Dissimulada. E só quem conviveu com ela sabia desse seu lado. Ela conseguia passar de furiosa para uma mulher doce e serena. Aquilo sempre deixava Fabiane com medo e depois extremamente irritada, pois com isso a mãe se passava por a boa pessoa e ela a filha mimada e incompreensiva. E lá estava ela, bem ali na sua frente e como sempre Fabiane ficou nervosa. Tentando disfarçar ela passou pelo rapaz que agora olhava as duas com um ponto de interrogação.
- Olá mamãe! Resolvi vir em sua festa de cinquenta e cinco anos. -Ela falou alto de propósito para que as pessoas que estivessem perto a ouvissem. Uma coisa que a mãe detestava era dizer sua real idade e que tinha uma filha. Com certeza muitos ali desconheciam sua existência. Ela sempre havia escondido essa informação. Por várias vezes Fabiane fora obrigada dizer que eram irmãs ou apenas amigas. Marlene tinha pavor que as pessoas comparassem a filha a ela.
Demorou descobrir que o problema dela era não conseguir olhar para a filha e vê-la como alguém que deveria amar. Mas ela a via como uma ameaça. Então, se a filha comprasse alguma roupa, ela se esforçava para comprar uma melhor e mais ousada.
Marlene criticava seu rosto com espinha, dizia o quanto ela era sem graça ou que não sabia realçar a beleza.
Suas roupas sempre foram esquisitas e sem sal.
Flertava com seus amigos e namorados e adorava quando conseguia a atenção deles.
Crescer sabendo que a mãe era sua inimiga fora terrível para ela.
Sabia que sua maior dor era olhar para a filha e saber que estava envelhecendo e Fabiane florescendo. Seu pai que sempre a estimulava a procurar a mãe e tentar fazer dela uma mulher melhor... Mas ela não entendia por que sua mãe não gostava dela e precisou fazer terapia para entender o comportamento agressivo, cruel e frio vindo da única pessoa que deveria protegê-la, mas pelo contrário a cada ano se tornava alguém incapaz de amar. Na terapia ela descobriu que a mãe era manipuladora e narcisista. Então tudo veio a luz e ela procurou afastar-se aos poucos.
Quando seu pai saiu de casa e a levou, Fabiane começou realmente a viver. Ela tinha dezesseis anos na época e via a mãe apenas em ocasiões especiais. Mas era hora de tanto sofrimento que ela foi reduzindo as visitas à mãe até que finalmente deixaram de se ver por completo. Nem mesmo um telefonema!
Marlene a olhava sem nenhum sentimento de bondade e parecia que nem mesmo não via a filha há anos.
Pensando nisso, ela levantou o queixo e foi em sua direção.
O perfume suave entrou em suas narinas e ela sentiu-se enjoada.
De repente todos os planos de arruinar a festa dela ruíram. Não teria coragem!
Ela viu a mãe corar enraivecida, mas logo a seguir abriu os braços na sua direção a acolhendo num abraço frio. Ela deixou ser abraçada pela mãe fingindo alegria.
Ela constatou que abraçar um iceberg seria mais caloroso.
- Ohh querida! Mas que surpresa adorável! Por que não disse que viria?
Ela a fuzilou com o olhar e em outras épocas ela correria para seu quarto feito uma idiota, mas dessa vez seria bem diferente.
- Queria te fazer uma surpresa mamãe!
Tentou falar mais melosa possível.
- Pois conseguiu querida! Olhe Robby essa é minha filhotinha...
Revirou os olhos vendo o olhar espantado do rapaz. Mas continuou:
- Ela não é uma beleza? Agora... – Falou dando uma geral com o olha na filha – Porque a coitadinha era muita sem graça e feinha quando pequena.
Robby se aproximou analisando as duas, acenou para Fabiane friamente:
- Feia? Duvido! Ela é a sua cara! A menos que você tenha sido feia também quando mais jovem... -Ele disse isso sério, sem nenhuma expressão no rosto e se afastou sumindo no meio da multidão.
- Robby é meu assistente. Trabalha comigo há muitos anos... E acha que pode falar o que quiser você não lembra dele? Ahh, não importa... - Ela fez uma pausa olhando Fabiane. -Ohh, claro que ele sabia de você querida!
Apressou-se em dizer quando viu que ela perguntaria isso.
- Entendo... Ele pareceu bem surpreso.
- Eu também estou... Mas já que está aqui, aproveite a festa! Só não fique por ai dizendo que é minha filha.
Riu tomando o vinho.
As unhas dela estavam impecáveis como sempre: Vermelhas. O vestido também vermelho cobria seu corpo esbelto.
Ela era uma mulher mediana, mas havia colocado uma sandália preta de saltos altos fazendo-a mais erguia e elegante. O vestido caia perfeitamente nas curvas da mãe.
Seu quadril chamava atenção com sua cintura fina e delgada.
Essa infeliz! Pensou Fabiane, continua linda e irresistível!
Ela foi acompanhando a mãe e seus olhos tentando encontrar alguém conhecido.
Mas ela não via ninguém.
O rol de amigos dela havia mudado desde ultima vez que se viram. Poucas pessoas queriam estar perto dela quando descobriam seu jeito egoísta. Marlene era mulher de poucos amigos
Oito anos?
Dez?
Fabiane não sabia quando estivera tão perto da mãe e ao mesmo tempo tão longe!
Ela entrou na grande sala e ficou tonta.
O local era impregnado por vários cheiros. E ela soube que precisaria de ar fresco em poucos minutos.
Pegou uma taça de vinho e ficou olhando para ver se via algum homem perto dela.
Queria conhecer o noivo de sua mãe.
Queria flertar com ele, igual ela fazia com os seus namorados e amigos.
Queria vê-la espumando de raiva, como várias vezes ela ficou.
Mas sua mãe estava nesse momento rindo e conversando com um grupo de pessoas.
Fabiane se aproximou.
- A gente precisa conversar mamãe. – Disse perto dela.
- Depois meu anjo, depois... Eu tenho que entreter meus convidados...
- Agora Marlene!- Fabiane falou firme olhando na direção das pessoas que começavam a perceber sua presença.
Forçando um sorriso ela continuou falando somente pra mãe ouvir:
- Ou quer que eu comece a falar aqui mesmo e eles ficarem sabendo a boa filha da mãe que você é!
A mãe sorriu para ela, mas Fabiane sabia que ela queria esbofeteá-la.
Pegando-o pelas mãos e a conduzindo para seu escritório, ela foi abrindo caminho no meio das pessoas fazendo uma piadinha aqui e ali.
Alguém perguntou se ela iria apresentar a nova convidada e ela apenas respondia que depois.
Empurrou gentilmente a filha pra dentro do escritório. Fez um sinal para Robby, que apareceu de repente e fechou a porta.
- Pronto querida...
- Como você se atreveu vender a casa que também era minha? E sem me consultar Marlene?
Marlene fez um gesto infantil com o rosto e sento no sofá do lugar. Ela sabia que quando a filha a chamava pelo nome estava irritada.
- Ahh então é isso? A casa! Querida, você é igual o seu pai... Muito emotiva! Claro que eu darei sua parte da casa.
- Marlene eu não queria o dinheiro... Eu queria a casa, você sabia o quanto ela é importante para mim. – Fabiane queria chorar de raiva e impotência.
Marlene revirou os olhos parecendo entediada.
- Eu vendi a propriedade e não me arrependo, a casa era velha e se demorasse a vender, em anos ela estaria caído aos pedaços e nunca conseguiria vender pelo valor que vendi.
- Por que você faz isso? Por que quer sempre tomar decisões sem se importar com as pessoas? Pior ainda, teve a coragem de enganar papai...
- Ah não, eu não o enganei... – Rindo ela continuou. -Ele pareceu gostar da nossa noite, da noite que tivemos e ele assinou os documentos para mim sem questionar nada...
- Não me interessa sua noite de terror com ele... – Gritou e Marlene gargalhou. -Como pôde usá-lo? Sabe que ele a ama ainda!
Marlene encolheu os ombros.
- Não foi uma noite de terror querida! Seu pai pode ser uma parasita sem ambição, mas o danado sabe fazer um sexo maravilhoso e tenho certeza que ele adorou também! E lembre-se que foi ele que me abandonou, foi embora... – Fez um muxoxo e continuou fingindo tristeza – E você foi junto com ele... Se vocês me amassem nunca teriam ido...
- É claro que ele foi embora mamãe... - ela acentuou a palavra mamãe de propósito – Não aguentava mais suas traições! E eu? Ahh você sabe que nunca me amou...
- Ah de novo essa história! Você realmente não cresce! Olha, meu noivo que é advogado irá procurá-la e entregará sua parte. É isso ou não é nada! Você assina os papeis que logo depois será transferida uma parte para você.
- Dinheiro, dinheiro só nisso que você pensa! Você me enoja!
Marlene se levantou, alisando o vestido.
- Já terminou? Se sim, preciso voltar para meus convidados!
Ela a olhava firmemente enfrentando a fúria da filha. Fabiane sabia que havia sido vencida.
Por enquanto, pensou ela.
- Quando eu verei seu advogado?
- Deixe seu contato com Robby, ele vai agendar um horário com Oscar e você poderá ir ao escritório dele. Ou melhor!
Ela pareceu ter tido a ideia do século. Viu seus olhos brilharem e soube que tinha um plano.
- Você pode vir sábado aqui em casa almoçar? Assim, você conhece meu noivo e assina os documentos. Terá seu dinheiro na mesma semana te garanto.
Beijou os dedos cruzados num sinal de promessa.
Fabiane lhe virou as costas e sem despedir-se saiu do escritório.
Seus olhos estavam ardendo querendo chorar.
Ela sentia raiva de si, pois constatou que a mãe ainda tinha um poder sobre ela.
Passou pelas pessoas pedindo licença e saiu do apartamento.
Suas mãos estavam suando e tremendo.
Raiva e frustração a invadia.
Olhou ao redor, aquele condomínio luxuoso e teve vontade de subir e dizer para toda aquela gente quem era Marlene Costa. Mas ela duvidava que eles não soubessem. Em volta dela sempre teve aquelas moscas, os parasitas só aguardando serem beneficiados de alguma maneira.
Aquilo sempre a enojara.
A única mulher que ela considerava amiga da mãe, havia sido traída e roubada por Marlene. Assim era ela. Um ser desprezível, que se aproveitava da bondade das pessoas e as apunhalava pelas costas.
Viu alguns táxis parados na entrada e sentiu seu coração apertar. Seria possível que em um deles estava o motorista misterioso?
Mas ele não estava lá.
Exausta mentalmente foi para seu apartamento