"Chegaremos em cerca de 20 minutos. Você precisa acordar apropriadamente e se recompor, querida. Seu cabelo está totalmente bagunçado." A mãe da jovem sorriu enquanto olhava para Sandra. Valdinéia Caminha era uma mulher deslumbrante. Seus traços faciais eram angulosos, ela tinha longos cabelos loiros que caíam direto no meio das costas, combinando com sua tez pálida. Mesmo com 35 anos, seu corpo aparentava ter apenas 25. Sua aparência jamais revelava que ela tinha muito mais 25 anos.
"Estaremos chegando lá em meia hora ou mais ou menos isso."
A família estava voltando de umas férias muito necessárias. José Caminha, o recém-promovido Beta da Matilha da Lua de Prata era uma figura imponente, mesmo sentado atrás do volante.
Ele mal cabia no banco do motorista com seus quase dois metros de altura, e pesava 108, 86 kg de músculos e ossos sólidos. Seu cabelo castanho claro estava preso em um topete perfeitamente reto e alinhado.
"Sim, pai, nós já entendemos. Vamos assistir à coroação do novo Alfa." Ela disse.
Ela não tinha tantas expectativas de voltar tão cedo. Mas aquela cerimônia era extremamente importante para as matilhas.
O Alfa Joaquim morreu repentinamente, deixando Gustavo, de 18 anos, como o herdeiro. O rosto de Sandra automaticamente corou ao pensar em Gustavo, ele era fofo. Todas as garotas da matilha tinham uma queda por ele. Ela ponderou a respeito dele, se perguntando quem seria sua sortuda companheira. Sandra tinha apenas 15 anos, levaria mais três anos para encontrar seu companheiro.
Fazia parte do protocolo restrito das matilhas levar filhos e filhas não acasalados de Alfas e Betas a todas as cerimônias. Restavam apenas alguns deles, afinal os acasalamentos são muito importantes para sua sobrevivência.
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Sandra agachou o corpo, seus olhos rapidamente fixaram em sua 'presa', então ela deu um salto e se lançou com os dedos abertos. Beatriz, sua melhor amiga, gritou surpreendida e assustada enquanto ambas rolavam na encosta e caíam em uma poça de lama. Elas riram e brincaram de jogar lama uma na outra, como se aquele fosse apenas mais um dia normal na propriedade. Restavam poucas horas para a início da cerimônia. Como as meninas estavam entediadas, decidiram continuar brincando.
"Oh, céus! Mamãe vai me matar", Sandra lamentou ao analisar o próprio vestido que usava, agora ele estava arruinado.
"Não se preocupe, vamos para minha casa, você pode pegar emprestado um dos meus vestidos", Beatriz ofereceu.
Distraídas, elas não perceberam que um par de olhos as observavam à distância.
"Ei Vitor, quem são elas?" Gustavo Abreu, de 18 anos, perguntou curiosamente; seu olhar seguiu as garotas enlameadas e risonhas indo embora. "Elas são tão divertidas."
Vitor olhou minuciosamente as garotas que gradualmente se afastavam.
"Essas são Sandra e Beatriz, elas são Ômegas, garotas muito travessas, sempre tramando alguma coisa", ele respondeu balançando a cabeça em desaprovação.
"Veja só, elas até mesmo quebraram a fonte do gramado da frente enquanto estavam brincando de esconde-esconde uma vez, aquelas garotas são uma ameaça!"
Gustavo bufou com discordância. "Elas parecem inofensivas para mim!"
"Ah, elas são inofensivas o suficiente, apenas muito travessas." Vitor disse enquanto esboçava um grande sorriso: "Mas hoje você deve se concentrar em sua coroação, você se parece tanto com seu pai. Ainda me lembro de quando ele se preparava para sua própria coroação." A voz de Vitor se encheu de orgulho.
"Ele ficaria tão orgulhoso de você, Gustavo."
O garoto suspirou. "Espero conseguir liderar a matilha como ele. Sinto falta dele."
"Todos nós sentimos." Vitor concordou com a cabeça.
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Valdinéia empurrou a filha para o banheiro.
"O que farei com você, Sandra?" Ela perguntou enquanto tirava o vestido enlameado e rasgado de sua filha. Ela abriu a torneira da banheira.
Para o azar de sua filha, Valdinéia estava visitando os Dorneles quando Beatriz Dorneles voltou para casa com sua amiga igualmente suja. Como esperado, Valdinéia ficou furiosa e Sandra foi arrastada pela mãe de volta para casa.
"Vá logo se limpar, em breve começará a coroação e você além de completamente suja, arruinou seu vestido! Apresse-se ou vamos acabar nos atrasando." Sua mãe alertava enquanto pegava o vestido sujo e o jogava no lixo.
Sandra fez beicinho quando sua mãe saiu do banheiro e a trancou lá dentro. Ela não poderia sair até que se limpasse totalmente. Ela encarou a água quente na banheira por alguns segundos.
"E quem quer ir para essa cerimônia chata de qualquer forma?" Ela resmungou, mas para evitar que sua mãe ficasse ainda mais nervosa, Sandra logo entrou na banheira e se divertiu espirrando a água.
"Não perca seu tempo brincando, Sandra Caminha!"
Sua mãe gritou do outro lado da porta, então Sandra fez beicinho novamente.
"Seu pai acabou de ser promovido, mas essa garota não tem vergonha! O que o Alfa Gustavo vai achar da nossa família?" Sua mãe resmungou para si mesma.
Sandra odiava quando sua mãe a disciplinava, mas ela estava certa. O que Gustavo acharia? Espero que ele não tenha me visto brincando na lama. Ela pensou.
Sandra pegou um frasco de xampu, despejou um pouco na palma da mão e começou a esfregar o próprio cabelo, até surgir espuma. 'Isso é um saco', ela pensou enquanto ensaboava seu corpo com um sabonete de fragrância doce. Eu deveria estar apresentável para o Gustavo.
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Sandra observava com infelicidade sua mãe dar os retoques finais em sua maquiagem.
"Mãe, eu não sou uma boneca Barbie", a garota resmungou alto, encolhendo-se ao apertar as mãos contra o tecido de seda rosa de seu belo vestido.
"Bobagem, Sandra", sua mãe respondeu despreocupadamente enquanto aplicava brilho labial nos lábios carnudos. Então ela parou por um momento, encarou o reflexo no espelho e sorriu sentindo-se satisfeita com o resultado. Ela se virou e olhou sua filha. "Você está deslumbrante esta noite, Sandra."
A garota revirou os olhos.
"Mãe, vou sair um pouco para tomar ar fresco", afirmou ela antes de sair rapidamente, nem mesmo esperando a resposta da mãe.
Quando empurrou a porta e caminhou com seus saltos altos pelo corredor; vários membros da matilha passaram por ela. Eles riam e conversavam a respeito da coroação desta noite. Todos pareciam lindos e atraentes, vestindo seus ternos de pinguim e vestidos longos e colados de várias cores.
Ela apressou seus passos até a grande escadaria de mármore; seus saltos faziam barulho a cada degrau, tilintando até o primeiro andar. Ela sentiu imensa vergonha, ao ponto do seu corpo estremecer, mas tentou ignorar a todo custo a sensação avassaladora de ser observada, que a deixava ansiosa.
Ela sabia que sua beleza não se comparava com qualquer uma daquelas lobas mais velhas. Eles tinham curvas perfeitas e seios fartos e saltados. A garota se questionou naquele momento se algum dia ela teria uma beleza tão perfeita assim.
Enfim ela empurrou a porta principal e desceu correndo os pequenos degraus da entrada com cautela. Por mais que os saltos a incomodassem, ela não parou de caminhar por nenhum segundo, até encontrar um lugar que a acalmasse. Sandra foi direto para a floresta.
A floresta estava escura. Os últimos resquícios da luz do sol mal podiam penetrar a densa vegetação que cobria a garota. Mas Sandra era capaz de enxergar bem tanto à luz do dia quanto à noite sem nenhum problema. Um humano comum teria se andaria ali como um rato cego, esperando para ser pego por uma coruja faminta. Mas os sentidos aprimorados de lobisomem facilitavam para que a jovem caminhasse despreocupadamente no escuro. Então ela evoluiu a velocidade dos passos, ao ponto que chegou a correr, sentindo o vento bater livremente em seu rosto, mas uma raiz de árvore perdida a fez perder o equilíbrio e ela caiu no chão, caindo de cara.
A garota gemeu, ficando no chão imóvel por um momento, antes de se recuperar e tirar a sujeira de seu vestido caro. Ao perceber que havia rasgado a bainha do vestido, seus olhos se arregalaram horrorizados.
'Mamãe vai me matar', ela pensou ansiosamente enquanto examinava a bainha rasgada. Sandra suspirou. 'Prefiro correr na minha forma de lobo do que me vestir como uma boneca Barbie', ela pensou com veemência enquanto se sentava no tronco de uma árvore caída.
Ela respirou fundo o ar refrescante. A sensação era boa, o ar estava frio ao seu redor.