Capítulo 6 Emílio

Quinta-Feira - 20h59

Ficar sem computador é bastante complicado, pois eu realmente encaro minha profissão como um emprego. Sim, você pode achar estranho, mas eu dedico algumas horas semanais para atualização do meu perfil, para postagem de novas fotos e também procurando uma forma de tornar meu perfil um pouco mais atrativo. Aproveitei que o meu MacBook estava na assistência e consegui fazer um ensaio sensacional voltado aos fetiches... ficar com o podólatra no final de semana provocou minha criatividade e consegui fazer um ensaio bastante sensual, mas agora estou ansiosa aguardando o envio das fotos do estúdio, não vejo a hora de atualizar na minha página.

21h03

Meu perfil está no TOP 10! Eu realmente estou me considerando uma excelente vadia!

23h07

Acabei de sair do banho, e ainda enrolada no roupão, me preparava para continuar minha série da Netflix. Antes de pular na cama, retirei o celular do carregador e identifiquei 7 chamadas perdidas nos últimos 20 minutos: Emílio. Estranhei, de princípio, já que desde o problema com a Stephanie não voltamos a nos falar, não por minha opção, claro, mas ele simplesmente sumiu.

23h10

Ainda estou olhando o celular, o desgraçado sumiu durante dias, não me atendeu quando ligou e agora simplesmente preciso atendê-lo?

23h10

Sim!

23h11

Retornei a ligação e tentei conter a felicidade em falar com meu melhor amigo depois de duas semana. Eu sei que pode parecer pouco para vocês, mas nós realmente somos muito unidos e nunca ficamos um dia sem nos falarmos. Ele atendeu no primeiro toque, deve estar ansioso.

- " Bela...".

- " Olha quem lembrou de mim... Resolveu aparecer? Eu tentei te ligar no final de semana, e você não retornou".

- "As coisas ficaram complicadas por aqui, sabe... Tive que esperar a Sthe se acalmar um pouco para entender o que havia acontecido com a gente naquela noite e foi uma baita discussão até convencê-la de que não fizemos nada, e que somos apenas amigos. Mas não tem nada a ver com você, você sabe. Ou eu espero que você saiba."

- "Hum... sua foto do whatsapp desapareceu pra mim, fiquei receosa de te mandar mensagem e descobrir que eu estava bloqueada. Você me bloqueou?"

- "Bela... podemos falar depois sobre isso? Eu preciso da sua ajuda... e é urgente".

- "O que aconteceu? Está tudo bem?" - Agora eu havia ficado apreensiva, ele realmente estava com a voz titubeante.

- "Na verdade está, mas eu decidi fazer um happy hour com os amigos do trabalho e na volta para casa eu fui parado por uma blitz. Eu não fiz o bafômetro, mas o cheiro de álcool está exalando do meu corpo, e com isso eu vim pra delegacia. Eu realmente preciso que você traga o dinheiro da fiança para que me liberem, e que dirija o meu carro, senão eles vão me fazer passar a noite aqui."

- "Parado bêbado no volante, Emílio? Quantos anos você tem? 18?".

- "Bela... eu estou falando sério. Eles não aceitam transferência e também não posso passar o cartão, preciso do dinheiro em espécie, e que você leve o carro."

- "Me passa o endereço".

02h58

Meus planos para Netflix foram derrotados, eu nunca pensei que demoraria tanto para livrar meu amigo das mãos dos policiais. Fomos para o carro e ele ainda estava meio cambaleante, e antes de abrir a porta do passageiro, ele parou e me olhou:

- "Eu não sei o que eu faria sem você."

- "Entra no carro logo, está frio."

Ele entrou e se ajeitou no passageiro, sentei no lugar do condutor e ajeitei o banco, os espelhos e o cinto. Emílio se ajeitou e me olhou, colocando a mão nos meus cabelos:

- "É sério... eu não sabia para quem ligar. A Sthe nem poderia sonhar que eu fui preso, senão seria outra briga."

- "Não sabia para quem ligar? Geralmente você sabe para quem NÃO ligar, não é? Coloca o cinto!"

- "Hey... você está puta comigo? Eu só tinha que esperar a poeira abaixar."

- "Eu entendo, Emílio, mas nós nunca ficamos tanto tempo assim sem nos falar. Nossa... você está fedendo!"

Ele ficou pensativo e eu arranquei com o carro, as ruas da cidade estavam tranquilas, abaixei o vidro e acendi um cigarro enquanto dirigia. Ele balbuciava ao lado algumas palavras meio embaralhadas, e então, falou serenamente:

- "Eu tive que te bloquear no whatsapp, e as ligações. Você sabe, até a situação acalmar... foi um pedido da Sthefanie.

Eu freei com força!

- "Você me bloqueou? Sério? Só porque ela pediu?"

- "Hey hey, vai com calma... olha pra frente! Ah, Belle, você entende. Foi só até os ânimos se acalmarem, você nunca ficaria bloqueada pra sempre. A Sthe é insegura, e ela ficou bastante irritada ao saber que passamos a noite juntos, foi uma briga que não tinha fim, eu tive que ceder.

- "Eu não estou acreditando, Emílio. Eu te liguei inúmeras vezes, quando vi que você não respondeu no whatsapp no dia seguinte eu esperei porque imaginei que você estava com ela esses dias... Eu te perguntei por telefone se você tinha me bloqueado, e eu nunca imaginaria que sim".

- "Foi só na primeira semana, você nem percebeu. Você já está desbloqueada"

- "Eu não percebi porque imaginei que a situação estava feia com a Stephanie nos primeiros dias, e eu preferi te dar espaço para resolver, mas não que você havia me bloqueado dos seus contatos. Eu te liguei!"

- "E eu não pude atender, porque ela estava perto. Depois acabei esquecendo de te retornar, mas está tudo bem entre a gente... ainda somos nós dois. Olha aí, você me resgatou."

- "Eu só te resgatei porque você não me contou isso antes..."

A buzina do carro de traz fez com que dispersássemos a briga, sem perceber, eu havia parado o carro no farol. Continuei a dirigir e Emílio tentava se explicar.

- "Eu imaginei que você ficaria chateada, pra falar a verdade... e depois eu fiquei com medo de te escrever, mas hoje eu escrevi"

- "Claro que escreveu, você estava quase indo pro xilindró".

- "Viu como eu confio em você? Não imaginaria outra pessoa pra me salvar dessa cilada de hoje".

- "Pois eu imagino, você poderia ter ligado para a Stephanie."

- "Para de ser boba, você sabe que eu amo você... e a nossa amizade é assim po. Você é tipo meu irmão mais novo". Ele agora bocejava, e eu iniciaria uma discussão, mas antes que eu começasse a falar, Emílio caiu no sono com a cabeça escorada no seu próprio peito.

03h31

Estacionei o carro em frente ao apartamento de Emílio, logo atrás de uma caçamba e soltei meu cinto e o dele, tentando acordá-lo.

- "Emílio... chegamos, acorda!"

Ele demorou um pouco para acordar, mas acabei dando um empurrão forte na sua testa, fazendo com que despertasse em meio à um susto.

- "Vamos, nós chegamos! Sai do carro".

Ele coçou os olhos e se levantou, saindo do carro e batendo a porta.

- "Você quer subir?"

- "Você precisa que eu suba?"

- "Eu não estou bêbado, estou apenas com sono e sentindo que a ressaca vai me matar amanhã."

- "Então eu vou pra casa, você precisa descansar."

Ele deu a volta no carro enquanto eu acionava o alarme e me abraçou, com o bafo forte de bebida, falou perto de mim:

- "Obrigado por hoje. Ao infinito e além? Já me desculpou pela burrada que eu fiz?"

- "Você precisa de um banho, garoto... E não vou te desculpar tão fácil!"

- "Prometo te recompensar por essa semana, minha loirinha rabugenta. Que tal se eu te levar pra jantar, e implorar pelo seu perdão?"

- "Eu prefiro que você me faça essa oferta quando estiver sóbrio, pra que possa se lembrar depois."

- "Eu não estou bêbado, Isabela... eu estou alegrinho".

- "Eu sei que não. Bom, eu estou cansada, já que você consegue subir sozinho, eu vou embora. Se cuida".

- "Vem me dar um abraço". Ele me puxou com força e me abraçou, fazendo eu inalar obrigatoriamente todo o cheiro de vodka misturado com cerveja.

- "Diz que você ama seu boneco de pano."

- "A gente precisa conversar sobre isso, boneco de pano... e você precisa de um banho, sério".

- "Diz que me ama".

- "Emílio, você está fedendo".

- "DIZ".

- "Eu te amo boneco de pano..."

Ele me soltou e passou a mão pelo meu rosto.

- "Eu fui um idiota, eu espero que você me desculpe..."

- "Eu vou pedir meu uber".

04h00

Acabei de chegar no meu apartamento e me joguei na cama, estou olhando para o teto e pensando na puta pouco valorizada que me tornei: Troquei uma noite de trabalho para maratonar Netflix e terminei indo fazer resgate em uma delegacia, e voltando para casa pagando meu próprio uber. É o fim dos tempos!

                         

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