Henrique me trouxe a uma das lojas de vestidos de luxo mais
caros da cidade e eu não sabia como me comportar em um lugar
assim.
Não sei o porquê tanto exagero para ir a um noivado que ele
odiaria, porém, acho que era só para provocar a ira da sua ex.
confesso que se fosse eu, faria o mesmo.
-Henrique, esse já é o sexto, acho que já basta! Você tem que
escolher um. - Falei bufando, bastante cansada.
As mulheres já tinham me feito vestir todos os estilos de vestido
que poderia agradá-lo, mas o problema era que o meu chefe não
estava prestando atenção em nada do que estava acontecendo a
sua frente, a não ser, claro, no aparelho telefônico que ele mexia.
- Você pode escolher melhores do que esse. - Falou sem ao
menos olhar para mim.
Eu já estava de saco cheio, e o salto que eu estava usando já
estava me machucando, então andei até ele, muito chateada, e
retirei o celular sem pedir permissão. O homem me olhou surpreso e
cerrou os olhos, enquanto eu batia o pé com as mãos na cintura.
- Escolha um vestido, Henrique, ou ficará sem namorada na
festa de noivado da sua ex. - exigi e ele sorriu para mim.
- Ok, querida. - Falou levantando-se. - Mas você usará
aquilo que eu escolher.
- Não exagera. - Pedi o recriminando com o olhar.
Ele caminhou entre os vestidos, passando os dedos sobre cada
um deles, então escolheu um vermelho, bem chamativo.
- Vista.
- Fale com educação, querido. - Falei com um meio sorriso,
mas o repreendendo com o olhar. As atendentes, que estavam ao
nosso lado, pareciam estar gostando da cena.
- Por favor. - Disse por fim.
Todas elas estavam babando pelo homem que me
acompanhava, mas ele não as notava, nem notava a mim que
deveria ser a sua namorada. Sinceramente, toda essa situação me
deixava nervosa. Eu nunca pensei que teria que fingir ser
apaixonada por alguém, muito menos pelo meu chefe que era uma
pessoa difícil de se lidar. Agora estava totalmente encrencada em
uma mentira, que eu nem sabia como iria terminar.
Entrei no provador, rezando para aquele ser o último a ser
provado, pois eu não era uma mulher que adorava fazer compras.
Eu não sabia se ele fazia ideia de como ficaria em mim, no entanto,
o vestido ficou perfeito em meu corpo.
O estilo era bem comportado e a única parte que mostrava
bastante o corpo era as costas que ficaram muito bonitas.
Saí do provador, e logo que o homem colocou os olhos em mim,
um brilho se acendeu, me fazendo sentir um pouco estranha com a
intensidade do seu olhar.
- Então, esse ficou bom? - Perguntei um pouco tímida.
- Ficou excelente em você, Elisabete. - Falou, ainda
admirado, me fazendo ficar bem envergonhada.
- Ok, então vamos logo. - Disse voltando ao cubículo para
tira-lo e sair daquela situação.
***
Faltava meia hora para que Henrique chegasse e ainda não
havia colocado o vestido lindo que ele comprou hoje.
Meu peito estava palpitando e com toda certeza eu estava
prestes a ter um ataque de pânico. Não deveria ser nada demais,
mas sempre que eu estava ao lado daquele homem e ele sorria de
uma forma irresistível, esquecia de como o meu chefe era odiável.
Eu estava odiando toda essa situação, porém não poderia fazer
nada já que teríamos que interpretar esse papel.
- Nossa, esse vestido é muito lindo. - Falou a minha irmã,
praticamente babando em cima do vestido.
- Se quiser pode ir no meu lugar vestindo ele. - Ironizei.
- Não sei do que está reclamando, já que vai a uma festa
chique, com um vestido lindo e um homem sexy e charmoso. -
Disse ao se virar.
- Querida, você não conhece Henrique Vilella.
- Eu sei que você pode domar aquela Fera.
Dei a ela um sorriso irônico e entrei no quarto para me trocar. Eu
não queria pensar nas partes boas de estar fazendo isso, pois não
tinha uma parte boa, eu só estava quebrando a cabeça com as
coisas do Henrique.
Por isso troquei de roupa rápido e saí de casa sem desejar ouvir
as suas besteiras. Minha irmã já tinha me maquiado e feito um
arranjo no meu cabelo. Não queria parecer como as outras
mulheres que estariam na festa, porém, também não podia ir de
qualquer jeito.
Eu sabia que ele estava me esperando, pois, Henrique Vilella
nunca se atrasava. Vê-lo naquela roupa me fez quase parar de
respirar. O homem me encarou à distância, fazendo a minha
insegurança aparecer. Não sabia como ele conseguia mexer comigo
dessa forma.
Antes de voltar a caminhar, respirei fundo e tomei coragem. Não
era para ser tão difícil. Henrique era um homem frio e arrogante,
mesmo parecendo uma escultura grega, isso não mudava esse fato.
- Você está linda, Elisabete. - Falou abrindo seu sorriso que
quase me matou.
- Vamos logo. - Falei desviando dele e abrindo a porta do
carro.
Não sabia o que estava acontecendo e nem por que estava tão
insegura.
Capítulo 10 – Henrique
Eu realmente estava tentando entender o que se passava na
cabeça de Elisabete Medeiros. Decidimos pegar leve e nos tratar
com cordialidade, mas agora ela parecia estar estranha e esquecido
do nosso acordo.
A mulher estava linda no vestido vermelho que escolhi. Quando
me pediu para escolher o vestido que usaria não pensei muito,
odiava compras ou ter que esperar, mas quando toquei no tecido
macio de cor vermelho eu sabia que era o escolhido.
Ela realmente estava linda. Nunca havia imaginado que ficaria
admirado com a beleza de alguém, porém, Elisa estava me
surpreendendo.
Não sou de demostrar o que penso ou sinto, mas senti o desejo
de elogia-la, no entanto, a mulher não me deu bola, simplesmente
me ignorou e entrou no carro.
Eu também estava tentando entender o porquê de ter que aceitar
o convite de Amanda para comparecer ao seu noivado idiota, já que
não tínhamos uma boa relação. A suportava enquanto estávamos
no mesmo ambiente, mas nada além disso, e creio que ela já
entendeu.
Agora eu estava preso ao lado de uma mulher carrancuda que
mal notava a minha presença, e o mais insuportável era que eu
queria que ela me notasse.
Ficava feliz em saber que só precisava aguenta-la mais algumas
semanas até o fim do projeto, e depois disso poderíamos parar com
essa brincadeira ridícula de fingir que nos gostávamos.
Tenho que admitir que ela é boa no trabalho. Focada, inteligente
e criativa, mas como acompanhante era um verdadeiro desastre.
Ao chegarmos em frente ao local, fotógrafos já nos esperavam.
Era óbvio que Amanda não perderia a oportunidade de se exibir.
Talvez fosse pelo status que ela estava noivando de um empresário
do ramo de hotelaria.
O homem era realmente importante, com hotéis e resorts por
todo o Brasil e fora dele.
- Você não disse que teríamos que enfrentar fotógrafos,
Henrique. - Reclamou Elisabete, me olhando assustada.
- Não se preocupe, eles parecem urubus, mas não comerão a
sua carne. - Ironizei.
- Diferente da sua ex, exibida, odeio aparecer. - Reclamou
mais uma vez.
- Fico feliz que sejam totalmente diferentes.
O olhar que a mulher me lançou foi quase assassino, no entanto,
não liguei para isso já que ela estava sendo como sempre: irritante.
Desci do carro e abri a porta onde ela estava, tive que
praticamente puxa-la para que a mulher saísse. A mantive perto de
mim enquanto caminhávamos para dentro do local.
- Não sei fazer isso. - Ela sussurrou perto do meu ouvido.
Era natural que ela estivesse preocupada com a situação, já que
Elisa não participava dos eventos em que eu tinha que comparecer,
e o seu medo sobre se exibir dizia que ela era diferente e estava
nervosa.
Eu estava acostumado a ter meu rosto estampados em sites de
fofocas, porém, Elisa não, e acredito que devo ser mais
compreensivo.
- Vai ficar tudo bem, eles irão esquecer logo, verá. - Falei
tentando a acalmar.
- É, talvez tenha razão, eles nem ligarão para mim mesmo. Não
sou ninguém notável. - Falou dando um meio sorriso.
- Eu não diria isso. - Falei desviando minha atenção para as
pessoas que estavam no salão. - Vamos acabar logo com isso,
pois odeio lugares como esse.
- Achei que estava acostumado. - Balbuciou.
- Compareço apenas porque preciso, mas odeio.
- Olha, Henrique, sei que quando nos encontramos, mais cedo,
fui um pouco rude, mas é que essa situação não é muito confortável
para mim. - Ela disse me fazendo prestar atenção apenas nela. -
Acredito que você esteja tentando e não é minha função dificultar as
coisas, por isso eu gostaria de pedir-lhe algo.
- Tudo bem. - Falei surpreso.
- Quero que seja aberto e verdadeiro, e que possamos ter uma
boa relação. - Disse me surpreendendo. - Não nos trataremos
com arrogância e frieza. Passaremos um tempo juntos, para nos
conhecer e quando tudo isso acabar, espero que possamos
continuar como pessoas civilizadas.
Involuntariamente sorri com as suas palavras. Muitas mulheres
já me pediram coisas, mas nunca foi nada tão simples, mas
também, tão difícil.
Ser aberto com alguém significaria mostrar um lado meu que
venho tentando manter longe há muito tempo. Manter-me focado no
trabalho me ajudou a esquecer dessa pequena fração que me fazia
ser... sensível. Da última vez, não funcionou muito bem, no entanto,
não esperava que eu e Elisabete fôssemos nada além de colegas
de trabalho.
Talvez eu devesse tentar ser um pouco mais aberto, para facilitar
as coisas. Claro que isso me fazia sentir-me novamente chateado
por começar isso, entretanto, agora não poderia chorar pelo leite
derramado.
- Ok, você irá tentar ser mais aberta, eu também devo. -
Acabei aceitando.
A mulher abriu seu sorriso lindo que me encantou desde a
primeira vez que a vi sorrir.
- Ótimo, já que estamos aqui sem fazer nada, você poderia
pelo menos me dizer porquê de tanto rancor devido a uma
separação. - Disse me olhando com aqueles olhares curiosos.
Respirei fundo pensando se era uma boa ideia fazer o que ela
estava pedindo. Não estávamos em um dos melhores lugares para
se lembrar do dia em que Amanda me deixou.
- Talvez eu possa resumir. - Falei revirando os olhos, quando
a morena deu alguns pulinhos de alegria por conseguir o que queria.
- Amanda estudava na área de administração e, quando a conheci,
ela era realmente doce e muito companheira. Começamos como
amigos, mas depois... tudo mudou. - Fazia tempo que eu não
voltava àqueles momentos. - Passamos três anos juntos e aos
poucos ela foi se mostrando controladora e eu sempre fiz o que
Amanda queria, pois estava apaixonado. - Elisa me olhava como
se prestasse atenção em cada palavra que saía da minha boca. O
ruim era que mesmo isso tendo acontecido no passado e eu tendo
pensado que superei aquele amor, eu estava me sentindo um pouco
mal. - Só que um dia ela chegou em casa e disse que não me
queria mais. Que meu jeito a fazia se sentir entediada e que queria
alguém melhor do que eu. Alguém forte, focado e mais seguro de si.
É vergonhoso e irritante lembrar que quase implorei para que ela
ficasse, que eu tentaria ser o que ela desejava, mas nada a fez
mudar de ideia.
- Por isso você é assim? - Pensou em voz alta, mas acabei a
respondendo com um aceno de cabeça.
- Foi difícil para mim ser rejeitado pelo simples fato de ser
quem eu era, então tentei mudar de todas as formas. - Confessei.
- De certa forma isso me ajudou a chegar onde cheguei, e agora
estamos aqui. Estou agindo novamente como um idiota por causa
dela.
Chegar a essa conclusão me fez ficar chocado e furioso. Eu
desejava mostrar a mulher que me abandonou que eu poderia ser
quem ela queria, e o pior, ela estava agindo da forma que eu
esperava, e me convidar para o seu noivado era a forma de me
provocar.
Mas não era isso que eu realmente queria. Não precisava
mostra-la o quanto mudei, estava bem da forma que estava.
- Não. - Exclamou a mulher ao meu lado, me fazendo sair dos
meus pensamentos. - Você não é o idiota que quer essa piriguete
de volta. Claro, você é um chefe arrogante e odiável, mas tenho
convicção, agora, que pode haver mais de você que realmente
valha a pena ser conhecida.
- Penso que está exagerando, querida. - Falei rindo dela. -
Não sou mais aquela pessoa do passado.
Seu olhar reprovador estava lá, me desafiando novamente. Ela
ficava linda quando discordava, ainda mais quando isso era
acompanhado de um meio sorriso.
- Ninguém muda tanto, Henrique. - Disse ficando frente a
frente comigo. - Afinal, eu nunca desisto de um desafio. Na
verdade, esse é o meu mais novo objetivo.
- Ah é? - A questionei, rindo da forma como falou.
- Sim. - Afirmou confiante. - Farei de você um chefe decente
para mim e para todos naquele escritório, pois acredito que eles
tenham um plano para te matar e substituir por outro gostosão.
- Gostosão? - Perguntei achando engraçado a palavra que ela
usou.
- Henrique! – Falou me chamando.
- Sim? - Falei com um sorriso no rosto, ainda pensando no
que disse.
- Não interprete mal os meus gestos, mas é para o bem dessa
nossa farsa. - Disse aproximando-se de mim.
Não estávamos no meio da festa, mas sim em um local mais
reservado. Foi surpreendente a ação da morena quando me puxou
para um beijo. Seus lábios macios me agraciaram com um beijo
sutil, porém, que me deixou sem fôlego. Não poderia imaginar que
isso aconteceria e foi difícil voltar ao normal depois disso.
A sensação era tão boa que desejei que o momento nunca
acabasse.
Quando nos afastamos um pouco, senti que metade do meu
cérebro havia parado de funcionar e parecia que não tinha sido só
comigo.