Os lobos jovens podiam se descontrolar com facilidade, por isso eles não eram autorizados a se transformar sozinhos, a não ser que estivessem acompanhados de adultos confiáveis. Mas, como loba, Sandra era mais veloz e seus sentidos eram mais apurados do que os de um ser humano normal. Ela respirou fundo, tentando relaxar e então, inesperadamente, disparou a correr em direção à floresta, ainda em sua forma humana. Era mais devagar do que em sua forma de lobo, mas era quase tão bom quanto.
Enquanto corria, ela sentia os galhos finos e as folhas mortas murchas sendo esmagados sob seus pés. Ela adorava a sensação do vento frio em seu rosto. Ela podia ouvir a cachoeira à distância, era o seu esconderijo secreto. Ela diminuiu a velocidade e escalou uma rocha. Ela podia ver ao longe o riacho fluindo em uma linda cachoeira. Dando um passo para trás, ela deu um salto. Seu vestido rasgou mais um vez. Ela xingou. 'Mas que droga?!' Ela pensou. 'Com certeza, já estou de castigo.' Ela pulou através do riacho e aterrissou do outro lado.
Ela suspirou em choque quando pousou, havia outra pessoa ali. Ele estava sentado de pernas cruzadas na mesma pedra em que ela acabava de pular. Ela soltou um grito ao esbarrar nele. Ambos caíram no riacho, com os braços e pernas entrelaçados.
"Mas que droga! O que você pensa que está fazendo?", uma voz masculina ressoou assim que eles reemergiram da água.
"Você perdeu a cabeça? O quê é isso?" Ele resmungou antes de finalmente perceber quem havia pulado sobre ele.
"Quem é você?" Perguntou o estranho.
Sandra olhou para ele, parecia ter entre 21 e 22 anos. Ele era trinta centímetros mais alto do que ela e seu corpo era musculoso, seu cabelo escuro estava molhado enquanto gotas de água escorriam pelo seu belo rosto esculpido. Seus olhos verdes cintilavam de raiva. A loba dela se recolheu para dentro, estava diante de um Alfa.
"Você está me perguntando quem sou eu no meu próprio território? Eu que deveria perguntar, quem diabos é você?" Ela falou sem querer. Sua mãe tinha a alertado sobre estranhos. 'Será que devo avisar a todos?' Ela pensou.
Ele estalou a língua em sinal de desaprovação: "Criando tanta confusão. Você não se cansa de ser tão hiperativa?"
"Você ainda não respondeu minha pergunta, quem é você? E o que está fazendo no território da Matilha da Lua de Prata?"
Ele franziu a testa e então seu rosto se suavizou. Ela parecia ser mais fraca que ele, não fazia sentido assustá-la.
"Eu sou Caio Fernandes, da Matilha Fernandes. Estou aqui a convite do seu Alfa, para assistir à sua coroação. Portanto, se você está pensando em alertar a todos sobre um possível invasor, não se preocupe. Não tenho interesse em invadir esse lixão."
"Ah!" Seus olhos se arregalaram de surpresa. Ela tinha acabado de insultar e derrubar um Alfa visitante!
A matilha tinha convidado várias pessoas importantes, como os membros do conselho e vários líderes de outras matilhas. Caio Fernandes era um dos Alfa mais poderosos, sua matilha era forte e formidável. E agora ele estava bem na sua frente, encarando-a. 'Minha mãe vai me matar!' Ela pensou.
"Eu só estava dando uma corridinha! Eu não sabia que você estaria aqui!" Ela tentou se justificar e começou a caminhar para fora do riacho.
"Opa!" Ela bateu em uma pedra, se desequilibrou e escorregou, puxando-o novamente para a água. Mas desta vez, ele foi mais rápido. Ele a pegou pelo braço e a colocou de pé.
"Você é uma desastrada! Tenha cuidado, seus pés estão escorregadios!" Ele balançou a cabeça em frustração e caminhou para fora da água.
Ela resmungou, mas começou a segui-lo. Ela quase escorregou pela terceira vez, mas ele a agarrou pela sua cintura em tempo de salvá-la. Eles se olharam fixamente, completamente imóveis.
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O luar brilhava em seu rosto, acentuando os seus lindos olhos e a curva de seu nariz. Seus lábios eram convidativos, mas ele a soltou imediatamente ao perceber que ela ainda era uma criança. Eles estavam se encarando, ou melhor... Ele a encarava fixamente por todo esse tempo. Assim que sua mão tocou a cintura dela, sentiu seu coração bater de um jeito estranho. Era uma sensação muito peculiar, mas muito familiar. Será que era isso mesmo? Era impossível que ela fosse sua companheira, porém, de alguma forma, ele acabou gostando desse sentimento. Ele procurou pelo seu lobo, que estava de luto há dias. Agora ele estava repentinamente em alerta. Porém, não estava ansioso para reivindicá-la. Estava apenas esperando e observando... Curioso... E intrigado.
"Obrigada." Ela murmurou enquanto saía do riacho, sem nem mesmo olhar para ele. "Eu tenho que ir, preciso voltar e me trocar. Esse é o segundo vestido que eu estrago hoje. Mamãe passou horas online procurando por ele."
Ela suspirou, mas então ela pensou em algo: por que ele estava aqui? Ele deveria estar no salão principal com os outros convidados.
"Alfa Caio, o que você está fazendo aqui sozinho? Não deveria estar lá dentro com os outros convidados?" Ela finalmente perguntou.
Ele continuava completamente imóvel, parado como uma estátua, olhando fixamente para ela.
Ela franziu a testa.
"Caio?" Ela chamou-o. "Você está bem?" Ela o segurou pelo pulso, cutucando-o para ver se ele reagia. Ele não se mexeu.
"Ah, caramba! Eu te transformei em um picolé!" Ela exclamou, esfregando as mãos e tentando aquecer a mão dele.
"Oh, céus! Você pegou hipotermia? Não morra, por favor!"
Ele a afastou para longe, suavemente. "Estou bem." Ele respondeu com a voz rouca enquanto saía do riacho.
"Preciso ir embora." Disse ele e de repente, se lembrou de perguntar algo.
"Qual o seu nome?"
"Sou Sandra Caminha. Mas espere um pouco..." Ela o interrompeu. "O que você estava fazendo aqui sozinho, Caio?" Ela perguntou sem conter a curiosidade, mas então ela mordeu os lábios porque imaginou que tinha passado dos limites ao questionar um Alfa.
"Me desculpe." Rapidamente ela tentou se corrigir.
"Não, não, está tudo bem." Ele respondeu de imediato. Ele realmente precisava ir embora, mas imaginou que poderia ficar por mais alguns minutos para conversar com ela. A garota que fazia seu coração bater de uma forma estranha e feliz.
"Eu estava aqui para refletir sobre... coisas da vida." Ele fez uma pausa. "Estava pensando se sou capaz de liderar minha matilha assim como meu pai fazia, estou preocupado que vou acabar desapontando os membros da minha matilha."
"Não se preocupe. Você vai se sair bem." Ela o encorajou. "Tenho certeza que você será o melhor alfa que eles já tiveram!" E deu um largo sorriso para ele. O seu corpo inteiro estava molhado, suas roupas encharcadas. Seus dentes tremiam.
"Obrigado pelas suas palavras gentis."
Ele se virou e a observou com mais cuidado. Só então percebeu o estado deplorável do vestido dela.
"Sua mãe vai ficar bem chateada quando descobrir que você destruiu o seu vestido." Ele parou e pensou por um momento.
"Sim, eu vou ficar de castigo com certeza." Ela respondeu com tristeza.
"Vamos, venha comigo. Tenho certeza que minha irmã Mirela tem um vestido que ela pode te emprestar."
Ela olhou para ele esperançosa. "Ah, muito obrigada!" Ela disse enquanto corava.
De repente, ele percebeu que gostava de vê-la com o rosto corado. Um largo sorriso surgiu em seu belo rosto enquanto ele oferecia a mão para ela, como um perfeito cavalheiro convidando uma garota para dançar. "Vamos então, a cerimônia de coroação vai começar em breve."
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Sandra rodopiava em seu novo vestido sem mangas cor de rosa. Valdinéia a observou com um olhar inquisitório. "Onde foi que você conseguiu esse vestido, Sandra?"
"Eu, hmm... Com um amigo, foi um amigo que me deu." Ela respondeu rapidamente, de toda forma, essa não era uma mentira completa. Ela não queria que sua mãe descobrisse que ela tinha praticamente destruído o vestido caro.
"Valdinéia." Seu pai disse enquanto colocava gentilmente a mão nas costas de sua companheira.
"Precisamos ir agora." Ele concluiu enquanto as direcionava para a câmara onde os outros lobos estavam sentados em seus respectivos lugares. Eles se sentaram com os outros Betas e suas famílias. Foi um momento de orgulho para eles.