Veridiana
img img Veridiana img Capítulo 5 Seu Destino, Parte II
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Capítulo 6 Mantendo-a por Perto, Parte I img
Capítulo 7 Mantendo-a por Perto, Parte II img
Capítulo 8 Encarnando o Personagem, Parte I img
Capítulo 9 Encarnando o Personagem, Parte II img
Capítulo 10 Recepção aos convidados, Parte I img
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Capítulo 5 Seu Destino, Parte II

Seus tios estavam irritados e não faziam questão de esconder, o que não era exatamente uma novidade, pois eles viviam incomodados com alguma coisa ou com alguém, dessa vez era com o primo mais novo recém-chegado de algum lugar distante, o motivo de estarem incomodados não soube, porque assim que sua presença se fez notada ficaram em silencio, em parte por não quererem que ela os ouvisse parte por estarem perplexos com sua aparência.

Sentou-se ao seu lugar na mesa, a esposa de Richard encarou-a desconfiada, os três primos encaravam-na com as sobrancelhas tão levantadas que davam-lhes um ar cômico, mas o tio estava satisfeito. Então lhe veio à mente que talvez ele soubesse como Rowan a abordaria, sua antipatia por Richard só crescia com o passar dos anos.

Seu avô, rei de Silian, teve apenas um filho, seu pai, antes de ficar doente e morrer, a rainha mãe era muito jovem e em poucos meses casou-se com um duque riquíssimo de Deltan, com ele teve outro menino, seu tio Richard. Pelo o que sabia os dois foram criados juntos até seu pai alcançar a maior idade e ser coroado, depois sua avó foi viver com o marido e o filho caçula no Reino vizinho, mesmo assim não teve contato com o tio até a morte de seu pai.

Quando sua mãe permitiu que frequentassem o castelo, foi para que Very pudesse conviver com os primos já que não possuía irmãos, acreditou que a figura de Richard pudesse, de alguma forma compensar a falta da do pai, o equívoco não podia ter sido maior.

Seu tio era um homem crítico e oportunista, nos primeiros anos freou sua personalidade odiosa, pelo menos até fazer os contatos certos em Silian, e então começaram as "sugestões", depois vieram as críticas e até as ordens nos trabalhadores do castelo. O primeiro homem que teve que espantar foi seu primo do meio, a tia ficou revoltada por Very ter acertado um soco no queixo dele, após um movimento estranho, que jurou que estava apenas tirando um farelo de pão de sua bochecha.

Sua mãe chegou demorando seu olhar nela apenas um segundo antes de sentar-se na cabeceira da mesa, por fim Rowan deu-se ao trabalho de aparecer, este não foi tão discreto quanto os demais encarou-a de cima a baixo, abriu um sorrisinho e decidiu sentar-se ao seu lado por mais que sua expressão não o convidasse para tal ato idiota. Estava quase cedendo ao impulso de mudar de lado quando sua tia começou a tagarelar sobre a nova vida de seu filho mais novo, o quanto estava fazendo progresso nos novos pontos de comercio.

O jantar seguiu sem maiores problemas até a hora da sobremesa quando Ângela decididamente estava protelando o final dele para que a filha pronunciasse. Veridiana passara o tempo todo em silencio, juntando coragem para finalmente desistir daquilo que tanto desejara, sua liberdade, encarou os ali presentes e algo na expressão de seu primo fez-lhe adiar um pouco mais aquele momento.

- O que você achou da terra nova? – o rapaz encarou-a sem compreender se era uma pergunta para ele, já que a prima mal se comunicava com qualquer pessoa da família além de sua mãe. – Ora, não é possível que sua viagem tenha se limitado apenas a negócios, fez algo de interessante? Primo.

- Bom, é um lugar ameno e muito agradável, as florestas são tão diferentes e as estruturas das edificações também, você gostaria.

- E as pessoas como eram? Fez amigos?

O clima na sala pesou, os tios se encaravam incomodados, o primo, no entanto, inicialmente apreensivo e surpreso, agora possuía certa decisão, aprumou-se em seu acento e fixou seus olhos nela.

- Sim, conheci uma moça incrível, de um tipo difícil de se encontrar por ai, acho que vou pedir sua mão em casamento, quando eu voltar.

Sua mãe pareceu satisfeita, até bateu palmas e parabenizou o sobrinho, seu tio parecia ter engolido um limão e sua tia estava a beira das lágrimas.

- Na verdade nós ainda não conversamos sobre isso, portanto não acho que seja prudente que você vá alardeando as outras pessoas com essa sandice – seu tio interrompeu a conversa, depois dirigiu-se a rainha – ignore ele, Ângela é uma moça distante da nossa estirpe, é a filha de um mercador que caiu em desgraça, está grávida e duvido q ue saiba quem é o pai.

- Já lhe disse para deixar de medi-la por essa única escolha, Genevive é uma boa moça, que gosta de mim, e eu gosto dela, que digam que esse filho é meu, pois assim o criarei.

O silencio mortal que seguiu-se a pronuncia daquelas palavras foi desconfortável, mas despertou sentimentos dentro de Veridiana. O primeiro foi intensa admiração pela coragem do primo, que agora arriscava sua posição familiar para estar ao lado da pessoa que amava; o segundo foi certa superioridade ao pensamento quase infantil que era abdicar de tudo por notoriamente uma moça pouco ajuizada, mas aquela demonstração lhe dera uma ideia.

Ângela pigarreou:

- Veridiana, você não tinha algo a comunicar aos presentes?

- Claro, como pude esquecer. – Sorriu enquanto olhava em volta e viu Rowan aprumando-se na cadeira – Eu gostaria de comunicar aos presentes que me sinto preparada para frequentar a corte e assim poderei encontrar um bom marido que demonstre por mim toda a afeição que meu primo demonstra por sua futura noiva. Por acaso o senhor meu tio poderia por gentileza fazer as vezes de meu pai e a apresentar-me e me acompanhar durante essa procura?

Ouviram o tilintar dos talheres de Foltest quando este os largou em choque, sua mãe fez se é que era possível, uma cara mais contrariada que o tio fizera ao ouvir os plano do caçula no entanto a primeira a se pronunciar foi sua tia parecendo encantada com a ideia:

- Seria uma honra indescritível apresenta-la a corte minha querida. – Depois avisada pelo aspecto ameaçador da rainha continuou – Porem acredito que não seja viável no momento conturbado em que estamos vivendo, que vossa alteza saia por ai, pode ser perigoso e não gostaríamos que nada acontecesse com a senhorita.

O sorriso de Veridiana ampliou-se a contrariedade no olhar de Rowan e de sua mãe indicavam-lhe que estava indo por uma ideia totalmente plausível e executável.

- Pois que venham todos a mim, que tal um torneio? Assim eu divirto aos nossos convidados e a nós enquanto posso conhecer meu futuro marido, certo mamãe?

A rainha não respondeu, cruzou os talheres em cima de seu prato e deixou a mesa sem pedir licença seguida por lorde Richard e a esposa.

Very bateu na porta de Matthew pela quarta vez, mas não obteve resposta, o amigo não costumava ficar irritado com ninguém por muito tempo, pois não era de sua natureza, porém ficaria verdadeiramente irado caso descobrisse seu plano mirabolante pela boca de outra pessoa.

Começou a achar que o amigo estava no turno da noite e não havia lhe avisado, quando estava pronta para ir embora, escutou o barulho de duas pessoas cochichando, não conseguiu entender sobre o que falavam, pois ainda estavam longe, mas tinha jeito de briga. Por instinto escondeu-se, Deus sabia o que fariam se caísse nos ouvidos de sua mãe que foi vista sozinha perto do quarto de Matt aquela hora.

- Esqueça Rowan, para começo de conversa não sei o que Very está armando, nem sabia que ela pretendia se casar com alguém um dia e você está querendo que eu a convença a escolher justo você? – reconheceu a voz de Matthew. – Se eu me lembro bem, hoje mais cedo você estava bem disposto a coagi-la a tomar uma decisão, por que não tenta de novo? – completou sarcástico.

- Eu fui um tolo, achei que se a colocasse contra a parede ela me escolheria e depois de casados aprenderia a gostar de mim. – A voz de Rowan respondeu.

- Lhe disse mais de uma vez que assim você não conseguiria nada com ela.

A conversa ia ficando cada vez mais nítida conforme aproximavam-se do alojamento, Very encolheu-se mais na lateral do lugar, de forma que não podia vê-los. Por alguns momentos só conseguiu ouvir seu coração batendo tão forte que achou que alguém poderia escutá-lo.

- Você sabe que eu a amo, não sabe? – perguntou Rowan por fim.

- Sei... Desde a primeira vez que você veio para visitar papai, não é mesmo? – havia algo mais na voz de Matt.

- Me ajude, irmão. Não tem mais nada que eu deseje mais do que Veridiana, acho que não aguentaria vê-la com outro homem... – a voz de Foltest estava embargada.

Não houve mais conversa, escutou algumas palmadinhas abafadas, a porta de Matthew ser aberta e depois fechada, e os passos de Rowan afastando-se delas.

Ficou ali quieta e atordoada, sempre soube que Foltest devia gostar mesmo dela pela quantidade de vezes que fora rejeitado, atacado e humilhado, e ainda sim continuasse voltando para vê-la, só podia ser aquilo, já que a família de Rowan devia ser tanto quanto ou mais ricos que a própria família real. O que não esperava era a parte em que aquela raposa desagradável chamava o seu Matthew de irmão.

O sentimento de traição berrava dentro dela, como era burra, foi correndo atrás do crápula lhe contar sobre sua vida, com medo de magoá-lo e ele andava lhe escondendo informações tão cruciais como aquelas.

Esgueirou-se de volta para o castelo, entorpecida, respirando mal por conta do espartilho e com os grampos fincados em sua nuca começando a doer de verdade. Dentro de seu quarto tirou o vestido pela cabeça, desatou as fitas das suas costas podendo respirar pela primeira vez em algumas horas, se questionou o porquê de ter ido atrás do rapaz vestida daquela forma.

Mais tarde meteu-se de volta nas roupas emprestadas do filho de Louise, soltou os cabelos atirando os grampos de qualquer jeito na penteadeira, apanhou um travesseiro em cima da cama e limpou a maquiagem na fronha, deitou de barriga para baixo e deixou as lágrimas rolarem pela primeira vez em anos.

                         

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