O Anel Que Nunca Foi Nosso
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Capítulo 4

(Carolina Girão POV)

O grito de Miguel me fez soltar Adriana. Ela caiu no chão, desabando em soluços dramáticos, fingindo estar à beira de um colapso. Ela se agarrou às pernas dele, chorando alto.

"Miguel... ela... ela me atacou! Eu só estava tentando ser legal... tentando entender o que ela sentia por você..." Adriana soluçava, sua voz abafada. "Ela deve estar com ciúmes do nosso noivado. Eu entendo, de verdade... mas ela não pode simplesmente me atacar assim!"

Ela se fingia de vítima, e eu sabia que Miguel a acreditaria. Seus olhos, antes cheios de raiva, agora estavam fixos em mim com uma decepção profunda.

"Não! Eu não a ataquei!" Minha voz saiu embargada pelas lágrimas. "Ela estava me provocando! Falando da minha mãe, me chamando de louca! Ela disse que eu era igual à minha mãe, que o que eu sentia por você era nojento!"

Eu olhei para Miguel, esperando que ele me defendesse. Ele sempre me defendia. Lembrei-me de como, quando criança, outras crianças na escola me intimidavam por causa da história da minha mãe. Miguel sempre aparecia para resolver as coisas, para me proteger. Ele me protegeria agora, não é? Ele me salvaria.

Adriana ergueu a cabeça, os olhos marejados de lágrimas falsas. "Eu? Falando da sua mãe? Carolina, eu nem sei sobre a sua mãe! Eu só estava tentando... tentando ajudá-la a aceitar a nossa felicidade. Você está com ciúmes, Carolina, não minta."

Miguel olhou para mim, os olhos duros como pedra. "Você está mentindo, Carolina?"

"Não! Ela está mentindo, Miguel! Ela sabe! Ela deve ter pesquisado na internet! Todo mundo sabe da história da minha mãe!" Eu tentei me explicar, desesperada, mas ele não me ouvia.

"Chega, Carolina!" Ele me cortou, a voz cheia de autoridade. "Não tente virar a situação. Eu sei que você tem sido difícil, que tem tentado sabotar meu relacionamento com Adriana. Mas não vou permitir que você a ataque!"

"Eu não estou sabotando nada! Eu só quero que você seja feliz!" Minha voz falhou.

"Não acredito em suas palavras, Carolina. Você está agindo como uma criança mimada, uma adolescente rebelde!" Ele balançou a cabeça em desgosto. "Eu te dei tudo, Carolina. E você me paga com ingratidão e mentiras."

As palavras dele me atingiram como facas. Ele realmente acreditava que eu era uma manipuladora? Que eu era tão má quanto Adriana tentava me pintar? Eu não podia mais lutar. Não havia mais nada para dizer. Qualquer explicação seria inútil.

"Peça desculpas a Adriana, agora," Miguel ordenou, sua voz um chicote.

Eu cerrei os dentes, minhas mãos se apertando em punhos. Eu não podia. Eu não iria pedir desculpas por algo que não fiz.

"Carolina, eu a mimo demais. É por isso que você age assim," ele disse, balançando a cabeça. "Mas isso acaba hoje. Você está de castigo. Vá para o seu quarto. E nem pense em sair de lá sem a minha permissão."

Eu me virei, o coração em pedaços. Castigo. Como uma criança. Eu, que estava morrendo, era tratada como uma criança. Eu, que o amava mais do que a minha própria vida, era tratada como uma mentirosa.

Eu me arrastei para o meu quarto, o vazio me engolindo. As paredes pareciam se fechar em mim, e o ar ficou pesado. Lembrei-me dos dias em que Miguel me abraçava, me enchia de beijos, me dizia que eu era a coisa mais importante em sua vida. Agora, eu era apenas um fardo.

De repente, meu celular vibrou. Era uma mensagem do grupo de pesquisa da crio-preservação. Eu a abri, e meu coração gelou. Era o meu relatório médico. O verdadeiro.

"Carolina, seu relatório de saúde indica que o período ótimo para o congelamento é no próximo mês. É a janela de tempo mais segura para garantir a eficácia do processo e suas chances de reviver."

Eu senti a pontada de novo, aquela dor conhecida. O próximo mês. Meu aniversário. E o casamento de Miguel com Adriana. Eu me sentei na cama, as pernas tremendo. Eu digitei a data, com os dedos frios e trêmulos. A data do meu aniversário, o dia do casamento de Miguel.

Eu não iria ao casamento. Não era lugar para uma moribunda. E ele não precisava do meu luto para estragar o dia de sua felicidade. Eu iria desaparecer, silenciosamente, como se nunca tivesse existido.

            
            

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