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00 - 0 - CONHEÇA OS LIVROS DA COLEÇÃO LIVRO DE CONTOS
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A COLEÇÃO LIVRO DE CONTOS E COMPOSTA POR 10 ROMANCES SOBRE A FAMÍLIA LEDNOM, EM CADA VOLUME GRANDES PAIXÕES E ROMANCES PICANTES SÃO VIVIDOS PELOS MEMBROS DESTA PODEROSA FAMÍLIA BELGA. MAS NÃO É APENAS ISSO.
Nas entrelinhas deste romances e em cada um dos volumes uma trama acontece em segredo. Textos ocultos estão por todos os lados e pistas são apresentadas para que os leitores possam encontrá-las. Crimes, paixões proibidas, traições, tudo isso em uma segunda leitura proposta e escondida. Um presente a parte oferecido aos leitores.
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Bem vindo ao universo de "Livro de Contos" de Thiago Mondel.
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Não se pode negar, nada melhor do que festejar com estilo. Isso é uma coisa que eu aprendi em minhas viagens pelo mundo. Principalmente nos tempos que estive com a Dama das Flores. Será este o segredo dos grandes? Faraós, reis, sheiks, sultões e até o grande Kublai Khan? Todos têm em seus reinos imponentes o histórico de grandes e constantes festas nos salões de seus palácios que ostentam a magnitude de seu poder. Banquetes para atrair a vitória em uma grande batalha, bailes celebrando grandes colheitas, desfiles em agradecimento por uma noite de caçada. Tudo como oferta à uma conquista.
Você Hélio, o que vai oferecer pelas vitórias que a vida lhe tem trazido? Os deuses pedem sacrifícios. As deusas devoção. Já os homens, álcool e prazer. Isso eu lhes dou. Mas este homem pensa em deixar tudo isso. Em várias culturas para se dizer adulto um garoto abandona tudo em busca de um grande feito. Algo digno para dizer que saiu menino e voltou homem.
Quero isso em minha história. Fiz o negócio da minha vida. Grande o bastante para olhar meu pai nos olhos lhe dizer "meus negócios hoje são ainda maiores que os seus" e fazê-lo ter orgulho de mim. Mas a vida não é como desejamos. Esta mesma vida já me privou o direito de fazer isto há muito tempo.
Agora já passou o tempo de lágrimas.
Eu cresci e preciso mudar. De início nesta mudança está o fim dessas festas. Baseado nos grandes. Agora é a hora da batalha.
Começando esta nova ideia sinto que estarei só. É mais que provado que depois dessa noite não verei mais muitas dessas pessoas, se não todas. Apesar de termos passado muito tempo juntos, e apesar desta festa secreta de despedida, não posso dizer que somos amigos. Sangues sugas. Me rodeiam quando estou sozinho. Mulheres sempre prontas para tudo e homens que vivem um status que não possuem, presos as botas de quem os pode oferecer isso. Não é ruim. Mas solta-se a âncora quando se está a lançar voo.
Um pensamento pesado que custei a entender e aceitar. Mas a posição da minha família e a influência da Dama das Flores em cada lugar onde passo já pesam. Sozinha minha imagem já é para mim grande responsabilidade.
Hora de assumi-la.
Pensava sobre tudo isso enquanto a festa ia acontecendo, muito mais da metade dos convidados não sabe quem eu sou, eles estão apenas ali, e eles não fazem ideia do porquê.
Recostado na janela imagino. Quantos deles teriam vindo se ao invés de oferecer uma festa lhes pedisse ajuda para seja lá o que for? Não consigo imaginar muitos. Passando os olhos ao redor vejo um que viria. Ele me ergue sua taça num aceno. Um amigo com quem sempre pude contar nos bons e maus momentos, e ele da mesma forma.
Penso em quantas já passamos juntos quando olhando janela a fora algo chama atenção do meu olhar. Na torre norte vejo na janela uma silhueta, de mulher pelas formas que seu corpo tem, parece deslizar de ponta a ponta da sala com a leveza de uma noite feliz, dançando sozinha consigo, com uma notável felicidade. Parece completa em sua solidão, mais que eu dando uma festa. Espaço para circular livre, enquanto eu celebro com estranhos e pessoas por quem não tenho afeição. Eu a invejo.
Me lembro bem, já estive naquele apartamento. 34º andar o último duplex. Ele era perfeito para mim. As salas amplas, suítes grandes. Mas havia sido vendido na planta. Foi daquela janela que eu vi essa cobertura pela primeira vez. Na torre vermelha. Do outro lado da força. Feita para mim.
Mas uma coisa é certa, tanto o duplex quanto a cobertura são exageros quanto se trata de luxo e espaço. Isso é um fato de fato. Eu me reconheço como um homem envolvido em muitos exageros.
Depois de um bom tempo aprendendo a administrar os negócios de meu falecido pai e os outros negócios da família. Dividindo o tempo entre envase de água e flores, pensava "os teus projetos onde estão?" Foi com esse ideal que nos últimos 3 ou 4 anos venho especulando o mercado imobiliário.
E agora entrei forte nele focado nas zonas industriais. Condomínios de galpões com os pensamentos de acesso e infraestrutura voltados para este mercado. Essa ideia ousada que está fazendo de mim um homem bem-sucedido nos negócios. Já na vida pessoal ainda sou incompleto em relação a meus sentimentos solitários. Eu diria que sou o oposto da mulher que vejo da janela, não quem ela é de fato, não faço ideia de quem seja, mas criei uma versão para mim onde ela é e será sempre uma diva, a musa sob os pés da qual deposito minhas flores.
Quem é ela? As luzes baixas e a janela refletiva não me permitem vê-la em detalhes, em meus pensamentos devassos eu sei que ela está lá. Suas vestes vermelhas contrastam na luz distorcida pelo vidro, impossível negar ou afirmar sua beleza, mas sua presença alegre me contagia, me faz querer estar lá, olhando enquanto ela dança. Estar com ela como nunca desejei estar com alguém antes.
Disfarcei subitamente minhas olhadelas ao notar que um grupo de convidados se aproximava.
- Estamos indo. Vou levá-la para casa.
- Aprontando das suas tão cedo? Você nunca deixou uma festa minha antes de amanhecer.
- Já não é tão cedo, e ela já bebeu bastante.
- Cuidado com ele. Ele é mau.
- Vem com a gente. Dê suas mãos. Tá a fim de cuidar de mim?
- Ainda tenho convidados. Vou ter que recusar. Se divirtam.
A festa seguia e a animação não podia diminuir, as taças sempre cheias e os bons comentários percorrem entre as rodas.
Aproveitando a deixa da saída do casal resolvi estourar um champanhe. Para celebrar, mas perdendo o controle acabei por virar a garrafa sobre a garota de saída molhando sua blusa, seu decote que já era bastante ousado agora era branco e molhado, ou seja, totalmente transparente. O banho acidental para minha surpresa e ação foi muito além do que eu esperava. Ela despiu seu corpo tirando a blusa molhada e pegando a garrafa transformou o acidente em um banho de espuma, ao que muitas das garotas aderiram exibindo seus seios. Garrafas e mais garrafas foram sendo usadas e sob vários banhos que vieram após este se tornando uma nova virada na festa. As garotas gostaram da nova proposta, desfilavam seminuas sendo regadas a espumante e outras bebidas enquanto passavam, dançando sempre com o olhar de cobiça dos rapazes fixo nelas. As vezes até os permitiam beber de seu corpo enquanto as bebidas escorriam por ele. Um mar noturno repleto de lindas garotas e belos seios. Um lençol me cobriu o desejo de mudança e acabei por desfrutar disso tudo por toda a noite, o dono da festa não podia ficar totalmente de fora. Deixei de lado minha vigília da janela e tudo que estava pensando. Mas não me esqueci daquela mulher, daquela silhueta.
Seguiu assim. Festa a noite toda até o amanhecer. Nem sei dizer quantas pessoas entraram e saíram desta casa esta noite, o motivo da festa foi alcançado, elogios a tudo.
Mas o fato é. Foi mesmo a minha despedida.
Um novo dia nasce é hora de colocar todas as coisas no lugar, e buscar o silêncio. Encaixotar a vida libertina e a boemia, e ter mais zelo e responsabilidade com o trato e administração dos negócios, afinal, essa cobertura não vai se pagar sozinha. Antes de qualquer coisa preciso da lista de serviços do condomínio. Tenho que encontrar alguém para fazer uma bela faxina nesta casa. Depois disso vou dar um passeio, comprar algumas coisas, objetos e móveis, algumas coisas que apaguem esta noite e deixem este lugar com cara de meu. Ainda hoje, se possível, já gostaria de passar a noite aqui, para isso tenho que providenciar itens básicos para sobreviver a vida de solteiro.
"Vida, te quero mais que nunca" me senti livre a vida toda, hoje sou mais que livre, sinto-me completo, um homem e sua casa. As aves voam e tem seus ninhos, as feras têm suas tocas.
Resolvi então fazer assim. Entrei em contato com os zeladores e também com os porteiros na guarita, se existe alguém aqui que conhece as diaristas e sabe sobre o trabalho delas são eles. Em poucos instantes de papo já tinham me dito vários nomes, mas em um consenso entre eles me indicaram a tal Senhora Sabrina, moradora da torre norte cujo o bom trabalho não é nenhum segredo, Dali mesmo pelo interfone eles a acionaram fazendo o tramite necessário. Com a confirmação que ela estaria na cobertura em 1 hora deixei as chaves na portaria e fui buscar o que preciso.
Estou certo de que uma mulher que trabalha nos apartamentos do condomínio onde mora não há de ser desonesta, e mesmo que ela resolva ser. O que tem ali de valor que ela queira? Ao menos que seja uma alcoólatra compulsiva, mas se for, é um sinal de que temos muito o que fazer juntos.
Essa ação deixou a todos ao redor bastante confusos, se olharam mutuamente boquiabertos.
- Teu gesto é arriscado senhor. Não é seguro deixar estanhos trabalhando sozinhos. Mesmo que nós conheçamos a Senhora Sabrina. A ocasião faz o ladrão, isso é mais que comprovado.
- Eu não penso assim. Meu lado de ver as coisas é um pouco diferente. E me chame apenas de Hélio. Não gosto muito desses termos formais. Nós não vivemos em uma corte.
Minha prática visivelmente deixou a todos ali em uma posição estranha ninguém em sã consciência faria isso, mas eu de fato não me importo.
Isso resolvido segui o dia. Estou longe de ser um bom comprador, mas se não sabes comprar tua casa? O que sabes fazer?
Pensando nisso me foquei em algumas coisas que sinto falta, coisas essas que vão meu auxiliar em meus hábitos e talvez corrigir alguns maus hábitos já na minha mente. Coisas como entrar em casa e jogar as chaves por aí, e depois ficar doido procurando por elas, então algo para pendurar as chaves corrigiria isso, um balcão ao lado da porta para nessa entrada da casa ter um lugar onde por volumes. Sobre ele um belo um enfeite que tenha relação comigo, um fanfarrão de personalidade única louco por realizar desejos. Após uma caminhada de uma hora nas lojas que vi, as mais diversas e variadas e com opções ainda mais variadas, cheguei a gostar de algumas coisas, mas nada que fizesse "tum" me compre e me leve para casa, até que cheguei numa loja indiana, como naquela novela do 'Are Baba', com o Tio Ali e a Giovanna Antonelli. Me impressionei com a diversidade, eu queria tudo. Mas como dizem, "faça apenas o que veio fazer". Tive então que me controlar para não sair comprando tudo o que via. Um senhor baixinho logo veio até mim, me deu boas-vindas e me disse para de verdade ficar à vontade, me ofereceu café, água e chá me mostrando um balcão onde se encontravam, disse estar atendendo uma pessoa e dizendo mais uma vez para eu ficar à vontade foi saindo. E fiquei ali e pude circular pela loja, sem um vendedor chato de rabo de lagartixa me seguindo a todo momento.
Não demorou uma mulher passou, acompanhei seus passos achando ser ela bastante familiar, seja conhecida ou não perguntar isso agora não seria nada crédulo. Uma elegância deslumbrante usando um vestido amarelo pouco abaixo dos joelhos, típico de primavera, cabelos soltos e com seus olhos claros. Linda! Minha nossa! Observei-a sem piscar os olhos vendo-a entrar na loja vindo diretamente até mim.
- Bom dia, você pode me ajudar?
- Acho que sim. Me diga como.
- Eu quero essa mesa. Fantástica essa loja, na vida toda nunca vi algo tão belo e harmonioso como ela. Quero também o buffet, o aparador e quero um espelho bem grande. Você consegue me entregar isso hoje? Amei essa peça. Parece ser fundida.
- Entregar? Hoje? De forma nenhuma. É isso que você precisa? Então não posso ajudar.
- E quando seria possível? Amanhã? Depois?
- Não. Creio que eu também não. Talvez seja melhor você procurar outra pessoa, em outro lugar.
- Não entendi, você não pode me vender essas peças?
- Eu? De maneira nenhuma, desculpe.
- Isso é um absurdo! Minha intenção é comprar essas peças e pagar à vista por elas. Como uma cliente eu esperava ser mais bem recebida.
-Tem razão. Nisso posso te ajudar, ali tem água, chá e café.
- Obrigada, não é isso que eu quero. Não sei se consegue me entender a única coisa que eu quero é que você me diga o valor dessas peças e quando fará a entrega.
- Nunca farei a entrega, e não faço ideia do valor.
- Mas que sujeitinho. Quer saber, creio que eu não preciso disso.
Falou ela saindo?
- Você não vai esperar o dono da loja? Ele vem vindo ali.
- O que? você não...
- Se eu trabalho aqui? Não. Sou cliente também. Acredito serem inadequadas suas palavras. A mesa que você gostou é bem interessante, entrei na loja por causa dela. O conjunto com o aparador também faz um par perfeito. Não usaria com espelho. Me parecem inadequadas.
- Nossa, me desculpe. E eu aqui sendo tão grosseira. Por que não disse logo que também é um cliente comprando?
- Você me pediu ajuda, aí eu pensei, por que não? Posso ajudar, enquanto estas ajudas estiverem em meu domínio. Não me perguntou em momento algum se trabalho aqui.
Sorrimos juntos até que o senhor que me atendeu de início voltou e passou a nos dizer os valores. Palavras após palavras ele fazia questão de contar as histórias dos itens conforme passávamos por eles, histórias que nos encantavam e faziam desejá-los. Peças inspiradas na decoração dos palácios de uma série de "Alis" e "Mohammeds", gente que eu nunca ouvi falar, Mas fingia entender quem elas eram para causar boa impressão.
Momentos depois eu e minha desconhecida companheira já começávamos a ter gosto comum e até indicávamos estes gostos em comum, isso quando não indicávamos algo um para o outro, aquele aparador ficaria bem com seu buffet, ou aquela poltrona é perfeita para sua mesa. Os artigos em geral tinham uns sentimentos por trás deles. E é por esses sentimentos que estávamos nos interessando. E saber que uma mulher assim tão elegante como esta tem gostos que coincidem com os meus me leva a pensar que estou acertando nas escolhas.
- Então vamos ver. São duas camas de casal king, dois conjuntos de aparador com espelho, a mesa grande com cadeiras e uma mesa de seis lugares. O que mais guardo para o casal?
- Casal?
- Parecemos ser um casal? - respondi rindo.
- Desculpe a risada senhor. Na verdade, nem nos conhecemos, cheguei na loja e ele já estava aqui.
- Me perdoem. Vendo móveis e decoração para casais apaixonados há muito tempo. A prática me ensinou a reconhecer o amor. Eu juraria que vocês nasceram um para o outro. O destino deve ter grandes planos e um futuro maravilho para ti, e para ti, mas sobretudo para os dois.
- Sim, ele tem sim. Um futuro maravilho. Simplesmente esplêndido eu e ele.
- O que você está falando? Não existem nós dois. Estar juntos foi divertido, porém é só uma coincidência.
Neste momento toquei-a no rosto indicando uma direção.
- Olhe
Eu disse apontando para uma parede repleta de peças decorativas, dragões, gueixas, luminárias e a frente disso tudo algo que não permitia que se passasse sem admirar. Sobre uma pilastra de meia altura com luzes voltadas para si uma peça que realmente me encantou, não apenas pela beleza, mas por sua expressão que não posso descrever.
- Vou deixar o casal olhar mais. Desculpe. Vou deixar vocês olharem mais. Enquanto isso vou organizar e separar o que já escolheram.
- Consegue me entregar isso essa semana?
- Essa Semana? Senhora Deixe-me dizer. Suas compras vão contigo para casa.
Observei o quanto aquela notícia a agradou. Mas eu mesmo não tinha tanta urgência. Sabe-se lá quanto tempo vai levar até que minha casa esteja limpa. Espero que a Senhora Sabrina já esteja lá.
- Me diga, o que achou?
Perguntei chamando sua atenção para a estátua que eu lhe havia mostrado.
- É lindo, essas bochechas fofinhas e essas pernas, sua expressão, me alegra só de olhar, nunca vi um sorriso tão alegre em outras imagens.
- Quero essa estatua. Ficará perfeita na minha entrada, no centro do aparador de madeira.
- Sim, realmente ficará ótimo. Não me arrependo de comprar esse. Talvez eles tenham outro. Aí você pode levar.
Disse ela abraçando a estátua como se pegasse para si.
- Nem pense nisso. Eu vi primeiro e vou levá-lo comigo.
- Nunca. Mas de forma alguma. Olhe bem para ele? Tem tudo a ver comigo.
- Com você? O que um buda gordinho dançando frevo tem a ver com você? Não me faça rir. Mas para você se sentir feliz. Fique com as máscaras de bambu, vão ficar ótimas na entrada da sua casa.
- Buda gordinho dançando frevo. Parece que você nem se quer sabe quem ele é. Você não parece ser tão ligado a essas coisas. Por que o quer tanto?
- É bonito, diferente e irreverente. Muito eu.
- Meu Deus! Que tipo de pessoa você é? Há eu já sei.
- Já sabe?
- Sim sei um pouco sobre esse tipo de pessoa que você é.
- Muito improvável, mas diga o que você acha que sabe.
- Você é aquele tipo de cara.
- Aquele tipo, ótimo. Totalmente sem fundamentos.
- É tão difícil de você notar? Será que você não vê o que está tão evidente?
- Diga logo sem delongas, que tipo de cara?
- Aquele tipo de cara que poderia ter Budas Gordinhos dançando frevo, colecionar e os ter em casa, mas... só que não. Este é meu.
Sem um acordo sobre quem ficaria com a peça debatemos ali o nosso "é meu é meu", até que o vendedor voltou a ter conosco.
- Vejo que vocês gostaram do nosso pequeno Nilo. Ele é nossa relíquia mais querida.
- Ele é lindo. Nunca vi nada igual.
- Não há nem haverá algo como ele. Ele é único. Está comigo desde sempre. Ele foi esculpido nas pedras do templo Maha Bodhi por um monge enclausurado de Bodhgaya.
- Bodhgaya? Esta não é a terra natal do próprio Buda?
- Sim, meus avós diziam que o desejo do monge que o esculpiu era agradar seu amigo de infância, Siddhartha Gautama, lembrando as peripécias que faziam juntos quando meninos. O motivo da clausura deste monge anônimo era exatamente sua irreverência ao viver o que não seria um problema, se não influenciasse Siddhartha. O último sinal de sua irreverência foi esculpir o amigo iluminado como o garoto brincalhão com quem cresceu. Gordo, dançando, sorrindo, feliz. Era isso que ele desejava. Pretendendo entregar seu presente ao Buda durante sua visita aos enclausurados ele removeu a pedra de sua cela o que causou um grande desmoronamento. Uma carta junto a imagem contava cada detalhe sobre ela. Foi encontrado por meus ancestrais nos escombros abraçando a escultura para protege-a. Ela foi levada ao Buda que sorriu pela última vez. Ele recebeu feliz o gesto do amigo, o detalhe é que ele não ficou muito tempo com ela, deixando aos cuidados da minha família e partindo para suas meditações finais.
- Nossa é uma história e tanto!
- É sim. Ficamos aqui e a cada item que vemos a história fica melhor. Mas nesta faltou nos dizer o mais importante deste budinha.
- Importante? Contei ao senhor uma história de séculos.
- Sim, mas diga. Quanto custa? Chega mais que dia?
- Quanto custa?
- Sim. Entendemos e amamos toda essa história. Quanto quer por ele?
- Acho que o senhor ainda não entendeu. O Pequeno Nilo seria a última peça que eu venderia desta loja. Foi de meu pai, e do pai do meu pai, e do pai do pai do meu pai e também do pai do pai do pai do meu pai.
- Isso é muito tempo
- Está na minha família desde sempre. Senhora.
- É formidável. Ter um objeto tão antigo. Uma relíquia de família.
- Sim, mas então?
- Então?
- Por quanto?
- Por quanto o que?
- Por quanto quer vender?
- Vendê-lo nem por minha vida.
- Você é chato. Ele já disse que não está à venda. Ele não quer vender horas.
- Como não quer? Ele foi claro que será a última peça que vai vender. Ele tem o desejo de vender e eu o interesse em comprar.
- Recebi do meu pai e passei para meu filho. Agora pertence a ele, junto com toda a loja.
- Seu filho?
- Sim, o meu pequeno Eddie. Ter um filho muda tudo. Hoje ele é o orgulho dos meus dias. Veja ele chegando ali.
- Um garoto. Veja só. Tudo bem Pequeno Eddy?
- Sim, esta loja é minha. Em que posso servi-lo. Seus desejos são uma ordem.
- Já comprei o que precisava. Me diz uma coisa. Gosta de trabalhar aqui? Gosta de ser dono da loja?
- É minha honra. Manter as palavras que saem dos meus lábios sendo honesto e justo sempre. A loja tem sido de minha família e é aqui que eu vou construir minha vida e meu futuro.
- Mas não prefere estar em casa se divertindo muito nos jogos do seu vídeo game? Acredito que você tenha um super Ps5 no seu quarto.
- Que nada, meu pai muquirana nunca me deu um vídeo game. Daria tudo para ter um.
- Daria tudo? Meus desejos se realizaram. Daria tudo mesmo?
- Chega disso. Vamos embora. Já fizemos nossas compras.
- Por favor. Venham comigo. Aqui está. Seu pedido e sua nota fiscal, e aqui está a sua. Voltem sempre. Nem que seja apenas para um café. Teremos muito prazer em lhes atendem caso desejem qualquer coisa da loja.
- Qualquer coisa? Perfeito. Quanto custa...
- Menos o Pequeno Nilo.
Com isso tudo eu tive então que me dar por vencido, o buda gordinho dançando frevo não será meu, não desta vez. Mas estou satisfeito com os móveis que comprei. Além do mais a senhora Sabrina ainda está lá, talvez seja mesmo hora de ir. Me ausentar por tanto tempo não é bom, pensando que é a primeira vez que ela está lá, ela não deve ter a menor ideia de onde eu quero pôr minhas coisas, se bem que eu também não faço a menor ideia.
- Por mais agradável que tenha sido, preciso ir.
- Suas compras já estão carregadas deseja que já sejam entregues?
- Eu poderia pedir uma pequena gentileza? Poderia entregar as minhas primeiro? Preciso muito organizar minhas coisas.
- Se o senhor permitir.
- Por mim tudo bem. Então vou indo. Foi um prazer. - Disse estendendo a mão passando uma vergonha única, aproximando para me despedir com um beijo em seu rosto.
- Obrigada. Meu endereço vocês já têm por favor o quanto antes. Aguardo por vocês lá.
Disse ela saindo da loja sem reagir, desta vez a qualquer uma das minhas ações. Fiquei com a maior cara de bobo, achava que sairíamos amigos dali para um almoço. Em todo caso é normal numa despedida que a pessoa ao mesmo responda.
- Então o destino tem grandes planos para nós? Parece que não é bem assim.
- Tem sim, está bem claro isso.
- Claro onde? Não viu como ela saiu sem nem se despedir?
- Será sua amada. Mas os planos são para o futuro. Não são para hoje. Os desígnios do destino não são como a gente pensa.
- Desculpe, mas eu não entendo nada disso. E agora preciso ir. Para minha casa.
- "Tem coisas que a gente escuta, mas só entende quando acontece." Não adianta lutar contra o destino.
Sai encabulado com aquele fora e me coloquei a caminho de casa.
- O que ela pensa que está fazendo?
Estava bem próximo e em menos de 10 minutos já passava pela portaria e subia no elevador privativo da cobertura. Levei a mão até a porta e a princípio estranhei, como pode estar trancada? Me lembro bem de deixar aberta. Forcei a maçaneta por duas vezes antes de lembrar que a senhora da limpeza estava lá dentro. Toquei a campainha pelo menos 3 vezes eu precisava entrar logo, e tive um grande susto quando a porta se abril. A senhora Sabrina era totalmente o oposto do que eu imaginei, uma mulher de 25 anos é o que lhe daria, no máximo. Simplesmente linda, isso em todos os aspectos vestida em uma calça azul justa e um top que mesmo usando um avental deixava bastante evidente o volume de seu corpo. Pelo menos a meus olhos.
- Pois não.
- Você deve ser a Sabrina.
- Sim, e você é?
- Sou Hélio, o dono da casa (risos)
- Nossa! É minha primeira vez aqui, não conhecia o senhor.
- Não ligue para mim. Vou só pegar umas coisas.
- Não é exatamente a minha primeira vez aqui. Mas trabalhando sim. Foi uma festa e tanto hein.
- Foi. Muito melhor que a festa está sendo o seu trabalho. Este seu jeito de fazer as coisas transformou aquele cabaré numa casa.
- Não importa o quão sujo está uma coisa, sempre é possível limpar. Minha avó me dizia isso o tempo todo. Daí meu desejo e meu gosto pelo meu trabalho.
Ela falava enquanto limpava uma vidraça, eu um pouco aéreo não prestava atenção ao que ela dizia. Até que me deparei com ela no alto da escada. Acabou aí minha distração.
- Mas uma coisa é fato Seu Hélio, a casa limpa é uma delícia.
- Sim é uma delícia, mas eu infelizmente não posso.
- Não pode?
Oi, desculpe estava pensando alto. Já Acabou?
- Sim. Já acabei, o senhor quer conferir? Precisa que eu faça algo mais?
- Conferir? De forma alguma. Quanto de devo?
- 200 reais. É o valor da diária.
- Por limpara toda essa zona? De forma alguma. Tome aqui, 350. Não foi uma diária simples. Venha no fim da semana. Talvez na sexta.