Diminuo a velocidade até parar por completo e fico imóvel tentando
recuperar meu fôlego, caminho até a ampla janela de vidro e fito o horizonte,
eu nunca me canso de admirar essa vista. Foi uma das razões pela qual decidi
comprar esse apartamento no ano passado, saber que teria essa visão da Baía
e que poderia contemplá-la no conforto da minha própria casa. Além do mais,
o bairro é ótimo, fica perto do local de trabalho e não carrega lembranças.
Knight Startup é algo que eu e meus irmãos desenvolvemos após o
nosso pai ter se aposentado, reinventamos a empresa e estamos montando
nosso império. Quem nunca ouviu falar dela é porque não lê revistas e
jornais, ou até mesmo a porra da internet! Cada vez mais empresas nos
contatam implorando por um pitch, uma chance de conquistar nosso interesse
durante uma pequena apresentação, todas querendo que a Knight Startup
invista nelas.
Meu trabalho é o amor da minha vida, agora que sou viúvo, a Knight
Startup é tudo o que me restou e dedico meu tempo e dedicação
exclusivamente à ela. Os putos dos meus irmãos não entendem que depois
que Stacy se foi um vazio se instalou em mim, não existe mais nada que me
faça querer acordar todo dia, continuar com essa vida de bosta sem a pessoa
que eu amo é um inferno. Eu vivo no inferno. A única solução que encontrei
foi me ocupar, me atolar de tanto afazeres para não perceber a falta que ela
me faz. Perdi a minha melhor amiga e esposa. Meu primeiro e único amor.
Tenho ódio do motorista filho da puta que a atropelou, espero que ele
morra na prisão e que sofra e agonize bastante antes de dar seu último
suspiro. Assim como foi com ela.
Retiro minha camisa ensopada colada ao corpo e sigo até o banheiro
da suíte. Ligo o chuveiro na água fria para ver se esfria um pouco a minha
cabeça, encosto o queixo ao peito e deixo a cascata cair contra a minha nuca
numa massagem relaxante. Inspiro fundo algumas vezes até sentir o meu
coração desacelerar o bastante e minha raiva diminuir. Fico alguns minutos
ali e só quando os meus dedos enrugam é que decido sair. Enrolo uma toalha
nos quadris e pego outra para secar os meus cabelos curtos enquanto caminho
até o quarto. Começo a remexer minha gaveta à procura de uma cueca boxer
quando escuto o meu celular tocar. Largando a gaveta de mão, pego o
aparelho que havia deixado em cima da escrivaninha.
- Alô?
- Fala brother! Diz que está a caminho, ou então vou ter que ir até aí
e arrastar essa sua bunda preguiçosa para fora de casa!
Puta que me pariu! Pete tirou o dia para me perturbar hoje!
- Pete, já disse que não vou! Me deixe em paz, porra!
- James, me escute irmão...
Caralho... sua voz ficou séria. Pete nunca fica sério.
- ... você sabe que eu e Gabe só queremos te ver bem, não é?
Suspiro deslizando a mão desocupada pelos meus cabelos ainda
úmidos.
- Eu sei, Pete. Mas não estou nem um pouco a fim de ir nesse clube!
Pare de me encher o saco, já disse que estou bem.
- Pô, brother! Você nunca mais saiu com a gente... por acaso vai
morrer se vir até o clube e passar um tempo com seus irmãos? Nem que seja
por alguns minutos, faça esse esforço, James. Eu... eu sinto sua falta, irmão.
- Pare com essa viadagem! Você me vê todos os dias na empresa, já
não aguento mais olhar esse seu rosto feio!
- Pro cacete, brother! Se eu sou feio você também é, aliás, você sabe
que é diferente. Eu sinto falta de me divertir com meu irmão mais velho,
jogar conversa fora, tomar um porre. Como nos velhos tempos.
Minha vontade é de desligar na cara desse mala e fingir que nada
aconteceu, mas ele tem razão. Faz quase dois anos que não passo um tempo
com Pete e Gabe, e no fundo eu também sinto a falta deles. Nossa relação
mudou completamente após a morte da minha esposa, eu me distanciei.
Admito.
Antes éramos como os três mosqueteiros, um por todos e todos por
um, e parando para pensar agora percebo que todas as nossas conversas são
relacionadas somente ao trabalho. Tudo por minha culpa.
Não... tudo por culpa daquele desgraçado!
- Tudo bem.
- Estou indo aí, James! Tô falando sério!
- Eu disse que tudo bem, cacete! Vou terminar de me arrumar e já
vou.
Pete fica em silêncio do outro lado da linha.
- Pete, você me escutou?
- Ah... sim, brother. - Pigarreia e volta a falar. - Por um instante
não acreditei nos meus ouvidos. Até mais, irmão! Gabe e eu estaremos te
esperando.
A ligação é encerrada e eu fico ali um momento fitando o meu celular.
Surpreso comigo mesmo. Faz tanto tempo que não saio para me divertir com
eles. Será que vai ser como antigamente, ou eu estraguei de vez a amizade
que tínhamos? Volto minha atenção ao closet e começo a me vestir, xingando
mentalmente por ter aceitado. Vai dar merda, posso até sentir em minhas
bolas.
***
Entro no táxi e saímos de Pacific Heights, onde vivo, seguindo em
direção à Mid-Market próximo ao clube. Já que fui obrigado a ir nesse
maldito lugar então vou encher a cara. O carro para em frente ao local e eu
jogo algumas notas para o taxista, já saindo pela porta.
- Fique com o troco.
- O-obrigado!
Nem vi quanto eu dei para o cara, mas pelo tom da sua voz deveria ser
muito mais do que ele me cobraria.
Foda-se.
Apuro minha visão percorrendo os olhos pela multidão de pessoas
tentando entrar no lugar e não encontro os putos dos meus irmãos. Retiro o
celular do bolso e ligo pro Gabe. Já falei muito com o Pete por hoje.
- Onde vocês estão?
- James! Já chegou, cara?
Mal posso escutar sua voz no meio de tanto barulho, ainda assim sei
que já deve estar tomando algumas. Está soando muito animado.
- Já, porra! Estou na entrada do Monarch.
- Vai entrando! Estamos na área VIP, só diga o seu nome.
Quanto tempo faz que eu não venho para esses lugares? Estou me
sentindo como um peixe fora d'água. Até mesmo antes... Porra, eu era
casado! Essa vida de solteiro se desenraizou de mim!
Aprumo-me e caminho até a porta, passando por várias pessoas que
aguardam na fila.
Foda-se ao quadrado.
- Meu nome deve estar na lista. James Knight.
O segurança primeiro me encara sério, mas quando bate os olhos no
meu rosto abre um sorriso.
- Não era nem preciso me dizer seu nome, tem a mesma cara dos
dois! Pode entrar, senhor Knight. - Gesticula, abrindo a passagem.
Meus irmãos devem vir bastante aqui. Entro no recinto me
surpreendendo com a decoração é de alto nível, o ambiente em si é surreal.
Os filhos da mãe têm bom gosto. Avisto os dois e me junto a eles. Gabe já
está com duas mulheres a tira colo enquanto Pete bebe tranquilo, seus olhos
pousam sobre mim e ele sorri aquele sorriso largo dele. Por mais que sejamos
idênticos, não sorrio daquela forma.
- Não acredito nos meus próprios olhos! James Knight em pessoa!
Soco o seu ombro, fazendo sua bebida entornar ao chão.
Foda-se ao cubo.
- Pô, James! Vai me pagar outra, cacete! - Ele tenta fingir que está
bravo, mas seus lábios se contorcem reprimindo o riso.
- Se for pra ficar me irritando eu vou embora, seu mala.
Ele levanta as mãos num gesto de rendição.
- Não está mais aqui quem falou. Uau...
Pete se distrai com uma loira que passa pela gente. Só agora Gabe nota
minha presença, desgruda seus lábios da morena, larga a cintura da ruiva e
vem me cumprimentar.
- Irmão! Até que enfim, cara! - Ele chega e me dá um meio abraço
socando forte as minhas costas. Vou dar um soco de verdade nesse filho da
puta.
- Preciso beber... - comento, mas sou interrompido.
- Nossa... existe ainda outro de você, gato!
A ruiva me seca na cara de pau, mas ao invés de Gabe ficar puto, ele
ri.
- Somos três, gatinha. Mamãe soube fazer bem, né?
- Ô, se soube! - Ela ri daquele jeito espalhafatoso, acho muito
broxante. Porém, Gabe não parece se importar. Claro que não se importa, é
uma foda fácil.
- Aqui, brother. Sou muito bonzinho, você derrama minha bebida, e
o que é que eu faço? Pego uma para você!
- Que porra é essa? Cadê meu wiskey?
- Isso aqui é um Bad decisions.
- Que? - Fito o copo em sua mão e ele começa a rir.
- É o nome do drink, pô! Experimente, você está precisando...
Não perco o trocadilho que ele fez com o nome da bebida. Bad
decisions significa Má decisões.
Bebo tudo de uma vez e o encaro, esticando a mão par ele pegar o
copo vazio.
- Pronto, agora chega de bebida de mulherzinha. Quero a droga do
meu Wiskey.
- Vai pegar então seu viado! Não sou se capacho! - Ele se afasta,
negando pegar o copo da minha mão e vai atrás da loira que estava parada
por perto. Ela tentava disfarçar o riso enquanto ouvia nossa conversa.
- Filho da puta - resmungo e me levanto em direção ao bar.
A noite passa com os dois alternando entre as mulheres e conversas
entre irmãos, de vez em quando eu não entendo o que falam. Não tem nada a
ver com bebida, é que algumas conversas que Pete e Gabe iniciam parecem
mais códigos secretos, eu não faço ideia do que eles dizem. Então finalmente
compreendo. Eu não faço mais parte daquilo. Fiquei tanto tempo longe que
perdi muita coisa que acontecera em suas vidas. Meus irmãos percebem e
tentam me incluir, explicando cada situação, mas aquele desconforto já fora
instalado em meu peito, fico ali fingindo estar bem e assentindo enquanto
continuam a conversar. Quando verifico o relógio percebo o quão tarde já é.
Eu acordo muito cedo para ir ao escritório enquanto meus irmãos só chegam
mais tarde, por volta das oito ou nove horas da manhã.
- Já vou indo. Amanhã a gente se vê...
Os dois me olham por um instante sem pronunciarem nada.
- Ok, irmão - dizem em uníssono.
Abraço os dois daquele jeito másculo, um meio abraço com batidinhas
nas costas. Quando Gabe me soca eu revido com o dobro de força, e ele tosse
com o impacto.
- Porra, James! Tá querendo me matar?
- Se me bate desse jeito é porque tá querendo receber porrada, Gabe.
Despeço-me e vou embora sozinho, mas antes de sumir totalmente de
vista, viro-me avistando meus irmãos se aproximando das mulheres de novo.
Gabe com duas e Pete com a loira. Uma sensação estranha se apodera de
mim, parece ser... ciúmes? Uma dor e queimação se alastram do peito à boca
do estômago, meus olhos ardem e minha garganta se fecha.
Imagino como seria se minha vida fosse assim também. Regada a
noitadas, mulheres e bebidas. Seria mais fácil... Mas não trocaria os anos que
passei ao lado de Stacy por nada.
Por isso vou embora sozinho, a lembrança dela como minha única
companhia, ainda assim, quando chego em casa e deito na minha cama me
sinto vazio. Fico horas em claro, sem conseguir dormir e, por mais que eu
tenha driblado as investidas das mulheres no clube, não sou cego, elas eram
muito gostosas. A ereção desponta do boxer, não me contenho e libero meu
membro duro, o seguro com força e começo a me estocar, mas não está
surtindo muito efeito. Já não dá certo me masturbar só pensando nela...
Foda-se ! Foda-se ao quadrado! Foda-se ao cubo!
Ligo o notebook e busco sites pornô. Agora sim...
- Desculpe Stacy, mas eu sou homem - murmuro.
Assisto o vídeo até o fim e não consigo gozar. Merda... esses vídeos
são muito forçados e falsos. Mulher nenhuma grita desse jeito só com o cara
lambendo o peito dela!
Vou navegando pela internet até que meus olhos param interessados e
curiosos. Vídeos ao vivo com modelos reais...
Clico no link.