Entre No Jogo
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Capítulo 2 2

Whitney não teve muito tempo para analisar seu anfitrião de cabelos lisos e olhos cinzentos. Gleda Caufield parou de importuná-lo, mas começou a lançar sua fúria contra ela.

- E quanto a você, sua sem-vergonha - insultou-a com a voz bem alta -, espero que esteja satisfeita, agora que meu noivado terminou.

Whitney tinha certeza de que não fizera nada errado. Devia ser mesmo um pesadelo.

Para seu alívio, Sloan Illingworth vestiu um roupão que misteriosamente aparecera ao pé da cama e levantou-se para resolver a situação.

Ela o fitava, ainda atordoada, quando ele se dirigiu à noiva. Como por milagre, as pessoas haviam sumido. Segurando o braço de Gleda, ele a conduziu para fora do quarto.

Verificando que, como era seu desejo, estava totalmente vestida, saltou da cama também. Entretanto, para onde iria? Sloan com certeza estaria fazendo a noiva entender que as aparências enganavam. Se alcançasse seu objetivo, não haveria problema em encarar Gleda Caufield outra vez. Seu rosto parecia pegar fogo; resolveu esfriá-lo no banheiro particular cuja porta estava entreaberta.

Dez minutos depois ela já recuperara sua abandonada compostura. Não sabia se deveria aparecer antes que Gleda e o noivo tivessem esclarecido as coisas; já havia feito muito por uma noite.

Por um momento ficou cismada com o fato de Sloan Illingworth ir para a cama quando sua noiva o esperava com uma festa. Então lembrou-se de que Valerie dissera alguma coisa sobre negócios no exterior.

"Ele deve ter enfrentado um vôo prolongado, por isso chegou atrasado. Quis dormir porque se sentia exausto."

Agradeceu aos céus por não ter visto Toby nem a irmã dele na porta do quarto. Contudo, era certo que logo eles tomariam conhecimento do fato.

Whitney ficou no banheiro por mais dez minutos. Era tempo suficiente para Sloan convencer Gleda de que não a estava traindo. Curiosa, abriu uma fresta na porta para ouvir alguma coisa.

Ali reinavam uma paz e um silêncio impressionantes. Não acreditando que a casa pudesse ter se tornado esse paraíso depois de parecer uma torre de Babel, ela abriu a porta um pouco mais. E alguém rompeu o silêncio:

- Se você pretende sair desse banheiro, por favor, saia logo. Eu gostaria de dormir agora!

Whitney abriu totalmente a porta e, com os nervos à flor da pele, respirou fundo antes de enfrentar o dono daquela voz agressiva.

- Você é... Sloan Illingworth? - indagou, tomando ciência do peito largo, peludo e nu do homem que estava sentado na cama.

- Em carne e osso - ele retrucou sem nenhum humor. Seu olhar percorreu o corpo de Whitney do alto de sua cabeça morena até os dedos de seus pés descalços. - Vejo que conseguiu encontrar suas roupas.

Whitney levou um susto, mas um segundo depois conseguiu responder:

- Elas não estavam perdidas. - Rapidamente compreendeu que ele a analisara, concluindo que estivera tão nua quanto ele. E acrescentou: - Na verdade, um sujeito indecente arrancou a alça do meu vestido esta madrugada. Mas eu não me separei de minhas roupas enquanto estive aqui. Apenas de meus sapatos.

- Você está se vangloriando ou se lamentando? - ele zombou.

Ela não gostou de Sloan Illingworth. Tentou ignorá-lo e começou a procurar os sapatos. Encontrou-os sob a cama e calçou-os imediatamente. Era um pouco mais alta que a maioria das moças, mas diante daquele homem, mesmo sentado, sentiu-se melhor com uns centímetros a mais.

Ele só esperava que ela saísse do quarto para tornar a dormir, mas Whitney lembrou que lhe devia desculpas.

- Sinto muito - dirigiu-se a ele com sinceridade, e acrescentou enquanto caminhava para a porta: - Sei que não deveria ter vindo aqui e me deitado em sua cama, mas...

- Você estava sozinha? - ele interpelou-a, olhando-a de um modo devastador.

- Claro que estava sozinha - ela se defendeu.

- Não estava se divertindo na festa?

- Não... é o tipo de festa que costumo freqüentar - ela explicou de um modo polido, uma vez que fora sua noiva quem organizara a recepção.

- E por isso você resolveu ir para a cama?

- Não tive intenção - negou. - E não ouvi você entrar...

- Não quis incomodá-la - ele gracejou.

Whitney poderia jurar que vira um sorriso ao final de sua irônica observação.

- Você sabia que eu estava deitada - ela exclamou, dando um sentido real àquela ironia.

- Honestamente, não! - ele exclamou.

Whitney se espantou. Ele devia estar pensando que ela era uma pessoa insensível, que não percebera seu humor.

- Bem, de todo modo - ela dava um outro passo em direção à porta -, sinto muito sobre isso. E é natural que Gleda tenha ficado furiosa. Agora que tudo já está esclarecido e vocês estão noivos outra vez, eu...

- Agora... - Sloan interrompeu-a - De onde você tirou essa idéia? Pensa que ainda estou noivo e que vou me casar?

- Você não está? - Whitney gaguejou, detendo-se bruscamente e voltando um passo para dentro do quarto.

Ele balançou a cabeça:

- Não!

Ela ficou angustiada. Com certeza Gleda se aborrecera e não quis ouvir suas explicações.

- Sinto muito mesmo. - Whitney poderia ficar repetindo que sentia muito até não ter mais voz, mas isso não faria Gleda reatar o noivado. - Irei falar com Gleda. Ela ficará sabendo que você não tem culpa de nada, que nem sabia que eu estava na cama... - Diria isso à mulher que era apaixonada por ele?, pensou. - Agora vou me retirar - falou com firmeza e voltou-se em direção à porta.

- Posso saber aonde você vai? - a voz de Sloan Illingworth era baixa.

- Para o andar térreo, naturalmente. Falarei com Gleda e...

- Se acha que vai encontrar minha ex-noiva lá embaixo, receio que fique desapontada - ele a interrompera outra vez. - Ela já foi embora...

- Foi? - Whitney ficou atônita. - Mas...

- E todos os seus amigos também.

- Todos? - ela gaguejou, pois isso a afetava diretamente.

- A festa, como diz aquela canção - ele falava-lhe com calma - a festa acabou!

- Acabou?

- E, por favor, pare de parecer um papagaio! - Sloan murmurou sarcasticamente.

Só então Whitney se deu conta de que repetia todas as suas palavras. Então quis mostrar que não era ingênua. Ele não era tão esperto quanto pensava.

- Nem todos devem ter saído. As pessoas que me trouxeram devem estar me esperando para voltarmos a Londres.

Sloan Illingworth nem desejou saber com quem ela viera.

- Acredite-me. Não há mais ninguém - ele usou um tom baixo em resposta a suas maneiras petulantes.

- Como você pode ter certeza? - ela o questionou com hostilidade.

- Eu vi o último carro partir! - ele finalizou.

Ele deixou de ser amável, Whitney pensou. Agora está demonstrando uma impaciência que até posso compreender. Afinal, ela tinha sido a causa do rompimento de seu noivado. Mas, para o momento, Whitney tinha um problema mais urgente.

- Então - gritou -, se Toby e sua irmã já foram, como poderei voltar para casa?

O olhar que recebeu de Sloan Illingworth lhe informava que ele não era responsável por Toby, ou por sua irmã, ou por ela mesma. Deixou claro que seu apuro nada tinha a ver com ele. O sono dominava-o.

- Pelo amor de Deus - estava irritado ao máximo. - Eu quero dormir. - Conscientizando-se de que ele mesmo teria de encontrar a solução para o problema, deu um último conselho: - Vá fazer qualquer coisa. Ouça música, caminhe pelo jardim. Ou, melhor ainda, limpe tudo. Acabe com os vestígios da festa. Quando acordar, pensarei em seu caso.

- Você está sugerindo que eu faça uma limpeza?

- Não vejo por que ela deva ser feita só pela minha governanta.

Desanimada, Whitney concluiu que não iria a lugar nenhum antes que aquele bruto dormisse e descansasse. Nem passara pela sua cabeça que teria de limpar a casa quando aceitou o convite de Toby. A aurora já começava a invadir o céu escuro quando ele ordenou:

- Apague a luz quando sair. - Virou-lhe as costas, encerrando a conversa. Estirou-se e com certeza fechou os olhos.

A esperança de Whitney era que ele acordasse com bom humor.

- Idiota - murmurou entre dentes.

As barreiras colocadas na escada tinham sido removidas. Com certeza foram afastadas por ele quando entrou, ela imaginava enquanto descia os degraus.

Whitney ficou espantada com o estado da casa, agora que a festa terminara. Claro que não pretendia limpar nada. Mas teve de concordar com o bruto que agora dormia: nenhuma governanta teria obrigação de pôr ordem numa confusão daquelas. Não havia um só espaço sem que se encontrassem sobras da folia daquela noite.

Verificou que um corredor levava até a cozinha. Então encontrou um carrinho e começou a reunir copos, pratos usados e guardanapos amassados.

Durante aproximadamente uma hora, o estado de espírito de Whitney sofreu várias transformações. Pensou em Sloan Illingworth como uma miserável criatura. Depois de três meses de ausência, rompera o noivado na própria festa de boas-vindas e não demonstrava a menor preocupação com o fato.

Quando acabou de organizar os cômodos onde os convidados se divertiram, Whitney decidiu lavar os pratos e os copos na cozinha. Não ligara a lava-louças, pois temia apertar errado algum botão e deixá-la encrencada.

Estava com espuma até os cotovelos quando começou a sentir-se inconformada outra vez. Quem, em seu juízo perfeito, ficaria junto a uma pia de cozinha às cinco horas da manhã de um domingo? Pensando assim, passou as mãos pela água da torneira e enxugou-as.

Depois de cinco minutos, ela se encharcava de espuma novamente.

Bem que gostaria de castigar Sloan lllingworth e deixar que ele mesmo lavasse a louça...

Não havia sinal da governanta, mas Whitney poderia apostar que a limpeza sobraria para ela se tudo não estivesse no lugar. E, como aquele indivíduo que dormia lá em cima havia declarado, por que só a governanta deveria se encarregar disso?

Whitney também não via motivo para ela mesma assumir a tarefa. Talvez fosse porque, além do antagonismo, havia um forte sentimento de culpa. Foi por sua causa que Sloan Illingworth perdera a mulher que amava. E ela sabia como era doloroso perder a pessoa amada. Só que ela mandara Dermot embora, e Sloan fora desprezado pela noiva... De qualquer modo, uma separação era sempre triste.

Já estava tudo lavado e Whitney começou a trabalhar na sala de visitas. Removeu o último sinal deixado por um copo molhado numa mesa, levantou a cabeça e admirou a mobília da sala. Estranhou que a governanta permitisse que aquele pessoal mal-educado circulasse livremente naquele ambiente fino. Porém, imediatamente lembrou que ela não tinha escolha. Se as coisas continuassem como estavam, Gleda Caufield seria a dona de Heathlands. Ela daria as ordens e a governanta teria de acatá-las.

Faltavam dez para as oito quando Whitney foi à cozinha preparar um chá. Tomava sua primeira xícara quando uma mulher de mais ou menos cinqüenta anos entrou inesperadamente. Ao ver a jovem saboreando a bebida com tranqüilidade, parou assustada.

- Bom dia - Whitney sorriu. - Espero que a senhora não se importe por ter me utilizado de sua chaleira. Meu nome é Whitney Lawford.

- Prazer em conhecê-la - a mulher respondeu e também se apresentou: - Sou a sra. Orton, governanta do sr. Illingworth. - E, cautelosamente, interrogou: - Há ainda outros... convidados aqui?

- Não, apenas eu - ela se apressou a acalmar a governanta. Para disfarçar o que havia acontecido, acrescentou: - Todos se retiraram e se esqueceram de mim...

- Eu entendo - a sra. Orton murmurou, dando a impressão de que não acreditava.

Whitney quis dar uma satisfação:

- O sr. Illingworth prometeu me levar para casa depois que descansasse um pouco.

- Ele é realmente um homem muito gentil.

Talvez ele tratasse sua governanta com gentileza, Whitney ponderou, e resolveu mudar de assunto:

- Eu quis tomar uma xícara de chá antes da limpeza...

- Oh, não posso deixar você fazer isso - a sra. Orton protestou, sem saber que essa tarefa já estava sendo feita havia três horas. - Além disso, acabei de dar uma olhada e a casa não está tão desarrumada como eu imaginava.

Demonstrando que ficaria mais feliz se estivesse sozinha na cozinha, começou a colocar os pratos limpos no lugar.

- Tomarei meu chá na sala de visitas - Whitney avisou. Não queria perturbar a governanta.

- Posso lhe preparar o café da manhã? - a sra. Orton estava mais simpática.

- Obrigada, sra. Orton - Whitney replicou. - Não tenho vontade de comer nada.

Tudo o que queria eram oito horas de sono! Terminou o chá e sentou-se no confortável sofá. De repente sentiu um cansaço enorme. Colocou a xícara e o pires numa mesinha, tirou os sapatos e estendeu-se no sofá. A sra. Orton estaria ocupada em outro lugar e Sloan Illíngworth não deveria aparecer antes do meio-dia. Portanto, não havia razão para não tentar dormir um pouco também.

Desta vez, quando acordou, não observou ombros largos e nus a seu lado. Viu uns olhos cinzentos que a fitavam intensamente. Aquele homem parado, alto, com os ombros cobertos por uma camisa xadrez, fez seu coração acelerar.

- Que horas são? - desejou saber enquanto se sentava e empurrava os pés para dentro dos sapatos. Sentiu uma perturbação muito grande ao vê-lo vestido. Nem fora capaz de consultar seu próprio relógio.

- Falta pouco para as dez.

Whitney achou que ele estava sendo amável, considerando que ela havia arruinado seu futuro.

- Gleda, sua noiva, ou ex-noiva, já telefonou?

- E por que ela deveria telefonar? - ele zombou. Ela pensou que ainda não estivesse bem acordada.

- Sinto muito - desculpou-se.

Imediatamente ficou irritada consigo mesma e com ele também. Tinha a impressão de que ele gostava de vê-la se desculpando o tempo todo. E, para evitar algum comentário que pudesse humilhá-la, ela arriscou sem rodeios:

- Agora podemos ir?

- Ir para onde? - ele perguntou, também sem rodeios.

- Você me prometeu uma carona...

- Agora eu vou tomar café. - Caminhava a passos largos quando acrescentou: - É melhor você fazer o mesmo. Vamos!

Whitney estava a ponto de lhe dizer que não queria café nenhum.

Ele se aproximou, tomou-lhe o braço, obrigando-a a acompanhar seus passos rápidos. Sua respiração começou a falhar e ela estava consciente de que ele a dominava.

No momento em que recuperou seu equilíbrio, eles atravessavam o corredor. Whitney sentiu fome e desistiu de mandá-lo tomar o café sozinho.

Entraram numa saleta que ficara trancada durante a noite.

Para sua surpresa, Sloan Ilingworth tornara-se muito amável. Puxou-lhe uma cadeira e esperou que ela se acomodasse.

- Obrigada - Whitney agradeceu em voz baixa.

A sra. Orton trouxe-lhes dois pratos com ovos e bacon e retornou à cozinha. Agora ambos saboreavam uma deliciosa refeição.

Pouco antes, ao se referir à carona, Whitney o deixara nervoso. Levá-la a Londres não estava em seus planos. Dali para a frente seria bem diplomata.

- Posso? - perguntou gentilmente, oferecendo-se para colocar café em sua xícara.

Ele concordou com um simples movimento de cabeça. Ficou mais difícil tentar um diálogo. Whitney detestava pedir favores. Não queria ficar mais tempo naquela casa e com certeza ele não a queria por perto. Esforçando-se para sorrir, entregou-lhe a xícara com café.

- Sr. Illingworth - sua voz era tão suave que ele se surpreendeu.

Os olhos cinzentos se estreitaram e se fixaram em seu rosto. Um brilho diferente tomou conta deles.

- Sr. Illingworth - repetiu especulativamente. Ele não era bastante conhecido para receber um tratamento menos formal. Mas ficou espantada quando, imitando seu tom de voz, ele quase murmurou:

- Mesmo depois de dormir comigo continuo sendo "sr. Illingworth" para você?

- Você... eu... - Nesse momento ficou satisfeita porque ninguém estava ouvindo aquela conversa.

- Ora, vamos, srta... Desculpe-me, estou sendo negligente. Diga-me, qual é o nome da mulher com quem recentemente tive o prazer de compartilhar minha cama?

Aquele brilho estranho ainda permanecia nos olhos cinzentos! Para Whitney ele só tocava nesse assunto por vingança. Gleda não devia sair de sua cabeça! A idéia da noiva parada à porta do quarto, assustada e ofendida, devia mexer com todos os seus nervos. Ela havia organizado uma festa-surpresa para ele, mas a surpresa fora encontrá-lo na cama com uma das convidadas.

- Meu nome é Whitney Lawford - informou-lhe com voz grave. Tentou se dominar e não apresentar mais nenhuma desculpa. Acabou dizendo: - Eu realmente sinto muito.

- Você sente muito porque achou a festa insuportável? Porque se decidiu esconder onde pensou que ninguém fosse encontrá-la?

Whitney ficou vermelha de raiva. Ela se desculpara pelo choque que causara a sua noiva. Todavia, ele fizera uma observação que estava bem próxima da verdade.

- Eu não pretendia dormir - falou um pouco envergonhada -, e também não sabia de quem era aquele quarto.

- Você não teve a menor preocupação em saber de quem era aquele quarto - Sloan replicou com desprezo na voz. - Nem com as conseqüências que poderiam resultar de seu ato.

Novamente lembrou seu sofrimento quando rompera com Dermot. Ela não tinha defesa e baixou os olhos. Não era sua culpa, porém o amor havia acabado para ele.

Whitney pretendia apresentar arrependimento, e responsabilizou seu orgulho por ter levantado os olhos sem humildade:

- Sei que meus atos resultaram num desastre para você. Por isso não me queixo por você obviamente ter segundas intenções quanto a me ajudar a voltar para Londres. - Devagar e com dignidade ela colocou o guardanapo sobre a mesa. - E como amanhã cedo serei novamente uma secretária, eu... agradeço a hospitalidade e vou...

- Eu disse que tinha segundas intenções? - ele cortou sua frase.

- Não, mas...

- Então, por favor, tenha a gentileza de não tirar conclusões sobre o que penso, ou como penso, ou qualquer coisa a mais sobre mim - ele redargüiu com voz firme. - Eu lhe falei que encontraria um modo de você voltar para casa. Essa é a minha única intenção.

Whitney não gostou da sensação de que acabara de ser repreendida pelo atrevimento.

- Certo - ela falou meio sem jeito. - Mas ontem à noite, quando escolhi este vestido, não pensei que passaria o domingo todo com ele. Por esse motivo, você poderia, por favor, me dar uma idéia de quanto tempo ainda precisarei para chegar em meu apartamento, tomar um banho e trocar de roupa?

A resposta de Sloan foi atirar seu guardanapo sobre a mesa também. Não parecia amigável.

- Dê-me dez minutos para apanhar uns papéis, e sairemos daqui!

- Você vai a seu escritório! - ela exclamou.

Sem dizer mais nada, Sloan Illingworth deixou a sala.

Whitney voltou a seus pensamentos amargos. Levantou-se e ficou andando pelo hall.

Como havia prometido, Sloan voltou em dez minutos. A pasta de couro confirmava que iria ao escritório depois que a deixasse em casa. Saíram mudos, e silenciosamente ele abriu a porta do seu magnífico carro preto.

Em pouco tempo Heathlands ficava para trás. Whitney esperava esquecer os acontecimentos dessa noite desagradável.

Apenas um profundo silêncio vinha do homem atrás do volante, e ela não tinha como censurá-lo. Além do mais, ele estava resolvendo o problema de uma pessoa desconhecida e impertinente como ela.

Ao se aproximarem de Londres, Whitney forneceu-lhe o endereço, sem ouvir nenhum comentário. Whitney olhou para fora da janela e esforçou-se para odiá-lo. Um sentimento de culpa a invadia e não conseguia desprezá-lo.

Achava que, embora não demonstrasse, Sloan estava sofrendo por Gleda. Seu próprio sofrimento fez seu coração entristecer-se por ele.

Ainda sofria por ele quando, depois de indicar-lhe algumas direções, Sloan encostou o carro em frente a seu apartamento. Podia ler-lhe no rosto que ficaria agradecido se Whitney se apressasse em saltar.

- Sloan - sussurrou. O "sr. Illingworth" se perdera em algum lugar.

Friamente ele voltou a cabeça para olhá-la.

- Sloan - repetiu, e, com voz emocionada, quase implorou: - Se houver alguma coisa que eu possa fazer...

Com uma sobrancelha levantada, ele respondeu secamente:

- Garanto-lhe, srta. Lawford, que você já fez muito mais do que possa perceber.

            
            

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