Capítulo 7 A Contratada.

Clara.

Depois do café Pedro faz menção de voltar para seu quarto,mas eu o impeço ao segurar na sua cadeira de rodas a impedindo de continuar.

-O que pensa que está fazendo?

-Te levando para passear,já disse,temos uma rotina.

-E eu disse que não vou seguir!

-Desculpe, benzinho,mas não tem outra escolha!

Eu tiro do bolso da calça jeans um pequeno alicate e corto o fio que comanda a parte elétrica a fim de dificultar para ele.

Sei que estava sendo radical demais,mas Maxwell me garantiu que arrumaria caso meu plano não desse certo.

-Você é doida ou o que!Não sabe que sem isso vou ter que guiar ela com as mãos!?

-Não se preocupe,sempre tem uma segunda opção.

-Tá querendo dizer o que agora?

-Que a partir de hoje eu vou guiá-lo.

-Se fosse você não teria feito isso!Sabe que não vou facilitar para você!

-E quem disse que quero que seja fácil.

-Porque está tão empenhada em ficar comigo?

-Como disse preciso do dinheiro,mas não vou ganhar ele só olhando para sua carinha de mau humorado.Já que nós dois temos que fazer isso,pelo menos que aproveitemos nossos dias com mais felicidade.

-Nossa...quanto sentimento por alguém que nem conhece!

-Isso se chama empatia.E não pense demais.Faria por outra pessoa a mesma coisa.

-Tá bom!

-Tá bom o que?

-Vou te dar uma chance,quero ver até quando vai aguentar!

-Está me superestimando?

-Só estou tentando entender o porque minha mãe escolheu e contratou você!

***

Uma hora depois...

-Até quando pretende ficar andando aqui do lado de fora?

-Porque não gosta do próprio jardim?

-Ele não muda em nada no meu dia a dia.

-Mas poderia,se olhasse mais para ele,do que passar o dia inteiro olhando para uma tela de computador.

-Isso se chama,obrigações de trabalho.

-Eu sei,um homem importante como você realmente trabalha muito,mas todo mundo precisa de um momento de escape,e você pelo que vi nessa semana não tem nenhum.

-E o que acha que eu deveria fazer?Ficar passeando no jardim ao invés de resolver problemas dos negócios?

-Bem, pelo menos de uma a duas horas ajudaria você a se desligar do trabalho um pouco!

-Você não entende,nem sei porque ainda respondo!

-Eu posso não entender de negócios,mas sobre como a vida é curta eu entendo bastante!Você tem um mundo para explorar,um jardim lindo para apreciar todos os dias,e uma chance para olhar para o céu e dizer o quanto hoje está quente ou prestes a chover.Já quem partiu não tem essa oportunidade.Então sim,valorizar esses pequenos detalhes é que nos fazem ser melhores todos os dias!

-Eu só quero ocupar minha cabeça e não pensar em todos esses "detalhes'' que eu não posso fazer mais.

-E quem disse que não!Você sente vergonha de estar nessa cadeira e por isso nunca sai de casa?Pois não deveria,tem muitas outras pessoas assim como você até piores vivendo a vida delas como podem lá fora e sorrindo!

-Fala isso porque não é você nela e não vê os olhares de pena das pessoas,e eu detesto sentir isso.

-Pode ser até verdade,eu realmente não sei como é estar em uma cadeira,mas ainda penso que não deve ligar para os outros,deve pensar no quanto você tem lutado mesmo com ela.E sei que se esforçar mais um pouquinho pode melhorar ainda mais rápido!

-Por acaso agora virou especialista,ou é uma fisioterapeuta e eu não sei?

-Infelizmente não,mas posso te ajudar com alguns exercícios extras,claro tudo supervisionado por Raul para não te machucar.

-Não pode estar falando sério.

-Pedro olha para mim,eu tenho cara de quem faria algo ruim para alguém?-Paro na frente dele e olho bem fundo em seus olhos e ele fazendo o mesmo responde.

-Sim.Olha o que fez com minha cadeira!

-Bem isso não conta,você não veio por vontade própria,tive que apelar.

-Você é má!

-Como os outros,vou aceitar como um elogio.

-Digamos que eu aceite essa sua rotina,o que pretende fazer?

-Apenas alguns alongamentos durante o dia,em sua pausa de escape,sei que pode conseguir isso na sua agenda tão ocupada,e nos finais de semana,podemos fazer atividades extras,como hidroterapia,massagem muscular,algum passeio fora de casa...

-Sabia,você só quer se aproveitar de mim,pervertida!

-Ignorante!

-Eu ignorante?

-Sim,estou tentando te ajudar e você aí,achando que eu estou querendo me aproveitar de você!Desisto,se não quer minha ajuda,pois bem.Continuei sentindo pena de si mesmo!

Digo brava e o deixo sozinho no sol e vou me afastando.

Pedro tenta mexer a cadeira mas não consegue por eu ter deixado ela travada atrás e ele não pode alcançar,então ouço ele gritar.

-Tá bom,eu aceito!Agora dá para me tirar desse sol quente!

Volto satisfeita sorrindo até ele e digo.

-Com todo prazer, senhor Pedro!