Entre No Jogo
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Capítulo 5 5

Naquela tarde de sábado, Whitney meditava profundamente sobre quando e como começara a gostar de Sloan Illingworth. Recordava quantas vezes saíra com ele desde a noite em que foram ao teatro e se recusara a ir a uma boate. Agora tinha de admitir que gostava de ficar junto dele. Fizeram os mais diferentes programas e muitas vezes esticavam a noite em boates da moda. Ficara conhecendo os lugares mais badalados da cidade.

Ela havia jurado que, enquanto fosse obrigada a sair, não se esforçaria para ser uma companhia agradável. Porém não houve uma só vez em que não se divertisse ao lado de Sloan. Era forçada a reconhecer que não fazia nenhum sacrifício em acompanhá-lo. Como, em tão pouco tempo, aconteceu essa mudança radical?

Sem querer, começou a sorrir. Um pouco alarmada, percebeu que sorria mais freqüentemente nos últimos tempos.

Outras dúvidas surgiram: por que a vida agora lhe parecia mais vibrante? Por que sentia entusiasmo pelas mínimas coisas?

As lembranças de Dermot já não eram tão freqüentes. Mas isso ela podia compreender: ultimamente não estava conseguindo pensar em tudo; Sloan e os passeios com ele eram os responsáveis.

Nunca se esqueceria da terceira vez que se encontraram. Recebera um telefonema na noite seguinte a que foram ao teatro.

- Gostaria de jantar comigo amanhã? - Sloan perguntou suavemente.

Com a mãe doente, e sem Gleda para consolá-lo, Whitney não soube como recusar.

- Não há nada que eu mais deseje neste mundo - respondeu com ironia.

- Sabia que você gostava profundamente de mim! - ele replicou.

Whitney quis socá-lo; ele não entendera sua ironia. Novamente ele desligou sem que ela conseguisse falar mais uma palavra. Pensando melhor nessa conversa, ela teve de sorrir. Sloan poderia ser qualquer coisa, menos tolo. Claro que percebera que ela tinha sido sarcástica.

Teria começado a amá-lo nesse dia?

De qualquer modo, ela perdera a frieza inicial. As maneiras formais desapareceram quando ele veio buscá-la na noite seguinte.

- Alguém já lhe disse que você tem uns olhos verdes maravilhosos? - ele comentou, ao levá-la para casa depois de um jantar magnífico.

- Já, muitas vezes - declarou com orgulho, e propositadamente arregalou os olhos. Notou que um sorriso surgia nos cantos dos lábios de Sloan. - Boa noite! - despediu-se rapidamente.

- Boa noite! - ele repetiu com calma e se afastou. Saíram juntos outra vez no sábado seguinte. Foi a noite em que a levou a uma boate pela primeira vez. Foi também nessa noite que Whitney descobrira algumas de suas preferências. E ele, por sua vez, descobrira mais coisas sobre ela.

Alguns dias se passaram sem que ela tivesse notícias de Sloan. Não ficara preocupada, pois ele precisava dela e iria procurá-la. A sra. Ulingworth e seu bem-estar vinham em primeiro lugar. Para Whitney, ele era um homem muito ocupado e já era obrigado a passar muito tempo visitando-a no hospital.

Quis aproveitar o fato de não ter marcado um encontro com ele para sair com Toby. Em sua opinião, não era correto agradar um homem e desprezar outro, principalmente porque Toby era mais seu amigo do que Sloan.

- Quer ir a uma galeria de arte esta noite? - ele ligara após cinco dias de silêncio.

- O que não faço por você... - Ela pretendia ser azeda, mas ficou horrorizada. Achou que sua voz transmitia impaciência porque ele havia demorado para telefonar. - A que horas? - continuou em seguida, esperando que ele não percebesse o quanto estava ansiosa.

Que bobagem! Sloan desejava sua companhia apenas para fingir um noivado autêntico. E Whitney só saía com ele em virtude do estado de saúde da mãe dele. Portanto, não precisava ficar preocupada.

Convencida disso, ela se aprontou tendo a certeza de que não tinha o mais remoto interesse nele. Ainda sentia as marcas da experiência com Dermot, e levaria bastante tempo para que se impressionasse com outro homem. Nem mesmo queria Sloan como amigo.

Apesar dessas indecisões, foi nessa noite que seu relacionamento com ele se tornou mais amigável.

Na galeria de arte, as pinturas estavam dispostas conforme os temas, paisagens ou cenas domésticas. Depois de apreciar cada uma delas, eles foram a um salão que apresentava quadros de arte moderna. Whitney ficou junto a Sloan enquanto analisavam uma tela com tons azul-marinho, alaranjado e vermelho. Consultou o catálogo que ele lhe dera e leu que a pintura exibida intitulava-se Alegria. Seus olhos voltaram-se para a gravura e, de repente, ela se sentiu tocada. Procurou por ele, mas pela sua expressão de espanto Whitney entendeu que estava sozinha em sua descoberta.

- É maravilhoso! - exclamou, quando, já se dirigindo para o próximo quadro, ele tomou seu braço para que ela o seguisse.

- O que você está dizendo? - ele quis saber, detendo o passo, mas conservando a mão em seu cotovelo.

- Você não percebe? - ela perguntou, dirigindo outra vez seu olhar para a pintura.

- Você se refere a esta coisa horrorosa azul-marinho e alaranjado que se disfarça sob o nome de arte? - ele indagou e, apertando os lábios, desviou o olhar da pintura para os olhos verdes que brilhavam de excitação.

- Veja de novo - ela o estimulou. - Observe a parte vermelha. É uma boca vermelha e risonha. - No início, a figura lhe parecera misteriosa, mas agora ela compreendia todo seu significado. - Bem, eu gosto dela - falou para finalizar, e eles seguiram em frente.

Sloan sorriu quando se aproximaram da tela seguinte. Seus olhos moviam-se dos olhos verdes para a boca delicada.

- Eu gosto mais de você!

Whitney não fez comentário, mas seu coração vibrou de emoção.

- Concentre-se nas obras de arte - ela repreendeu-o com suavidade. De repente os dois estavam rindo.

O coração de Whitney já batia normalmente outra vez quando ele a levou para casa. Porém alguma coisa acontecera e o relacionamento entre ambos tornou-se mais caloroso. Ela percebera que conversava mais livremente e se sentia bem à vontade com ele.

Certamente a mãe de Sloan ainda se encontrava hospitalizada, ou ele já a teria convidado para ir até Heathlands. Ao se aproximarem do apartamento, ela resolveu se informar.

- Sua mãe está melhor?

- Ela está... na mesma - ele falou, e voltou-se como se precisasse de toda atenção para enfrentar o trânsito.

Whitney calou-se por um momento, decidida a insistir no assunto. Já que seria apresentada à sra. Illingworth como sua futura nora, ela também tinha seus direitos. Após alguns minutos, quando julgou que o movimento dos carros não estava tão intenso, interpelou-o:

- Você uma vez me falou que sua mãe estava um pouco perturbada...

- Eu falei isso? - Sloan parecia duvidar que tivesse dito algo tão pessoal sobre sua mãe.

- Suas idéias estão mais claras agora? Quero dizer, eu sei - ela insistia compreensivamente - que muitas vezes as pessoas idosas... - Fez uma pausa. Não sabia a idade da mãe de Sloan. Se quando ele nasceu ela não fosse muito nova, poderia estar agora com uns setenta anos. E no acidente poderia ter batido a cabeça.

- A última vez que a vi, ela estava bem, parecia às vezes distante - ele falava como se fosse muito difícil conversar sobre isso.

- Oh, sinto muito - Whitney consolou-o com sinceridade. Seu coração se condoía pela pobre senhora, enquanto a cabeça se inundava com as lembranças da própria mãe. Ela também tivera lapsos de memória antes de falecer. Como Sloan relutasse em continuar falando sobre isso, decidiu não fazer mais perguntas.

Chegaram até o apartamento e, ainda sensibilizada, convidou-o para subir e tomar um café. Sloan recusou, explicando que ainda teria de terminar um trabalho quando chegasse em casa. Whitney novamente considerou que ele era um homem muito ocupado. Não ficaria surpresa se só voltasse lá depois de cinco dias. Mas ele telefonou logo no dia seguinte e foram jantar outra vez.

A partir de então saíram constantemente, e cada vez iam a um lugar diferente. Tudo, é claro, porque deviam conversar espontaneamente com a sra. Illingworth sobre o que faziam juntos. Se ela ainda se encontrava hospitalizada, era porque o acidente que sofrera fora realmente grave. Havia pessoas que passavam pelas piores cirurgias e ainda assim recebiam alta dentro de duas ou três semanas.

Com o passar do tempo, Whitney calculou que talvez Sloan sugerisse que ela fosse ao hospital para conhecer a futura sogra. Como não tocou nesse assunto, imaginou que sua mãe ainda estivesse perturbada. Seria melhor deixar as apresentações para quando estivesse em casa.

Whitney deixou seus devaneios ganharem altura naquele sábado. Teria notícias de Sloan nesse fim de semana? Não o via desde quinta-feira, e ele fora à Suíça a negócios na sexta. Voltaria no domingo.

Foi até a cozinha preparar uma xícara de chá. Não via Dermot há meses. Subitamente estranhou o fato de não se lembrar dele como antes. Seus pensamentos agora se ocupavam com Sloan, com certeza porque saíram juntos muitas vezes nos últimos dias.

A imagem de Gleda surgiu em sua mente. Será que Sloan ainda pensava nela? Não pronunciara seu nome uma única vez, nem deixara transparecer nenhum ressentimento pelo fato de não ser mais seu noivo. Sua tranqüilidade foi interrompida quando Érica bateu à porta com seu toque familiar.

- Você adivinhou que eu estava tomando chá - Whitney falou, recebendo a vizinha com um sorriso.

- Já vou avisando que não posso ficar. - Érica estava ofegante. - Hoje é um daqueles dias que eu deveria ter acordado às três da manhã para dar conta de tudo. - Parou um segundo e prosseguiu: Eu lhe disse que serei madrinha de James Eric, não? Pois bem, o batizado é amanhã e... - respirou apressadamente - como é uma ocasião especial, será que você poderia me emprestar um dos seus chapéus? Não tenho nenhum em condições...

- Claro, acho que tenho dois que podem servir. - Ia levá-la até o quarto para escolher um deles quando a campainha soou. O coração de Whitney se acelerou ao imaginar que Sloan já pudesse estar de volta e viesse até o apartamento para vê-la. "Que ridículo", pensou um segundo depois. Ele não apenas estava a quilômetros de distância, na Suíça, como teria telefonado antes de aparecer.

- Espere um pouco enquanto vou ver quem é - Whitney rapidamente se dirigiu a Érica. - Eu...

Mas a amiga se levantou com rapidez:

- Você se importa se eu voltar depois? Cada minuto é muito precioso para mim, hoje.

Elas se separaram no corredor, Érica subiu e Whitney desceu. Não fazia idéia de quem seria. Abriu a porta e se viu diante de Toby. Logo percebeu que ele estava diferente.

- Pensei que não fosse encontrá-la em casa. - Um traço de culpa atingiu Whitney. Ela teve de recusar vários convites de Toby recentemente, e então saudou-o com a maior amabilidade.

- Acabei de preparar um chá. Gostaria de tomar uma xícara?

- É uma boa idéia - concordou. Estava estranhamente quieto enquanto subiam a escada.

- Então... - ela o encorajou enquanto lhe entregava o chá e sentava para acompanhá-lo na bebida. - A que devo o prazer de sua visita?

- A você, você mesma - respondeu timidamente.

- Eu? - Whitney começou a desconfiar que ouviria alguma coisa desagradável.

- Bem - ele parecia perdido no meio do caminho. - Você não sabe como fiquei ensaiando o que queria dizer a você. E agora, na sua frente, esqueci tudo...

Ele estava mesmo desgostoso, e Whitney prometeu mentalmente que faria tudo para ajudá-lo.

- O que você quer me contar que precisa de tanto ensaio, Toby? - perguntou-lhe calmamente.

- Eu... não posso - parou, mas logo prosseguiu: - Primeiro, eu quis lhe escrever. Depois, bem, depois, vi que não podia esperar pela sua resposta. Poderia levar um século antes de você resolver me escrever também, dizendo que gostava de mim tanto quanto eu de você. - De repente calou-se. Estava todo atrapalhado, e continuou desajeitadamente: - Pronto, já falei. Acabei de dizer que gosto de você. É isso que eu queria... - Parou outra vez quando verificou que sua alegria por ter encontrado as palavras certas não estava refletida na expressão de Whitney. - Você não gosta de mim... - ele começou.

Whitney tentava se recuperar da mais inesperada declaração, se é que podia considerar assim.

- Eu não sei o que você quer dizer com isso, Toby - ela o interrompeu. Era difícil acreditar que ele estivesse falando sério. - Antes de começar a sair com você, eu lhe expliquei...

- Eu sei - ele a interrompeu e respirou profundamente. - Você não queria se envolver com nenhum homem, você me disse. Então imaginei que havia se desiludido com alguém. E foi por isso que eu não toquei logo no assunto. Mas agora você está saindo com outro homem, e comigo também, de modo que não quer mais distância deles como antes. E, para ser franco, fiquei preocupado que ele se declarasse para você antes de mim.

Declarasse? Whitney ficou atônita com essa palavra e não sabia como contornar o assunto. Com facilidade, Toby ligara os fatos e concluíra que, se ela recusava seus convites, era porque estava saindo com outro homem. E ela sabia, por experiência própria, como alguém pode sair machucado de um amor não correspondido! Não queria nem pensar em machucá-lo!

- Oh, Toby, Toby - ela pronunciou desconsoladamente. Ele pôde entender tudo vendo o olhar infeliz de Whitney.

- Você... você não me ama - falou lentamente.

- Gosto muito de você, sim, mas como amigo - ela replicou sem satisfação. - Apenas como amigo, Toby.

- Não pensei que tivesse muita chance, mesmo.

Whitney sentia o coração se partir em mil pedaços.

Depois de alguns momentos, ele se esforçou para colocar um brilho em seu olhar tristonho.

- Suponho que já é muita coisa ter você como amiga. - Suspendeu a xícara e o pires e tomou um prolongado gole de chá como se realmente precisasse dele. Então, sentindo-se mais seguro de si, comentou: - Você saiu com alguém nos últimos três sábados, Whitney. É demais pedir para sair com um amigo um sábado por mês?

- Você é o máximo, Toby - Whitney exclamou suavemente, enquanto percebia com surpresa que, no que se referia à chantagem emocional, ele era igualzinho a Sloan.

- É pedir muito? - insistiu, e sua expressão de garoto perdido ressurgia.

- Eu - ela hesitou. Deveria sair com Toby essa noite? Sloan ainda estava na Suíça... Não que fosse obrigada a reservar as noites de sábado para ele. Provavelmente ele estaria aproveitando seu tempo em Zurique com alguma suíça elegante. Inexplicavelmente, sentiu uma hostilidade contra ele, e tomou uma decisão: - Acho que podemos sair hoje - e fitou Toby, cuja face se iluminava com um sorriso. Agora ela não podia mais voltar atrás.

Toby foi embora, e um segundo depois Whitney ficou imaginando o que estaria acontecendo com ela. Aceitaria o convite por causa de um absurdo ciúme. Pensar em Sloan flertando com alguma "Gleda suíça" era tão cômico que ela começou a rir. Então tentou transferir sua atenção de Sloan para Toby. Seria bom para ele continuar se encontrando com ela? Não poderia evitá-lo no serviço, mas...

Depois de pensar muito, concluiu que não faria mal ver Tob além das horas de trabalho.

O fato era simples: ele não a amava como estava pensando. Ela sim, já havia amado, e por isso percebia as coisas. Apenas recentemente ele lhe contara como as amigas ultra-sofisticadas de sua irmã o amedrontavam. Nos últimos tempos ele passava longe do apartamento de Valerie.

"A meu lado se sente tranqüilo e feliz, e está convencido de que isso é amor. Está claro que deseja se casar e se fixar num lugar seu", Whitney raciocinou. Falaria com ele aquela noite.

Nesse instante lembrou-se de Érica e já ia apanhar os dois chapéus que havia prometido quando o telefone tocou. Não saberia explicar o que sentiu ao reconhecer a voz de Sloan.

- Já voltou?

- Resolvi meus negócios mais depressa do que esperava. "Que bom que ele não estava flertando com nenhuma suíça atraente!", Whitney pensou. Sloan continuou com voz macia:

- Se tudo correr bem, passarei pelo seu apartamento às oito. Nós...

- Espere um minuto!

Whitney se enfureceu por dois motivos. Primeiro, consigo mesma: ele que se encontrasse com quantas suíças quisesse que ela não tinha nada a ver com isso. Segundo, porque era muita insolência da parte dele imaginar que, agora que estava de volta, bastaria apanhar o telefone para que ela se jogasse em seus braços. Por isso falou com voz áspera:

- Sinto lhe dizer que não estou livre hoje.

Houve uma pequena pausa do outro lado.

- Por quê? - Sloan perguntou com voz abafada.

Com satisfação, Whitney explicou:

- Tenho um compromisso para esta noite. - Sua respiração ficou suspensa quando ele exigiu saber:

- Com quem?

Ela ficou indignada! Como se lhe devesse alguma satisfação!

- Já que você quer saber - replicou gravemente, fazendo desaparecer seu tom gentil -, vou sair com Toby Kes... - Não terminou de pronunciar o nome do amigo. Antes que pudesse piscar um olho, a voz de Sloan retrucou através da linha.

- Bem que eu sabia! Você costuma esquentar a cama de um homem enquanto está saindo com outro...

Agora já estava feito. Whitney prometera que algum dia teria o prazer de bater-lhe o telefone. E foi exatamente o que fez. Furiosa como ficara, nem pensou no que fazia até que desligou o aparelho antes que ele terminasse de falar.

- Miserável! Cretino! Um palhaço perfeito! - Agora ela estava satisfeita! Nunca, nunca mais sairia com aquele convencido sr. Illingworth outra vez! Ela o acompanhava somente por causa do problema de sua mãe e, entretanto... Oh!

Ela fervia de raiva, mas lastimou ter se lembrado da pobre mãe de Sloan, acamada por causa de um acidente...

Obstinada, Whitney passou os dez minutos seguintes convencendo-se de que não era problema seu se a mãe de Sloan estava desnorteada ou não. Ela nem mesmo conhecia aquela senhora...

Entretanto, não conseguia pensar na sra. Illingworth sem relacioná-la com a própria mãe e os problemas que enfrentara antes de falecer. Desde que conhecera a amante do marido, a sra. Lawford permanecera num quase estado de choque até o último momento. Whitney enxugou as lágrimas que vieram com essas lembranças e perdera o estímulo da raiva que sentia contra Sloan. Quanto mais queria estar furiosa com ele, mais se culpava por ter se deitado em sua cama. Se não tivesse feito isso, Sloan estaria noivo e ela não seria obrigada a participar daquela representação.

Era estranho que ele nunca lamentasse o fim do noivado. Como homem, guardava seus sentimentos só para ele. Apenas sentia pesar no que se referia a sua mãe. Provavelmente fora essa preocupação que o fizera apressar-se e voltar da Suíça antes da hora marcada.

Com os pensamentos mais uma vez centralizados na mãe hospitalizada de Sloan, Whitney esforçou-se novamente para se enfurecer com ele. Como não conseguiu, apanhou o telefone e discou o número de Toby. Ele iria odiá-la, mas...

- Alô, Toby - ela se apressou a dizer quando o sinal de chamada parou. - Aqui é...

- Whitney! - ele exclamou, não deixando que ela mesma se anunciasse. - Acabei de sair de sua casa. Aconteceu alguma coisa com você?

- Eu estou... - Diante do tom de agradável surpresa que transparecia na voz do rapaz, Whitney sentiu-se pior do que nunca. Não estava conseguindo se explicar. Num ímpeto, prosseguiu: - Sinto muito, Toby. Sinceramente. Mas receio não poder me encontrar com você esta noite.

- Você não pode...

"Oh, que pena", Whitney pensou, e quase pediu a ele que esquecesse aquele telefonema, que eles fariam tudo como haviam combinado.

- É por causa de alguma coisa que eu falei esta tarde, não é? Você teve tempo para pensar e decidiu que...

- Toby, Toby - interrompeu-o antes que ele fizesse seu coração em pedaços. - Não é nada pessoal. Apenas... por um motivo particular... não poderei vê-lo. Mas não tem nada a ver com a nossa amizade.

- Você ainda é minha amiga?

- Vamos almoçar juntos na segunda-feira, está bem? - ela tentou alegrá-lo.

- Ótimo - ele se animou.

Whitney desligou. A vida estava se tornando muito complicada. Procurou o número do telefone de Sloan. Porém hesitou em ligar-lhe, lembrando que ainda não tinha se comprometido e estaria livre à noite.

Pensou também que, do modo como batera o telefone, teria de engolir o próprio orgulho se quisesse falar com Sloan. Ficou mais alguns momentos refletindo se queria mesmo sair, ou se preferia sua própria companhia.

- Oh, que homem! - resmungou. Um segundo depois estava ocupada discando o número da casa dele.

Pareceu-lhe que se passaram anos antes que alguém respondesse.

Suas mãos estavam úmidas, talvez porque não engolisse seu orgulho todos os dias. Quando ia desligar e consolar-se com o fato de que havia tentado, o fone foi levantado.

- IIllingworth. - A voz de Sloan vibrou em seu ouvido, e imediatamente Whitney teve consciência de que seu coração disparava.

- Sl... - não concluiu a palavra. Contudo, conseguiu encontrar a frieza que desesperadamente procurava para usar quando fosse enfrentá-lo. Com voz calma continuou: - Pode se preparar. Estarei pronta às oito!

E tranqüilamente desligou o telefone.

                         

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