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O duque e a duquesa chegaram à Syon House muito depois da hora do jantar. Ravenna os esperou e assim que adentraram o hall, os interceptou e solicitou uma reunião com os dois. Marissa estava quase desacordada apoiada ao marido, pediu desculpas a filha, mas não estava em condições de assimilar nada que Ravenna tivesse a dizer naquele momento. A filha assentiu com a cabeça e James pediu que o aguardasse em seu escritório enquanto acompanharia a esposa até o quarto do casal.
Ravenna estava inquieta. A felicidade de achar a filha a consumia completamente, contudo o medo da reação de James gelava sua espinha. O pai nunca fora um homem rigoroso ou agressivo, mas ela sabia de muitas coisas sobre o passado dele, coisas que deixaria qualquer dama desmaiada ou aterrorizada.
- O que tem de tão importante para dizer que não pode aguardar até amanhã, meu passarinho? - James também se sentia cansado, entretanto ele sabia que Ravenna tinha algo importante para lhe falar.
- Preciso lhe contar o restante da história sobre o que aconteceu no passado, papai.
- Certo, eu sabia que não contara tudo naquele dia. Venha, - guiou a filha até a cadeira em frente à sua mesa e sentou na poltrona - sente-se e conte tudo a seu velho pai.
Ravenna contou cada detalhe, não omitiu sequer um acontecimento. Falou sobre o desaparecimento de Hope, sobre a origem de Beline e como a conhecera, contou sobre o envolvimento de Lorde Manner e as ameaças. A cada frase que saía da boca da filha, James franzia mais o cenho.
Como tudo aquilo aconteceu debaixo de seu nariz sem que ele tivesse qualquer conhecimento? Ravenna o manipulou e se aproveitou da confiança que ele depositava em seu senso de julgamento. Ele lhe deu toda a liberdade que podia conceder, e a filha ultrapassou os limites pondo a própria vida em risco junto de Meredith e Jaden. Agora tinha uma prostituta enterrada nos jardins do lar ancestral da família, um lunático que poderia expor Ravenna a qualquer momento, sem falar na ameaça a segurança de sua família.
- Estou espantado que tenha escondido tudo isso de mim por todos estes anos. Espantado e desapontado. Isso para não dizer o quanto me decepcionou, Ravenna. - James falava com severidade e olhava a filha com repreensão expressa em sua face.
- Pai, me perdoe. Eu fui tão imprudente. Se soubesse o quanto me arrependo de não ter pedido sua ajuda. Se não fosse tão estúpida e imatura, talvez Beline estivesse viva. Me arrependo de todas as escolhas que tomei depois de decidir salvá-la, mas não me arrependo de ter entrado naquele bordel e tê-la arrancado de lá. Não me arrependo do tempo que tivemos juntas e de assumir a responsabilidade por sua filha. - Ravenna sentia vergonha de suas ações e não escondia do pai, todavia não mentiria sobre seus sentimentos quanto a Beline.
James respirou fundo e soltou o ar cansado. Aquilo lhe renderia alguns dias longe de casa.
- Ravenna, sua imprudência custou a vida de uma garota de 15 anos, poderia ter lhe custado a vida de Jaden e Meredith, o nome da nossa família e até mesmo sua própria vida. Tem noção do quão longe você passou dos limites? Eu não esperava isso de você, não esperava que fosse egoísta a ponto de arriscar a vida de nossos empregados só para mostrar a Anthony Manner, que você era mais forte e astuta. Por sua falta de juízo, uma criança inocente foi jogada em um orfanato e só Deus sabe o que ela passou! Eu espero que esses anos de tormento tenham servido para mostrar a você, que não se pode brincar de ser Deus. Se eu soubesse que faria todas essas coisas pelas minhas costas, não a teria criado com tanta liberdade. Eu sou seu amigo, minha filha, e você não confiou em mim. Como pôde pensar que não ajudaria Beline, se sabe de tudo o que já fiz por pessoas esquecidas pela sociedade?
- Pai, por favor me perdoe. Eu estava tão fora de mim, que agi sem pensar. Sim, eu fui egoísta, imatura, egocêntrica... fui muitas coisas ruins, contudo, eu mudei. Sim, esses anos me serviram bem, aprendi com meus erros, sofri mais do que poderia suportar e me culpei mais do que pode imaginar. Nada do que eu disser apagará meu passado, mas minhas ações daqui para frente servirão de testemunho para mostrar que escolhi traçar um caminho diferente. Primeiro decidi que sofrer e me isolar era tudo o que me cabia, depois escolhi ajudar pessoas próximas a encontrar a felicidade que eu não merecia, agora desejo usar o tempo que me resta para viver uma nova vida, cuidar de Hope, conhecer a felicidade e cumprir a promessa que fiz à Bel. Por favor, não guarde mágoa de mim, eu sei que errei, mas agora eu desejo mostrar ao senhor que confio tanto em seu julgamento, que não farei nada sem sua permissão.
- Rave, nunca mais esconda algo assim de mim. Eu não sei o que seria de sua mãe e eu se algo lhe acontecesse. Você é nossa filha e a amamos incondicionalmente. É claro que não guardarei mágoa, mas me parte o coração saber que não pude protegê-la da própria estupidez juvenil.
Ravenna levantou da cadeira e seguiu para a poltrona de James, sentando em seu colo. Fizera bem em vestir calças naquela noite. O pai a recebeu de braços abertos e a apertou forte quando a filha encostou o rosto em seu peito e começou a chorar. Não pôde conter as próprias lágrimas ao vê-la naquele estado.
- Minha filha, eu poderia tê-la perdido sem ao menos saber o que acontecia. Por favor, não se ponha em perigo outra vez. Eu sou seu castelo, lembra? Era isso que dizia quando era criança. Então corra para debaixo da minha proteção sempre que precisar, não hesite outra vez. - James afagava os cabelos da filha presos em um coque frouxo - Não sabe a dor que sinto só de pensar no que poderia ter acontecido a você, meu passarinho, sua mãe e eu não resistiríamos.
- Me perdoe papai, por favor, me perdoe por tudo o que causei. Eu não quero mais errar daquela maneira! Eu prometo que nunca mais esconderei nada, o senhor é meu porto-seguro, eu fui idiota em ignorar isso no passado. Minha filha e eu ficaremos debaixo de suas asas daqui em diante.
- Sua filha... minha filha é mãe. Me deu uma neta sem ao menos casar. Você sempre arruma uma forma de se superar, não é? - James secava as lágrimas de Ravenna enquanto ela secava as suas.
- Você a aceitará como neta, pai? Como uma Osborne? - A dúvida pairava na mente de Ravenna. Hope não tinha uma gota sequer do sangue de James ou de Marissa, não havia nada que os ligasse.
- Você a considera sua filha?
- Sim. Ela é minha filha! - Ninguém jamais a convenceria do contrário.
- Então ela é minha neta e ninguém ousará dizer o contrário. Precisamos resolver como tirá-la de lá.
- Lorde Seymour virá amanhã para me levar até o orfanato. Confia nele para realizar esta tarefa? Se me disser que não, eu irei com o senhor. - Ravenna falava sério, não desapontaria seu pai outra vez, não causaria mais tormento a ele.
- Eu confio no jovem Seymour, algo nele me transmite a certeza que faria qualquer coisa por você. - Na verdade, James investigara a vida do cavalheiro de cabo a rabo sem que a filha soubesse, após a certeza que Killian Seymour possuía boa índole, James parou de investigá-lo.
- Nos documentos que deixei na sua mesa, há páginas sobre os funcionários e seus podres. Acha que devo usar desses ardis para conseguir toda a documentação de Hope sem que Anthony descubra?
- Sim, use tudo o que estiver ao seu alcance para chantageá-la se for necessário. Eu cuidarei para que sua ida a ao orfanato seja segura e que ninguém saiba de sua passagem pelo lugar. Não se preocupe, Rave, está segura agora.
- Eu sei que estou.