O Anel Que Nunca Foi Nosso
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Capítulo 2

(Carolina Girão POV)

O frio sempre foi o meu inimigo. Desde os cinco anos de idade, quando meus pais morreram. Eu ainda me lembro do dia em que a velha edição do jornal, com suas letras grandes e pretas, anunciava a tragédia. "Mãe mata pai e comete suicídio: Jovem órfã encontrada escondida no armário." Eles nunca souberam o quão profundamente aquelas palavras se gravariam na minha alma, nem o calafrio que elas me causariam sempre que o inverno chegasse.

Eu estava encolhida no armário, tremendo, não de frio, mas de medo, quando Miguel me encontrou. Seus braços fortes me tiraram daquele buraco escuro. Ele prometeu que nunca mais me deixaria sentir frio, que sempre me protegeria. E por um tempo, ele cumpriu.

Miguel me levou para sua casa, me criou como sua própria filha. Ele me mimava, me dava tudo o que eu queria. Mas a sombra daquele dia nunca me deixou. Eu tinha um medo terrível de ficar sozinha, de ser abandonada. Se Miguel estivesse fora, eu ficava em pânico. Só o som de sua voz ou o calor de seu toque podiam acalmar meu coração aterrorizado.

Ele me levava para o terraço nos dias claros, apontando para as estrelas. "Olha, Carolina," ele dizia, seus olhos brilhando como as próprias estrelas. "Aquela ali é sua estrela. Ela vai te proteger quando eu não puder." E ele me deu um anel com uma estrela lapidada, o anel que agora reluzia no dedo de Adriana.

Eu me joguei na cama, as lágrimas encharcando o travesseiro. Eu queria ver minha estrela, a que Miguel me deu. Mas o céu estava nublado, as estrelas escondidas, assim como as minhas esperanças.

O toque do meu celular me sobressaltou. Era o Dr. Fausto Oliveira.

"Carolina, o grupo de pesquisa precisa que você venha para um check-up completo. É a última etapa antes de iniciarmos o processo."

"Check-up?" Eu ri, um som amargo. "Eu não preciso de check-up, doutor. Eu estou morrendo, não se lembra?"

"É para aumentar suas chances de sobrevivência, Carolina. Precisamos ter certeza de que seu corpo está tão forte quanto possível para o processo." Ele disse, sua voz calma e profissional.

Eu suspirei. "Tudo bem. Eu irei."

Passei o dia inteiro na clínica, sendo examinada, testada, como uma amostra de laboratório. No final, o Dr. Oliveira me entregou uma pilha de documentos.

"Aqui estão as opções para o recipiente experimental. Dê uma olhada e me diga sua preferência."

Eu peguei os papéis, as palavras como "crio-preservação", "cápsula de estase", "congelamento profundo" e "caixão de gelo" saltando aos meus olhos. O termo "caixão de gelo" me causou um arrepio.

Eu voltei para casa à noite. As luzes da sala estavam acesas, e meu coração disparou. Miguel estava em casa. Apesar de tudo, uma parte de mim ainda ansiava por sua presença, por seu olhar. Eu o amava, mesmo que ele me odiasse.

Entrei na sala e o vi. Mas não estava sozinho. Adriana estava ali, em um de meus vestidos de seda, sentada no sofá, com os cabelos ainda úmidos do que eu imaginei ser um banho. Ela sorriu para mim, um sorriso que não alcançava seus olhos.

"Olha quem chegou, Miguel! A Carolina, bem a tempo para o jantar!" Ela se levantou, vindo em minha direção com um abraço forçado. "Eu estava com tanta saudade! O Miguel estava me contando sobre o nosso noivado. Ele está tão animado!"

Meu coração se apertou. Eu sabia. Eu já tinha visto a notícia.

"Você quer comer alguma coisa? Miguel está na cozinha, terminando de preparar um prato especial," Adriana continuou, com uma voz doce, mas seus olhos me desafiavam. Ela agia como a dona da casa, e eu era apenas uma convidada indesejada.

Eu balancei a cabeça. "Não, obrigada. Não estou com fome."

Enquanto eu falava, Miguel saiu da cozinha, com uma travessa fumegante nas mãos. Ele me olhou, e seus olhos estavam tão frios quanto o gelo.

"Carolina, eu e Adriana estamos noivos," ele disse, as palavras me atingindo como pedras. "Ela é a nova senhora desta casa. Espero que você a respeite como tal."

Eu baixei a cabeça, meus lábios em uma linha fina. "Eu entendo, Miguel. Felicidades."

Ele me olhou, surpreso pela minha calma. "É só isso?"

Adriana se aproximou de Miguel, enlaçando seu braço. "Não seja tão duro com ela, querido. Talvez ela esteja chocada demais para reagir." Ela sorriu para mim, um sorriso vitorioso. "Venha, Carolina. Junte-se a nós para o jantar."

Ela me puxou pelo braço, mas meus dedos escorregaram, e a pilha de documentos que eu segurava caiu no chão, espalhando-se. Todos os "caixões de gelo" e "cápsulas de estase" estavam ali, à vista de todos.

Miguel se abaixou para pegar um dos papéis. Seus olhos escanearam a página, e sua expressão ficou ainda mais escura. Ele levantou o olhar para mim.

"O que é isso, Carolina?" Sua voz era perigosamente baixa.

Meu coração martelava no peito. Eu precisava pensar rápido.

"É... é o meu trabalho de design, Miguel," eu disse, tentando parecer o mais calma possível. "Sobre... uhm... um novo tipo de recipiente para o armazenamento de joias. Eu chamo de 'caixão de gelo'."

Ele continuou me encarando, o papel na mão. Sua testa franzida mostrava que ele não estava convencido.

"Você está louca, Carolina?" Ele jogou o papel de volta no chão, a voz cheia de desprezo.

            
            

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