Dias se transformaram em semanas. Caio, fiel à sua palavra, se divorciou de mim. Os papéis chegaram, frios e impessoais, através de seu advogado. Nenhuma palavra dele, nenhuma explicação, nenhum pedido de desculpas. Apenas a finalidade disso.
Então, Carla começou seu desfile público. Fotos dela e de Caio em uma luxuosa viagem ao exterior, radiantes, de mãos dadas. Uma nova postagem em suas redes sociais: uma foto de uma certidão de divórcio, claramente a minha, adulterada para parecer que ela era a parte injustiçada. A legenda: "Finalmente livre. Depois de tanta dor, meu herói é meu. Nossa jornada começa agora."
E então, a enxurrada. Sua história cuidadosamente elaborada de uma ex-esposa vingativa, uma mulher mentalmente instável, um monstro ciumento que a aterrorizara. A mídia, alimentada pela reputação de Caio e pela histeria de Carla, produziu artigo após artigo, pintando-me como a vilã. A internet explodiu. Meu nome se tornou sinônimo de "ex-esposa louca", "perseguidora", "abusadora". Minhas redes sociais foram inundadas com mensagens de ódio, ameaças de morte. Ligações anônimas, cheias de veneno, não paravam de tocar no meu telefone.
Eu não sentia nada. Meu coração, antes uma coisa vibrante e pulsante, era agora um peso morto em meu peito. A dor atingira um crescendo e depois simplesmente se estabilizara. Eu estava entorpecida.
Mas um lampejo de algo, uma centelha de desafio, permaneceu. Eu não os deixaria vencer. Eu não os deixaria me enterrar viva.
Fui a uma médica de confiança, uma amiga especialista em medicina forense. Fiz um exame completo, um relatório detalhado da agressão. Então, registrei um boletim de ocorrência, não apenas pela agressão, mas pelo divórcio. Cansei de ficar em silêncio.
Liguei para Caio. Minha última ligação para ele, para sempre. Ele atendeu, a voz fraca, distante. "Caio Mendes."
"É a Alícia."
Uma breve pausa. Então, a voz melosa de Carla ao fundo: "Quem é, querido? Não é aquela louca de novo, é?" Seguido pelo murmúrio terno de Caio: "Não, docinho. Não se preocupe. Apenas um incômodo."
Ele desligou. Simples assim. Sem adeus, sem explicação. Apenas um clique de descarte.
Suspirei, uma longa e cansada expiração. Meu coração parecia uma ameixa seca. Ele realmente se fora.
Meus dedos, estranhamente firmes, abriram meu aplicativo de rede social. Iniciei uma transmissão ao vivo. Meu rosto, pálido e tenso, apareceu na tela. "Olá a todos", comecei, minha voz clara e calma, cortando a antecipação zumbindo. "Meu nome é Alícia Castillo. E estou aqui para lhes contar a verdade."
Eu expus tudo. A descoberta no aniversário. O diário de Carla, com provas fotográficas. O aborto espontâneo. Carla se mudando para minha casa. A queda encenada. O falso aborto. O armazém. O áudio adulterado. A agressão. Cada detalhe feio e brutal, apresentado com calma, racionalidade, com documentos e fotos de apoio. Mostrei o laudo forense, o boletim de ocorrência.
"Carla Rocha", eu disse, minha voz subindo ligeiramente, "é uma vigarista. Ela fabricou uma história de abuso para manipular o Caio, para roubar meu marido, para roubar minha vida. Ela orquestrou tudo para me incriminar, para me fazer parecer uma vilã desequilibrada."
A seção de comentários explodiu. Dúvida. Incredulidade. Então, lentamente, uma mudança. "MEU DEUS! Aquele diário é real!" "Ela tem provas!" "Isso é uma loucura!" "Caio Mendes, seu desgraçado!" A maré estava virando.
"Não estou fazendo isso por vingança", afirmei, olhando diretamente para a câmera, meus olhos queimando com um fogo frio. "Estou fazendo isso pela minha verdade. Pela minha dignidade. E pelo filho que perdi, por causa de suas mentiras e crueldade."
Terminei a transmissão. Meu telefone tocou imediatamente. Era Caio.
"Alícia! Que diabos foi isso?!" ele rugiu, a voz crepitando de fúria. "Você está tentando destruir a Carla! Você está tentando matá-la com suas mentiras!"
"Mentiras, Caio?" Minha voz era quase um sussurro. "Você ao menos se deu ao trabalho de olhar as provas? Você, por um segundo, considerou que eu poderia estar dizendo a verdade?"
Ele ficou em silêncio por um momento. Um silêncio longo e agonizante. Meu coração palpitou, um pássaro minúsculo e desesperado preso em uma gaiola. Por favor, Caio. Apenas um pingo de crença. Apenas um momento de dúvida nela, e de fé em mim.
"Caio", comecei de novo, a voz trêmula, "eu estava grávida. Perdi nosso bebê. E fui agredida sexualmente naquele armazém. Eu tenho um tumor cerebral, um tumor mortal. Você acredita em mim?"
Sua resposta, quando veio, foi um toque de finados. "Alícia", disse ele, a voz plana, desprovida de emoção, "você está verdadeiramente além da salvação. Você está completamente desequilibrada. Estou fazendo isso pelo seu próprio bem."
Ele desligou.
O telefone escorregou dos meus dedos, caindo no chão. O último lampejo de esperança, o último fio desesperado que me conectava a ele, foi cortado. Meu mundo escureceu.