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Quinta-feira. 01h45
Deitei. Estou tão exausta tal qual qualquer mulher suburbana que passa o dia cuidando da casa, dos filhos, do cachorro e do marido. O bônus é que não fiquei com minha barriga estirada em um tanque de roupa suja ou com meus dedos cheirando à alho e cebola. Para falar a verdade meus dedos estão cheirando a outra coisa. Não, não estão mais, acabei de sair de mais um banho e decidi que está na hora de parar por hoje, foi um dia produtivo e exaustivo. Por alguns momentos mantive a dúvida se acendia um dos meus cigarros com sabor de cereja ou se apenas fingia dormir para que o sono chegasse mais rápido, mas a indecisão acabou com qualquer intenção de repousar o meu corpo até o sorrir do amanhecer, decidi colocar uma das músicas instrumentais que me acalmavam desde sempre e optei por meu pianista preferido: Chopin.
Sei que você deve estar rindo ou pensando no tipo de puta que sou, que vende o próprio corpo em uma cena de sexo violento e em seguida se entrega à calmaria e clima introspectivo de Frédéric Chopin, pode me julgar, eu mesma não me entendi por algumas vezes; ainda assim essa sou eu, prometo que se acostumará. Meu corpo geralmente passa por muito estresse e fico um tanto quanto exausta após minhas sessões com meus clientes, a música me relaxa, assim como a maconha que consumo algumas vezes na semana... Escrever também me ajuda, por isso passo grande parte da madrugada com meu MacBook Air no colo, escrevendo e relatando minhas histórias em arquivos confidenciais do WordPad, ora escrevendo, ora alterando as fontes para decidir qual delas se tornaria mais agradáveis visualmente: Century Gothic, fonte 10 parece formidável.
Não. Pequena demais. Fonte 11, perfeito.
É gostoso ficar deitada no meu quarto bagunçado me sentindo quase uma pessoa normal. Mulheres da minha idade deveriam agora estar no WhatsApp mandando "boa noite" para seus namorados, enchendo seus celulares com emojis de coração, s2, <3 e "amo você". Eu não, eu estou apenas digitando e me recordando da minha noite corrida e proveitosa: o Marcelo havia chegado diferente hoje, tão sóbrio e sensato que eu imaginei por um instante que poderia me apaixonar por ele, até me divirto com a fantasia de namorar um filhinho-de-papai. Logo eu, transgressora do jeito que sou, seria cômico e trágico. Hoje ele entrou no meu apartamento de uma forma realmente marcante, sem a garrafa de whisky, sem o cheiro de cachaça e sem arrancar pinos de cocaína do bolso, estava até perfumado, olha só. Ainda assim, cumprimos o ritual: Banho imediato!
Quando ele saiu do meu banheiro eu comecei a reparar em alguns detalhes que eu jamais havia dado importância: os pelos escuros do peitoral, os pés grandes com unhas bem cortadas e os bíceps definidos, ele era de verdade um garoto muito bonito e demonstrava uma inteligência acima do convencional, seria um bom jornalista. Eu poderia tirar alguma foto íntima para chantageá-lo futuramente caso virasse âncora de algum telejornal do horário nobre.
Claro que eu nunca faria isso, mas eu posso me divertir imaginando algumas situações, não?!
Ele saiu do banheiro com a toalha escura enrolada na cintura e quando se sentou mexia os dedos dos pés de uma maneira engraçada e sincronizada, ele estava sem graça pela primeira vez desde que nos conhecemos, eu sabia o que viria... Ele iria terminar o nosso relacionamento. Acredito que possa chamar de relacionamento, nós nos relacionamos, nós até nos gostamos.
- Eu a pedi em casamento... eu estou um pouco confuso.
Me levantei e peguei uma bebida, eu sabia que precisaria, retornei e sorri:
- Estou feliz por você, quer reservar a despedida de solteiro com alguns amigos?
- Ela está grávida.
Dei um gole e me parabenizei por ter previsto a minha presente necessidade:
- Se for um menino daqui alguns anos vamos procurar alguma prostituta para inicia-lo, lamento que estarei muito velha...
- Pare com as piadas, você sabe o que estou querendo dizer e onde quero chegar.
- Você sempre elogiou meu bom humor, Marcelo.
Isso era realmente verdade, nós nos conhecíamos a um ano e ele sentia-se muito bem comigo, gosto de pensar que criamos um certo tipo de laço, com até mesmo um grande cuidado. Compartilhando um segredo íntimo, ele sempre gostou de sexo grupal com alguns amigos, mas nunca me apresentou nenhum deles, quando estava disposto a saciar o desejo procurava alguma outra garota. Eu era especial.
- Eu não sei se vamos continuar nos vendo. Você entende que agora eu vou ser pai? Não posso ser um marido e um pai que vem encontrar sempre com uma pu...
- Uma puta, Marcelo. É o nome que as pessoas dão hoje em dia.
Ele se levantou, preocupadíssimo em ter me ofendido:
- Você sabe que você não é isso para mim. Tantas vezes eu cheguei louco e você me acalmou.
- Eu te fiz gozar, eu fiz meu trabalho.
Bebi, engoli, eu adoro ser fria, mesmo quando estou frente à possibilidade de perder um dos meus bons clientes. Bebi... e bebi de novo.
- Se eu parar de te visitar vou sentir sua falta.
- Você supera.
Confirmado. Eu sou uma vaca!
- Para de falar dessa forma, nós temos carinho um pelo outro. Você também vai sentir minha falta, nós viramos amigos.
- Vou ter que diminuir os maços de cigarro para compensar meu prejuízo.
Ok, realmente uma vaca maldita!
Ele riu:
- Eu te trago alguns maços.
- Talvez eu também tenha que economizar no vinho... conhece alguma vinícola?
Uma maldita vaca imunda!
Ele riu de novo:
- O que eu faço?
Repousei a taça e abri as pernas, procurei encenar uma feição angelical e frágil e para isto apoiei o cotovelo em um dos meus joelhos e o rosto sobre minha mão, fazendo um bico que transparecia algo entre o sensual e o fofo:
- Você sabe que não vou sair daqui e fico feliz por você. Mas nada impede que façamos hoje então uma despedida... algo marcante? - Seguido do meu sorriso discreto, mordisquei meu lábio inferior.
Repitam comigo: Uma maldita vaca imunda sem vergonha.
Ele, que já estava em pé, segurou o nó da toalha como quem segura o próprio desejo entre os dedos. Coitado, 90% de algodão não seguraria desejo nenhum, me levantei e caminhei sobre meu salto fino até ele, aproximando nossos lábios e estatelando um selinho. Sem nem ao menos olhar para baixo percebi a toalha caindo no meu tapete ao mesmo tempo em que o pau estava "a ponto de bala", segurei com uma das minhas mãos e o punhetei em movimentos lentos ao mesmo tempo em que meus lábios encostavam os dele. Aquele havia sido o melhor beijo de todos nossos encontros, era sóbrio e verdadeiro... e não tinha nenhum gosto de despedida. Aumentei a intensidade da masturbação ao mesmo tempo em que passava alguns dedos pela glande, chegando à cabeça latejante e sentindo o líquido sendo expulso por aquele pau exageradamente grosso, minha língua interagia com a dele em uma língua própria das duas, e eu realmente estava excitada. Senti os braços fortes de Marcelo me envolvendo e larguei seu pinto ao mesmo tempo em que me desvencilhava da roupa, eu teria feito uma dança sensual, mas não pude esconder meu próprio desejo. Me ajoelhei ali mesmo, na minha sala e enquanto o encarava puxei um cuspe do fundo da garganta e lambuzei sua rola, abocanhando em seguida.
- Que saudade dessa garganta, sua vagabunda!
Era o que precisava ouvir, ainda estava em dúvida sobre a possibilidade de dele me abandonar ou não, era preciso garantir. Protegi os dentes com a parte interna dos meus lábios de modo a não machucá-lo e afundei minha boca até o talo daquele pau cheiroso, senti os finos pentelhos encostando no meu rosto e ouvi o gemido seguido de novos xingamentos, o que me excitava ainda mais. Com força eu pressionava meus lábios em torno da glande, juntamente com meus dedos acariciando as bolas lisas e pesadas, ele estava indo a loucura com meu boquete. Eu o arranhava lentamente com as unhas e acariciava seu períneo, novamente avançando pelas bolas... E ele gemia. E gemia. E xingava. E pedia.
E eu?
Babava, chupava, engasgava.
E ele?
Gozava.
Transamos por muito tempo, ele me pegou em todas as posições que teve vontade e a última frase que ouvi seguida de um selinho estalado foi: "Te ligo na próxima semana".
Repitam comigo: Uma perfeita vaca gostosa viciante!