Ela me puxou pela mão, a pequena voz cheia de excitação, tagarelando sobre os presentes que Rodolfo poderia ter comprado, sobre a festa que ele deve ter planejado. Ela estava tão feliz, tão inocente.
Quando chegamos à grande sala principal, meu coração afundou. Não havia balões. Não havia decorações de festa infantil. Em vez disso, a sala estava decorada com flores brancas e rendas finas. Uma enorme mesa de doces e um bolo de casamento de três andares estavam no centro.
Não era para Liz. Era uma festa de noivado. Uma festa de noivado para Rodolfo e Susana.
Liz não percebeu. Ela viu o bolo. Seus olhos brilharam. Ela soltou minha mão e correu em direção a Rodolfo, que estava perto do bolo, ao lado de Susana.
"Papai! Papai! Você veio! Você se lembrou!" Ela gritou, correndo para ele.
Rodolfo olhou para Liz, e seus olhos se arregalaram de surpresa.
"Liz? O que você está fazendo aqui?" Ele perguntou, a voz áspera.
Meu sangue gelou. Minhas piores suspeitas haviam se confirmado. Não era para Liz. Nunca foi para Liz.
O burburinho na sala começou.
"Noivado? Mas ele já é casado?" Uma mulher sussurrou.
"Não, ele nunca casou. Essa garota é a filha bastarda dele." Outra respondeu.
"Que vergonha!"
Rodolfo estava pálido. Ele olhou para Liz, e uma expressão de raiva tomou conta de seu rosto. Ele a empurrou.
"Liz, eu não sou seu pai! Pare de me chamar assim!"
Liz cambaleou para trás, caindo no chão. As lágrimas escorriam por seu rosto.
"Tio... tio Rodolfo..." Ela sussurrou, a voz embargada.
Ela viu o bolo. Seus olhos se arregalaram novamente.
"Oh, tio Rodolfo! Este bolo é para a minha festa de aniversário? Você se lembrou! Vamos cortar juntos!" Ela se levantou, os olhos cheios de esperança, ignorando a dor. Ela só queria que ele estivesse lá. Ela só queria celebrar com ele.
Uma mão delicada segurou o braço de Rodolfo. Era Susana.
"Rodolfo, querido, não se preocupe. Ela está apenas confusa. Crianças órfãs costumam ser assim." Ela olhou para Liz com desdém. "Este bolo não é para a sua festa, criança. É para o meu noivado com o seu 'tio Rodolfo' ."
Meu sangue ferveu. Eu entendi tudo. Não foi Rodolfo quem me mandou a mensagem. Foi Susana. Ela queria me humilhar. Ela queria humilhar minha filha. Ela queria garantir que todos soubessem que Liz não era nada para Rodolfo.
Eu dei um passo à frente, meus punhos cerrados.
"Rodolfo! Como você pôde?" Minha voz estava um rugido.
Ele se encolheu, os olhos cheios de culpa. Ele não conseguiu me encarar.
"Eles são só... crianças. Ela é a filha do meu irmão, Beatriz."
Susana sorriu vitoriosa atrás dele.
Os murmúrios aumentaram.
"Ela está estragando a festa!" Alguém gritou.
"Gente de má índole não sabe se comportar!" Outro disse.
Liz estava pálida, os olhos vermelhos. Ela não aguentava mais. A dor em seu rosto era insuportável.
Eu não aguentei mais. Minha raiva explodiu.
Eu caminhei até o bolo de casamento e, com um grito, o empurrei. O bolo caiu no chão com um baque pesado, espalhando creme e massa por todo o tapete.
"Vocês querem uma festa?" Eu gritei. "Então vamos ter uma festa como nunca antes!"