O Jogo de Amor Mortal do Meu Meio-Irmão
img img O Jogo de Amor Mortal do Meu Meio-Irmão img Capítulo 5
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Capítulo 5

POV Bianca:

Na manhã seguinte, impulsionada por uma necessidade desesperada de rotina, de algo familiar em um mundo virado de cabeça para baixo, levantei-me antes do amanhecer. Meu treinamento de balé era minha âncora, a única constante em minha vida caótica. Planejei ir para meu espaço de prática particular, o pequeno estúdio ensolarado que Adolfo havia construído para mim em uma ala isolada da cobertura, uma espécie de oferta de paz. Era o único lugar onde eu me sentia verdadeiramente livre.

Ao me aproximar do estúdio, uma estranha sensação de inquietação se instalou em mim. A porta, geralmente entreaberta, estava fechada. Um cheiro fraco e desconhecido vinha de dentro – não o cheiro familiar de madeira e resina, mas algo floral, doce, quase enjoativo. Um nó se apertou em meu estômago.

Empurrei a porta.

A visão que me saudou me congelou no lugar. Aline e Heitor. Eles estavam no meu estúdio. Aline, com o cabelo desgrenhado, o vestido amassado, estava caída sobre o banco do piano, rindo. Heitor se inclinava sobre ela, as mãos de cada lado dela, os botões da camisa desabotoados, um sorriso preguiçoso e satisfeito no rosto. Pareciam ter acabado de sair da cama. No meu estúdio. Meu santuário.

Minha respiração falhou. O ar, geralmente tão puro e cheio dos fantasmas dos meus movimentos, parecia sufocante, manchado pela presença deles, pela intimidade deles.

Heitor ergueu os olhos, seu sorriso desaparecendo quando seus olhos encontraram os meus. Ele se endireitou, sua expressão fria, quase entediada.

"Bianca", disse ele, sua voz calma, como se fosse um encontro matinal normal. "Aline estava apenas curiosa sobre o estúdio. Eu estava mostrando a ela."

Aline, assustada, ajeitou o vestido, um rubor subindo em suas bochechas. Mas seus olhos, ao encontrarem os meus, continham um lampejo de triunfo desafiador.

"Você pode usar seu estúdio na companhia, Bianca", continuou Heitor, sua voz desprovida de calor. "Este espaço... é bem adorável, não é, Aline? Talvez pudéssemos convertê-lo em uma academia particular."

Meu estúdio pessoal. Aquele que ele mesmo ajudou a projetar, sabendo o quanto significava para mim. Ele estava me dizendo para sair. Para abandonar meu espaço. Para ela.

Meu olhar caiu sobre o pescoço de Aline. Uma marca vermelha e fresca, claramente um chupão, manchava sua pele pálida. Ele fez aquilo nela. Aqui. No meu espaço. A imagem de seus lábios nela, os ecos de nossos próprios beijos roubados, me atingiram. Uma onda de náusea, aguda e amarga, me invadiu.

Minha garganta se apertou. Eu queria gritar. Enfurecer-me. Despedaçá-los. Mas as palavras não vinham. Minha voz estava presa, sufocada pela dor crua e visceral de ver meu espaço mais sagrado, meu último bastião de mim mesma, totalmente profanado.

Isso não era apenas um estúdio. Era um pedaço da minha alma. E ele permitiu que ela o profanasse.

Uma clareza arrepiante se instalou em mim. Este espaço, estas paredes, não eram verdadeiramente meus. Eram de Adolfo. Eram de Heitor. E agora, eram de Aline. Assim como tudo o mais nesta casa. Este era o território deles. Eu era meramente uma convidada, uma intrusa.

E eu estava de partida. Em breve. Não valeria a pena a luta. Não valeria a pena mais um momento de humilhação.

Fechei os olhos por um único e agonizante segundo, depois os abri. Meu rosto era uma máscara de indiferença gélida. Sem uma palavra, virei nos calcanhares, o som das minhas sapatilhas de balé perturbadoramente alto no chão polido. Fechei a porta atrás de mim, o clique suave ecoando a finalidade da minha partida daquele espaço, daquela vida.

Depois daquela manhã, evitei a cobertura o máximo possível. Meus dias eram um borrão de ensaios intensos no estúdio da companhia, minhas noites passadas em uma névoa de exaustão, escapando para um pequeno apartamento escassamente mobiliado que eu havia alugado secretamente perto do centro da cidade. A ideia de encontrar Heitor e Aline, de testemunhar sua interminável e doentia farsa doméstica, era insuportável. Eu estava contando os dias para meu voo para a Europa.

Uma noite, acordei em um suor frio, meu estômago se revirando com uma dor familiar e agonizante. Meu velho inimigo, a gastrite, estava de volta com força total. Cambaleei para fora da cama, procurando o interruptor de luz, minha mente nublada pela dor.

Heitor costumava ser meu farmacêutico pessoal. Ele sempre sabia quando eu estava prestes a ter um ataque, sempre tinha os antiácidos prontos, um copo de água esperando. Ele se sentava ao meu lado, sua mão gentil na minha testa, sua presença um bálsamo calmante contra as cólicas ardentes. A memória era uma cruel torção da faca.

Arrastei-me para a cozinha, abrindo a gaveta onde costumava guardar meus remédios. Tinha sumido. Substituído por uma confusão caótica de embalagens de doces coloridos, sacos de batatas fritas meio comidos e recipientes de fast-food amassados. Os detritos de Aline. Ela havia invadido até mesmo este pequeno espaço funcional, apagando minha presença, substituindo-a por sua própria desordem superficial.

Uma onda de desespero, mais fria que a dor em minhas entranhas, me invadiu. Ele havia sistematicamente removido todo conforto, toda conexão, toda memória que nos unia.

Dobrada, agarrando meu estômago, passei cambaleando pela biblioteca, minhas mãos procurando cegamente por uma garrafa de água. Um murmúrio baixo, depois uma risadinha suave, veio de dentro. A biblioteca. Nosso cantinho secreto.

Contra meu bom senso, uma curiosidade mórbida me dominando, empurrei a porta.

Heitor e Aline estavam lá, enroscados na poltrona velha e empoeirada. Seus lábios estavam nos dela, suas mãos traçando a curva de sua cintura. Ela riu, um som que perfurou meu cérebro enevoado pela dor. Eles estavam em nosso cantinho, o lugar onde havíamos compartilhado tantos momentos roubados, tantos segredos sussurrados.

Heitor ergueu os olhos, seus olhos se arregalando de irritação. Aline gritou, afastando-se dele, o rosto corado com uma mistura de vergonha e triunfo.

"Bianca! O que você quer?", Heitor retrucou, sua voz afiada de irritação. "Não sabe bater?"

Meu estômago se contraiu, um espasmo de dor tão intenso que me roubou o fôlego. Apoiei-me no batente da porta, meu rosto pálido, um suor frio brotando na minha testa.

"Heitor, querido", Aline choramingou, agarrando-se ao braço dele. "Ela adora interromper, não é? Sempre procurando atenção." Ela se virou para mim, seus olhos se estreitaram. "Você está realmente tão desesperada?"

O maxilar de Heitor se contraiu. Ele olhou para mim, depois para Aline, um lampejo de algo, talvez culpa, em seus olhos. Mas foi rapidamente substituído por irritação. "Bianca, você precisa parar. Seja o que for, acabou. Já faz muito tempo." Ele fez uma pausa, seu olhar endurecendo. "Você está realmente tão sozinha que precisa invadir nossa privacidade?"

As palavras, tingidas de desprezo, me atingiram com a força de um golpe físico. Sozinha. Invasora. Minha visão nadou. A dor em minhas entranhas se intensificou, torcendo-se em um nó ardente. Abri a boca para explicar, para contar a ele sobre a gastrite, sobre o remédio que faltava, mas nenhum som saiu. Meu corpo tremia, frio e fraco.

Aline, sentindo minha vulnerabilidade, apertou seu aperto no braço de Heitor. "Ela parece muito pálida, Heitor", disse ela, sua voz tingida de falsa preocupação. "Talvez ela precise de um pouco de descanso. Ou talvez ela esteja apenas chateada por estarmos tão felizes." Ela sorriu docemente para ele, depois olhou para mim, um desprezo sutil distorcendo suas feições.

O rosto de Heitor endureceu. Ele se afastou de Aline, sua expressão sombria. "Já chega, Bianca. Você está sendo dramática. Vá para o seu quarto."

"Mas Heitor, ela parece doente", disse Aline, uma pitada de preocupação genuína em sua voz. Então, quando seus olhos encontraram os meus, um lampejo de outra coisa – um cálculo frio. "A menos que seja apenas mais um de seus truques?", ela sussurrou, alto o suficiente para eu ouvir.

Isso foi tudo o que foi preciso. O rosto de Heitor se contorceu de raiva. Ele deu um passo em minha direção, sua mão se estendendo, não em preocupação, mas em desdém.

"Saia, Bianca", disse ele, sua voz plana e brutal. Ele agarrou meu braço, seus dedos cravando em minha carne, e me impulsionou fisicamente para fora da biblioteca, através do corredor, e em direção à grande e ornamentada porta da frente da cobertura.

Cambaleei, a dor em meu estômago se intensificando a cada movimento brusco. Minha mente corria, tentando processar a pura crueldade de suas ações. Ele estava me expulsando. Sua casa. Nossa casa.

Ele me empurrou pela pesada porta de mogno, para o ar frio da noite. A porta bateu atrás de mim, o som ecoando pelo corredor silencioso e vazio. Eu estava sozinha. Trancada do lado de fora. Na noite gelada de São Paulo, dobrada de dor, agarrando meu estômago.

Lágrimas brotaram em meus olhos, não da dor física, mas da agonia lancinante do abandono. Caí no chão de mármore frio, meu corpo tremendo incontrolavelmente. Meu estômago gritava, um fogo quente e lancinante consumindo minhas entranhas.

Desesperada, procurei meu telefone, meus dedos desajeitados. Disquei o número da minha mãe, minha última esperança.

Ela atendeu, sua voz sonolenta e irritada. "Bianca? Você sabe que horas são?"

"Mãe", ofeguei, minha voz quase um sussurro. "Estou doente. Meu estômago... Está muito ruim. Heitor... ele me expulsou."

"Ah, pelo amor de Deus, Bianca", ela suspirou, exasperada. "Você comeu alguma coisa de novo? Eu te disse, seu estômago é sensível. Você precisa ter mais cuidado." Ela não perguntou se eu estava bem. Ela não perguntou onde eu estava. "E Heitor não iria simplesmente 'te expulsar'. Você deve tê-lo provocado. Você sempre faz." Ela fez uma pausa, depois baixou a voz. "Adolfo tem uma reunião muito importante amanhã. Ele precisa descansar. Por favor, não faça uma cena. Não posso deixá-lo. Você sabe como o negócio dele é importante."

"Mãe", tentei novamente, minha voz fraca.

"Tenho que ir, Bianca", ela me cortou. "Só... tome alguma coisa para isso. Você vai ficar bem."

A linha ficou muda.

Olhei para a tela preta do meu telefone, um vazio profundo e esmagador se instalando em mim. Minha mãe. Ela o havia escolhido. De novo. E de novo. Eu estava verdadeiramente sozinha. Ninguém se importava. Nem ele. Nem ela.

A gastrite rugia, um inferno ardente em minhas entranhas. Minha visão embaçou. O mundo inclinou. Deslizei mais para baixo no mármore frio, meu corpo tremendo, minha consciência se esvaindo. A última coisa que ouvi foi o lamento distante de uma sirene, um eco oco na cidade vasta e implacável.

            
            

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