Movido pelo desejo, Cian capturou seus lábios e, por mais que Evelyne resistisse, a boca dele continuava colada à sua. Era pra resistir, mas Evelyne cedeu quando entreabriu os lábios, deixando o senhor Verran deslizar a língua para dentro da sua boca. "Entra no jogo, Evelyne... deixa ele pensar que te tem, enquanto você descobre o que ele esconde", ela planejou em meio ao torpor.
Inesperadamente, o corpo musculoso pressionou o seu. Ele segurou o seu queixo, enquanto a outra mão soltou o seu antebraço e percorreu por sua coluna até a cintura. As bocas continuavam unidas num beijo ardente, quando o som de vozes veio do outro corredor. Abandonando os seus lábios, ele virou o rosto na direção de onde as vozes vinham, enquanto Evelyne tentava recuperar o fôlego.
- Vá para o seu quarto e me espera lá! - disse Cian ao notar que sua mãe estava se aproximando.
- Não, o senhor não pode entrar no meu quarto.
- A casa é minha e eu entro onde quiser - rebateu ele, estreitando o olhar.
Era inútil continuar discutindo com aquele homem obstinado. Esbaforida, Evelyne se distanciou, meio desajeitada. Tropeçou num degrau, mas segurou no corrimão para não cair e sair rolando. Tinha que subir, mas ficou parada quando escutou a voz da madame Eleonora.
- Cian, quem é aquela moça?
- Alguém especial - Cian deu uma resposta evasiva. - Boa noite, mãe! - Sem estender o papo, ele se despediu.
- Ainda precisamos conversar sobre aquela mulher...
- Agora não, mãe! Preciso avaliar alguns documentos da fusão.
No segundo em que ouviu os passos duros, Evelyne retomou sua caminhada para o segundo piso. "Especial? Eu vou te mostrar o quão especial eu posso ser quando acabar com o seu império", praguejou internamente. Tinha que dar um jeito de fugir daquele homem, mas para isso, ela teria de arrumar um local seguro onde pudesse se esconder das investidas de seu chefe.
Na manhã seguinte, Evelyne usava o seu uniforme de babá quando desceu as escadas de mãos dadas com a pequena Maya.
- Vai dormir no meu quarto de novo? - Os olhinhos ternos da menina fitaram a babá.
Na noite anterior, depois que subiu as escadas, Evelyne tinha se refugiado no cômodo infantil e dormido numa pequena poltrona. Lembrava-se vagamente que, no meio da madrugada, ouviu o ranger da porta do quarto de Maya; contudo, ela fingiu que estava dormindo.
- Acho que sim! - Com um sorriso, Evelyne respondeu.
Chegando ao primeiro piso, elas seguiram juntas para a sala de refeições.
- Mamãe, vamos ao parque hoje?
A governanta cruzou o caminho de Evelyne, dando um olhar de reprovação.
- Não me chama assim, querida. Sou a sua babá.
- Mas você tem os olhos da minha mamãe... - o sorriso desapareceu do rosto de Maya.
Dando um olhar indulgente, Evelyne se agachou. "Pobre criança... sendo usada como peça nesse tabuleiro de xadrez doentio do seu pai."
- Vou avisar ao seu pai que vamos ao parque... - falou, ajeitando o lacinho azul que prendia os fios castanhos de Maya.
O café da manhã seguinte ao jantar não deu trégua. Eleonora Verran era a personificação da frieza. Sua postura enrijeceu quando viu a babá entrando com sua neta.
- Bom dia, Srta. Mendes. Ou devo chamá-la de babá? - Eleonora sorriu contidamente.
- Bom dia, Sra. Verran. Babá é suficiente.
Cian estava lendo o tablet antes de levantar os olhos. Havia uma guerra silenciosa entre mãe e filho e Evelyne tinha acabado de entrar no meio do fogo cruzado.
- Mãe, a Srta. Mendes é a babá contratada para cuidar da Maya - Cian anunciou. - Gostaria que não interferisse nas minhas decisões.
- Tenho que garantir que a nossa casa não vire um circo - Eleonora pousou a xícara de porcelana sobre o pires. - Soube sobre a contratação repentina de uma faxineira pra cuidar da minha neta e voltei correndo.
Cian estreitou o olhar para a governanta que, constrangida, abaixou a cabeça. O olhar de Eleonora era de profunda tristeza misturada com indignação.
- A semelhança é inegável - a matriarca teceu o comentário com a amiga que estava na mesa, e projetou o queixo para o quadro no alto da parede onde tinha uma foto de Mariane ao lado do marido e da filha.
Voltando a olhar para o filho, Eleonora notou que ele encarava a babá que incentivava Maya a comer o cereal.
- A minha amiga só toma o chá da Dammann Frères - Eleonora puxou um novo assunto.
- Vou providenciar, senhora - a governanta se prontificou.
- Não, querida! Você vai buscar o meu remédio que esqueci no meu quarto - Eleonora levantou a mão. - A Evelyne vai servir a minha amiga. - Eleonora ignorou a tentativa de Cian de intervir e se inclinou para a amiga.
Servir bebidas era função da copeira, não da babá. O rosto de Evelyne queimou. A raiva subiu por sua garganta.
- Sra. Verran, minha função é cuidar de Maya - Evelyne começou a argumentar. "Velha arrogante... você não tem ideia de quem está tentando humilhar."
O impulso da rebeldia era mais forte que a razão. Como se não bastasse a petulância de Cian, ela ainda tinha que aturar a matriarca esnobe e mandona.