Entre No Jogo
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Capítulo 3 3

Toby Keston esperava por Whitney no escritório na segunda-feira. Sentia-se envergonhado e precisava pedir desculpas por tê-la abandonado na festa.

- Posso jurar que não pretendi fazer isso - afirmou com sinceridade. - Não sei lhe dizer quanto bebi. Algum idiota teve a idéia de completar meus drinques a todo instante. Ontem à tarde, quando acordei em meu apartamento, nem conseguia me lembrar direito da festa.

- Você deve ter ficado numa situação... - Whitney murmurou cuidadosamente. Imaginava se ele ficara sabendo que Sloan Iilingworth não estava mais noivo, e por sua culpa.

-- Fiquei desesperado ao saber que vim para casa com minha irmã, e você não voltara conosco. Senti-me um imbecil quando Valerie explicou que chamara alguém para me colocar dentro do carro. Você havia desaparecido e ela achou que estivesse com outra pessoa. Você não teve problema, teve? - perguntou ansioso.

- Não, nenhum - Whitney respondeu, ainda imaginando se ele sabia alguma coisa.

- Ainda bem! - Ele sentiu um alívio e acrescentou: - Quase fui até sua casa para ver se estava tudo bem. Mas, para falar a verdade, fiquei com uma terrível dor de cabeça e não tinha certeza se você me receberia com prazer. - Toby fez uma pausa. Em seguida, para assegurar o próprio sossego, indagou: - O sujeito que lhe ofereceu carona foi correto, não foi? Quero dizer... ele não tentou...

- Ah, sim, ele foi ótimo - Whitney tranqüilizou-o. Resolveu não informá-lo de que voltara para Londres com o dono da casa onde acontecera a festa. - A que horas você saiu de Heathlands? - tentou descobrir mais alguma coisa.

- Não sei ao certo. Deve ter sido antes da chegada do noivo. Ontem fui obrigado a ouvir um sermão. Segundo Valerie perdemos a melhor parte da festa por minha culpa.

- Quê! - Whitney ficou decepcionada. Não seria capaz de perguntar o que a irmã quis dizer com aquilo. Será que "a melhor parte da festa" fora a chegada do noivo? Ou teria sido quando o homenageado fora surpreendido na cama com outra mulher?

Nesse momento o chefe de Whitney passou por eles.

- Bom dia, sr. Parsons - Toby cumprimentou-o com o tom normal que usava com todas as pessoas. - Falo com você mais tarde - sorriu para Whitney. Deixou a sala, pois o sr. Parsons não apreciava funcionários que perdiam tempo em longas conversas.

O trabalho que Whitney desenvolvia para a empresa era agradável, porém não lhe exigia muito esforço. Naquela segunda-feira ela teve muito tempo para deixar a imaginação voar. A cada instante os acontecimentos do fim de semana retornavam a sua mente.

Estava curiosa para saber se Sloan Illingworth fizera as pazes com a noiva. Porém, não tinha como se informar, a não ser que lhe perguntasse diretamente. Ela não iria fazer isso e continuou aflita. Duas pessoas que se amavam agora estavam separadas devido a seu procedimento imprevidente!

Às onze horas da noite, quando se preparava para dormir, ela ainda pensava no assunto. Mas uma vizinha bateu à porta com o toque característico que usava.

Érica Fane estava sempre bem-humorada. Tinha trinta e dois anos, um ótimo emprego, e à noite fazia um curso de graduação na universidade. Embora fosse eficiente em seu trabalho e em seus estudos, ela se preocupava menos com outros assuntos.

Whitney já se acostumara com o horário especial de Érica e foi abrir-lhe a porta.

- O que... - começou, mas parou quando a vizinha levantou uma lata de sardinhas no ar.

- Não tenho aula esta noite...

- Entre, já que está livre.

Foram até a cozinha onde Whitney preparou duas xícaras de chocolate.

- Estou louca para descobrir onde você esteve sábado quando, com estas sardinhas na mão, vim bater a sua porta e...

- Bem, sente-se, que vou lhe contar.

- Céus! - Érica exclamou depois que Whitney lhe fez um minucioso relatório. Agora já sabia como a amiga fora descoberta na cama com um industrial milionário. - Você não é desse tipo!

- Fico muito lisonjeada com isso - Whitney ironizou. - Mas o que posso fazer?

- Nada. Absolutamente nada, querida. Você se ofereceu para fazer tudo o que fosse possível. Honestamente, se eu encontrasse meu noivo na cama com outra mulher, a última pessoa que eu desejaria ver seria essa mulher. Esqueça isso - Érica aconselhou.

Ela fora a única pessoa para quem Whitney fizera confidências sobre Dermot. E concluiu:

- O amor, você sabe, é uma emoção poderosa. Eles estarão juntos novamente, tenho certeza, se já não estiverem.

Whitney não se esquecera do conselho da amiga quando foi trabalhar na manhã seguinte. Tentava se convencer de que tudo voltara ao normal com Sloan e Gleda. Às onze horas foi até a máquina de café e encontrou Toby, que lhe enviou um sorriso:

- Preciso falar com você.

A consciência pesada advertiu-a de que o rapaz já tinha conhecimento de que Sloan Illingworth a surpreendera.

- Gostaria de sair novamente com você, só receio que não aceite meu convite.

O alívio que sentiu foi responsável por sua resposta:

- Se você não estiver pensando em convidar-me para outra festa...

A face de Toby acendeu-se como uma fogueira, e ele vibrou entendendo que era uma resposta positiva.

Saíram juntos várias vezes nas duas semanas seguintes. Ele somente tentou beijá-la na despedida do terceiro encontro. Whitney, entretanto, desviou a cabeça e o beijo pousou em sua face.

- Não? - ele perguntou.

- Não, Toby - ela repetiu com firmeza. - Eu lhe disse...

- Sim, eu sei que por enquanto você não quer se comprometer com nenhum homem. Mesmo assim eu quis tentar - ele confessou e continuou, desajeitado: - Você pode me perdoar e sair comigo outra vez se eu lhe prometer me comportar?

Whitney soube então que gostava muito de Toby. Ele não perguntou por que ela evitava os homens; ele a aceitava como ela era.

- Quem consegue resistir a você? - ela sorriu.

- Minha mãe diz que eu sou uma gracinha - ambos riram.

No encontro seguinte, Toby tentou apenas segurar-lhe a mão. Ela percebeu que, de um modo fraternal, estava gostando cada vez mais dele.

Três semanas após a festa, numa manhã de sexta-feira, ela pôs de lado um documento que acabara de datilografar. Em seguida fixou o espaço a sua frente. Começava a pensar que aquele incidente iria perturbá-la até o último de seus dias. Aquele industrial não lhe saía da cabeça. Esforçando-se para expulsá-lo dos pensamentos, ela se dedicou ao trabalho novamente. Puxa! Ele tivera tempo para explicar o caso a Gleda pelo menos uma dúzia de vezes! Nesse momento tudo já devia estar esclarecido entre eles. Whitney jurou que não perderia mais um segundo pensando nele.

Uma hora depois, Slon Illingworth não povoava mais seus pensamentos.

Quando o telefone tocou, ela estava mais preocupada em fornecer informações do que em saber quem estava do outro lado da linha.

Subitamente, tudo sumiu da sua frente. O tom profundo de uma voz masculina balançou-a quando perguntou:

- Como vai, Whitney?

Nunca antes conversara com ele pelo telefone, mas nem por um segundo duvidou de quem era aquela voz.

- Eu... eu vou bem! - replicou tão serenamente quanto seus sentidos abalados permitiram.

- Ótimo... Aqui é Sloan Illingworth. - Ele se apresentou e foi direto ao assunto: - Gostaria de me encontrar com você!

- Oh! - ela exclamou. Ainda não conseguira se refazer completamente e já balançava outra vez. - Você quer dizer... - A voz desaparecera. Suas idéias se confundiam. Se ele queria vê-la, e não falar-lhe por telefone, o assunto devia ser estritamente pessoal. Só poderia se referir ao noivado desfeito. E, num piscar de olhos, veio-lhe à lembrança o compromisso de ajudá-lo. Portanto, não poderia recusar o convite. - Tudo bem, eu... - Ia explicar que estava livre na hora do almoço, da uma às duas horas, mas não teve oportunidade. Sloan Illingworth era um homem de negócios muito ocupado. Não perdeu tempo e interrompeu-a assim que ela concordou.

- Então encontro você às oito. Jantaremos em algum lugar.

Um instante depois Whitney estava boquiaberta. Não conseguia acreditar no que havia acontecido. O fone estava mudo em sua mão. "- Meu Deus! - exclamou em voz alta, e recolocou o fone no lugar. Com os pensamentos já organizados, percebeu que havia recebido uma ordem. O sr. Illingworth nem quis saber se ela estaria livre. "Encontro você às oito", repetiu mentalmente. No íntimo ela fervia de raiva. - Que sujeito presunçoso! - enfureceu-se. Mas o que poderia fazer? Ela mesma o deixara em maus lençóis com a noiva. Porém ele ficaria sabendo que estava arruinando um romance que surgia em sua vida.

Um romance... Essas palavras remeteram-na até Dermot. Ele havia sido seu caso mais sério, e ela não se achava em condições de partir para uma nova experiência.

Whitney pegou o fone para chamar o ramal de Toby. Não podia fazer diferente. Sloan Illingworth não daria a mínima importância a um "possível romance" em seu horizonte.

- Toby, é Whitney.

- Alô! - ele exclamou. - Ela podia sentir satisfação em sua voz.

- É sobre hoje à noite - começou a falar e hesitou. Já o conhecia suficientemente bem para saber que ele não mencionaria o fim do noivado de Sloan Illingworth e o papel que ela representava no caso. Mesmo assim achou melhor não lhe contar por que não iria a seu encontro. - Desculpe-me, Toby. Algo aconteceu e não poderei vê-lo esta noite.

- Você não está com problemas, está?

Essa preocupação fez com que Whitney gostasse ainda mais desse rapaz que sempre pensava primeiro nos outros.

- Não há nada errado - rapidamente ela respondeu. Ficou constrangida por não explicar a verdade, e por isso acabou dizendo: - Sinto por hoje, mas amanhã é sábado e, se você estiver livre, gostaria que fosse jantar em meu apartamento.

- Que maravilha! - Toby pulava de alegria. - Por um minuto imaginei que você não quisesse me ver nunca mais!

- Você está muito sensível por causa da sua avançada idade - brincou com ele, e aproveitou a ocasião: - Por acaso você sabe como posso entrar em contato com Sloan Illingworth?

- Ora, você sabe onde ele mora - respondeu animado, e acrescentou: - Conhece a Illingworth International? Experimente ligar para lá. Ele é o presidente da empresa.

Whitney colocou o fone sobre o aparelho em estado de choque. Sloan Illingworth era presidente daquela vasta companhia multinacional! E ela iria encontrá-lo à noite...

À hora do almoço ela ainda não se havia recuperado totalmente. Embora soubesse que ele era um grande industrial, não relacionara seu nome com a poderosa Illingworth International.

À tarde, voltou para casa lembrando as informações de Toby. Ela vibrava com suas descobertas.

De repente como um raio caindo do céu, uma pergunta sem resposta deixou-a preocupada: ela descobrira onde o sr. Illingworth trabalhava, mas como ele havia conseguido o telefone da firma onde ela trabalhava?

Meia hora mais tarde, sua imaginação ainda funcionava enquanto se ensaboava sob o chuveiro. Ela se lembrava muito bem sobre o que haviam conversado. Contara-lhe que era secretária, mas não mencionara o nome da firma.

- O que importa isso agora? - perguntou a si mesma quando saiu do banho. - Sloan podia não saber onde trabalho, mas sabia onde moro. Teria me encontrado com facilidade...

E ele não esquecera onde ficava seu apartamento. Iria buscá-la em casa à noite e não pedira o endereço quando falaram ao telefone.

Escolhia a roupa que iria usar quando um corpo alto e um belo rosto vieram-lhe à mente. Whitney subitamente foi tomada por uma sensação peculiar, uma ansiedade desconhecida.

- Ridículo - falou baixinho. - Não estou nervosa só porque vou sair em sua companhia - concluiu. Alisou as pregas da saia do vestido de seda cor de creme e calçou os sapatos de saltos bem altos. Caprichou na maquiagem, respingou um perfume suave e colocou suas belas bijuterias de marfim e prata.

Às oito horas já estava sentada esperando por ele. Às oito e cinco a campainha da porta do prédio soou. No mesmo instante ela se levantou e pegou a bolsa. Saiu do apartamento, fechando a porta com a chave; respirou fundo, desceu a escada e chegou à porta do prédio. Respirou novamente para manter o controle antes de alcançar a maçaneta.

- Que mulher pontual! - Sloan elogiou antes que ela o cumprimentasse. Pelo modo como Whitney segurava a bolsa, ele percebeu que não seria convidado a entrar. - Uma mulher bela e pontual - repetiu o elogio.

Como ela estava satisfeita, essas palavras não lhe pareceram falsas.

Sloan segurou seu cotovelo e conduziu-a até o luxuoso carro estacionado em frente. Aquela sensação peculiar apoderou-se dela novamente.

"Tudo bem", ela pensou, e tentou se acalmar, quando já estava dentro do carro. "Talvez eu esteja mesmo ansiosa, mas o que está errado?"

Então dirigiu-se a ele fazendo uma pergunta que logo depois acharia muito idiota.

- Aonde vamos? - Ficou deprimida quando reconheceu que só se sentira daquela maneira quando saía com Dermot.

Sloan dirigia com atenção e pronunciou o nome de um restaurante elegante e muito caro.

- Está bem para você?

- Para mim está ótimo - Whitney replicou. Teve a impressão de que, se dissesse uma palavra contra, ele a levaria a um outro lugar.

Era o homem mais sofisticado e atencioso que já conhecera! Ele a fizera compreender que poderia escolher outro restaurante sem falar abertamente sobre o assunto.

Whitney estava se sentindo bem naquele ambiente luxuoso e em sua companhia.

"Acho que faz parte da educação dele deixar as pessoas à vontade", ela pensou, quando já estavam frente à frente na mesa redonda, num dos cantos do restaurante.

Mas não era ingênua. Ele estava sendo polido apenas para que falasse bastante sobre si mesma e lembrasse que prometera ajudá-lo e a Gleda também. Whitney não viu problemas em lhe dar satisfação:

- O que posso lhe dizer? Trabalho na Plásticos Alford, onde sou secretária do sr. Parsons. - Subitamente parou e mudou de assunto: - A propósito, como você ficou sabendo que eu trabalho lá? Tenho certeza de que nunca lhe disse...

- Realmente, você não disse - Sloan confirmou. - Você apenas se referiu a Toby e sua irmã.

- Você conhece Toby Keston? - perguntou e imaginou por que ele não dissera que Sloan pedira o número do telefone de seu serviço. E ela lhe fizera quase a mesma pergunta: "Onde posso encontrar Sloan Illingworth?"

Mas não fora Toby quem informou onde Whitney poderia ser encontrada.

- Conheço o jovem Keston tão bem quanto sua insípida irmã - Sloan contou-lhe, e Whitney ficou admirada quando ele explicou: - Imagino que Valerie Keston não faça parte de seu círculo de amigos. Então só lhe resta ser amiga do irmão dela. E onde, eu me perguntei, poderia um homem como ele encontrar uma mulher como você?

- E concluiu que ele me encontrara no lugar onde trabalhava? - ela sugeriu levemente. - Você lhe telefonou...

- Eu concluí que vocês dois deviam trabalhar juntos. O problema foi lembrar em qual firma.

- Então você ligou para perguntar...

- Eu liguei para a Plásticos Alford e pedi para falar com a srta. Whitney Lawford.

Depois de pensar no que acabara de ouvir, ela encarou-o e, com um sorriso, falou:

- Não é de admirar que você seja a pessoa mais importante de uma empresa internacional!

- Penso que isso é um elogio, mas não tenho certeza - ele retrucou com bom humor, e pela primeira vez Whitney observou um sorriso encantador.

Seus olhos se abaixaram, e, nesse momento, o garçom veio até a mesa. O prato já havia sido servido quando ela encarou Sloan novamente:

- Por que você acha que não sou amiga de Valerie Keston? A princípio Whitney pensou que ele não fosse responder. Mas um olhar afetuoso surgiu nos olhos cinzentos que fitavam sua face:

- Vocês são tão diferentes quanto um anão e um gigante - replicou com seriedade.

Whitney também o fitava e, encorajada por aquele olhar, não resistiu e retrucou:

- Acho que isso é um elogio, mas não tenho certeza... Estranhamente seu coração vibrou quando Sloan deu uma gargalhada.

- Você tem razão - Sloan concluiu. E, enquanto Whitney se alegrava por ele achá-la diferente da fútil Valerie Keston, ele continuou:

- Nenhuma outra mulher naquela festa estragaria as unhas pintadas para limpar tudo como você fez.

Agora ele a atingia duas vezes. Primeiro, ele se referia as outras mulheres, menos a sua ex-noiva. Segundo, se a própria governanta não sabia da limpeza que ela fizera, como foi que ele ficara sabendo? Morta de curiosidade, interpelou-o:

- Sem considerar as ordens expressas que recebi para não deixar que a sra. Orton fizesse tudo sozinha, como você soube que eu arrumei sua casa?

- Primeiramente, considerei que, se você quisesse, teria me falado o que fazer com minhas "ordens expressas". Mas soube que você trabalhara bastante quando a sra. Orton me informou que os convidados da srta. Caufield deixaram tudo em ordem antes de partirem...

Era a primeira vez que ele mencionara a ex-noiva, e Whitney continuou ouvindo-o:

- Depois que todos foram embora, parecia que minha casa tinha sido varrida por um furacão. Ninguém deixara nada em ordem.

- Oh! - ela murmurou quando compreendeu a dedução. Então procurou uma justificação para desculpar sua atitude: - Bem, eu não podia deixar tudo para a sra. Orton fazer...

- Percebe o que eu quero dizer? - ele sussurrou, e Whitney entendeu que ele reforçava o elogio. Valerie Keston nunca levantaria uma pena para ajudar a governanta.

Em seguida Sloan indagou:

- Agora você trabalha na Plásticos Alford. E antes?

Ele voltava no tempo como se estivesse mesmo interessado em saber tudo sobre sua vida.

- Antes eu tinha um emprego na firma Implementos Agrícolas Hobson - ela informou com vivacidade. - E antes ainda eu morava em Cambridge com minha família. Apenas... - sua voz falhou - quando minha mãe faleceu e meu pai tornou a se casar, achei que era hora de me sustentar com meu próprio esforço. E vim para Londres.

- Você não se dá bem com sua madrasta? - ele quis saber. De repente Whitney parou. Ela não sabia o que havia com Sloan Illingworth. Sempre fora uma pessoa discreta, e agora relatava toda sua história.

- Eu me dou muito bem com ela, sim! - respondeu-lhe friamente. - Mas - suavizou a voz - nossa casa nunca mais foi a mesma...

Ela falava e ao mesmo tempo não acreditava que estava falando. Apenas Érica havia sido sua confidente até aquele jantar. Encerraria suas informações pessoais e perguntaria como poderia ajudá-lo no problema com a ex-noiva. Entretanto, nesse instante Sloan a surpreendeu com uma observação:

- Quem era ele?

- Ele? - Whitney hesitou, e ficou mais confusa quando ouviu a resposta:

- O homem que trabalha na Implementos Hobson e que machucou você...

- Como você sabe? - ela começou a enrubescer. Mesmo admitindo que ficara machucada, levantou o queixo orgulhosamente: - Quem ele era não tem importância. Não o vi mais desde que deixei aquela firma e...

- Gostaria de vê-lo novamente? - Sloan questionou com voz áspera.

- Não - ela negou com firmeza. Melancolicamente lembrou que já amava Dermot quando descobriu mais coisas sobre ele. Voltou sua raiva contra Sloan, explicando no mesmo tom: - Descobri muito tarde que já era casado e que morava com a família. Como poderia querer um homem como ele? Eu vi como minha mãe sofreu com a traição de meu pai. - "Oh, Deus!" Whitney pensou. "O que há com este homem que acabo lhe revelando meus segredos mais íntimos?" Ela lançou-lhe um olhar, mas não pôde ler nada em sua face rígida.

- Você deixou o emprego na Hobson por causa dele? - ele quis saber com uma voz tão fria quanto seu olhar.

- Naturalmente - ela replicou, tentando emitir uma voz tão fria quanto a dele.

- Há quanto tempo você está na sua firma atual?

- Não tenho visto Dermot há quatro meses, se é isso que você quer saber - Whitney disparou, e devia ter mordido a língua antes. Ela continuava falando demais. Agora ele já sabia até o nome do homem que ela amava.

- E onde entra o jovem Keston no seu esquema? - Sloan perguntou, e sua voz estava rouca.

Agora ele já sabia sobre Dermot, e seu orgulho determinou que não devia deixá-lo pensando que ainda estava sofrendo pelo ex-namorado casado.

- Toby - ela falava devagar - tornou-se em pouco tempo um amigo muito querido. Tanto que agora vamos praticamente a todos os lugares juntos.

Fitando Sloan com o canto dos olhos, achou que ele já estava cansado daquela conversa. E, esperando aborrecê-lo mais um pouco, recomeçou:

- Foi por isso que ele me convidou para acompanhá-lo à festa em sua casa.

- E foi por isso - Sloan retrucou com ironia -, porque vocês praticamente vão a todos os lugares juntos, que ele não se lembrou de levá-la de volta a Londres quando deixou a festa...

Whitney esquecera-se de que Toby não tinha condições de se recordar de nada daquela noite. Valerie o levara para casa, mas, convenientemente, a deixara em Heathlands.

O garçom veio servir o último prato e os dois permaneceram em silêncio. Whitney ficou pensando nesse detalhe que acabara de lembrar e imediatamente começou a mudar de idéia. Sloan conhecia Valerie muito bem. Agora podia entender por que ele parecia tão amargo. Estava se esforçando para proporcionar-lhe uma noite agradável! Toda a raiva se transformou em simpatia.

Contudo, não devia ser fácil para ele solicitar seu auxílio.

- Tem visto a srta. Caufield ultimamente? - Whitney tocou no assunto para facilitar-lhe as coisas.

- Não! - A resposta foi seca, e Sloan encarou-a como se perguntasse: o que lhe interessa quem eu vejo ou deixo de ver?

Como ela sabia o que era ter o orgulho ferido, não ficou ofendida. Iria falar com Gleda ou fazer qualquer outra coisa que ele precisasse.

- Sloan - disse suavemente. Talvez fosse melhor dizer sr. IIlingworth, mas já era tarde. - Estou aqui com você porque... se eu puder fazer alguma coisa para ajudar... - Observou a surpresa que sua boa vontade causou. Sorriu e continuou: - Você não vai me dizer por que me convidou para sair?

- Por que não poderia convidá-la simplesmente para vê-la outra vez? - ele a interrompeu friamente.

Whitney tentou não dar importância ao rubor que as palavras dele trouxeram a sua face. Sloan Illingworth era o homem mais orgulhoso que ela já conhecera. Por um lado, devia ser contra seus princípios pedir qualquer favor; por outro, devia estar desesperado para voltar para Gleda.

- Porque tenho a impressão de que você nunca faz nada sem um motivo. Sei que sou culpada por Gleda ter terminado o noivado. Foi só por isso que você quis se encontrar comigo. E se eu puder fazer alguma coisa...

Sloan encarou-a por um longo tempo. Whitney não podia saber o que ele estava pensando, mas ficou feliz por não ter misturado as coisas. Teve a impressão de que foi depois de um século que ele resolveu admitir isso.

- Você tem razão - concordou com um sorriso fraco. - Na verdade, eu quis vê-la por razões que, bem, são um pouco diferente do normal.

- Gleda... - ela interferiu, já pronta para ajudá-lo.

- Não, não é Gleda! - Sloan balançou a cabeça para apresentar-lhe alguma novidade.

Whitney ficou totalmente confusa, e ele esclareceu:

- Tenho de admitir que minha ex-noiva e eu não significamos mais nada um para o outro, e...

- Mas... -ela iniciou um protesto. - Não pode ser! Vocês pertencem um ao outro. Se não acontecesse aquele lamentável incidente, vocês ainda estariam noivos.

- Pode acreditar, srta. Lawford, quando digo que Gleda Caufield e eu nunca nos casaremos.

- Mas... - ela tentou replicar, e ele não a deixou continuar.

- Não tenho mais uma noiva, porém tenho outra preocupação maior.

- Qual? - ela quis saber instantaneamente.

Sloan meneou a cabeça parecendo hesitar, e então, calmamente, falou:

- Minha mãe!

- Sua mãe? - Os olhos de Whitney se arregalaram. Ele contraiu os lábios antes de explicar:

- Minha mãe ficou tão feliz quando lhe contei sobre meu noivado que eu não tenho coragem de lhe dizer que está tudo terminado.

Whitney achou que deveria haver pouca coisa que ele não tivesse coragem de fazer e ficou atônita por um segundo.

- Quer dizer que sua mãe gostava muito de Gleda e...

- Na verdade - Sloan a interrompeu -, as duas nunca se encontraram. Mas minha mãe espera há tanto tempo por uma filha que ficaria muito desiludida comigo. - Fez uma pausa e prosseguiu: - O problema, Whitney, é que um dia antes de minha volta à Inglaterra ela... sofreu um acidente de carro...

- Oh, sinto muito - lamentou. Pelo modo hesitante com que ele falava, devia ser difícil tocar no assunto. E, lembrando do acidente de sua mãe, ela começou nervosamente: - E como ela está?

- Ela está se recuperando fisicamente - ele apressou-se a explicar. - Mas, como sei que ficará preocupada quando souber que não estou mais noivo, eu... não vou lhe contar. Pelo menos por enquanto.

- Claro, não deve mesmo - Whitney afirmou. Seu coração se entristeceu não apenas por Sloan, que enfrentava um problema por sua culpa, mas também por sua mãe.

Então lembrou que ainda estava sem saber por que Sloan a convidara para jantar. Ele não precisava de sua ajuda para voltar para Gleda e tinha razões diferentes das normais.

- Sloan - falou vagarosamente e viu que ele olhava diretamente para ela -, por que, se posso saber, você me convidou para sair esta noite?

Por um longo momento, ele continuou com o olhar fixo nela. Então replicou com firmeza.

- Preciso de uma noiva para apresentar a minha mãe quando ela sair do hospital. E como foi você, Whitney, quem me fez perder uma noiva legítima, eu proponho que você tome o lugar dela...

            
            

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