Dançando com o Diabo
img img Dançando com o Diabo img Capítulo 3 Lembranças de Aurora, parte 2
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Capítulo 6 Alguns anos antes img
Capítulo 7 Uma situação ruim img
Capítulo 8 Fugir do que se espera img
Capítulo 9 Tristeza img
Capítulo 10 Uma noite antes do fim img
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Capítulo 3 Lembranças de Aurora, parte 2

Eu deveria estar tremendo de medo, mas o toque dele deixou-me encantada.

Ele estava sonhando novamente. Com ela. Sua cabeça passou a latejar com menos intensidade quando ela se inclinou sobre ele. A terna carícia dos dedos dela em sua testa febril era gentil e consoladora,

mas o toque dela provocou um latejamento pior nas costas.

Ela era a essência de toda a fantasia masculina: angelical, valquíria, deusa, sereia do mar. Tentação dourada e tormenta primitiva. Ele queria trazê-la para baixo, para junto dele, e beber na fonte dos seus lábios. Mas ela mantinha distância, fora de alcance:

- Ei, você!

Ele acordou assustado, com a lembrança e a dor o inundando com uma intensidade brutal. Sentindo tontura, Nicholas levou a mão à cabeça dolorida e sentiu o curativo nela. Ele estava deitado em um catre sem lençóis e não estava mais acorrentado. A coronha do mosquete pressionando suas costelas feridas, porém, era lamentavelmente familiar, assim como o guarda forte que pairava sobre ele.

- Você aí, recomponha-se!

Sua visão borrada se firmou. Tinha sido feito prisioneiro, lembrava-se, e fora levado até a fortaleza em São Cristóvão, onde provavelmente seria enforcado por pirataria e assassinato. De início, ele andou pela cela como se fosse um animal ferido, com o pensamento desvairado concentrado em sua meia-irmã e no fato de não ter conseguido cumprir a promessa de protegê-la. Mas o cansaço e a dor finalmente o obrigaram a se deitar. Tinha caído em um torpor torturante, apenas para começar a sonhar com a bela mulher de cabelo dourado que o tinha defendido com tanta valentia no cais.

Que diabos estava havendo com ele? Nick xingou a si mesmo. Desejar uma desconhecida, independentemente da beleza ou da coragem dela, era totalmente insano nessas circunstâncias. Em vez disso, ele deveria concentrar-se em sua irmã e em cuidar dela, tentando imaginar alguma maneira de garantir a segurança dela depois de sua morte...

- Eu mandei se recompor! Tem uma senhora aqui querendo ver você.

Nicholas ergueu-se lentamente com a ajuda dos cotovelos. Além do guarda, a porta da cela estava parcialmente aberta... Ele fixou o olhar e seu coração pareceu parar de bater.

Ela estava ali, dentro da câmara escura, alta, esbelta, majestosa como uma princesa. Mesmo que o capuz do manto negro recobrisse suas belas formas nas sombras, ele sabia quem era ela. Muito diferente do anjo vingador do qual ele lembrava no cais, ela parecia hesitante, indecisa. Cautelosa.

- Vou deixar a porta entreaberta, milady. Se ele lhe causar algum problema, é só chamar.

- Obrigada.

A voz dela era baixa e melodiosa, mas ela não disse nada mais, mesmo depois que o guarda saiu da cela.

Desconfiado de que sua visão não passasse de uma ilusão, Nicholas sentou-se lentamente. Os tênues raios de sol atravessavam a pequena janela com grades e iluminavam as partículas de poeira que dançavam ao redor da saia escura que ela usava, mas pouco contribuíam para iluminar suas feições.

Ela então colocou para trás o capuz de seu manto, revelando o cabelo brilhante, delicadamente preso, proporcionando a Nick um choque de consciência sexual. Sua beleza incomum parecia iluminar a cela escura.

Ela era bastante real, a fantasia viva de seus sonhos... a não ser que ele tivesse morrido e aquela fosse a versão dela no paraíso. Seguidores da fé islâmica acreditavam que um homem abençoado estaria cercado de formosas virgens quando fosse acolhido no paraíso. A dor dos seus ferimentos, porém, fez Nicholas suspeitar que ainda habitava seu corpo.

Ela o olhava surpresa, estudando o rosto dele. Então, como se tivesse percebido que o encarava, ela corou um pouco e voltou o olhar para a bandagem enrolada na cabeça dele.

- Vejo que eles pelo menos chamaram um médico. Temi que não fossem fazer isso. Não, por favor, não se levante por minha causa - disse ela quando ele tentou se erguer. - Você não está em condições de se ater a formalidades.

- O que... - sua voz saiu muito rouca; então ele limpou a garganta e começou novamente. - Por que veio aqui?

- Eu queria ter a certeza de que você estava bem - respondeu ela.

Nicholas franziu o cenho, tentando organizar a confusão em sua cabeça dolorida. Talvez os golpes realmente tivessem afetado seu cérebro.

Nenhuma dama colocaria em risco sua reputação para se emaranhar nas entranhas de uma prisão por causa de um estranho. E ele sabia que ela era uma dama da cabeça aos pés - sangue azul até os ossos. De fato, não tinha ela afirmado ser filha de um duque enquanto esculhambava aquele marinheiro pela manhã?

Nicholas olhou-a, pensando se não teria perdido alguma pista fundamental sobre o enigma representado por ela. Eis que um pensamento veio a ele repentinamente.

Seria possível que ela estivesse ali para enganá-lo? Estaria o bastardo do Gerrod recorrendo a algum ardil, usando-a para obter informações?

Desconfiado, Nick estreitou o olhar. Seu navio ainda estava em algum lugar do Caribe, pois ele fora sozinho a Montserrat buscar a irmã - a bordo de um brigue holandês - e não quis arriscar a vida de sua tripulação em uma missão pessoal. Mas o capitão Gerrod estava bastante determinado a descobrir o paradeiro da escuna daquele americano.

A captura de um navio inimigo tinha o potencial de catapultar a carreira naval do capitão - o que, segundo as suspeitas de Nick, era um provável motivo para que ele não tivesse sido imediatamente enforcado. Isso e o fato de Gerrod ter optado por não cometer nenhum deslize político ofendendo alguma ilustre conexão do prisioneiro.

De cara amarrada, Nicholas contemplava a bela e inesperada visita. Estaria ela de alguma maneira em conluio com Gerrod? A compaixão dela tinha parecido totalmente genuína naquela manhã, assim como sua animosidade em relação ao capitão. Mas existia a possibilidade de ela ter sido de alguma maneira persuadida a trabalhar com Gerrod e contra ele.

Será que ela tinha sido enviada até ali para atormentá-lo? Tentar um condenado como se promete água a um homem que morre de sede no deserto? A cruel possibilidade de um ser de tamanha beleza e doçura fazer parte de um estratagema encheu Nick de raiva.

Ele cerrou os dentes. Faria bem se lembrasse de que suas nações estavam em guerra. Por ser inglesa, ela era sua inimiga, e seria melhor para ele permanecer na defensiva.

Ela parecia desconfortável com a maneira como ele a observava, e quando ele deliberadamente baixou os olhos e demorou-se admirando seus seios, teve a impressão de vê-la corar apesar da luz fraca.

- Creio que não fomos apresentados de maneira adequada, madame - provocou ele.

- Não. Não houve tempo. Sou Aurora Demming.

Um nome adequado, pensou ele despretensiosamente.

- Lady Aurora. Eu lembro. Você mencionou isso no cais.

- Eu não tinha certeza de que você estava consciente do que acontecia ao seu redor.

Ao lembrar-se das agressões, Nicholas ergueu a mão para sentir a bandagem.

- Temo que você tenha me encontrado em desvantagem. Um silêncio constrangedor pairou entre os dois.

- Trouxe algumas coisas que talvez você possa precisar - ela disse finalmente.

Quando ela deu um passo em direção a ele, Nick se concentrou no pacote que ela trazia nos braços. Ela parecia estranhamente nervosa enquanto colocava sua oferenda sobre o catre e olhava ao redor da cela espartana e mal iluminada.

- Eu deveria ter trazido velas. Não pensei nisso. Mas aqui tem um cobertor... e um pouco de comida.

Os olhos dela cruzaram brevemente com os dele e depois se desviaram.

- Também trouxe uma camisa e um casaco do supervisor de Percy. Você pareceu ser maior que meu primo...

Nicholas percebeu que era seu estado de seminudez que a mantinha quieta. Se ela fosse como outras senhoritas de sua estirpe, dificilmente estaria habituada a visitar um homem seminu ou a fazer estimativas sobre seu porte físico.

- Como você passou pelos guardas? - perguntou ele com cautela.

Ela pareceu grata pela mudança de assunto.

- Aproveitei-me do comandante da guarnição, senhor Sabine - disse ela com um sorriso discreto. - Na verdade, recorri a uma pequena mentira. Dei a entender que meu primo Percy me havia mandado aqui.

- E ele mandou você aqui?

- Não exatamente.

- Pensei que Gerrod tivesse proibido que eu recebesse visitas.

- O capitão Gerrod não tem autoridade sobre o comandante da guarnição, e também ninguém gosta muito dele aqui na ilha.

- Então ele não mandou você aqui para me interrogar?

Um olhar de confusão uniu as finas sobrancelhas dela.

- Não. Por que você acha isso?

Nicholas encolheu os ombros. Ficaria muito surpreso se ela estivesse dissimulando. Mas se ela tinha algum motivo oculto para estar ali, ele era incapaz de perscrutar. Será que ela queria alguma coisa dele?

Quando ele se esticou para pegar o pacote que ela tinha trazido, Aurora recuou um passo, como se temesse a aproximação dele. Ele pegou a camisa e a vestiu cuidadosamente, contraindo os músculos doloridos.

- Perdoe-me, milady - pensou ele em voz alta -, mas não consigo entender o motivo de me defender assim, um estrangeiro, um prisioneiro condenado.

- Não me importaria em ver um homem ser assassinado diante de meus olhos. Pareceu-me que o capitão estava ansioso demais por encontrar uma desculpa para matá-lo. No mínimo, os homens dele teriam espancado você até deixá-lo inconsciente.

- Isso ainda não é motivo para bancar a dama generosa, guiada pela gentileza e pela boa ação.

O cinismo daquela frase a fez mudar um pouco as feições.

- Não estava convencida de que iriam cuidar de você.

- E você quer tornar meus últimos dias de vida mais confortáveis? Por quê?

"Então, por que mesmo?", Aurora se perguntava. Era impossível explicar a afinidade que sentiu com ele. Seria mais difícil ainda negar. Ele era um corsário, e isso para dizer o mínimo. Um homem violento. Um homem com sangue nas mãos.

E agora que não estava mais indefeso, o efeito dele sobre ela era ainda mais forte. Suas feridas tinham sido limpas, o sangue lavado, e sua beleza era deslumbrante apesar da barba por fazer. Aquilo somado à faixa de musselina cobrindo sua cabeça dava a ele uma aparência suja, deixando-o realmente parecido com um pirata fora da lei.

Ela era plenamente capaz de entender por que o primo Percy o considerava perigoso para as donzelas. Ele possuía a sedução pecaminosa de um anjo caído, com os cabelos cor de âmbar e um rosto cujos ângulos e curvas eram perfeitamente esculpidos. A insolência de seus ombros bronzeados e de seus braços musculosos provocava um frio estranho em sua barriga.

Naquele momento, porém, ele tinha o rosto petrificado, e a fria insolência do seu olhar a pegou de surpresa. Ele parecia extremamente desconfiado em relação aos motivos dela - o que não era muito surpreendente, uma vez que ela mesma não tinha muita certeza.

A reação de Aurora ao espancamento de Nicholas naquela manhã tinha sido puramente instintiva, talvez pelo fato de sua intervenção em disputas violentas ter se tornado um hábito arraigado nela. Mais vezes do que era capaz de calcular, ela já havia dado um passo à frente para proteger serviçais indefesos da fúria irracional de seu pai na propriedade da família.

Mas nada daquilo explicava a urgência que sentia em estar ciente do bem-estar dele. Talvez sua afinidade com esse estrangeiro - essa inexplicável familiaridade - derivasse exclusivamente do fato de a cor dele lembrar tanto a de seu falecido noivo, um homem que ela amou ternamente.

- Presumo que eu tenha vindo porque você me lembra alguém que me era muito querido - respondeu Aurora um pouco sem jeito.

Quando ele lhe lançou um olhar cético, Aurora desviou o olhar da pele queimada de sol do seu peito nu, que se mantinha à mostra por ele estar com a camisa aberta.

Aurora permaneceu parada enquanto os olhos de Nicholas observavam cada centímetro do seu corpo, chegando aos seus seios em um escrutínio insolente. Era como se ele estivesse vendo através do casaco o vestido cinza-escuro, de corte severo, feito de bombazina.

- Você veste um semiluto - comentou ele. - É viúva?

- Não. Meu noivo desapareceu no mar há mais de oito meses.

- Eu não me lembro de tê-la visto em São Cristóvão antes.

- Cheguei no verão passado. Meu primo e a esposa dele estavam visitando a família na Inglaterra pouco depois da tragédia ter acontecido. Eles acharam que uma mudança de ares poderia me ajudar a esquecer minha tristeza e então me convidaram para voltar com eles para o Caribe. Embarcamos antes da notícia da declaração de guerra na América ter chegado à Inglaterra. Se eu soubesse, jamais teria vindo. Na verdade, voltarei para casa dentro de alguns dias.

Aurora estava ciente de que falava em tom baixo e sabia que ele devia ter percebido a nota oculta da relutância que ela não conseguia disfarçar. A última coisa que ela desejava era voltar para a Inglaterra e encarar o destino que lá a aguardava.

Nicholas Sabine continuava estudando Aurora, como se tentasse estabelecer a veracidade dela. - Você não me parece muito ansiosa para voltar para casa, milady. Acho que você estaria impaciente depois de todo esse tempo fora.

Ela sorriu de maneira sofrida.

- Suponho que minha falta de entusiasmo se dê em razão do casamento que meu pai me arranjou.

- Ah! - exclamou ele com ares de sabedoria. - Um contrato de casamento. A nobreza britânica adora vender suas filhas pelo casamento.

Aurora empertigou-se com a presunção de Nicholas. Ela não queria trocar confidências com o senhor Sabine, nem tinha gostado do tom de intimidade da conversa.

- Não estou sendo vendida, posso lhe assegurar. É mais uma questão de conveniência social. E meu pai deseja me ver bem estabelecida.

- Mas você também não quer exatamente isso, não é verdade?

- Não, eu não teria escolhido a mesma pessoa para marido - admitiu ela em tom baixo.

- Imagino que você não tenha considerado a possibilidade de se rebelar. Você não me parece ser do tipo dócil. No cais, hoje de manhã, você foi uma verdadeira tigresa.

- Não era uma situação comum - respondeu Aurora, corando. - Não tenho o hábito de desafiar as convenções.

- Não? Mas mesmo assim você está aqui. Seria insensato arriscar assim sua reputação, você precisa admitir. Lá de onde venho, damas não visitam condenados na prisão.

- Na Inglaterra também não - respondeu Aurora, forçando um sorriso irônico. - Estou plenamente ciente da inconveniência do meu ato... e normalmente sou bastante sensata nesse sentido. Mas minha criada veio comigo, pelo menos. Ela está esperando do lado de fora, no corredor, junto com o guarda.

A pontual recordação do guarda pareceu não surtir nenhum efeito sobre o senhor Sabine. Ele abotoou lentamente a camisa, olhando-a sob suas longas pestanas escuras.

Quando ele se levantou, ela deu um passo cauteloso para trás. Ela era alta o bastante para que ele não a apequenasse com seus ombros largos e seus membros longos, mas daquela distância tão curta sua masculinidade era quase irresistível. Sua proximidade era uma ameaça.

- Você não está com medo de mim, está? - perguntou ele em um tom suave que a deixou arrepiada.

Agitada, Aurora lutou para controlar as sensações de conflito enquanto se mantinha em seu lugar.

Estava com medo dele. De sua intensidade. Do modo como sua virilidade bruta fazia seu coração bater. - Você não me parece ser o tipo de homem que machucaria uma mulher - respondeu ela, sem ter certeza.

- Eu poderia fazê-la refém. Você tinha pensando nisso?

Os olhos dela se arregalaram e sua agitação aumentou.

- Não, eu não tinha pensado nisso. Percy me disse que você é um cavalheiro - acrescentou ela, acometida de uma dúvida repentina.

O sorriso dele se iluminou no momento em que encurtou a distância entre eles.

- Alguém deveria tê-la ensinado a não ter tanta confiança assim.

Aproximando-se ainda mais, ele segurou o pulso dela, agarrando-o suavemente. Os dedos de Nicholas pareciam queimar a pele de Aurora, mas ela continuava determinada a não demonstrar como se sentia ao toque dele.

- Alguém deveria ter ensinado bons modos a você - retorquiu ela com indiferença, assumindo seu ar mais majestoso. Como ele não a soltava, ela o enfrentou. - Eu não esperava necessariamente gratidão, senhor Sabine, mas também não esperava ser maltratada dessa forma.

A dureza dos olhos escuros de Nicholas diminuiu um pouco enquanto ele soltava a mão dela. Muitos batimentos cardíacos depois ele desfez o ar zombeteiro.

- Perdoe-me. Eu me comportei de modo inadequado.

Distraidamente, ela esfregou o próprio pulso, onde o toque dele a havia marcado.

- Compreendo que o senhor esteja em uma situação difícil. E você é americano, afinal.

Ele lançou um sorriso de deboche.

- Ah, sim, um colonizado bárbaro.

- Você deve admitir que é muito... direto.

- E você deveria entender que homens condenados são induzidos a atos de desespero.

A expressão dela tornou-se sóbria ao lembrar-se de que ele seria enforcado.

- Percy deseja usar a influência dele em seu favor, mas ele também pode perder seu posto se exigir sua libertação. Ele já está sob suspeita de simpatizar com a causa americana. Acredita que essa guerra é absurda e que nós, britânicos, temos mais culpa por ela do que vocês, americanos.

Nicholas olhou fixamente para baixo, contemplando o lindo rosto dela inclinado para trás, para contemplá-lo, o queixo para cima. Se ela era inocente e estava sendo honesta, ele havia se enganado redondamente sobre ela. Ele sentia uma raiva enorme de alguns dos compatriotas dela, mas jamais poderia ter-se permitido descontar nela sua fúria e seu ressentimento.

- Perdoe-me - pediu ele relutantemente. - Estou realmente em dívida com você. Se de alguma forma eu pudesse retribuir esse favor...

Ele deixou a frase no ar, ciente da improbabilidade de um dia estar em posição de retribuir a gentileza dela.

Uma repentina tristeza encheu os olhos de Aurora.

- Eu queria que houvesse mais alguma coisa que eu pudesse fazer.

- Você já fez o bastante.

Ela mordeu os lábios.

- Eu suponho que deveria ir.

Nicholas percebeu-se olhando para a boca dela.

- Sim.

- Tem alguma coisa de que precise? - ela perguntou.

Ele deu um sorriso ao mesmo tempo irônico e sinistro.

- Fora a chave da cela e um navio rápido para conseguir fugir? Uma garrafa de rum também não faria mal.

- Eu... vou tentar.

- Não, não vai. Eu estava fazendo troça.

Ele passou as costas das mãos suavemente pelo rosto de Aurora. Os lábios dela se abriram e ele ouviu sua respiração suave. Nicholas sentiu-se excitar.

- Você não deveria estar aqui - disse ele tranquilamente. - Para o seu próprio bem, você deveria ficar longe.

Ela assentiu e deu um passo para trás. Seus olhos azuis se embaçaram. Como se fosse incapaz de falar, ela virou-se sem dizer mais nada e fugiu da cela sombria.

A porta rangeu atrás dela, sem dúvida empurrada pelo carcereiro. Nick amaldiçoou a lembrança de seu aprisionamento.

Por um momento, ele permaneceu ali, respirando a sutil fragrância floral que ela havia deixado para trás e desejando esmurrar alguma coisa. Desejou intensamente que ela não tivesse vindo. Intencionalmente ou não, ela o tinha deixado em chamas.

            
            

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