- Jade? O que há de errado? - Ricardo imediatamente me esqueceu, sua atenção se voltando para ela. Sua voz, momentos atrás cheia de fria irritação por mim, agora estava carregada de genuína preocupação por ela. - Você está bem? Você parece pálida.
- Talvez... talvez eu devesse ir embora - sussurrou Jade, sua voz fraca e frágil. - Não quero causar mais problemas. Talvez eu seja apenas um fardo. - Ela fez um show de tentar se afastar, fingindo relutância.
- Não! Não seja ridícula, Jade! - Ricardo agarrou seu braço, puxando-a de volta para ele. Seus olhos, agora arregalados de pânico, dispararam para mim, um flash de acusação em suas profundezas. Ele me culpou. Ele sempre culparia. - Você não vai a lugar nenhum. Você precisa descansar. Deixe-me levá-la para cima.
Ele colocou o braço em volta dela, apoiando-a enquanto ela se apoiava pesadamente nele, sua performance digna de um Oscar. Enquanto ele a levava embora, Jade olhou por cima do ombro, um sorriso presunçoso e triunfante brevemente enfeitando seus lábios antes de enterrar o rosto no peito de Ricardo.
Eu fiquei lá, abandonada mais uma vez, o pingente de diamante ainda brilhando zombeteiramente em sua caixa aberta. Meu corpo, exausto pela turbulência emocional, cedeu. A angústia emocional era tão profunda que se manifestava fisicamente, uma dor surda se espalhando pelo meu peito, dificultando a respiração. Era isso. A prova final e inegável. Nosso casamento era uma casca vazia, eu era um objeto inconveniente descartado, e ele estava completa e irrevogavelmente perdido para ela.
O sorriso sutil de Jade, a maneira como ela se agarrava a ele, a maneira como ele a mimava - era um espetáculo brutal, projetado para me quebrar. E por um momento, quase conseguiu. Mas então, um brilho de algo novo se acendeu dentro de mim. Uma chama fria e constante.
Eles saíram de vista, me deixando sozinha no vasto e ecoante corredor. Fechei os olhos, respirando fundo e tremendo. Quando os abri, os últimos vestígios de amor, de esperança, haviam se extinguido. Minha voz, quando falei, era baixa, mas ressoava com uma força nova e inabalável.
- Ricardo! - chamei, minha voz cortando o silêncio.
Ele parou, virando-se, uma pitada de irritação já retornando ao seu rosto.
- O que foi, Helena? A Jade não está se sentindo bem. Isso pode esperar.
- Não - eu disse, minha voz ganhando força. - Não pode. Vamos nos divorciar.
Seu rosto, que estava se suavizando com preocupação por Jade, instantaneamente se contorceu. A máscara terna evaporou, revelando raiva pura e não adulterada. Seus olhos, geralmente tão calculistas, brilharam com uma fúria inesperada.
- O que você disse? - ele rosnou, dando um passo em minha direção, seu maxilar cerrado.
- Eu disse, vamos nos divorciar - repeti, encontrando seu olhar furioso sem vacilar. - Eu quero sair. De você, desta casa, de toda essa farsa.
Ele zombou, um som áspero e incrédulo.
- Não seja ridícula, Helena. Você não vai a lugar nenhum. Você não consegue nem ficar de pé sozinha, muito menos me deixar. - Ele deu outro passo, pairando sobre mim, sua presença ameaçadora. - Não se esqueça de quem você é. Não se esqueça do que você é. Você é minha esposa. E você vai continuar sendo minha esposa.
- Eu sei exatamente quem eu sou, Ricardo - eu disse, minha voz fria e firme. - E eu sei quem você é. Um mentiroso. Um manipulador. Um homem que drogou sua esposa e encobriu um atropelamento e fuga para proteger seu verdadeiro amor, a filha do homem que me aleijou. - Cada palavra era um golpe preciso e calculado, projetado para atingi-lo onde doía. - Você sabotou minha recuperação, me fez acreditar que me amava, tudo isso enquanto conspirava com ela. Não se atreva a negar. Eu ouvi você.
Seu rosto ficou pálido. Pela primeira vez, vi um medo genuíno brilhar em seus olhos. Ele tropeçou para trás, sua bravata momentaneamente esvaziada.
- Isso não é verdade, Helena! Você está delirando! Você está imaginando coisas! - ele gaguejou, sua voz carregada de uma negação desesperada. - Eu fiz isso por nós! Pelo nosso futuro! Eu só queria que você ficasse confortável, que descansasse, que me deixasse cuidar de você.
Meu coração, ou o que restava dele, se torceu em um novo espasmo de dor. Sua negação era tão transparente, tão patética. A pura audácia de suas mentiras, mesmo agora.
- Confortável? - ecoei, minha voz quebrando. - Você quer dizer presa. Sedada. Uma prisioneira em minha própria casa. Você me queria fora do caminho, Ricardo. Admita. Você é um monstro.
- Como ousa! - ele rugiu, seu rosto se contorcendo com fúria renovada. Ele avançou, agarrando os apoios de braço da minha cadeira de rodas, sacudindo-a violentamente. Seu rosto estava a centímetros do meu, seu hálito quente na minha pele. - Você acha que pode simplesmente ir embora? Depois de tudo que eu fiz por você? Quem cuidaria de você? Quem quereria uma mulher quebrada e aleijada? - Suas palavras estavam carregadas de veneno, destinadas a devastar, a me lembrar de minha vulnerabilidade. - Você é inútil, Helena! Sem mim, você não é nada!
As palavras, brutais e cruéis, me cortaram. Elas foram feitas para me envergonhar, para me quebrar, para me lembrar das limitações físicas que definiram minha vida por tanto tempo. Mas em vez de desespero, uma raiva fria e feroz surgiu em mim. Ele havia usado minha deficiência como arma, zombado da minha dor. Ele queria que eu fosse impotente. Ele queria que eu acreditasse em suas mentiras.
Mas ele estava errado.
Encontrei seu olhar furioso, meus próprios olhos agora brilhando com um fogo silencioso. Ele pensou que me havia quebrado. Ele pensou que havia vencido. Ele aprenderia o verdadeiro significado da fúria de uma mulher quebrada.
- Eu não sou inútil, Ricardo - eu disse, minha voz baixa e firme, embora meu corpo ainda tremesse por sua agressão. - E eu vou embora. E vou garantir que você se arrependa de cada palavra que acabou de proferir.
Antes que ele pudesse responder, um grito agudo ecoou do andar de cima, seguido por uma série de passos apressados.
- Ricardo! Minha cabeça! Está muito pior! - A voz de Jade, estridente e frenética, perfurou o silêncio tenso.
O rosto de Ricardo, ainda contorcido de raiva, imediatamente se suavizou, substituído por uma preocupação em pânico. Seu aperto em minha cadeira de rodas afrouxou. Sem outra palavra, ele se virou e correu escada acima, me deixando mais uma vez. Ele a havia escolhido. Todas as vezes. Ele sempre escolheria.
- Ricardo! Rápido! - gritou Jade, sua voz desesperada, sua performance ainda em pleno andamento. - Acho que vou desmaiar!