Capítulo 6

Ponto de Vista de Helena Cardoso:

Minha decisão estava tomada. Isso não era sobre o aniversário de Caio, era sobre o deles. O triunfo deles. O amor distorcido deles. E eu cansei de ser a vítima. Este era o meu palco agora. A última vez que eu os deixaria ditar minha narrativa.

Eu cheguei com Caio, em seu carro caro. Dirigimos em silêncio, o abismo entre nós largo demais para palavras. Ele tentou, algumas vezes, falar sobre a faculdade, sobre seus planos. Eu o ignorei, meu olhar fixo na paisagem que passava, as luzes da cidade se transformando em borrões de cor. Esta era a viagem final, a última obrigação. O fim.

Agora, de pé no opulento salão de festas, o ar denso de perfume e traição, eu entendi. O local cuidadosamente escolhido, a música romântica, a elegância silenciosa. Isso não era uma festa de aniversário. Era uma declaração. A declaração deles.

Eduardo, de joelhos, o diamante brilhando. Selene, fingindo surpresa, lágrimas de alegria escorrendo pelo rosto. Meus lábios se torceram em um sorriso amargo e sem humor. Eles usaram Caio como isca, uma desculpa patética para me atrair aqui, para testemunhar sua vida perfeita. Isso não era, de forma alguma, a celebração de Caio. Era o anúncio deles.

Minha aparição repentina havia estilhaçado seu quadro cuidadosamente construído. Todos os olhos estavam em mim, a convidada indesejada, o fantasma retornado do túmulo. Os sussurros começaram, afiados e venenosos. Advogada desgraçada. Falsificou provas. Fugiu da justiça. Covarde.

Selene, recuperando-se rapidamente, deu um passo à frente, sua mão ainda agarrada à de Eduardo. Seu sorriso era uma máscara tensa e desagradável. "Helena, querida", ela ronronou, sua voz pingando falsa preocupação. "Entendemos que você está... desorientada. Deve ser avassalador, depois de todos esses anos." Seus olhos piscaram para Eduardo, depois de volta para mim, um aviso silencioso. "Mas esta é a noite do Caio. E eu e o Eduardo estamos comemorando nosso noivado." Ela apertou a mão de Eduardo. "Talvez seja melhor você simplesmente... sair em silêncio. Pelos velhos tempos."

Eduardo, com o rosto uma máscara de vergonha e desconforto, murmurou: "Helena, já se passaram sete anos. É hora de seguir em frente. Todos nós seguimos. Por favor, não faça uma cena." Suas palavras eram uma súplica, mas também uma ordem.

"Seguir em frente?", repeti, minha voz cortando a música elegante, afiada e clara. Meus olhos queimaram nos de Eduardo. Eu não estava falando apenas com ele. Estava falando com todos nesta sala. "Você ao menos sabe o que está me pedindo para deixar para trás?"

Seu rosto ficou pálido. Ele sabia. Ou pelo menos, sabia o suficiente.

Selene, vendo Eduardo vacilar, apertou seu aperto no braço dele, suas unhas cravando em sua manga. Ela fixou o olhar em mim, o sorriso ainda no lugar, mas seus olhos continham uma ameaça fria e dura. "Helena, querida, agradecemos por você ter vindo por Caio. Mas não vamos estragar o dia especial dele, vamos? Você não gostaria de chateá-lo, gostaria?"

Eduardo, sempre o covarde, interveio: "Ela está certa, Helena. Você não acha que o Caio merece um feliz aniversário? Depois de tudo?" Ele praticamente me implorou com os olhos. "Faz tanto tempo. Não podemos simplesmente... deixar o passado para trás?"

Meu olhar endureceu. Deixar o passado para trás? Mais fácil falar do que fazer quando o passado ainda estava respirando, ainda conspirando, ainda roubando tudo o que eu prezava.

Olhei para Eduardo, depois para Selene, e finalmente, para Caio. Ele estava ali, seu rosto jovem gravado com uma esperança desesperada, lágrimas brotando em seus olhos. Ele puxou minha manga. "Mãe, por favor", ele choramingou, sua voz mal audível. "Só diga que sente muito. Por tudo. Para que possamos apenas... ter uma boa noite."

Olhei para sua mão estendida, para o desespero em seus olhos. Meu coração, aquele que eu pensava ser de pedra, latejou com uma dor surda. Ele estava me pedindo para mentir, para me render, para admitir crimes que nunca cometi, apenas para que a noite perfeita deles não fosse perturbada.

Um sorriso lento e amargo se espalhou pelo meu rosto. Desculpas?

"Caio", eu disse, minha voz baixa, cortando o silêncio. "Você se lembra do dia em que meu carro caiu do penhasco?"

Seus olhos se arregalaram de terror. Seus lábios começaram a tremer. Eduardo ofegou. Selene enrijeceu, seus olhos se estreitando, um flash de medo em suas profundezas. O murmúrio educado dos convidados cessou completamente. O ar no salão crepitava de tensão. Todos estavam assistindo. Esperando. Meu palco. Minha verdade.

                         

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