"Alfa Gustavo. Você aceita Ana Lopez da Lua Azul? Filha do Alfa Amarildo Lopez, como sua companheira?" Perguntou o vereador cinza.
Gustavo tomou um último segundo para olhar para baixo, ponderando brevemente, pois sabia que seu lobo não estava pronto, mas ele não tinha escolha, a Lua Azul era uma matilha muito poderosa. Ademais, a terra prometida e os contratos comerciais que Amarildo oferecera junto da mão de sua filha trariam prosperidade para a matilha inteira.
"E quanto a nossa companheira?" Seu lobo perguntou. Sandra havia completado 18 anos no mês anterior. Nos últimos três anos, Gustavo secretamente saía com ela. Como prometido, eles não estavam acasalados, mas a esse ponto, seu lobo já estava coçando para finalmente aclamá-la quando ele foi repentinamente chamado pelo conselho e se ofereceu para acasalar com Ana Lopez.
"Eu aceito", disse Gustavo em voz alta.
Os vereadores assentiram.
"A partir de agora, você será acasalado com Ana Lopez por uma semana. Na lua cheia. Que Luna abençoe esta união."
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"O quê? Você vai acasalar com Ana Lopez? E quanto a nós?" Sandra gritou perplexa, eles estavam próximos à cachoeira. Aquele era o antigo ponto de encontro deles. Eles costumavam nadar no riacho e caçar coelhos. Ela esperava ansiosamente pelo dia em que Gustavo a aclamaria como sua companheira. O dia nunca chegou.
"Não posso anular a decisão do conselho, Sandra, sinto muito", disse ele com tristeza.
"Então, você está me rejeitando?" Ela ergueu a voz, sua raiva era notável.
"Não é assim, Sandra, eu sou o Alfa. Tenho que cuidar da minha matilha e tomar a melhor decisão possível para todos. Ana Lopez seria uma boa Luna." Ele disse baixinho, também sem erguer o olhar para ela.
"Então, é isso o que você pensa de mim? Que eu não sou boa o suficiente? Uma mera Ômega."
"Não é assim, Sandra... Eu amo você..."
"Pare! Apenas pare... Você não é mais meu", ela murmurou, "Não é meu..."
Magoada, Sandra correu tão rápido que suas pernas puderam deixá-la ir, logo ela se infiltrou floresta afora. Ela já ouvira falar que a rejeição de seu companheiro machucava. Mas sentindo isso na pele, a dor da rejeição a perfurou tão profundamente que tudo o que ela podia fazer era fugir antes que instintivamente se curvasse de dor e chorasse completamente atordoada. Ela correu desgovernada pela extensão mal iluminada no escuro, mas somente quando foi tarde de mais, percebeu que havia corrido para muito longe.
"Maldição", ela xingou em frustração, incapaz de pensar na angústia e humilhação que envolveria seu retorno. Gradualmente, mais gotas deslizavam por seu rosto e ela lutava contra sua besta, que tentava exercer controle e assumir sua forma. Tantos pensamentos corriam em sua cabeça, mas ela mal conseguia concentrar e pensar apropriadamente em um, mesmo enquanto considerava que não havia maneira alguma de simplesmente sair caminhando para qualquer lugar que ela quisesse ir.
Quando Sandra bateu contra uma árvore e mal percebeu a forma como ela se curvou, ela cedeu todo o controle ao animal que internamente estava arranhando de agonia, tentando assumir o controle da garota e arrancá-la de seu corpo. Agora sua loba branca estava livre, deixando um uivo triste encher o ar.
O animal correu em direção à floresta da manada, seu primeiro instinto era fugir e voltar para um lugar seguro. Ela tinha em mente que deixar o lobo assumir o controle iria entorpecer a dor que se espalhou por seu corpo, afetando-a quase fisicamente, mas ela estava errada. Mesmo na forma de loba, ela sentiu toda a dor e raiva de uma besta ferida, com cada grunhido e gemido sucessivo de tristeza que a loba deu.
'Ele não nos quer!'
Esse pensamento a rasgou continuamente quando percebeu que a única pessoa destinada a amá-la, o homem escolhido para ela simplesmente não a queria. A imagem do brilho dos olhos dele, distorcidos pela tristeza lhe veio em mente. Aquilo foi demais para ela, então ela tentou recuar com sua dor, a oprimiu, empalando-a de todos os ângulos até que gritasse de agonia; a loba parou de correr para soltar um uivo de sofrimento tão dilacerante que ela sentiu sua dor se intensificar ainda mais dentro de si.
Sandra e sua loba compartilhavam tão duramente a mesma perda pela rejeição de Gustavo? A loba entendia tudo o que estava acontecendo e o que aquilo significava ou era apenas a perda da chance de acasalar que machucou a besta?
'Nós somos dele, mas ele nos descartou', o pensamento ecoou em sua cabeça.
'Não, não, talvez ele não entenda o que realmente significa... talvez ele...'
'Ele pensa que somos inferiores a ele! Ele nos rejeitou!' O outro pensamento a interrompeu.
Ela tentou pensar coerentemente através da névoa de angústia em sua mente, mas suas emoções a perfuravam cada vez mais; por mais que lutasse contra os sentimentos, raiva, desespero e solidão se alastraram por sua mente.
'Devemos forçar um acasalamento com ele! Ele é nosso!'
'O quê?! Não! Não, isso não é certo... você não pode fazer isso, você não pode!'
Ela continuou lutando contra aquela névoa traiçoeira de emoções, mesmo quando sentiu sua consciência começar a se dissipar lentamente. Seu controle sobre a loba havia diminuído e parecia querer violar o sagrado pacto, considerando até mesmo fazer algo tão impraticável quanto forçar um acasalamento com o Alfa. Sandra entrou em pânico quando sentiu os vestígios de insanidade começarem a rastejar em seus pensamentos e ela tentou desesperadamente arrancar o controle da loba, o que foi em vão. Ela não conseguia retornar a sua forma humana e a loba andava em círculos, rosnando e rosnando enquanto dominava completamente seus sentidos; logo ela foi lentamente engolida por uma escuridão e um vazio estranho, vagarosamente corrompendo-a e subjugando cada emoção que sentia no momento.
'Não, Não!' Ela tentou gritar, perseverando em sua luta para retomar o controle de sua forma, mas ela não mudou de volta. 'Por favor, por favor, não!' A garota soluçou em desespero antes de finalmente perder toda sua consciência.