Capítulo 5

Ponto de Vista de Helena Cardoso:

Os sussurros no salão eram como um enxame de abelhas zumbindo na minha cabeça. Eu podia sentir o julgamento deles, seu desprezo mal disfarçado. "Olhe para ela", uma mulher riu, "a advogada desgraçada. Que audácia, dar as caras aqui."

Que audácia? Eu queria gritar. Vocês não têm ideia.

Minha mente voltou para aquela noite, depois do veredito, depois que o mundo desmoronou. Eu corri para casa, meu coração uma ferida aberta, agarrando-me ao último resquício de esperança de que Eduardo, pelo menos, seria inocente. Que ele explicaria.

Encontrei a porta de seu escritório entreaberta. Lá dentro, as paredes estavam cobertas. Não com minhas fotos, não com os desenhos de Caio. Mas com Selene. Fotos deles, da faculdade, de viagens recentes, olhares íntimos, sorrisos roubados. Um santuário para o "amor" deles, construído bem debaixo do meu nariz, na casa que compartilhávamos. A percepção fria e doentia me atingiu então. Não foi apenas uma armação. Foi uma traição calculada e brutal de tudo o que havíamos construído.

Fiquei ali, paralisada, o frio se infiltrando em meus ossos, mais frio que qualquer noite de inverno. É isso, lembrei-me de pensar. É assim que termina.

Minhas pernas cederam. Caí no chão, lágrimas quentes finalmente escorrendo pelo meu rosto, queimando trilhas na minha pele. "Eduardo!", engasguei, minha voz crua. "Como você pôde?"

Ele emergiu das sombras, o rosto pálido, os olhos evitando os meus. Ele não negou. Apenas ficou ali, um testemunho silencioso de sua culpa.

"A Selene sempre foi a pessoa certa, Helena", ele murmurou, a voz desprovida de emoção. "Ela voltou. Eu sabia que tinha que ficar com ela." Ele ofereceu um patético: "Sinto muito. Vou garantir que você seja cuidada."

Cuidada? Meu coração se partiu em um milhão de pedaços. "Seu covarde desprezível", sibilei, as palavras com gosto de cinzas na minha boca. "Ela te deixou em pedaços, Eduardo. Eu te reconstruí. E é assim que você me paga? Você me trai pela mulher que pisou no seu coração uma vez?"

Ele se encolheu, mas não disse nada. Apenas ficou ali, me vendo quebrar, oferecendo promessas vazias de "cuidado".

Então, o golpe final e brutal. Enquanto os guardas me levavam para a prisão, minhas mãos algemadas, meu mundo em ruínas, eu vi Caio. Ele estava atrás de Selene, agarrado à perna dela. Seus olhos, geralmente cheios de amor inocente por mim, estavam agora arregalados com uma mistura arrepiante de medo e algo mais. Nojo.

"Mamãe, não volte", ele sussurrou, sua voz pequena, mas clara como um sino. "Você é uma pessoa má. A tia Selene disse."

Aquele foi o momento. O momento exato em que meu coração se transformou em pedra. O abandono de Eduardo foi uma facada. As palavras de Caio foram o ácido que dissolveu minha própria alma.

Três anos. Três anos naquele inferno. Três anos de provocações, de abuso físico e emocional. Meu corpo, antes forte e vibrante, tornou-se uma tela de hematomas e cicatrizes. Um ataque particularmente brutal no pátio da prisão me deixou com uma claudicação permanente, um lembrete constante da crueldade deles.

Mas o fogo em minhas entranhas nunca morreu. Saí da prisão, uma casca do que eu era, mas com um novo propósito. Verdade. Vingança. Eu os exporia.

Comecei a cavar, pacientemente, implacavelmente. Encontrei as rachaduras em sua fachada perfeita, as pegadas digitais de sua conspiração. Eu tinha as provas. Estava tudo ali, claro como o dia. Eu estava finalmente pronta. Pronta para limpar meu nome, para recuperar minha vida.

Eu estava dirigindo para o fórum, uma tempestade lá fora, imitando a que estava em meu coração. As provas, cuidadosamente compiladas, estavam no banco do passageiro. Eu estava tão perto. Tão perto da liberdade.

Então, os freios falharam.

O carro desviou violentamente, saindo da estrada costeira. A última coisa que me lembro foi o som doentio de metal se contorcendo, o rugido do oceano e a percepção arrepiante de que não foi um acidente. Foi deliberado.

Acordei em uma clínica remota e esquecida, meu corpo quebrado, minha memória fragmentada. Eles me deixaram para morrer. Fui dada como morta.

E agora, aqui estava eu. Viva. Um fantasma que retornou.

Os sussurros no salão diminuíram, substituídos pela voz sacarina de Selene. "Helena, querida, entendemos que você possa estar um pouco... desorientada. Mas esta é a noite do Caio. E eu e o Eduardo estamos comemorando nosso noivado." Seu sorriso era condescendente, um verniz fino sobre pura malícia. "Talvez seja melhor você simplesmente... sair em silêncio. Pelos velhos tempos."

Eduardo, corado e desconfortável, assentiu fracamente. "Helena, já se passaram sete anos. É hora de seguir em frente. Todos nós seguimos. Por favor, não faça uma cena." Sua voz continha uma nota de súplica cansada.

"Seguir em frente?", finalmente falei, minha voz cortando a música elegante, afiada e clara. "Você acha que eu posso 'seguir em frente'?" Meus olhos queimaram nos de Eduardo. "Você ao menos sabe o que está me pedindo para deixar para trás?"

Seu rosto ficou branco. Ele sabia. Ele claramente sabia.

Naquele momento, Caio, com o rosto manchado de lágrimas, deu um passo à frente. Ele agarrou meu braço, seu aperto surpreendentemente forte. "Mãe, por favor", ele soluçou, seus olhos suplicantes. "Só... finja. Por mim. Pelo meu aniversário. Só diga que sente muito. Por favor, mãe."

Olhei para a mão dele, depois para seus olhos cheios de lágrimas. O menino que me traiu, o menino que os ajudou a me empurrar daquele penhasco. O menino cujas lágrimas suplicantes uma vez derreteram meu coração. Não mais. Aquela parte de mim estava morta, enterrada sob os destroços.

Puxei meu braço de seu aperto, lenta e deliberadamente. "Desculpas?", perguntei, minha voz assustadoramente calma. "Desculpas pelo quê, Caio?" Meu olhar o perfurou. "Por sobreviver?"

Ele se encolheu, recuando como se tivesse sido atingido. Seu rosto era uma máscara de terror. Eduardo encarava, de olhos arregalados, um horror crescente se espalhando por suas feições. Selene, sempre a manipuladora, me observava com um brilho calculista, um leve sorriso de conhecimento brincando em seus lábios. Ela sempre soube.

"Você realmente achou", comecei, minha voz se elevando, cortando o silêncio atordoado no salão, "que eu não voltaria para isso?" Meus olhos piscaram para Selene, depois para Eduardo, e de volta para Caio. "Você realmente achou que poderia me enterrar e sair ileso?"

A multidão estava absorta, silenciosa, pendurada em cada palavra minha. Eles esperavam uma cena, e eu estava prestes a dar-lhes uma. Só não a que eles esperavam.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022