O Anel Que Nunca Foi Nosso
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Capítulo 5

(Carolina Girão POV)

O tempo estava se esgotando. Eu não tinha mais tempo a perder em lamentações. Eu precisava agir, e agir rápido. Para garantir minha liberdade de escolher, mesmo que essa escolha fosse uma fuga, eu teria que ceder.

No dia seguinte, eu procurei Miguel. Ele estava no escritório. Bati na porta.

"Entre," ele disse, sua voz tensa.

Eu entrei, e ele nem sequer levantou os olhos dos papéis. Seus olhos, antes tão cheios de ternura para mim, agora estavam frios, distantes. Eu senti o vazio no meu peito. Aquele calor, aquela gentileza, agora pertenciam a outra pessoa.

"Eu... eu queria pedir desculpas," eu disse, a voz quase sumindo. "Sinto muito por ontem à noite. Eu não deveria ter agido daquela forma."

Miguel finalmente levantou os olhos. Eles eram duros, sem brilho. "Você está se desculpando de verdade, ou é apenas mais uma de suas manipulações, Carolina?"

Meus lábios tremeram. Eu estava tão cansada. Tão exausta.

"Sim, Miguel. Eu me desculpo. Eu sei que Adriana é sua noiva, e eu não deveria ter desrespeitado isso."

Ele me olhou por um longo momento, e eu vi um lampejo de algo em seus olhos, um vislumbre de dúvida, talvez. Mas ele logo se desvaneceu.

"Vá se desculpar com ela, então," ele disse, voltando aos papéis.

Eu me virei, o coração pesado. Mas antes que eu pudesse sair, ele falou de novo.

"E Carolina, eu acho que seria melhor se você se mudasse para o andar de baixo. Os quartos de hóspedes."

Minha cabeça girou. Andar de baixo? Eu estava morando com ele desde que tinha cinco anos! Ele estava me expulsando do meu próprio quarto?

Ele realmente acredita em Adriana, não é? Ele realmente pensa que eu sou uma ameaça, uma manipuladora.

Uma onda de tontura me atingiu. Eu me apoiei na parede, forçando-me a ficar de pé. Era apenas meu corpo me lembrando que o tempo era curto.

"Tudo bem, Miguel," eu disse, a voz estranhamente calma. "Eu farei o que você quiser."

Eu não tinha mais forças para lutar. Eu aceitei meu destino. Eu estava morrendo, afinal. O que importava onde eu dormiria meus últimos dias?

No dia seguinte, eu fui novamente para a clínica, desta vez para a reunião final com o Dr. Oliveira e a equipe de pesquisa.

"Então, Carolina," o Dr. Oliveira disse, "você escolheu a opção de recipiente?"

Eu assenti. "Sim. Eu gostaria do 'caixão de gelo'. Mas eu tenho um pedido."

"Qual seria?" Ele me perguntou, curioso.

"Eu gostaria que fosse armazenado no fundo do oceano," eu disse.

O Dr. Oliveira piscou, surpreso. "No oceano? Isso é... incomum. Por que essa escolha, Carolina?"

"É possível, não é? A equipe já possui um sistema de armazenamento submarino para amostras biológicas," eu lembrei. "O frio é constante, a pressão é estável. É perfeito para um 'caixão de gelo'."

Ele assentiu, pensativo. "Sim, é possível. E, de fato, as condições são ideais para a crio-preservação a longo prazo. Mas por que lá, Carolina?"

Eu sorri, um sorriso triste que não alcançava meus olhos. "Porque lá, as estrelas não podem me encontrar."

O anel de estrela que Miguel me deu em nossa infância, a promessa de que ele sempre seria minha estrela, que ele me protegeria. Agora, ele estava no dedo da mulher que me roubara o lugar. Minha estrela não me protegeria mais, não me amaria.

"As estrelas... elas foram um presente de Miguel. Ele me prometeu que elas sempre me guiariam, me guardariam..." Minha voz falhou. "Mas ele não me quer mais. E é triste para uma estrela ter que guardar alguém que não é amada."

"Eu quero que minha estrela seja livre," sussurrei. "Eu quero que Miguel seja livre. E eu quero ir para um lugar onde a escuridão e o frio me abracem, onde eu não sinta mais a dor de não ser amada."

Eu não podia mais suportar a visão de Adriana, a felicidade forçada, a frieza de Miguel. Eu comecei a atrasar minha volta para casa, evitando-os.

Uma noite, voltei tarde como sempre. A mansão estava iluminada, brilhante e convidativa. Mas para mim, era uma prisão. Entrei e vi Miguel sentado na sala de estar, seu rosto sombrio. Ele me esperava.

"Onde você estava, Carolina?" Sua voz era gelada.

"Eu... eu estava com as minhas amigas," eu menti, tentando parecer casual. "Aconteceu alguma coisa?"

Ele não respondeu. Em vez disso, ele jogou uma pilha de papéis na minha frente. Eu me encolhi, meu coração batendo forte.

"O que é isso, Carolina?" Ele rosnou.

Eu olhei para os papéis espalhados no chão e vi. Meu relatório médico. Aquele que confirmava meu tumor cerebral inoperável.

            
            

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