Capítulo 4 Eva

O hotel Realeza, é provavelmente o maior lugar em que já estive. O salão, embora não esteja verdadeiramente lotado, é enorme. As pilastras de mármore que o sustentam dão ao lugar o toque de elegância nunca antes visto. O teto era decorado com pinturas de grandes artistas, que criavam toda uma atmosfera clássica para o local. Música clássica era tocada ao vivo por um quarteto, em um palco logo ao fundo, algumas pessoas assistiam os músicos tocarem, enquanto outros perambulavam de uma mesa para outra conversando.

A primeira coisa que fizemos foi procurar pelo pai da minha amiga, a festa era dele, então devíamos cumprimentar ele primeiro. Encontrar o Dr. Carlos, não foi uma tarefa difícil, ele era o alvo de toda atenção na noite, então era só encontrar o máximo de pessoas reunidas em um só lugar.

- Lili, meu amor! - Exclamou o Dr. Carlos assim que viu que a gente se aproximava dele - Eu estava começando a me preocupar com a sua demora - falou ele, enquanto puxava a filha para um abraço.

Os convidados ao redor do homem nos deram passagem para nós assim que Dr. Carlos falou. Depois de abraçar a filha, ele olhou em minha direção.

- E você Eva! Está tão bonita esta noite! - Elogiou ele, e dessa vez eu fui puxada para um abraço.

O Dr. Carlos, era um homem baixinho, gordo, de cabelo ralo e barba grande. Ele usava um terno caro que se adequava ao seu corpo de uma forma que me lembrava um barril encapado em trajes de gala.

- Que bom que estão aqui essa noite! - Exclama ele para nós duas, e todos ao seu redor soltam risadas da sua fala. A partir disso ele começa a nos apresentar para os convidados ao seu redor.

Todos são gentis e nos comprimentam com um aperto de mão, mas então meus olhos caem sobre o homem mais afastado dos outros. Ele é alto, possui cabelos pretos curtos e liso, e é forte. Digo isso porque é possível notar os músculos abaixo do terno caro, feito sob medida, que lhe cai perfeitamente bem.

Diferente dos demais, ele segura a minha mão e se inclina para beijá-la, o simples ato me faz ficar vermelha instantaneamente. Quando nossas mãos se tocam, sinto um choque percorrer todo o meu corpo.

- É um prazer conhecer a senhorita - Cumprimenta ele como se tivesse saído de um século passado - Não sabia que possuía filhas tão bonitas, Carlos. - Elogia ele soltando a minha mão gentilmente.

O Dr. Carlos ri de sua fala como se ele tivesse contado uma piada, o som da sua risada me faz notar o quão bêbado ele está.

- Não, não, Evazinha é só uma amiga da nossa família, Lorenzo - explica ao outro, parecendo um pouco ofendido com tal comparação - Mas é uma menina de ouro. - Concluiu.

- Obrigada.- Agradeço sem graça - Foi um prazer conhecê-lo também - digo em resposta ao elogio direcionada a mim.

- Vem, vamos beber alguma coisa. - Lilian diz, me puxando em direção ao bar e ignorando tudo que aconteceu ao redor.

E enquanto sou puxada para longe, consigo sentir os olhos de Lorenzo sobre mim até que eu me afaste por completo.

- Acho que ele gostou de você - Liliam fala assim que chegamos ao bar, minha amiga pede duas margaridas assim que o barman vem em nossa direção.

- Quem? - Pergunto me fazendo de desentendida. Eu ainda estava meio abalada pela beleza do homem que havia acabado de conhecer, então me fazer de desentendida era uma boa opção no momento.

- Lorenzo, ora essa - respondeu Liliam, enquanto me entregava minha bebida. - Ele geralmente é todo caladão, sabe? Ele nunca cumprimenta ninguém com nada mais que um aceno de cabeça, e é sempre sério - Comenta ela dando um gole na margarita - Mas nossa, ele é um gostoso - fala com um sorriso safado rosto. - E parece que você conseguiu a atenção dele. - Conclui ela.

Dou um longo gole na minha bebida para ganhar tempo elaborando uma resposta para ela.

- Acho que você está só imaginando coisas - É tudo que falo, enquanto me concentro em examinar o salão em busca de outros rostos conhecidos - Mas sim, ele é um tremendo gostoso. - Concordo arrancando uma risada dela.

Passamos o resto da noite andando de um lado para o outro no salão e cumprimentando pessoas que presumo serem importantes clientes do escritório de seu pai, com a perda da mãe e sendo filha única, minha amiga era responsável por ser a anfitriã de todo o evento que seu pai fazia. Liliam estava na faculdade de direito e esse era o maior orgulho que o Dr. Carlos podia ter, então ele gostava de exibi-la para todos que chegavam ou para todos que estavam ali presentes.

Em uma dessas exibições acabei me encontrando sozinha na festa, então como única alternativa, me refugiei no lugar mais afastado do salão com minha terceira bebida em mãos e meu celular.

- Creio que pessoas da sua idade não tenham muita afeição por festas desse tipo- Comenta uma voz grossa surgindo ao meu lado.

Meus olhos se encontram com os de Lorenzo no momento em que os levo em direção a sua voz. Seus olhos azuis examinam cada detalhe meu de uma forma pouco discreta, o que de alguma forma me deixa extremamente sem jeito.

- Bem, eu já fui em alguns melhores. - Respondo com humor.

- Mesmo? - Indaga curioso. - Bem, eu venho em todo evento desse tipo, mas eu nunca te vi em qualquer um deles, até hoje é claro- ele dá um gole em seu uísque. - Eu diria que talvez seja porque nunca reparei em você nessas festas, mas dizer isso, seria o mesmo que dizer que sou cego. Já que de todas as mulheres presentes aqui, você é a única que carrega uma beleza verdadeira consigo - Completa ele, a voz baixa e rouca, enquanto se senta ao meu lado.

O comentário em conjunto com seu olhar analítico sobre mim, me faz corar novamente. E eu me sinta uma boba, nunca fui o tipo de mulher que corasse com elogios desse tipo.

- Acho que o senhor nunca notou, porque eu geralmente só compareço em eventos que Lilian costuma ficar nervosa, sabe, para fazer companhia a ela e dar suporte - Dou um sorriso sem jeito - e de todo jeito, não costumamos ficar até o final dessas festa. Nós vamos a esses eventos, fazemos notarem a nossa presença e depois saímos de fininho para um local mais divertido - Explico para ele, que ouve atentamente.

Lorenzo me analisa por um momento antes de falar.

- Senhor? - ele abre um sorriso encantador - não precisa me chamar assim, pelo menos não até que eu peça a você por isso - esclarece com um duplo sentido em sua frase que não consigo entender.

Meu rosto cora com sua correção.

Ele ri novamente, e o som da sua risada provoca um estranho arrepio que percorre todo o meu corpo.

Abro a minha boca para dizer mais alguma coisa, mas sou interrompida por Liliam antes de dizer qualquer coisa:

- Adivinha quem conseguiu acesso à balada mais exclusiva de todo o Rio de Janeiro? -Indaga ela eufórica, não notando a presença do homem à minha frente.

- Você já quer ir? - Pergunto um pouco decepcionada, não por sair da festa, mas por querer continuar a conversa com Lorenzo.

- É claro! - Exclama ela como se fosse óbvio. - Ninguém merece passar a noite toda perto de todas essas pessoas chat.... - Ela corta a frase no meio assim que nota sua presença. - Ah, oi. - Cumprimenta sem graça.

Lorenzo a cumprimenta com um aceno de cabeça, sem se importar com o que minha amiga iria falar. Ele volta sua atenção para mim.

- Foi um prazer conhecê-la, Eva. - Diz se levantando. Ele aperta a minha mão e antes que se afaste de mim completamente, conclui: - Creio que iremos nos encontrar muito em breve - e sem esperar por qualquer resposta, ele se vira e vai embora.

            
            

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