Entre No Jogo
img img Entre No Jogo img Capítulo 4 4
4
Capítulo 6 6 img
Capítulo 7 7 img
Capítulo 8 8 img
Capítulo 9 9 img
Capítulo 10 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4 4

Whitney se arrependera imensamente de ter pronunciado as palavras "...se eu puder fazer alguma coisa". Por este motivo concordara em enganar a mãe de Sloan e agora se atormentava. Aquela ridícula proposta não lhe saía da cabeça.

Na manhã daquele sábado, ela tentou se concentrar na limpeza do seu já limpíssimo apartamento. Mas esse trabalho físico não impedia seu cérebro de funcionar.

Relembrando os fatos da noite anterior, ela não via como poderia ter agido diferente. Afinal, a sra. Illingworth sofrera um acidente e estava preocupada com o filho. Tomar conhecimento do noivado desfeito poderia causar-lhe maiores problemas. Iria sofrer ainda mais.

Whitney pensou em como Sloan conseguia esconder a dor que sentia interiormente.

- Oh, Sloan... - ela havia murmurado no restaurante, como se estivesse se desculpando.

Foi então que ele cobrara a promessa.

- Mas eu só estava pensando em Gleda - ela protestou.

- E isso tudo não está relacionado com ela? - Sloan retrucou. Whitney poliu os móveis e colocou as almofadas nos lugares.

Se pelo menos a sra. Illingworth tivesse conhecido Gleda, não haveria como representar aquela farsa.

Sloan não explicara por que as duas nunca se encontraram. Talvez tivessem ficado noivos pouco antes daquela viagem ao exterior, sem tempo para apresentá-las. Ele apenas participara à mãe que em breve ela conheceria a futura nora.

Whitney continuou sensibilizada com os sentimentos da sra. Illingworth. Contudo, por que Sloan julgou necessário levá-la para jantar? Teria sido mais fácil contar-lhe diretamente o que queria. Se não quisesse falar pelo telefone, poderia ter ido até seu apartamento.

"Talvez ele quisesse ter certeza da minha reação antes de pedir para fingir ser sua noiva."

Sloan iria lhe avisar quando sua mãe tivesse condições de recebê-la.

Não conseguindo livrar-se desses pensamentos, Whitney guardou o material de limpeza, lavou as mãos e subiu até o apartamento de Érica.

- Se você estiver estudando, eu volto depois - foi falando enquanto a vizinha abria a porta.

- Nossa! O feijão que emprestei de você a semana passada - Érica exclamou. - Esqueci-me totalmente dele. - E esclareceu: - Agora não estou estudando. Por favor, feche os olhos para a bagunça. Só arrumo as coisas quando não consigo mais passar entre elas - brincou. - Vamos tomar um café que tenho novidades para contar.

Whitney riu e entrou. Estava mesmo precisando de um pouco do entusiasmo de Érica.

- Deixe que eu me ajeito - falou quando a amiga foi desocupar um espaço na mesa da cozinha e retirou uma pilha de livros de uma cadeira.

- Então, não adivinha? - Érica sorriu, incapaz de esperar mais tempo. - Já sou titia!

- Nikki já teve bebê? - Whitney sabia que a irmã mais nova de Érica, que morara em Liverpool, estava para dar à luz.

- Recebi um telefonema há cinco minutos. Não é uma beleza? Mãe e filho estão passando bem, mas premiaram o coitadinho com o nome de Eric no meio.

- Foi em sua homenagem - Whitney concluiu. - Isso é maravilhoso!

- Sentimentalmente, sim - Érica concordou.

Ficaram conversando ainda alguns minutos sobre o recém-nascido, James Eric. Em seguida a nova titia anunciou sua outra novidade: estava namorando.

- Só Deus sabe quando terei tempo de vê-lo. Gostaria que ele me levasse a Liverpool no próximo fim de semana. Assim estaremos juntos e conheceremos o bebê. - Então repentinamente, mudou de assunto: - Desculpe, querida, estou sendo grosseira. O que há de novo com você?

- Eu, bem saí para jantar ontem à noite. - E confessou: - Com Sloan Illingworth.

- Sloan... - Érica repetiu com os olhos bem abertos. - Aquele que dormiu na mesma cama?

- Ele mesmo - Whitney disse rapidamente.

Ao voltar a seu apartamento, em vez de deprimida ela estava confusa. Contou detalhadamente a Érica onde jantara, o que comera etc. Entretanto, relutara em mencionar a proposta de Sloan. Descobriu depois que evitara o assunto porque a companhia do sr. Illingworth não era apenas estimulante, mas também muito agradável.

Estava perplexa, pois nem sabia se gostava dele, quando se lembrou de que convidara Toby para jantar àquela noite.

- Socorro! - suspirou, pegou a bolsa e foi comprar alguma coisa para oferecer durante a refeição.

O jantar com Toby em seu apartamento transcorrera sem incidentes. Ele era tão amável que Whitney nem sentiu as horas passarem.

Entretanto, no domingo, pensou mais no jantar de sexta-feira do que no amigo que viera sábado a sua casa. Percebeu que, pensando em Sloan e em sua idéia, esquecera-se de Dermot. Era a primeira vez que acontecia alguma coisa que apagava suas dolorosas lembranças.

Pelo fim de semana, contudo, a decepção que Dermot lhe causara misturou-se à decepção que ela iria causar à mãe de Sloan. Ele não lhe telefonara outra vez.

Na sexta-feira, depois do expediente, Whitney voltou para casa certa de que a sra. Illingworth ainda estava no hospital. Quanto tempo Sloan, um executivo com tantos compromissos, estava passando ao lado da mãe acidentada, ela pensou, admirada.

Se não era Sloan, era Dermot quem dominava a sua mente; porém nenhum deles a entusiasmava.

Às onze horas estava para se deitar. Às onze horas e dois minutos, Érica bateu na porta com seu toque característico.

- Acabei de me lembrar - ela respirava com dificuldade. Havia um lápis sobre sua orelha demonstrando que ela estivera no meio dos estudos. - Você tem uma mala decente para me emprestar?

- Entre - Whitney convidou, e como sempre se alegrou com a vizinha.

Érica explicou que sua mala estava em péssimo estado. Chris, seu namorado, concordou em levá-la até a casa da irmã e ela não queria que ele se envergonhasse quando se oferecesse para carregar sua bagagem.

- Sinto muito, mas não posso ficar - respondeu logo que Whitney, trazendo sua melhor mala, perguntou se gostaria de tomar uma bebida quente. - Chris é uma pessoa pontual; eu preciso aprontar as coisas ainda esta noite, quando terminar minhas pesquisas.

Whitney saiu com Toby no sábado e o domingo transcorreu tranqüilamente.

À medida que os dias se passavam, ela começou a pensar que a idéia de representar a noiva de Sloan devia ser fruto de sua imaginação. Eles jantaram juntos havia duas semanas e não se comunicaram mais.

Quis me assustar, ela cismava enquanto retirava a capa da máquina de escrever. Suspirou aliviada e sentou-se em sua escrivaninha. Tudo indicava que não precisaria mais mentir para a mãe dele. Alguma coisa acontecera e ele mudara de idéia. O mais provável era que ele e Gleda tivessem se reconciliado.

Whitney franziu a testa; estranhamente descobriu que essa hipótese não a agradava.

Ela acabara de tomar uma xícara de café, como fazia todas as manhãs, quando teve a certeza de que aquele alívio fora precipitado. Sloan ligara para o escritório.

- É melhor você me dar o número do telefone de sua casa - falava com voz baixa e seca.

O choque de ouvi-lo, com aquela voz desagradável, fez Whitney responder antes mesmo que pudesse pensar em alguma coisa.

- Como vai? - ela queria saber sobre sua mãe, mas de repente a ligação fora cortada. Era a segunda vez que recebia um telefonema dele e acabava falando com o ar. Uma raiva surda apoderou-se dela. - Dane-se! - esbravejou e soltou o fone.

No minuto seguinte, lamentou ter fornecido o número de seu próprio telefone. Parou um momento e respirou para acalmar-se. Quem ele pensava que era para chamá-la e, sem lhe dar tempo de pensar, encerrar a conversa? Com certeza não queria discutir seu plano ridículo ao telefone para que ninguém em seu escritório pudesse ouvir.

Começou a se tranqüilizar achando que esse plano não era tão ridículo assim. Talvez fosse necessário naquele momento. A qualquer instante, atenderia ao telefone em sua casa e ouviria Sloan Illingworth no outro lado da linha.

O fim de semana passara sem que Whitney falasse com ele, embora não tivesse ficado em casa o tempo todo.

Na noite de segunda-feira, o som do telefone interrompeu-lhe os pensamentos. Seu coração batia descompassadamente quando foi atender. Seus nervos se abalaram, pois adivinhara de quem era a voz que estava prestes a ouvir. Depois de esperar alguns segundos, ergueu o fone:

- Alô!

- Onde você esteve à noite passada? - Sloan gritava em seus ouvidos, causando-lhe dor.

- Saí. Fui namorar! - Whitney, enfurecida com suas palavras e tom de voz, devolveu do mesmo modo. Porém ficou mais enfurecida ainda com a resposta:

- De agora em diante você pode esquecer seu namorado e saídas com amigos - ele falou violentamente. - De agora em...

- Espere um pouco! - Whitney revoltou-se. - Quem você pensa que é? Sairei com qualquer homem que me agradar. Eu...

- Enquanto estivermos noivos, não! - ele revidou.

- Acontece que eu não estou noiva de ninguém...

- Para a tranqüilidade de minha mãe, sim, você está - ele a interrompeu rapidamente.

Whitney calou-se por um momento. Lembrou-se de que, por causa de sua mãe, combinaram que seriam noivos. Ela se concentrou para perguntar, tão calma quanto fosse possível:

- E como está ela?

- Ela está bem - foi a resposta seca, e Sloan parou como se também estivesse se concentrando. - Brevemente deixará o hospital e irá a Heathlands convalescer. E isso significa que você e eu temos de discutir alguns detalhes.

- Discutir alguns detalhes? Como assim?

- É simples - ele falou com firmeza. - Por exemplo, somos obrigados a conhecer os mesmos lugares.

- Somos obrigados? E por quê? - ela perguntou com a voz alterada. O sangue fervia em suas veias. Nenhum homem lhe diria "somos obrigados" e a levaria a qualquer parte contra a sua vontade.

- Ora, por favor - Sloan continuou -, minha mãe pode estar um pouco perturbada neste momento, mas ela não é tola. Logo desconfiará de que nosso noivado é falso se nem você nem eu falarmos sobre os lugares que costumamos freqüentar juntos. E isso poderá trazer conseqüências trágicas para ela.

- Mas... - Whitney começou a protestar. O fato de que a sra. Illingworth não estava bem não alterava o seu desejo de discutir o assunto. - Mas... e quanto a meu namorado?

Queria fazer Sloan entender que não podia sair com ele. Descobriu que seu pânico a tornava tão falsa como aquele absurdo esquema. Por mais que se esforçasse, jamais conseguiria imaginar Toby como seu namorado no verdadeiro sentido da palavra.

- O que ele vai dizer? - ela o provocava. - Garanto que não vai gostar quando souber que não posso sair com ele porque tenho de sair com você.

- Garanto que ele gostará menos ainda - Sloan retrucava em voz baixa e vagarosamente - quando souber como minha noiva encontrou você em minha cama.

- Você é... um miserável - Whitney vociferou ao telefone.

- Também te amo muito, querida... - Sloan murmurou sarcasticamente, e disse apenas uma coisa antes de desligar: - Nós iremos ao teatro amanhã. Fique pronta.

Whitney estava fuzilando quando o telefone foi desligado. Da próxima vez, ela desligaria bruscamente antes dele. Ela se enforcaria se não fizesse isso. Furiosa diante da chantagem que ele fazia, recolocou o fone no lugar. "Miserável é uma palavra muito suave para ele", ela pensou com raiva. Será que teria mesmo coragem de falar com Toby sobre a noite da festa? Sloan sabia, ou havia concluído, que o rapaz ignorava a forma como a festa terminara?

Na meia hora seguinte, Whitney continuou metralhando o "sr. Illingworth" em silêncio.

Aos poucos foi se acalmando.

Na verdade, ao lado de Sloan, ela era a parte mais fraca e ficava sempre um pouco medrosa.

"Mas sentia medo do quê?" perguntou a si mesma.

- Medo de sair machucada outra vez - ela mesma respondeu.

Entretanto, logo em seguida Whitney lançou sua teoria pela janela. Se ainda amava Dermot, como poderia se machucar saindo com Sloan?

Passou uma noite inquieta. Esses pensamentos ficaram martelando em sua cabeça.

Na manhã seguinte, levantou admitindo que a sra. lllingworth realmente nunca acreditaria que eles eram noivos, se não comentassem sobre os lugares que costumavam freqüentar. Para o bem da mãe de Sloan, só por isso, ela se via na obrigação de sair com ele.

À tarde voltou do escritório gostando ainda menos dele. Ele a chantageava porque sabia que Whitney temia que ele fosse conversar com Toby.

Sloan não havia dito a que horas passaria para pegá-la, e ela, é claro, não telefonaria para perguntar. Para provar a si mesma que estava dominando o medo, aprontou-se com bastante antecedência. Entretanto, quando a campainha soou, estava tão nervosa que pulou do sofá. Pegou a bolsa, passou a chave na porta do apartamento e desceu. Iria começar uma representação para a qual tinha muito pouco talento. Tinha certeza de que não gostava nada daquilo. Por isso não entendeu por que um arrepio muito peculiar percorreu seu corpo quando, ao cumprimentar Sloan, ele observou com simpatia:

- Você está muito bonita, Whitney.

Desejou ardentemente responder que dispensava o elogio, mas isso não seria verdade. Embora não pretendesse se divertir, ela demorou escolhendo a roupa que iria usar, caprichando no penteado e na maquiagem. Por isso disse um simples "obrigada".

Whitney estava determinada a permanecer fria e distante, mas não podia negar que sentia algo parecido com orgulho quando caminhou a seu lado do estacionamento até o teatro.

- Espero que você goste de história de mistério - ele murmurou quando já estavam sentados.

- Prefiro mistério à farsa ou comédia - retrucou secamente, e voltou seu rosto para o palco. Esperava que Sloan tivesse entendido a indireta que ela lhe lançava, deixando claro que não apreciava a farsa que ele montara para a própria mãe.

Logo o espetáculo começou. Era uma peça famosa, com atores importantes. Whitney tentou se concentrar apenas na encenação, mas era difícil esquecer o homem a seu lado.

Durante o intervalo, foram tomar refresco. Tudo corria normalmente, ela respondendo com atenção e delicadeza às perguntas que Sloan lhe fazia. Porém, permanecia distante.

Ainda mantinha essa atitude quando deixaram o teatro e se dirigiram até o carro. Já com o motor ligado, ele esperava uma oportunidade para entrar no tráfego, congestionado com a saída de todos ao mesmo tempo. Whitney quis aproveitar o momento para agradecer.

- Muito obrigada - falou gentilmente, sem emoção. Sloan replicou com frieza:

- A noite ainda não acabou. - Seu tom de voz demonstrava que não estava gostando daquele comportamento indiferente.

- Não? - ela repetiu sem interesse e sem se importar com o que ele pensava.

- Foi o que eu disse. Vamos a uma boate!

- Boate! - ela exclamou, surpresa, esquecendo da distância por um momento. Entretanto, logo vestia o manto da indiferença outra vez, quando, sem ter intenção de ir a qualquer outro lugar, discordou da proposta: - Não somos obrigados a ir a qualquer boate.

Sloan voltou a cabeça e fitou-a no momento em que passavam por uma área bem iluminada. Whitney notou que a frieza dos olhos dele quase se materializava. Conseguira irritá-lo, e até deixá-lo furioso.

Ele retrucou:

- Não somos obrigados a ir esta noite. - Ela sentiu-se aliviada. Porém ele concluiu: - Iremos a uma boate numa outra ocasião! - Conseguira irritá-la e deixá-la furiosa! Desviou o olhar e continuou dirigindo na corrente de trânsito.

Chegaram ao apartamento em silêncio. Whitney não via a hora de descer do carro. Esperava que Sloan também ansiasse por se livrar dela; porém, ele saltou do automóvel e acompanhou-a até o prédio. Seu comportamento era educado e, apesar de contrariado, como certamente estava, parecia fazer o máximo para acalmar a situação.

- Permita-me - pediu gentilmente, e, tomando-lhe a chave, abriu a porta. Encontrou o interruptor, acendeu a luz do hall e devolveu-lhe a chave.

- Obrigada - agradeceu com igual gentileza. A noite estava terminando como ela havia imaginado: fora educada e atenciosa, mas conseguira manter a distância. Whitney deu um passo para dentro e se voltou para despedir de seu acompanhante.

Mas agora as coisas não estavam acontecendo como ela desejava. Sloan ficara parado do lado de dentro do hall e, até que ele se afastasse, não seria possível fechar a porta.

Whitney encarou-o com uma expressão interrogativa, e não acreditou no sorriso que se apresentava em sua face quando sugeriu com um charme especial:

- Para que nosso noivado possa parecer autêntico, você não acha que eu deveria conhecer o interior de seu apartamento?

Se Whitney pronunciasse o que estava pensando, os ouvidos de Sloan estariam em brasa. Apenas retrucou secamente:

- Numa outra ocasião!

Imediatamente se deu conta de que usava as mesmas palavras dele.

Sloan não parecia desconcertado, o que a aborreceu um pouco, mas deixou-a irritada ainda mais quando murmurou sorrindo:

- Agora você está jogando com as minhas cartas. Boa noite, Whitney - despediu-se atrevidamente.

Se não acordasse os moradores dos outros apartamentos, ela teria batido a porta atrás dele com toda força que tivesse.

Enquanto subia conscientizou-se de que, prometendo recebê-lo numa próxima vez, sem querer concordava em sair com ele novamente.

Não demorou a se aprontar para dormir. Meia hora depois já estava deitada em sua cama.

- Homem desprezível! - ela o excomungava mentalmente. Enquanto o sono chegava de mansinho, a raiva que sentia por Sloan começou a desaparecer. Ainda pensava nele e em seu cinismo na hora da despedida quando, com um sorriso aflorando nos cantos de seus lábios, adormeceu...

            
            

COPYRIGHT(©) 2022