando a barriga dela.
"Eu mal posso esperar para ser pai" , ele disse, a voz cheia de emoção.
Liz, que até então estava em silêncio, levantou a cabeça e perguntou, a voz infantil ecoando na sala. "Papai? Você já é meu pai, não é?"
Todos os olhos se voltaram para nós. A Avó De Melo franziu a testa, o sorriso desaparecendo. Sussurros começaram a circular.
"Uma bastarda," alguém murmurou.
"A mãe dela é uma vergonha," outro disse.
A Avó De Melo, com um olhar de desprezo, falou. "Sugiro que a criança seja declarada órfã. Será melhor para a reputação da família."
Aquela mulher. Ela sempre me odiou. Sempre desprezou Liz. Agora, ela queria apagar a existência da minha filha. Por que ela faria isso? Porque o filho de Susana havia chegado. Liz não era mais necessária.
Rodolfo soltou a mão de Susana. Ele deu um passo em nossa direção, a testa franzida.
"Vovó, isso não é... um pouco demais?" Ele tentou se aproximar, mas Susana o segurou pelo braço. O sorriso cínico em seu rosto era um soco no estômago.
Eu entendi tudo. Não era apenas sobre poder. Era sobre eliminar qualquer vestígio de mim, de Liz. Era sobre a vitória dela.
Eu apertei a mão de Liz. O fogo acendeu dentro de mim.
Caminhei até a Avó De Melo, arrastando Liz comigo.
"Você quer que ela seja uma órfã? Você quer apagar a existência dela?" Minha voz estava fria como gelo, mas tremia. "Tudo bem. Ela não terá mais o sobrenome De Melo. Ela não é sua. Ela não é dele." Eu apontei para Rodolfo.
"Ela será a herdeira mais respeitada da minha família. Ela será o que vocês nunca serão."
Eu me ajoelhei diante de Liz, olhando em seus olhos marejados.
"Minha pequena guerreira. Ele não é mais seu pai. Você não pode mais chamá-lo de papai. Você entende?"
Liz balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo. Rodolfo estava pálido. Ele olhou para mim, os olhos cheios de culpa. Ele não encontrou nada em meus olhos, exceto um vazio frio. Ele sabia que eu estava falando sério.
Liz soluçou, o rosto vermelho. Eu a levantei e a abracei com força. Precisávamos sair dali.
"Espere, Beatriz." A voz de Susana soou atrás de mim. "Você não vai embora assim."
Ela se aproximou, o sorriso sínico.
"Estou sentindo umas dores. E parece que minha Turmalina Paraíba está me faltando. Aquela que Rodolfo tanto procurou para mim." Ela olhou para mim, os olhos cheios de malícia.
"Acho que você tem o colar, não é? O colar que Rodolfo nunca me deu. O que você acha, Beatriz? Você vai me dar?"