Capítulo 4 Confissão

Beatriz pegou a mão de Sandra e direcionou seu olhar para o palco.

"A cerimônia de coroação está prestes a começar." E então ela se virou para olhar outra mesa.

"Aquele é o Alfa Fernandes, ele é tão lindo! Mas por que ele está olhando em nossa direção? Você acha que ele gosta de mim?" Beatriz se empolgou.

Sandra zombou: "Você se acha demais. Além do mais, por que ele gostaria de nós? Ele é um Alfa e é muito mais velho do que nós, mas ele é bem bonito." Sandra concluiu enquanto arrumava sua saia. Na verdade, Caio estava realmente olhando na direção delas com um sorriso alegre no rosto.

Gustavo Abreu ajoelhou-se em uma plataforma que estava a cerca de trinta centímetros do chão. Um dos Quatro Conselheiros ficou em sua frente segurando um pergaminho que aparentava ser bem antigo. Gustavo segurava uma taça de ouro na mesma altura do seu rosto. A luz do luar passou pela abertura no teto circular acima dele, o iluminou com seu brilho prateado.

Pela primeira vez, a câmara ficou em silêncio total quando o conselheiro começou a despejar um líquido vermelho-dourado na taça. Sandra cheirou o ar, mas não conseguiu identificar o que era. Ele então começou a recitar as antigas palavras de vinculação: "A lua sagrada cuida de nós, nos protege, cuida e nos salva. A lua sagrada escolhe os seus guerreiros e seu salvador da paz. A lua sagrada o escolheu como líder e coloca o seu destino no sangue que corre em suas veias." Ele fez uma pausa, "Você, Gustavo Alberto Abreu, filho de João Alberto Abreu, aceita o seu lugar de direito como o Alfa de Lua de Prata?"

"Sim, eu aceito." A voz de Gustavo foi ficando mais alta: "Eu, Gustavo Alberto Abreu, juro pela Luna, e ao beber este vinho abençoado, serei o Alfa da Matilha da Lua de Prata." Ele recitou as palavras e bebeu o conteúdo da taça de uma só vez.

Então, todos membros da matilha, transformados em suas formas de lobo, uivaram, curvando suas cabeças sobre as patas dianteiras, e em seguida, rolaram para expor as suas barrigas em sinal de submissão. A cerimônia de coroação foi curta, mas a noite ainda era jovem e ainda havia o banquete para desfrutar.

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Sandra e Beatriz estavam se deliciando, experimentando uma variedade de petiscos, preparados especialmente para o banquete. Suas mães tinham alertadas para ficarem longe de problemas, então era isso que estavam fazendo. Estavam sentadas em silêncio e comendo.

"Eu fico imaginando qual garota de sorte seria sua companheira." Divagou Beatriz, olhando para Gustavo melancolicamente.

"Será que a gente flerta com ele um pouco? Podemos conseguir um Alfa para nós!" Beatriz se animou.

"Beatriz, você é muito nojenta! Nós não podemos flertar com o Alfa!" Sandra a alertou. A verdade é que ela não gostava de ver ninguém flertando com Gustavo. Ela sentia um ciúme estranho sempre que via Gustavo com outras mulheres. Como agora, ele estava sentado com Isadora, a filha do Alfa Antônio Chaves da Matilha Lange, que também era um dos membros do conselho, portanto, eram pessoas extremamente importantes. Porém, Isadora era insuportável. Sandra temia o dia em que ela fosse nomeada como sua próxima Luna.

"Ele já completou 18 anos. Você acha que eles são companheiros?" Perguntou Beatriz.

"Como que eu vou saber? Ele ainda não revelou quem é a sua companheira. Nem sabemos se ele já a encontrou, mas realmente espero que não seja Isadora." Sandra sussurrou conspiratoriamente.

"Nossa, tomara mesmo! Isso seria um desastre!" Beatriz respondeu.

Abaixando-se e escondendo-se atrás da multidão de pessoas, Sandra silenciosamente observou Gustavo e Isadora. Ele estava sempre rodeado de seus amigos, fazendo as coisas legais de jovens adultos e que Sandra não tinha permissão para fazer. Mas, como o novo Alfa, ele agora tinha atenção extra de todas as mulheres.

"Por que é que toda vez que eu tento ficar com você, aquela Ômega irritante está sempre junto?"

Sandra congelou, Isadora estava se referindo a ela! Era tão evidente assim?

"Bem, eu não posso fazer para evitá-la. Além disso, você também me segue para todo lugar e eu não reclamo." Gustavo deu de ombros.

"Ah, mas isso não é a mesma coisa e você sabe muito bem disso." Ela resmungou e tentou fazer charme fazendo um beicinho e apoiou a cabeça no ombro de Gustavo. "Eu sou sua garota, não sou? É por isso que nós temos que ser vistos juntos."

Gustavo rosnou baixo ao ouvir isso, Isadora olhou para cima assustada quando ele retrucou: "O que os membros da minha matilha fazem não é da sua conta. Não vou permitir que você fale mal de qualquer membro da minha matilha novamente."

O coração de Sandra se encheu ao perceber o óbvio desprezo dele por Isadora e por ele ter vindo em sua defesa.

Gustavo encolheu os ombros e tomou um gole do seu chá gelado, o rosto de Isadora se fechou um pouco ao ver que ele não se comprometia, mas ela mudou a expressão e disse: "Eu não irei permitir isso no futuro, quando formos companheiros."

O rosto de Gustavo se contorceu em desgosto, então ele disse: "Em primeiro lugar, Isadora, eu nunca insinuei que seríamos companheiros, então quem me segue ou deixa de me seguir não deveria ser da sua conta..."

Sandra quase pulou de alegria ao descobrir que não teria que lidar com a cruel e rígida Isadora pelo resto da vida. Percebendo que não havia mais motivos para continuar espionando, ela decidiu ir embora.

Ela se virou e correu para casa, sem olhar para trás, perdendo o caos que se seguiu à repreensão de Gustavo. Isadora acabou tendo um acesso de raiva e precisou ser escoltada por seus amigos.

Se Sandra tivesse se virado, teria visto as duas amigas de Isadora segurando-a. E o amigo de Gustavo caído no chão, rolando de rir.

"Sandra, espere!" Ela ouviu Gustavo gritar enquanto corria para casa. Sandra parou e se virou para seu Alfa. Estava surpresa pois eles nunca haviam conversado a sós.

"Você está absolutamente linda, como sempre!" Disse Gustavo ao se aproximar.

Sandra corou e murmurou um agradecimento, sem perceber que ele a observava com um brilho no olhar.

Ela se surpreendeu quando ele pegou sua mão, ela o olhou surpresa.

"Precisa te contar uma coisa."

Ele parou por um momento e desviou o olhar, soltando as mãos dela.

"Você é minha companheira."

Ela levou a mão para a boca, em choque, enquanto balançava a cabeça, olhando para baixo e para longe. Incapaz de processar isso, ela se recostou em uma árvore próxima, massageando as têmporas.

"Mas... Como? Quero dizer, eu sou uma Ômega e você é o Alfa... O Conselho jamais vai permitir." Sandra perguntou, ainda em choque.

"Você vai descobrir quando fizer 18 anos, foi quando eu descobri, no meu aniversário de 18 anos. O meu lobo já sabe também, mas... Eu estava apenas esperando o momento certo."

Ele passou a mão pelos seus cachos castanhos, que voltaram ao lugar, em seguida ele disse, com um sorriso de derrota: "Na verdade, eu não queria te contar agora... Sabe, isso... será complicado."

"Um dia eu ouvi alguns caras comentando sobre como você estava ficando bonita e como você ficaria gostosa quando fosse mais velha e senti uma vontade súbita de matar todo mundo. Caramba, naquele dia eu quase machuquei você!"

Ela sacudiu a cabeça dizendo: "Eu não entendo, ninguém nunca me elogiou, nunca ouvi que eu era bonita ou vi alguém demonstrando interesse em mim. Principalmente nenhum dos seus amigos!"

Ele pareceu ficar envergonhado, desviou o olhar e murmurou: "Bem... Eu meio que falei para todos ficarem longe de você. Cada vez que eles demonstraram interesse em você, eu os impedia de se aproximarem de você."

Ele sorriu, mas rapidamente seu rosto ficou sombrio e disse: "Não espero que o sentimento seja recíproco, porém vou esperar até você completar 18 anos. E então você saberá também. Eu não quero que você se sinta obrigada a responder apenas para não ferir meus sentimentos, eu não sou um pedófilo, então não seremos nada mais do que amigos, ok?"

Ela o observou por alguns segundos antes de concordar e suspirar profundamente, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Ela sabia que ele estava certo, porém ainda que estivesse com apenas 15 anos, ela não era tão imatura assim. Ela sabia o que ele esperava, por isso o que ele estava dizendo fazia sentido.

Essas novas informações a deixaram confusa e, por mais que tentasse, não conseguia compreender as consequências disso. Ela estava feliz em esperar e ver como seus sentimentos se acomodariam no meio de toda essa situação. Ela sempre teve uma queda por ele. Porém, ser companheiros era algo completamente diferente. Além de que, Alfas ficavam apenas com outros Alfas ou Betas. Ela ainda não era um Beta. E não tinha ideia do que o futuro reservava para ela.