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A criatura ao ouvir que Elaine era humana, caminhou lentamente até sua direção, parando com sua cabeça acima dela, que julgou melhor permanecer ali parada.
- Humana?! - ela sentiu a baba que escorria da boca da criatura pingar em seu pescoço, o nojo e a repulsa quase a fizeram sair correndo para se limpar, mas do contrário, permaneceu ali.
- Sim, minha humana.
O modo como Satana falou foi extremamente possessivo e em tom de advertência para Asmodeus, que recuou um pouco, agora Elaine levantou um pouco sua cabeça, notando aqueles olhos amarelos a combiçando de uma forma asquerosa.
- Nunca vi uma humana tão delicada... Sua pele.... Sua pele... Nós podemos fazer uma troca... Leve todas essas - ele jogou as correntes que prendia as garotas aos pés de Satana - e me deixe ficar um pouco com a sua!
Satana pegou no ombro de Elaine e a fez ficar em pé ao seu lado.
- Ela é minha, apenas minha.
A criatura logo perdeu o foco, sabia que seria impossível barganhar com Satana. Ele se rastejou até a mesa, sentando sobre a maior cadeira, as garotas logo ficaram em pé ao seu lado, pegando a comida da mesa e levando até a boca da criatura, Satana se juntou a ele na mesa, enquanto Elaine ficou em pé atrás de sua cadeira, como uma mera espectadora.
- O que lhe trás até aqui, Asmodeus? - perguntou ela sem rodeios, apesar de se referir normalmente a ele com respeito, ela não parecia o temer, muito pelo contrário, parecia que era a fera quem devia sentir medo.
- Para que ir direto as formalidades? Vamos aproveitar o banquete.
A criatura comia de forma grotesca, com a boca aberta. As mulheres que o alimentavam frequentemente olhavam para Elaine com ares curiosos, se questionando se ela realmente era uma humana e se fosse, por que estava servindo sua mestre?
- Tenho muitos assuntos a resolver.
- Então vamos mandar essas imundas saírem. Vamos, sumam! - ao falar com as garotas, ele usou de um tom áspero e impaciente, puxando as correntes com força, fazendo até mesmo algumas caírem enquanto corriam para deixar o salão sobre suas ordens. Com um olhar, Satana deixou claro a ela que também deveria os deixar a sós e seguiu na mesma direção que as outras mulheres, sendo a última a passar e fechando então a porta. As mulheres fizeram um círculo a sua volta a observando.
- Você é mesmo humana como nós? - questionou uma delas.
- Por que ele as trata assim?
- Porque somos humanas, estranha é como tratam você.
Ela deu as costas as meninas, por mais que quisesse falar com elas, principalmente por estar incomodada com a situação delas, havia algo que ela julgava ser mais importante no momento, que era ouvir a conversa entre os dois lá dentro.
- Você tem sido muito branda e molenga com esses humanos, Lucios quer você mais ativa com essas criaturas.
- Em minhas terras, eu faço como desejar, se Lucios não gostou, que venha pessoalmente falar comigo... - Elaine foi interrompida por uma das mulheres que puxou seu vestido, chamando sua atenção, ela se virou, era uma mulher de quase meia idade, com cicatrizes por todo o rosto.
- O que você está fazendo?
- Ouvindo a conversa, não é óbvio?
- Mas o mestre não gosta disso.
- E daí?
- Se ele não gosta não devemos fazer.
- Não! O que deu em vocês para servirem dessa maneira? Como aceitam essas coisas?
A mulher não respondeu, pelo contrário, ela se afastou, junto com todas as outras.
- Ela é louca... - a mulher disse virando as costas e indo para longe com as outras. Apesar de se encontrarem na condição que estavam, elas sabiam o que Elaine queria dizer, mas já haviam conhecido muitas outras pessoas como ela que não queriam aceitar as coisas como elas eram e por isso foram mortas, ao contrário dos mortos, elas haviam escolhido viver mesmo que para isso suas vidas fossem miseráveis e essa era sua escolha.
Ela abriu novamente a fresta da porta para poder ouvir a conversa, quem falava era a criatura novamente.
- Esse bruxo, os humanos tão ficando agitados, teve um que olhava para mim enquanto falava! Parecia até seus bichos, Satana!
- A revolta não é em meu território, o que não me interessa. Assunto resolvido.
Ela estava claramente impaciente e incomodada com a situação, ela tinha nojo e odiava tanto quanto os humanos Asmodeus. Ela revirou os olhos após ele começar a falar que sentia desejo nela, ela prestava atenção em tudo na sala, menos na criatura que dirigia comentários a ela, afim de não ficar estressada e por acidente que seus olhos notaram os olhos verdes de Elaine espreitando pela porta, os humanos de Arcádia sempre eram tão destemidos, talvez ela pudesse ser usada para algo.
Quando o demônio ordenou, as garotas voltaram para a sala andando de quatro e se prendendo em suas correntes, enquanto Elaine veio caminhando normalmente, ela sentiu o olhar dele sobre ela, o que faz sentir um arrepio, ela então apertou o passo para chegar até a trás de Satana que ainda estava sentada. A criatura anunciou sua saída, dando suas últimas propostas as duas mulheres, que Satana recusou de forma categórica a oferta direcionada a si mas quando se tratou de sua nova protegida, ela foi incisiva e ríspida na resposta, o que fez Asmodeus desejar ainda mais, a luxúria do proibido quase o fazia tremer de desejo, ele teria de fazer algo para ter aquela humana diferente para si.
Agora sozinhas, Satana fez sinal para que Elaine se sentasse, também dizendo que ela poderia comer se desejasse, após tantos dias de escassez, não teria como recusar tal oferta. Comendo apenas o que não havia sido tocado por aquela monstruosidade, ela se empanturrou até não poder mais, ficando finalmente satisfeita, ainda pegando alguns bolinhos para mais tarde que guardou nos bolsos de seu vestido.
- Quem é este tal de bruxo? - indagou Elaine , já satisfeita, limpando a boca com um guardanapo de mesa.
- Um rebelde que eu quero que você encontre.
- Por que?
- Porque ele é sua provável única chance de sair da Sangria.
Havia mais coisas envolvidas nesse acordo do que foi dito, Satana tinha o desejo de que Elaine fizessem uma aliança com ele, em contra partida, a maga tinha o desejo de ajudar os humanos desta terra que sofriam amargamente e esse que chamavam de bruxo estava incomodando os demônios, o que era atrativo para realizar seu propósito.
- Eu aceito. - respondeu ela após um tempo em silêncio pensando sobre - Mas como o encontro?
- Ele vive nas cavernas, o único acesso a elas é pelo castelo de Asmodeus. Se você correr, talvez encontre a carroça dele antes da partida, mas é bom ter um plano.
- Eu tenho um ótimo plano! - ela disse se levantando, segurando a borda do vestido e saindo em disparada por onde Asmodeus havia passado, enquanto Satana ficou ali sentando sozinha, com um sorriso em seus lábios carnudos. Um de seus demônios entrou na sala, a temerária ordenou a ele que o exército fosse preparado para uma marcha, algo que não acontecia a pelo menos meio século, os demônios amantes da guerra esperavam por isso ansiosamente e quando a notícia da marcha chegou até eles, foi recebida de forma fervorosa, finalmente a Sangria voltaria a seu estado normal; em mortes e guerras, brutalidade e perversidade, o estado natural que os demônios estavam acostumados a viver, um verdadeiro deleite para está raça, já para Satana, isto era indiferente.
Para os temerárias, guerras não lhes eram excitantes, eram vistos apenas como causalidade para chegar a seus propósitos, este é um dos motivos de serem conhecidas como as criaturas mais frias da existência. Diferente dos demônios, Satana não tinha prazer em maltratar os humanos, por isso os deixava viverem livres em suas terras, afinal, eram mais fracos e lentos que os demônios, sendo inúteis para o exército e menos hábeis como servos. Ocasionalmente os ajudava com alimentos e coisas do tipo, pelo simples fato de não ser de seu interesse sua extinção.
Elaine correu o mais rápido que conseguia pelos corredores, até sair no pátio principal, onde o grande portão que antes impedirá sua entrada, se encontrava aberto. Uma enorme charrete puxada por criaturas quadrúpedes, semelhança a fera que havia a prendido quando ela caiu neste mesmo pátio, dias atrás. As mulheres estavam amontoadas ao chão, servindo de suporte para Asmodeus, que estava deitada parte sobre elas, parte sobre o banco da charrete, enquanto algumas acariciavam seu corpo.
A visão daquela criatura quase fez a impetuosa Elaine desistir, fazendo ela ficar parada olhando vidrada para a cena, até ser notada pelo demônio, que se virou em sua direção.
- A humana, protegida de Satana, poderia ter a mesma sorte que minhas concubinas, uma pena que tenha que servir a está mulher sem graça.
- Eu quero ir com você! - ela gritou para a criatura, que ficou a observando incrédula, até começar a gargalhar.
- Sim, sim, sim, sim, sim, sim. - ela começou a repetir de forma histérica, saltando para da charrete, com muita agilidade para seu tamanho e forma. Antes que ela pudesse se dar conta, ele já estava a sua frente, com suas mãos pegando em seu cabelo e acariciando sua pele, ela por reflexo deu um passo para trás se afastando.
- Mas eu não quero elas comigo - ela apontou para as garotas da charrete. - deixe elas para Satana. Você só vai precisar de mim.
Como se estivesse acatando ordens de uma humana, ele se virou e ordenou as mulheres que saíssem imediatamente de suas charretes e as renegou ali, declarando então sua liberdade. Sem cerimônia, ele pegou Elaine pela cintura, a levantando usando dois de seus braços, ela queria protestar, mandar ele tirar suas mãos asquerosas dela mas sabia que teria de suportar isso, ao menos por enquanto. A criatura a jogou dentro da charrete sem delicadeza alguma, como se ela fosse uma boneca de pano. Ele entrou de forma desajeitada, indo para cima dela, a agarrando e a deixando presa contra o chão da charrete, seus instintos estavam a flor da pele para possuir aquela humana, que começou a tossir, algo que humano algum jamais havia feito em sua frente.
- Eu acho que estou doente, meu mestre, estou tão fraca.
- Então eu não posso perder tempo, devo lhe usar antes que quebre. - a voz da irracionalidade falava por ele, que começou a esfregar seu rosto no de Elaine.
- Não! Se o senhor me usar agora temo que será a última vez pois irei morrer. Mas se me deixar descansar e se recuperar durante uma semana, poderia ser sua para sempre, o senhor poderá me usar o tanto que desejar.
Era uma dúvida tão cruel para ele, sua vontade era de lhe possuir pelo resto do dia, mas seria por apenas um dia, se está delicada criatura quebrasse, ele sabia que jamais arranjaria uma igual, o que o fez soltar seus braços e se afastar, indo para o canto da charrete
- Sete dias, humana? É muito tempo. Com cinco você estará sendo minha.
- Então terei de ser cuidada nestes cinco dias, não posso sequer ser tocada por ninguém, nós humanos somos frágeis, principalmente eu, com minha delicadeza notável - ela disse passando a mão sobre a região do tórax, aumentando a libido de Asmodeus, ela jogava um jogo perigoso, tinha que o dominar e usar o tempo que conquistará muito bem, caso contrário o futuro que lhe aguardava, seria preferível a morte.
A charrete começou a andar, a criatura ficava olhando para Elaine de forma fixa, sem desviar o olhar por um segundo sequer e mesmo desconfortável, ela tossia e gemia, simulando um estado de saúde frágil.
Eles seguiram por uma continuação da estrada que ela seguira para chegar ao castelo de Satana, rumando para um vão na gigantesca cordilheira que ela havia visto no horizonte.
As criaturas cavalgavam de forma veloz, fazendo com que eles estivessem no meio da cordilheira em questão de um terço de hora, este era o único caminho na Sangria que era possível atravessar e no meio desta, ela conseguia ver ao longe um grande castelo de arquitetura muito similar ao de Satana, e nas cordilheiras, ela conseguia ver muitas cavernas, as quais ela julgava que poderiam ser a morada do tal bruxo.
Ao se aproximar mais do castelo, a charrete começará a tripidar, quando Elaine olhou pela janela para ver o motivo, ela sentiu náuseas, a rua antes formada pela terra vermelha batida, agora dava lugar a uma trilha feita com corpos em decomposição. Corvos com vários olhos vermelhos podiam ser visto voando pelo local, um verdadeiro enxame de moscas voava ao passar da charrete mas logo voltavam ao seu lugar quando a mesma se distanciava, já o cheiro era tão horrível quanto o próprio odor natural da Sangria, por isso ela não havia sentido diferença alguma no odor do local. Ela se afastou assustada da janela, se encolhendo no banco.
- Bem vinda humana a seu novo lar... O Castelo dos Prazeres, o lugar dos sonhos de todo demônio.