O Anel Que Nunca Foi Nosso
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Capítulo 3

(Carolina Girão POV)

A palavra "louca" ecoou na sala e em minha mente, transportando-me de volta no tempo. Aos cinco anos, no funeral dos meus pais, eu me escondi novamente no armário. Miguel me encontrou, me abraçou e me perguntou por que eu estava ali.

"O caixão... é escuro? É frio?" Eu perguntei a ele, tremendo de medo. Eu tinha tido um pesadelo: minha mãe me chamava da escuridão, me puxando para dentro de um caixão igual ao dela.

"Sim, Carolina. É muito escuro e frio," ele respondeu, me apertando ainda mais em seus braços. "Mas eu não vou deixar você ir para lá. Você fica comigo."

Naquele momento, nos braços de Miguel, o caixão perdeu seu terror. Ele era o meu protetor, minha luz. Hoje, as coisas eram diferentes.

"Caixão de gelo?" Miguel me questionou, a voz áspera, arrancando-me do flashback. "O que diabos você está insinuando com isso, Carolina? Você está doente?"

"Não, Miguel. Não estou insinuando nada," eu disse, minha voz baixa. "É só um projeto de design, para as aulas. Se não gostou, posso mudar."

Adriana, que observava a cena com um sorriso disfarçado, interveio. "Miguel, não se irrite. Talvez Carolina esteja um pouco... deprimida. Mas não se preocupe, querido. Eu posso ajudá-la a encontrar um projeto mais... animador. Algo que não envolva 'caixões de gelo'!"

Eu senti um nó na garganta, mas me forcei a ignorar. Abaixei-me e comecei a recolher os papéis espalhados. Sentindo o olhar de Miguel em mim, eu os juntei e, com um suspiro, joguei-os na lata de lixo da cozinha, bem na frente dele. Eu esperava que isso o acalmasse, que ele visse que eu estava disposta a ceder.

O rosto de Miguel suavizou um pouco, mas ele não disse nada.

Mais tarde, no meio da noite, quando a casa estava em silêncio, eu me levantei e fui até a cozinha. Com as mãos trêmulas, peguei os papéis de volta da lata de lixo. Eu não podia desistir. Esta era minha única esperança.

Quando me virei para voltar para o meu quarto, vi Adriana saindo do quarto de Miguel. Ela usava uma camisola de seda que não era dela, e seu cabelo estava desgrenhado. Marcas de beijos no pescoço e ombros, claras como a luz da lua que entrava pela janela, contavam uma história silenciosa. Meu coração afundou. Não havia necessidade de palavras, as imagens eram gritantes.

Eu desviei o olhar, tentando fingir que não tinha visto nada, tentando me convencer de que era normal. Miguel a amava, é claro que ele dormiria com ela. Era o que as pessoas que se amam faziam. Meu amor era proibido, impensável. Eu era sua protegida, sua responsesa.

"Não sabia que você era tão curiosa, Carolina," Adriana disse, sua voz arrastada pelo sarcasmo. "Ou você ainda está tendo fantasias com Miguel?"

Meu corpo enrijeceu. Eu não a olhei.

"Eu... eu não estou curiosa. Só vim beber água," eu menti, a garganta seca.

Adriana riu. "Ah, claro. Água. Você sabe, Carolina, Miguel não é seu pai. E você não é mais uma criança. É uma mulher. E o que você sente por ele... é nojento. Inadequado."

Ela se aproximou, sua voz se tornando um sussurro malicioso. "Você está doente, Carolina. Literalmente. E não é apenas o seu corpo que está morrendo. É a sua mente. Sua mãe também era assim, não era? Louca."

A palavra "louca" e a menção à minha mãe foram como um choque elétrico. Eu me virei, o rosto queimando de raiva.

"Cale a boca, Adriana!" Eu gritei, algo dentro de mim explodindo.

Num impulso, minhas mãos se lançaram para o pescoço dela. Eu a empurrei contra a parede, a raiva me cegando. Eu não queria machucá-la, mas a dor dentro de mim era insuportável.

"Solte-a, Carolina!" A voz fria de Miguel ecoou na escuridão.

Ele estava ali, na porta do quarto, os olhos fixos em mim, cheios de uma raiva gelada.

            
            

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