- Achei que tivesse dito que era proativa na entrevista! Como deixou
que algo assim acontecesse, hein?
- Me...me perdoa! Já venho trazer os papéis...
A assistente, da qual não lembro o nome, se desculpa profusamente
antes de sair em busca do bendito contrato. Percebo uma lágrima escorrer
pelo seu rosto no instante em que se vira e, vendo aquela cena, sinto que
minha cabeça vai explodir.
Merda!
Massageio minha têmpora e inspiro fundo algumas vezes para
controlar o estresse.
- Cara, o que foi que você fez dessa vez?
Aperto os olhos com força e passo as mãos pelos meus cabelos antes
de olhar o meu irmão mais novo que acabara de entrar sem permissão, como
de costume, na minha sala.
- Eu não fiz nada, Gabe! Aquela assistente é que não sabe fazer o
trabalho dela.
- James, não precisava fazer a pobre coitada chorar...
- Se não aguenta a pressão, então devo demiti-la! Eu avisei a maneira
como as coisas são aqui na empresa logo na entrevista e ela aceitou.
Gabe me encara por um longo momento sem falar nada e então
balança a cabeça.
- Cara, eu e Pete concordamos que precisamos conversar.
Já sei sobre que os meus irmãos querem conversar, mas finjo
ignorância a respeito.
- Então conversem os dois, ué! Agora me dê licença, preciso
organizar a papelada antes que os nossos clientes cheguem.
- Não se faça de desentendido, James. Precisamos conversar, nós
três.
A porta se abre novamente e eu me levanto, achando que é a tal
assistente me trazendo o contrato. Fecho a cara quando vejo que é o meu
outro irmão.
Cacete!
Cadê. A. Porra. Da. Minha. Assistente. Imprestável?
- O que você quer, Pete? - esbravejo.
Meu irmão do meio levanta as mãos para o alto e me olha espantado.
- Opa! Calma brother, só vim avisar que os slides e tudo o mais estão
prontos na sala de reunião.
Meus irmãos gêmeos me olham preocupados, o que só piora o meu
humor. Odeio que me olhem dessa maneira. Não suporto que sintam pena de
mim. Eu deveria ser o mais forte - sendo o irmão mais velho, ainda que por
alguns minutos - sou eu quem devia me preocupar com o bem estar deles.
- Obrigado por avisar, Pete. E você, Gabe? - Amanso o meu tom de
voz o máximo que consigo.
- Como já disse antes, eu consegui baixar os números, o projeto está
bem mais viável sem perder a qualidade.
- Ótimo! Os contratos estão prontos, mas preciso deles impressos!
Mal termino de falar e a porta se abre novamente, minha ampla sala
parece menor com tanta gente aqui dentro.
- Aqui está senhor, desculpe a demora. - Ela me entrega os
documentos com as mãos trêmulas e seu olhar fixo ao chão.
- Evite que isso aconteça novamente, ou então será demitida.
A mulher assente e vai embora.
- James! Você não pode tratar uma funcionária dessa maneira, cara!
- Gabe me admoesta e vejo que Pete concorda.
- Brother, você precisa de umas férias, se divertir um pouco. Está
ficando cada vez mais ranziza, pô!
- Não preciso de nada disso! Amo o meu trabalho, por mais que seja
estressante ás vezes... - Afrouxo a gravata, sentindo-me sufocado.
Meus irmãos trocam olhares.
- James... você só vive aqui no escritório. Não têm saído com a
gente, nem com seus amigos.
- É, brother. Nós não dissemos nada antes por respeito... mas não
acha que já passou da hora?
Merda! Não acredito que esses filhos da mãe estão me dizendo isso!
Sinto o meu coração bater contra o tórax tão forte que fico com falta
de ar. As lembranças tentam se apoderar de mim, me sufocando, mas eu luto
contra elas e as bloqueio.
- Vocês não sabem do que estão falando, porra!
- Cara, nós sabemos que você odeia que toquem no assunto, mas já
faz quase dois anos desde que ela se foi. - Gabe encolhe os ombros e sua
expressão fica mais séria, algo incomum de se ver.
A pressão no tórax aumenta a cada palavra que sai da boca de Gabe,
minha visão fica turva e luto para não transparecer minha dor. Porra, eu não
quero sentir isso!
- Eu sei que você a amava e respeitamos o seu luto, mas já está na
hora meu brother... - Fecho os olhos com força ao ouvir Pete, e quando os
abro vejo tudo vermelho - Stacy não gostaria de te ver desse modo. Se
afastando cada vez mais das pessoas e se tornando esse ser que parece prestes
a explodir a qualquer segundo!
Vôo pra cima dele com a mão fechada em punho, mas Gabe me segura
antes que eu acerte o rosto do meu outro irmão. Me solto bruscamente dos
braços de Gabe e me afasto dos dois, antes que desfigure os seus rostos.
Chego a parar para pensar como seria mais fácil de nos discernir se eu fizesse
isso, mas inspiro fundo e acalmo meus nervos.
- Não abram mais a boca para falar sobre isso! - Afasto-me até
minha mesa com o peito arfante - Eu estou bem da maneira como estou
lidando com minha vida. O trabalho é a única coisa que me preenche o vazio
que Stacy deixou.
- Desculpa, James. - Eles dizem em uníssono.
Quando enfim acho que o assunto está por encerrado, ouço o Gabe
falar:
- Mas você tem que admitir que está fora de controle. Tive que pagar
uma nota na indenização de Suzanna.
Olho para ele incrédulo.
- Suzanna? Quem é essa?
- Sua última assistente, aquela que se demitiu por justa causa!
Esfrego as mãos no meu rosto quando enfim lembro-me de quem ele
está falando. Suzanna se demitiu quando gritei com ela, e com razão, por ela
não ter me passado a ligação do meu cliente mais importante. Tudo bem que
pedi para avisar que estava fora enquanto eu redigia a porra do contrato desse
mesmo cliente, mas fui claro ao dizer que se fosse relacionado a ele, era para
me passar as malditas ligações.
- Nós somos seus irmãos e te amamos, mas nem a gente está
aguentando, bro.
Encaro os dois sem palavras, tenho estado com a cabeça quente
ultimamente, admito. Mas não imaginava ser tão grave assim.
- O que vocês dois me sugerem então? Que eu tire as benditas férias?
E então o que será das reuniões agendas nesses meses todos, hein? - Cruzo
os braços à espera da brilhante resposta.
Pete coça a cabeça e olha para o Gabe. Os dois se comunicam em
silêncio, coisas de gêmeos, por isso também compreendo o significado
daqueles olhares.
- Nem fodendo! Literalmente! - Nego veemente com a cabeça,
tremendo de raiva.
- Mas você está precisando, cara! Vamos sair essa noite e arrumar
uma gata para você.
Posso sentir a pressão do sangue subindo até a minha cabeça. Só de me
imaginar com outra mulher sinto como se estivesse traindo a Stacy. Confesso
que sai com algumas mulheres, mas todas as vezes que terminava a foda eu
me sentia péssimo. A culpa era tanta que sequer sentia prazer no ato do sexo,
tinha que fechar os olhos e imaginar minha esposa para poder gozar.
Lembrava-me do seu perfume de rosas misturado com seu suor, seus cabelos
pretos revoltos contra o travesseiro e os sons que ela emitia a cada estocada
minha. Desisti de buscar prazer em outras mulheres e desde então alivio a
tensão com as mãos mesmo, buscando em minha memória a sua perfeição.
- Não adianta, porra! Vocês não acham que já tentei? Depois desses
vinte meses, acham mesmo que não transei com outras?
Os olhares de alívio deles só aumentam minha raiva. Parece que a
única coisa que os preocupavam era se eu havia transado. Caralho, do que
adianta transar e não sentir a porra do desejo?
- Não deve ter tentado direito então, brother. - Pete balança a
cabeça sorrindo, me dá vontade de quebrar seus dentes.
- Não se feche pro mundo, James. Há tanta mulher legal por ai... não
tô dizendo que é para você se apaixonar de novo, mas se divertir e relaxar.
- Não estou a fim de conhecer ninguém. - resmungo.
- Mas é o que tô tentando dizer, cara! Não precisa conhecer! Não
precisa sequer saber seu nome...
- Não sou como você, Gabe. - Passo os dedos por meus cabelos
curtos e os levo até a nuca.
- Brother, faça o que quiser. Só por favor... Alivie essa tensão. Se
não quiser sair por ai atrás de sexo gostoso o problema é seu! Mas não venha
nos encher o saco, não aguentamos mais essa merda!
Alguém bate na porta me impedindo de dar uma boa resposta ao Pete.
- Entre!
- Com licença. O senhor Mitchell e sua equipe chegaram. - Minha
assistente comunica num sussurro irritante.
Puta que me pariu! Os filhos da mãe ficaram me perturbando tanto que
nem tive tempo de reler os papéis! Agora já era, a reunião deve começar.
Minha pressão aumenta fazendo a dor de cabeça voltar com força total.
Gabe e Pete me fitam preocupados quando me flagram massageando
novamente a têmpora, um gesto comum ultimamente.
Talvez eles tenham alguma de razão. Não concordo em tudo, mas
realmente eu preciso relaxar um pouco e me aliviar dessa tensão.