A decepção de Cian foi instantânea. Ele cortou um pedaço da carne de caça, mas a lâmina da faca parecia rasgar o prato com raiva. O controle que ele lutava para manter em seu rosto quase sumiu no momento em que a babá não conseguiu nem mesmo apreciar a comida que sua falecida esposa amava. Ele bateu a mão levemente na mesa.
- Chama o chef - ordenou a um dos funcionários que os serviam. - Prepara um Sea Bass simples, com aspargos grelhados, agora mesmo.
Os colegas de trabalho da babá lhe davam olhares reprovadores. Ela mal tinha chegado naquela casa e o patrão fazia de tudo para agradá-la.
- Não precisa - Evelyne tentou intervir.
- Claro que precisa. - Ele a olhou com intensidade. - Você tem que comer.
Enquanto esperavam o prato, Evelyne pegou sua taça e levou o Pinot Noir aos lábios. Através do copo de cristal, ela observou o homem à sua frente. As luzes da sala se refletiam nos cabelos castanhos escuros e na barba que emoldurava a mandíbula quadrada. Ele estava focado em cortar a carne que não comeria, a decepção em seu rosto tornando-o, curiosamente, mais humano.
- O vinho é excelente, senhor Verran - disse Evelyne, pousando a taça de volta à mesa.
- Fico feliz que algo a agrade. - Ao responder, Cian levantou a cabeça.
- Ah, muita coisa me agrada. - O sorriso de Evelyne foi lento, alimentado pelo álcool. Ela inclinou o corpo, expondo o pescoço, onde seus dedos tocaram na gargantilha de diamantes. Olhou diretamente para os lábios dele, onde a marca de sua mordida ainda era visível.
"Isso, olha para mim... esquece a morta por um segundo", Evelyne murmurava para si.
- Se continuar fazendo isso, vou rasgar sua roupa e te foder aqui mesmo - disse ele sem qualquer sutileza.
As bochechas da babá coraram. Ele tinha dito aquilo na frente da governanta, deixando-a totalmente sem graça. Evelyne se levantou da mesa, ignorando o Pithivier intocado.
- Senta aí! - mandou grosseiramente. - Ainda não terminamos o jantar.
- Perdi a fome - replicou ela, constrangida.
Cian pôs-se de pé, expandindo o peito em uma postura dominadora.
- Saiam todos, agora! - ele esbravejou com os outros funcionários, sem quebrar o contato visual com ela.
Aquele olhar azul gélido o fascinava. Por mais que tentasse, não conseguia reprimir o desejo. Evelyne já estava se afastando quando ele a segurou.
- Onde pensa que vai? - Estreitou os olhos, examinando o pavor em seu rosto.
A mão dele tocava em suas costas, trazendo a babá contra o seu corpo. Ele encostou as costas dela contra a mesa e pressionou a cintura, fazendo Evelyne sentir a robustez de sua ereção. Nojento! Me solta, seu animal, ela gritou internamente, embora seu corpo traísse sua mente com um arrepio.
- O que está acontecendo aqui? - Uma voz crepitante interrompeu.
Eleonora Verran, a mãe de Cian, tinha acabado de chegar com uma velha amiga da família.
- Nada! - Ele se distanciou, virando-se rapidamente para o lado oposto.
Os olhos da matriarca focaram na mulher assustada ao lado da mesa enquanto Cian estava de costas para esconder o desejo.
- Mariane! - Eleonora cambaleou ao ver a semelhança.
- Não, senhora. Eu sou...
- Uma amiga. - Cian interveio. - Por falar nisso, já terminamos o jantar - falou ele, pegando o blazer e colocando-o na frente da cintura. - Vamos! - Tocou em seu ombro, tirando Evelyne da vista curiosa de sua mãe.
O homem andava tão rápido que ela tropeçou no carpete, mas ele a segurou.
- Não estou acostumada a andar de salto...
- Acostuma! - retrucou ele, num tom mandão.
- Sou babá da sua filha, não acompanhante de luxo...
- Pois vai fazer o que eu mandar!
- Não vou. - Evelyne soltou a mão dele, parando no meio do amplo corredor. Respira, Evelyne... não deixa ele te dobrar.
Ele tocou o lábio ferido, avaliando-a.
- Acha que sou estúpido?
- Não, senhor! - Evelyne não parou de piscar, mantendo a expressão de quem não entendia nada.
- Você é parente da minha falecida esposa? - Cian segurou os seus antebraços, erguendo-os.
- Não.
Os olhos cinzentos de Cian vasculharam o rosto da babá, buscando a verdade.
- Por que você se parece tanto com a Mariane? - ele perguntou em tom grave, examinando a cicatriz em seu pulso outra vez.
- Tem sete pessoas iguais no mundo, senhor Verran. Já ouviu falar nisso? - Ela relanceou os olhos, fazendo-se de sonsa.
- Não sou estúpido, garota! - Os dedos dele se fecharam ainda mais, apertando sua pele.
O coração de Evelyne palpitava com força. "Maldito! Se você soubesse o que eu escondo na minha lingerie agora, não estaria perguntando da minha cara." Ela nunca desejou tanto voltar a limpar o chão. Qualquer trabalho naquela casa era melhor do que aturar o CEO obcecado por seu primeiro amor.