"Preciso de uma bebida, Gabi", anunciei no momento em que ela abriu a porta, seu rosto uma mistura de preocupação e pena. "Uma bebida bem grande e bem forte."
Ela não fez perguntas, apenas me levou ao seu bar bem abastecido. Sentamos em seu sofá de pelúcia, as luzes da cidade brilhando lá embaixo, enquanto eu bebia copo após copo de líquido âmbar. O calor se espalhou por minhas veias, embotando as arestas afiadas da minha dor, mas não as apagando.
"Não consigo acreditar", murmurei, girando o gelo no meu copo. "Ele usou meu dinheiro. O dinheiro de Caio. Para salvá-la. Helena."
Gabi assentiu, sua expressão sombria. "Eu sempre suspeitei, Clara. O jeito que ele olhava para ela... nunca foi apenas uma coisa de mentor-aluna. Não depois de Catarina. Helena era a penitência dele."
"Penitência", zombei, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "E eu era apenas... uma distração conveniente? Um caixa eletrônico?"
"Você estava tentando alcançá-lo", disse Gabi suavemente. "Você o amava."
"E olha onde isso me levou", cuspi, mostrando minha mão esquerda, desprovida de qualquer anel de noivado. "Usada, humilhada e com o coração completamente partido."
O álcool estava começando a fazer sua mágica, borrando as bordas da minha raiva, substituindo-a por um profundo senso de injustiça. "Ele nunca me amou. Nem por um segundo. Foi tudo por ela. Pelo fantasma de Catarina. E pela irmã cópia carbono dela."
Meu celular vibrou novamente, vibrando contra a mesa de centro. Olhei para ele. O nome de Júlio.
"Ele provavelmente está vindo para cá", observou Gabi, seus olhos se estreitando. "Ele sabe que você sempre vem para mim quando está com problemas."
"Deixe-o vir", eu disse arrastado, um desafio imprudente borbulhando. "Deixe-o ver o que ele perdeu. Deixe-o ver que eu cansei."
Nesse momento, a campainha tocou, um som áspero e insistente. Gabi olhou para mim, uma pergunta em seus olhos. Encontrei seu olhar, um brilho feroz no meu. "Não atenda. Deixe-o esperar."
Mas antes que Gabi pudesse se mover, uma batida forte começou na porta, acompanhada por um grito agressivo. "Abre essa porta, sua vadia! Eu sei que você está aí, Vasconcelos!"
Meu sangue gelou. Aquele não era Júlio. Aquela voz... era familiar, mas não de nenhuma lembrança agradável. Era grosseira, raivosa, ameaçadora.
"Quem é esse?", Gabi sussurrou, o medo brilhando em seus olhos.
Levantei-me, balançando um pouco, minha mente tentando cortar a névoa induzida pelo álcool. Então me lembrei. Marcos Dantas. Um jogador menor em uma tentativa de aquisição hostil contra o Grupo Vasconcelos que Caio havia esmagado recentemente. Ele era um oportunista implacável, conhecido por suas táticas sujas. Mas o que ele estava fazendo aqui?
A batida se intensificou, sacudindo o batente da porta. "Você acha que pode simplesmente ferrar com a família Dantas e sair impune, Vasconcelos? A princesinha do papai vai pagar!"
Meu pai. Meu estômago se contraiu. Caio me avisara sobre ressentimentos persistentes, mas eu não acreditava que alguém seria tão descarado.
"Ele está aqui por minha causa", eu disse, um arrepio percorrendo minha espinha. "Por causa de Caio. Por causa da empresa."
"Precisamos chamar a polícia", disse Gabi, já pegando o celular.
Antes que ela pudesse discar, a porta se estilhaçou com um forte ESTALO. Marcos Dantas, flanqueado por dois homens corpulentos, invadiu o apartamento. Seus olhos, brilhando com um prazer malicioso, imediatamente se fixaram em mim.
"Ora, ora, se não é a poderosa Clara Vasconcelos", ele zombou, avançando em minha direção. "Não tão poderosa agora, não é? Sua família acha que pode simplesmente pisar nas pessoas. Estamos aqui para te ensinar uma lição."
"Saia daqui, Marcos!", Gabi gritou, colocando-se protetoramente na minha frente. "Estou chamando a polícia!"
Um dos capangas de Dantas empurrou Gabi bruscamente para o lado. Ela tropeçou, caindo no chão com um grito de dor. Meu sangue ferveu de fúria.
"Não se atreva a tocar nela!", gritei, avançando sobre ele, impulsionada por uma raiva súbita e alimentada pelo álcool. Meu punho conectou-se com sua mandíbula, um estalo satisfatório ecoando na sala. Ele cambaleou para trás, atordoado, um fio de sangue aparecendo no canto de sua boca.
Dantas riu, um som sombrio e arrepiante. "Bravinha, não é? Eu gosto. Torna tudo mais divertido." Ele agarrou meu braço, seu aperto como um torno, puxando-me em sua direção. Sua outra mão serpenteou pela minha cintura, puxando-me para perto, seu hálito fétido quente em meu rosto.
"Sua empresa vai afundar, Vasconcelos", ele sussurrou, seus olhos brilhando. "E você vai ser um dano colateral. Assim como seu precioso noivo te usou."
Suas palavras, cheias de veneno, atingiram um nervo exposto. Júlio. A traição, a manipulação. Tudo se fundiu em uma explosão de raiva, muito além de qualquer coisa que eu já sentira antes. Este homem, ousando me lembrar da minha dor, ousando me tocar, ousando ameaçar minha família.
Minha visão ficou vermelha. Levantei meu joelho com toda a minha força, mirando em sua virilha. Ele ofegou, me soltando, curvando-se com um grunhido de dor.
"Sua desgraçada!", ele rugiu, agarrando-se. Seu rosto se contorceu em uma máscara de fúria. "Você vai se arrepender disso."
Ele avançou sobre mim, sua mão erguida, pronta para atacar. Preparei-me, meu coração batendo forte, pronta para lutar.