Ela não estava lá.
Eu a deixei entrar depois que ela desmaiou ontem. Eu disse a mim mesmo que era disciplina. Uma lição necessária. Eu me convenci de que ela precisava respeitar a hierarquia.
Subindo as escadas de dois em dois degraus, fui para o quarto principal.
A porta estava aberta.
O armário estava aberto.
O lado dela estava vazio.
Não apenas bagunçado. Vazio.
Os cabides estavam nus, esqueléticos contra a madeira escura. As gavetas estavam abertas, escancaradas como bocas abertas.
Meu coração deu um baque estranho e errático.
Ela realmente tinha feito isso.
Caminhei até a mesa de cabeceira.
Havia um envelope grande.
Eu o abri.
A sentença de divórcio. Assinada. Autenticada. Final.
Debaixo dela havia uma foto.
Era uma Polaroid. Eu e ela, anos atrás. Eu estava no telefone, de costas para ela, minha atenção em outro lugar. Ela estava olhando para as minhas costas.
Ela havia escrito no verso.
*Ano 4. Ele ainda não me vê.*
Encarei a caligrafia. Era limpa, precisa. Caligrafia de cirurgiã.
O ar saiu dos meus pulmões em uma golfada.
"Dante?"
Eu me virei.
Sofia estava parada na porta. Ela usava um robe de seda, o tecido brilhando sob as luzes do corredor. Ela segurava uma taça de champanhe.
"Onde está a empregada?", ela perguntou, sua voz leve e despreocupada. "Preciso que alguém passe meu vestido para amanhã."
"A empregada?", repeti, minha voz soando estranha aos meus próprios ouvidos.
"A Elena", disse ela. "Onde ela está?"
Algo dentro de mim se partiu.
Foi um estalo violento e audível no meu peito, rompendo qualquer lealdade cega que eu vinha mantendo.
Olhei para Sofia.
Quero dizer, eu realmente olhei para ela.
Vi a arrogância em seus olhos. O egoísmo.
Ela não era frágil. Era um parasita.
"Saia", eu disse.
Sofia piscou, seu sorriso vacilando. "O quê?"
"Saia da minha casa", eu disse. Minha voz era um rosnado baixo, vibrando com raiva suprimida.
"Dante, você está brincando. É tarde."
Caminhei em direção a ela.
Ela deu um passo para trás, o medo piscando em seus olhos pela primeira vez.
"Você roubou a medalha, não foi?", perguntei.
"O quê? Não! A Elena pegou!"
"Eu a encontrei na sua bolsa, Sofia", menti. Eu não tinha verificado, mas eu sabia. De repente, com uma clareza que cortava como vidro, eu simplesmente sabia.
Seu rosto desmoronou.
"Eu... eu só queria que você visse como ela era mesquinha! Ela nos odeia, Dante!"
"Saia!", rugi.
Agarrei seu braço. Não me importei com o dano no nervo dela. Arrastei-a para as escadas.
"Dante, por favor!"
Levei-a até a porta da frente. Eu a abri. Empurrei-a para a noite.
"Chame um táxi", eu disse. "E nunca mais volte."
Bati a porta.
Tranquei-a.
Encostei minha testa na madeira, respirando com dificuldade.
Eu me virei.
A casa era enorme. Era uma fortaleza.
E estava completa, terrivelmente vazia.
Olhei para o papel do divórcio em minha mão.
*Elena Vitti.*
Ela havia pegado seu nome de volta.
Ela havia pegado sua vida de volta.
E me deixou com os destroços.