Eu não era uma santa altruísta. Não de verdade. Eu estava apenas plantando sementes para minha nova vida, esperando cultivar algo bom.
O jovem, guiado pela Dra. Evans, me encontrou na sala de espera. Ele era alto, com olhos gentis e uma energia nervosa. "Senhora", ele começou, a voz rouca de gratidão, "eu não sei como poderei te agradecer."
"Não precisa", eu disse simplesmente, entregando-lhe um cartão com o contato de Evelyn. "Minha advogada cuidará dos detalhes. Apenas se concentre no seu irmão." Mas ele não foi embora. Ele me seguiu, uma sombra silenciosa e persistente.
Ele finalmente bloqueou meu caminho, o rosto corado. "Pelo menos... posso ter seu número? Para que eu possa te manter atualizada sobre meu irmão?" Seus olhos, sérios e suplicantes, continham uma esperança desesperada.
"Alice!" A voz de Bruno, afiada e furiosa, cortou o ar. Ele estava lá, vindo em nossa direção, o rosto uma máscara de raiva.
Ele parecia desgrenhado, seu terno caro amassado, a gravata torta. Seus olhos, geralmente tão calculistas, agora estavam crus com uma raiva possessiva.
Encontrei seu olhar por um momento, depois desviei deliberadamente, focando no jovem. "Minha advogada entrará em contato", reiterei, uma sutil dispensa.
O jovem, sentindo a tensão, as orelhas ficando vermelhas, deu um aceno rápido e respeitoso e recuou. Ele parecia entender.
A raiva de Bruno fervilhava, seu maxilar tenso. Sheron, aparecendo por trás dele, o rosto uma imagem de falsa preocupação, tocou seu braço. "Bruno, querido, você está bem?"
Não lhes dirigi outro olhar. A visão deles juntos, sua falsa preocupação, a solicitude fingida dela, era nauseante.
Virei nos calcanhares e fui embora.
"Alice! Se você for embora agora, acabou de verdade!" Bruno gritou atrás de mim, sua voz quebrando com uma finalidade desesperada.
Acabou? Pensei, uma risada amarga subindo pela minha garganta. Já tinha acabado há muito, muito tempo.
Evelyn estava esperando no estacionamento. Deslizei para o banco do passageiro do carro dela.
Ela me entregou um pequeno documento de aparência oficial. "Sua certidão de divórcio, Alice. E sua certidão de casamento invalidada."
Eu as peguei, meus dedos traçando o selo oficial nos papéis do divórcio. Parecia tanto com a certidão de casamento, apenas mais vermelha, mais ousada, gritando finalidade. A ironia não passou despercebida. Dois pedaços de papel, tão semelhantes na forma, mas significando mundos vastamente diferentes.
"E a do Bruno?", perguntei, minha voz plana.
Evelyn gesticulou para o banco do passageiro. "Ele se recusou a assinar o recebimento. Terei que enviar para o escritório dele."
"Fique com ela", eu disse, jogando a certidão de casamento invalidada no banco vazio. "Eu não a quero."
Peguei meu telefone, removi o chip e o joguei em uma lixeira próxima. Telefone novo, número novo, vida nova. Minha primeira parada: o aeroporto internacional.
Enquanto Evelyn dirigia, paramos em um sinal vermelho. Olhei casualmente pela janela. Minha respiração ficou presa. O carro preto e elegante de Bruno, instantaneamente reconhecível, parou ao nosso lado. Ele não tinha saído do hospital.
Apertei rapidamente o botão para levantar minha janela, esperando que ele não me visse. Não agora. Não quando eu estava finalmente livre.
O sinal mudou. Evelyn acelerou, e o carro de Bruno ficou para trás, desaparecendo no retrovisor. Parecia uma partida simbólica, uma ruptura final.