"Meu Deus, você viu a química entre CaioSia ontem à noite?", uma garota se derreteu, seus olhos arregalados. "É insano! Eles têm que estar juntos na vida real."
Outra interveio: "Sério! Eles são almas gêmeas. Aquela namorada dele, Alana, está só... no caminho. Ouvi dizer que ela está por aí há muito tempo, tipo, sete anos! Fala sério, um peso morto."
"É", uma terceira garota acrescentou, rolando o feed do celular. "Eu vi um post comparando as duas. Késia é tão vibrante e jovem, e a Alana parece tão... cansada. Como se tivesse envelhecido dez anos."
Minha mão instintivamente foi ao meu rosto. Cansada. A palavra doeu. Tirei um pequeno espelho compacto da minha bolsa, inclinando-o para captar a luz fraca. Meu reflexo me encarou de volta: pele pálida, linhas finas ao redor dos olhos, uma sombra da garota que eu costumava ser. A garota que já foi a rainha do campus, virando cabeças por onde passava. Agora, eu me sentia invisível, ofuscada pela luz ofuscante da fama de Caio.
Nem sempre foi assim. No começo, Caio manteve nosso relacionamento em segredo. "É demais, Alana", ele implorou, seus olhos sinceros. "A indústria é brutal. Não quero que minha vida privada seja escrutinada. Pode prejudicar minha carreira." Eu, sempre a namorada que apoia, concordei. Eu entendia. Ou, eu achava que entendia.
Mas então eu o via em eventos da indústria, encantando atrizes, rindo com produtores, sempre com o ar de um homem solteiro e disponível. Ele era constantemente arranjado em encontros, oferecido papéis que exigiam que ele se "conectasse" com suas protagonistas femininas. Ele estava construindo uma persona de "galã solteiro", e eu estava escondida nas sombras, um segredinho sujo.
A raiva ferveu lentamente, depois transbordou. "Você tem vergonha de mim, Caio?", exigi uma noite, minha voz tremendo de fúria contida. "É isso? Não sou bonita o suficiente? Não sou famosa o suficiente? Você acha que estou te atrasando?"
Ele recuou, seu rosto uma máscara de indignação. "Alana, não seja ridícula! Você é a mulher mais bonita que eu conheço. Mas esta é a minha carreira! É complicado. Você simplesmente não entende." Ele usou essa frase tantas vezes que se tornou um mantra de desdém.
Finalmente, depois de meses de minhas súplicas e suas evasivas, ele fez um anúncio. Um post cuidadosamente redigido em uma rede social menor, uma foto borrada de nós de mãos dadas, de costas. "Para a mulher que esteve ao meu lado em tudo", dizia. "Minha rocha. Meu para sempre."
Eu chorei lágrimas de alívio. Finalmente. Reconhecimento. Validação. Nós éramos reais.
Mas até isso foi manchado. Seu anúncio "oficial" de nosso relacionamento saiu no mesmo dia de uma matéria de tabloide com ele e Késia em uma série de fotos "íntimas" de bastidores. A internet explodiu.
Os fãs, os fãs dele, os fãs de Késia, eles estavam raivosos. Em poucas horas, um tópico viral intitulado "A Trágica História de Amor de CaioSia" tomou conta do meu feed. Pintava Caio e Késia como amantes desafortunados, destinados a ficar juntos, mas tragicamente separados pela "namorada". Eu fui retratada como uma mulher mais velha e conivente, agarrando-se a um homem que claramente não a amava, uma "vilã" em seu drama romântico.
"Ela só está aqui pelo dinheiro", dizia um comentário. "Pobre Caio, forçado a ficar com ela por obrigação."
"Késia merece coisa melhor", declarou outro. "Ela é pura e inocente, Alana é apenas uma bruxa ciumenta." Bruxa. A palavra ecoou.
Então, Késia entrou na briga. Um "like" enigmático, tarde da noite, em um post de fã sobre "o amor verdadeiro sendo negado", rapidamente seguido por um "ops, dedos gordos!" e uma marcação pública na minha conta anônima e intocada. "@AlanaDiniz - desculpa! Meu celular tem vida própria, haha! A gente devia almoçar juntas qualquer dia, gata! Bjs"
Almoçar? Eu nem a conhecia. Nos encontramos uma vez, brevemente, em uma festa, e ela mal reconheceu minha existência. Foi um movimento calculado, uma exibição pública de falsa camaradagem que sutilmente torcia a faca. Fazia ela parecer doce, e eu, por extensão, fria e inacessível.
Mostrei o post para Caio, esperando que ele ficasse indignado. Em vez disso, ele apenas deu de ombros. "Ela é jovem, Alana. Um pouco ingênua. Não pense demais nisso. Ela tem boas intenções."
"Ingênua?", olhei para ele, horrorizada. "Ela tem vinte e seis anos, Caio! Apenas dois anos mais nova que eu! Ela sabe exatamente o que está fazendo!"
Ele olhou para mim, um sorriso suave e indulgente no rosto. "Você só está com ciúmes, querida. Késia é um doce. Não seja tão desconfiada."
Seu tom paternalista, a maneira como ele descartou minhas preocupações válidas como mero "ciúme", fez meu sangue ferver. A culpa era sempre minha. Minhas emoções eram sempre demais, muito irracionais. As ações dele, as ações de Késia, eram sempre inocentes, sempre justificáveis.
O ônibus parou no meu ponto. Desci, o clamor urbano um cobertor sufocante. A conversa das garotas no ônibus, a crueldade casual de suas palavras, havia se alojado sob minha pele. Caminhei em direção à minha floricultura, o cheiro de flores frescas um conforto bem-vindo, embora frágil. Talvez em Curitiba, eu não tivesse que me encolher constantemente para caber na narrativa de outra pessoa. Talvez lá, eu pudesse finalmente respirar. E talvez, apenas talvez, eu pudesse encontrar alguém que me visse, realmente me visse, sem filtros, sem julgamento e sem a sombra de outra mulher.