Eu o observei ir, minha expressão em branco. Minha mão alcançou a pequena foto emoldurada na minha mesa de cabeceira - uma foto de Caio e eu no dia do nosso casamento, rindo, cheios de esperança. Eu a peguei, meus dedos traçando seu rosto sorridente. Então, com um movimento lento e deliberado, rasguei a foto ao meio, deixando os pedaços caírem no chão.
Meu celular, ainda em minha mão, vibrou com uma notificação. Uma mensagem privada. De Amanda. Era um vídeo.
Eu o abri, meu coração um peso de chumbo no peito. Era um clipe curto, granulado, trêmulo. Amanda. E Caio. Em um quarto de hotel. Rindo. Beijando-se. A mão dele acariciando as costas dela. Seus lábios no pescoço dela. A cabeça dela jogada para trás em prazer.
O vídeo terminou. Minha mão se apertou no celular, meus nós dos dedos brancos. Ele tinha feito tudo pelas minhas costas. A manipulação, a distorção da realidade, a defesa constante dela. Era tudo um jogo doentio. Ele não me amava. Ele a amava. E estava disposto a me destruir, a destruir nosso filho, a destruir o trabalho da minha vida, para protegê-la.
Minhas lágrimas finalmente vieram, quentes e silenciosas, mas não eram por ele. Eram pela mulher ingênua que eu já fui, aquela que acreditou em suas mentiras, que se agarrou a um amor fantasma. Ele estava certo. Seu amor era replicável. E eu finalmente estava livre dele.
Saí do hospital, meus papéis de alta um amontoado amassado no meu bolso. Fui para casa, a mansão que um dia foi nosso sonho. Agora, parecia uma gaiola dourada. Tirei meu avental de hospital, jogando-o no lixo. Fiz uma pequena mala, apenas o essencial.
Caio não voltou naquela noite. Nem na seguinte. Nem na depois. Ele estava com Amanda, sem dúvida, fazendo o papel de parceiro dedicado em sua crise fabricada.
Meu celular tocou. Era Mariana, minha assistente. Sua voz estava tensa. "Dra. Tavares, não sei o que fazer. Amanda está no laboratório, jogando coisas, exigindo acesso a todos os protótipos. Ela diz que o Caio lhe deu controle total. Ela destruiu acidentalmente mais três biorreatores hoje. Tentou apagar os backups parciais de dados que conseguimos salvar, mas eu a bloqueei."
"Está tudo bem, Mariana," eu disse, minha voz calma. "Apenas proteja tudo o que puder. Não discuta com ela."
"Mas Dra. Tavares, e a pesquisa? E você?" Mariana parecia desesperada.
"Estou bem, Mariana. Apenas... aguente firme. Eu vou resolver isso."
Assim que desliguei, a porta da frente se abriu com um estrondo. Caio estava lá, um sorriso triunfante no rosto, um buquê de rosas vermelhas vistosas na mão. Ele não se preocupou em esconder sua ausência. Esperava que eu estivesse esperando, chorando, implorando por seu retorno.
"Ayla, meu amor!" ele bradou, entrando. "Estou de volta! E tenho ótimas notícias! Amanda está se sentindo muito melhor. E ela fez um progresso incrível na pesquisa! Ela precisa apresentar no 'Summit de Inovadores' na próxima semana. Você precisa organizar a apresentação dela imediatamente."
Meus olhos se estreitaram. "Que pesquisa, Caio? A pesquisa que ela roubou da minha irmã morta? A pesquisa que ela destruiu quando apagou meus servidores? Ou talvez a pesquisa que ela está atualmente aniquilando no laboratório?"
Ele largou as rosas em uma mesa lateral, suas pétalas se espalhando. Seu rosto endureceu. Ele agarrou meu braço, seu aperto mais uma vez machucando. "Ayla, não seja infantil. Isso é importante. Você precisa deixar de lado seu ciúme mesquinho. Amanda precisa da sua ajuda."
Puxei meu braço. "Infantil? Você é quem está fazendo birra, Caio! Você está deixando sua amante destruir tudo o que eu construí, tudo o que nós construímos! Você está cego!"
Antes que ele pudesse responder, Amanda Rangel invadiu a sala, seus olhos avermelhados, seu rosto contorcido em uma máscara de angústia. Ela correu em minha direção, caindo de joelhos aos meus pés.
"Dra. Tavares! Por favor! Eu te imploro!" ela lamentou, agarrando minhas pernas. "Por favor, não faça isso com a minha irmã! Não arruíne a vida dela!"
O rosto de Caio ficou branco. Ele imediatamente correu para o lado de Amanda, levantando-a e embalando-a. "Amanda, meu amor! O que há de errado? O que ela fez com você agora?" Ele me lançou um olhar furioso.
Amanda tirou uma foto amassada do bolso, segurando-a com a mão trêmula. Era a foto de uma jovem, parcialmente despida, claramente angustiada. "Ela está ameaçando minha irmã, Caio! Ela vai divulgar essas fotos! Ela diz que vai arruinar a vida dela, assim como eu arruinei a dela!"
O rosto de Caio virou pedra. Ele olhou para mim, seus olhos ardendo com uma fúria fria e aterrorizante. "Ayla," ele disse, sua voz baixa e perigosa. "Você fez isso?"
Eu o encarei, minha incredulidade lutando com um pressentimento arrepiante. "Fiz o quê, Caio? Fabriquei algumas fotos escandalosas? Chantageei uma garota inocente? É isso que você pensa de mim?"
Sua mandíbula se contraiu. "Apenas responda à pergunta, Ayla! Você ameaçou a irmã da Amanda?"
Uma risada amarga me escapou. Ele realmente acreditou nela. Em vez de mim. De novo.
"Caio," eu disse, minha voz perigosamente calma. "Você realmente acha que eu me rebaixaria a um nível tão baixo e patético? Usar a família de alguém contra ela? Negociar com táticas tão baratas e nojentas?"
Ele me encarou, seu rosto uma máscara de suspeita. "Eu não sei mais o que pensar, Ayla. Você se tornou irreconhecível."
"Irreconhecível?" Minha voz estava tingida de veneno. "Não sou eu quem está irreconhecível, Caio. É você. O homem com quem me casei nunca acreditaria nas mentiras dessa mulher vil em vez de mim. O homem com quem me casei nunca protegeria uma criminosa. O homem com quem me casei nunca deixaria sua esposa ser abusada e destruída por uma vagabunda manipuladora!"
Amanda, ainda agarrada a Caio, gemeu. "Ela está dizendo coisas horríveis, Caio! Ela sempre me odiou!"
O olhar de Caio, cheio de uma raiva fria e justa, voltou-se para mim. "É isso, Ayla. Cansei. Você passou dos limites. Vou fazer você se arrepender disso." Ele apertou o braço ao redor de Amanda. "Você vai pagar por cada coisa que fez."
Um medo profundo e arrepiante percorreu-me. Eu conhecia aquele olhar. Era o olhar de um homem que estava prestes a justificar uma crueldade indizível.
"O que você vai fazer?" perguntei, minha voz tremendo apesar de mim mesma.
Ele sorriu, um sorriso lento e predatório. "Vou te mostrar como é, Ayla, ser humilhada. Ser exposta. Ser vista como nada mais do que uma mulher desesperada e patética. Assim como você tentou fazer com a irmã da Amanda." Ele estalou os dedos.
Dois seguranças corpulentos imediatamente avançaram, agarrando meus braços.
Meu sangue gelou. "Não! Caio, o que você está fazendo? Me soltem!"
Ele ignorou meus apelos, seus olhos frios e inabaláveis. Eu lutei, mas o aperto deles era como ferro. Eles me arrastaram em direção à grande escadaria, para longe da sala de estar.
Vi mais dois homens montando tripés, prendendo câmeras profissionais. Não. Ele não faria isso. Ele não podia.
"Caio! Não se atreva!" gritei, minha voz crua. "Você é um desgraçado doente! Você é um monstro!"
Ele assistiu impassivelmente enquanto eu era arrastada, meus apelos caindo em ouvidos surdos. Amanda, ainda em seus braços, observava com um sorriso triunfante.
Eles me puxaram para uma sala grande e vazia, uma que eu raramente usava. As câmeras já estavam no lugar, as luzes brilhando. O pânico me tomou. Eu me debati, chutei, mordi o braço de um dos guardas. Ele rugiu de dor, mas seu aperto não vacilou.
"Tirem a roupa dela!" A voz de Caio retumbou da porta. Ele agora estava lá, observando. Amanda espiou por cima do ombro dele, um olhar de antecipação alegre em seu rosto.
"Não! Por favor! Não!" gritei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Os homens rasgaram minhas roupas, rasgando o tecido. Lutei com cada grama de força que tinha, mas era inútil. Eram muitos, muito fortes. Um deles me deu um soco no estômago, com força. Eu ofeguei, o ar sendo arrancado dos meus pulmões. Meus joelhos cederam.
Caí no chão, minhas roupas em farrapos, meu corpo machucado e exposto. Os flashes das câmeras começaram, cegando-me com sua luz forte. Clique. Clique. Clique.
A humilhação era insuportável. Minha mente gritava. Isso era pior do que a dor física, pior do que o aborto. Esta era a violação final.
Um guarda se ajoelhou ao meu lado, sua mão alcançando seu cinto, seus olhos cheios de um brilho predatório.
Não. Isso não. Nunca.
Uma onda de adrenalina, pura, desespero absoluto, percorreu-me. Eu morreria antes de deixá-lo fazer isso.
Com um grito gutural, lutei. Chutei, arranhei, empurrei. Vi uma janela, alta na parede, uma fresta desesperada de esperança. Corri em direção a ela, movida por um instinto primal de escapar, de acabar com este pesadelo.
Os homens xingaram, tentando me agarrar. Mas eu era mais rápida, mais forte, impulsionada pela pura vontade de sobreviver. Bati meu corpo contra o vidro, de novo e de novo. Ele se estilhaçou com um estrondo ensurdecedor.
Não hesitei. Joguei-me pela janela quebrada, caindo no ar frio da noite. Enquanto eu despencava, uma imagem final queimou em minha mente: Caio, segurando Amanda perto, seus lábios pressionados nos dela, alheio à minha fuga desesperada.