Meu estômago despencou. Uma acusação falsa. Claro.
- O quê? - A voz de Ricardo rugiu, carregada de incredulidade e fúria. Ele desceu as escadas, seus olhos brilhando com uma luz perigosa. Jade estava agarrada a ele, a cabeça enterrada em seu peito, fazendo sons suaves e chorosos. - Helena! Como ousa! Você a empurrou? Ela está grávida, Helena! Você está tentando machucá-la? Machucar nosso bebê?
Nosso bebê. As palavras me atingiram como um golpe físico. O bebê sobre o qual eu não sabia, o bebê que ele não me contou, o bebê que ele compartilhava com ela.
- Eu não a toquei! - gritei, minha voz crua de choque e indignação. - Ela está mentindo! Ela quebrou minha bengala, me atormentou, confessou tudo! - Meu coração batia forte, um pássaro frenético preso no meu peito. - Ricardo, por favor, você tem que acreditar em mim!
Ele ignorou meu apelo, seu rosto contorcido de nojo. Ele avançou em minha direção, seus olhos cheios de um ódio aterrorizante.
- Acreditar em você? Você é uma mulher amarga e ciumenta, Helena! Você está doente! Você não passa de uma inválida cruel e manipuladora que ataca qualquer um que represente uma ameaça! - Ele agarrou meu braço, seu aperto machucando, e arrastou minha cadeira de rodas para mais longe no corredor. - Você não deve falar com a Jade. Você não deve nem olhar para ela! Ela está carregando nosso filho, e eu não vou deixar você machucá-la, sua inútil e quebrada perda de espaço!
- Ricardo, por favor! - solucei, lágrimas finalmente escorrendo pelo meu rosto. - Você está errado! Ela está mentindo! Ela é um monstro!
- Silêncio! - ele berrou, sua voz ecoando no grande corredor. Ele me deu um tapa no rosto, um golpe agudo e ardente que fez minha cabeça virar. Meus ouvidos zumbiram. - Você não vai falar com ela assim! Você não vai falar nada! Você não passa de um fardo, uma lembrança de uma vida que eu nunca quis! - Ele apontou um dedo trêmulo para minhas pernas inúteis. - Olhe para si mesma, Helena! Você é metade de uma mulher! Que tipo de mãe você seria? Você mal consegue cuidar de si mesma!
Ele se virou rapidamente, puxando Jade para perto, sussurrando garantias para ela. Jade, seus olhos ainda vermelhos de suas lágrimas falsas, encontrou meu olhar por cima do ombro de Ricardo. Um sorriso triunfante e venenoso se espalhou por seu rosto. Então, com um movimento súbito e vicioso, ela esticou o pé, varrendo-o sob as rodas da minha cadeira.
Gritei quando a cadeira virou, me jogando no chão de mármore polido. Uma dor cegante atravessou minha cabeça quando ela atingiu a superfície dura. Meu corpo, já frágil, gritou em protesto. Uma cãibra aguda e agonizante tomou meu abdômen, um terror frio me dominando.
- Não! - gritei, agarrando meu estômago. - O bebê! Meu bebê!
Jade ofegou, seus olhos arregalados com uma mistura de medo e algo parecido com choque. As lágrimas falsas que haviam sido tão convincentes momentos atrás foram subitamente substituídas por um alarme genuíno. Ela tinha ido longe demais.
Ricardo, distraído por seu súbito ofego, olhou para mim, seus olhos momentaneamente suavizados com um brilho do que poderia ter sido preocupação. Mas foi rapidamente substituído por uma raiva fria e dura.
- Helena! O que você está fazendo agora? Fingindo dor? Qualquer coisa por atenção! - ele cuspiu, sua voz carregada de nojo. - Jade, meu amor, você está bem? Não deixe que ela te afete. Ela só está tentando te perturbar. - Ele envolveu o braço em volta de Jade, puxando-a para longe de mim, em direção à porta da frente. - Estamos saindo. Vou te levar ao médico. Você precisa ser examinada. Aquela mulher é louca.
- Ricardo, não! Por favor! Meu bebê! - implorei, minha voz rouca, desesperada. A dor no meu estômago estava se intensificando, uma agonia profunda e torturante. - Não me deixe!
Ele parou na porta, a mão na maçaneta. Ele se virou, seu olhar frio, desprovido de qualquer calor.
- Você é patética, Helena. Você é veneno. Cansei de você. Fique aí e apodreça. - Ele olhou para Jade. - Vamos, meu amor. Vamos embora.
Enquanto ele a levava para fora, ouvi a voz de Jade, fraca mas clara, um sussurro triunfante levado pelo vento.
- Adeus, Helena. Aproveite sua pequena prisão.
Então, a porta bateu, mergulhando a casa no silêncio. A dor no meu abdômen se intensificou, um fogo ardente. Tentei me mover, chamar por ajuda, mas meu corpo se recusou a obedecer. Uma onda escura me invadiu, o mundo girando, depois desaparecendo no preto.
Acordei com o cheiro estéril de antisséptico e o bipe abafado das máquinas. Minha cabeça latejava, e uma dor surda ressoava por todo o meu corpo, um lembrete constante da queda. Eu estava em uma cama de hospital, os lençóis brancos e crispados um contraste gritante com o caos avassalador em minha mente. Os sons estavam abafados, minha visão embaçada, meus sentidos sobrecarregados.
Maria, com o rosto manchado de lágrimas, estava sentada ao lado da minha cama. Ela imediatamente pegou minha mão, seu aperto trêmulo.
- Oh, Sra. Monteiro! Você está acordada! Graças a Deus! - ela soluçou, sua voz crua de emoção. - Eu a encontrei... depois que eles saíram. Você estava inconsciente. Chamei a ambulância imediatamente.
- Ricardo... o bebê... - sussurrei, minha voz fraca e rouca. Minha garganta estava seca, meu coração batendo com um pavor terrível.
Maria balançou a cabeça, seu rosto gravado de tristeza.
- Ele não atendeu o telefone, Sra. Monteiro. Tentei ligar para ele, mas ele nunca atendeu. Eu até liguei para o hospital onde a Srta. Jade estava. Eles apenas disseram que o Sr. Ricardo deixou claro que não queria nada a ver com seus cuidados. Que você 'não era mais responsabilidade dele'.
As palavras foram uma nova facada, torcendo na ferida crua do meu abandono. Lágrimas brotaram em meus olhos, um testemunho silencioso de sua crueldade. Meu peito se apertou, uma dor lancinante irradiando pelas minhas costelas. Ele realmente me descartou.
Nesse momento, um médico de rosto solene entrou no quarto, segurando uma prancheta. Ele olhou para mim com uma expressão sombria, depois para Maria.
- Sra. Monteiro, sou o Dr. Almeida. Receio ter notícias muito difíceis. - Ele fez uma pausa, seu olhar gentil mas firme. - Você sofreu uma queda grave. Fizemos tudo o que podíamos, mas... você teve um aborto espontâneo. Não conseguimos salvar o bebê.
O mundo parou. Minha respiração engasgou, um grito silencioso preso na minha garganta. Aborto espontâneo. Meu bebê. Se foi. As palavras ecoaram em minha mente, um toque de finados para minhas esperanças, para meu futuro, para a pequena centelha de vida que eu nem sabia que existia. Uma dor profunda e esmagadora me invadiu, tão profunda, tão absoluta, que roubou todas as outras sensações.
- Precisamos realizar um procedimento de curetagem, Sra. Monteiro - continuou o médico, sua voz suave mas insistente. - Para evitar complicações. Tentamos contatar seu marido, mas ele está inacessível. Você tem algum outro parente que possamos chamar?
Fechei os olhos, uma única lágrima traçando um caminho pela minha têmpora. Meu bebê. Nosso bebê. O bebê que eu queria, o bebê que eles roubaram.
- Não - sussurrei, minha voz desprovida de emoção. - Nenhum outro parente. Eu tomarei as decisões.
Meu coração, antes uma fonte de amor e luz, era agora uma cavidade fria e oca, preenchida apenas pelos ecos da perda e um desejo ardente e insaciável de retribuição. Meu bebê se foi. Meu amor foi estilhaçado. Minha vida, como eu a conhecia, acabou. Mas este não era o fim. Este era um começo. Um começo novo e aterrorizante, alimentado por veneno puro e não adulterado.