Um Acordo Para Aileen
img img Um Acordo Para Aileen img Capítulo 5 O Cartão
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Capítulo 6 Prioridade do Sr. Silverstone img
Capítulo 7 Basta Dizer Sim img
Capítulo 8 A Benção de Lady Emilly img
Capítulo 9 Silverstone Pai img
Capítulo 10 Quatro Dias! img
Capítulo 11 A Visita do Duque img
Capítulo 12 Eugene Barton img
Capítulo 13 Tarde Com a Duquesa img
Capítulo 14 Temos Um Acordo img
Capítulo 15 Benson img
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Capítulo 5 O Cartão

Na segunda-feira logo cedo, Lady Emilly estava reunida com alguns administradores das propriedades dos Ballard, e lá estava também o Sr. Benson, é claro.

Haviam problemas, pendências que deveriam ser resolvidas e aqueles homens não tinham mais como adiar esse encontro, ela sabia que deveriam estar até mesmo constrangidos por que achavam que sua presença ali era um grande incomodo, mas ela realmente compreendia, que não importava o quanto eles fossem leais e estivessem fazendo seu trabalho sempre de forma excelente, seu poder de decisão era limitado, e certos assuntos precisavam do seu aval, ainda que fosse talvez seu último ato como a Condessa Bellmant. Arrendatários contavam com as melhorias que haviam sido acertadas com Dorian antes que o Conde adoecesse, e a compra de algumas máquinas também, então ela aprovou algumas das reformas mais urgentes pensando se não seria precipitado decidir algo sobre as máquinas que ajudariam na colheita, já que ao que tudo indicava ao final daquela semana deveriam passar o título para o parente distante. Pensou que ele inclusive poderia estar a caminho naquele momento, então pediu mais alguns dias, para que ela mesma pudesse tentar convencer o tal primo que era um investimento necessário, e que Dorian já havia tratado como prioridade.

Ao final da reunião, ficou combinado com os administradores que voltariam à se reunir naquela mesma semana, para os acertos finais. Ela viu uma certa preocupação no semblante dos senhores Jones e Wilson, mas sorriu confiante, dizendo a eles que eram bem vindos a cada Bellmant enquanto estivessem em Londres, pedindo em seguida para que Sally providenciasse quartos e uma boa refeição já que os dois haviam viajado por longas horas para encontrá-la. Depois que os dois saíram, Emilly observou de canto de olho, enquanto organizava a mesa do escritório, que o Sr. Michel Benson parecia estar limpando seus óculos com o pretexto de iniciar uma outra conversa, já inclusive esperada devido aos últimos acontecimentos.

A presença de Aileen em sua recepção realmente havia tomado proporções grandiosas. O vestido branco um tanto revelador para uma jovem dama que estava no período de luto mostrou à sociedade que ela ainda esperava encontrar um pretendente. Um casamento poderia resolver seus problemas, não havia dúvidas, mas já havia tomado sua decisão, Aileen não se casaria com o Sr. Benson. Porque ele não era digno, nem de sua filha preciosa, nem do título que fora de seu amado marido.

- Eu gostaria de mais um instante de seu tempo, milady - ele disse, aproximando-se da mesa e sentando-se quando ela apontou a cadeira à sua frente.

- Claro, Sr. Benson - disse ela, depois que uma criada bateu à porta para trazer o chá - tenho certeza que o senhor entende que não posso me demorar, tenho alguns assuntos que exigem minha atenção.

- Estou certo disso, milady - ele assentiu, educadamente - vou procurar ser o mais direto possível, sem que isso ofenda a senhora ou sua adorável, mas ingênua filha.

Emilly bebeu um gole do chá, enquanto a criada adoçava o do Sr. Benson, pensando que aquilo poderia demorar mais do que imaginava.

- Ingênua, o senhor disse - Emilly falou assim que viu a porta ser fechada.

- Ah, sim - ele suspirou - a senhora deveria reconsiderar minha proposta.

- A qual o senhor se refere? - Emilly falou baixo, mas seu tom era indiscutivelmente sério - o senhor tem me feito insinuações sobre sua intenção em casar-se com Aileen, mas honestamente, não acho que ela vá concordar. E a semana ainda não terminou.

- Agora vejo que a jovem lady tem à quem puxar - ele disse, mal disfarçando a irritação.

- Como disse, Sr. Benson? - Emilly levantou-se, impondo-se sem o menor esforço.

- Lady Aileen acabou com qualquer possibilidade de qualquer cortejo depois da infeliz decisão ao aceitar o convite do Sr. Silverstone para dançar - ele disse, o canto direito da boca tremendo, o que levou a condessa a pensar se a decisão foi de fato infeliz.

- Não concordo com seu julgamento - Emilly queria arrumar uma maneira de dispensá-lo, mas também queria dizer a ele algumas verdades - ele foi um cavalheiro, é um jovem muito bem-sucedido, e acho que nenhum de nós é cego para ignorar que além de ser ridiculamente rico, o Sr. Silverstone é também muito bonito.

- A senhora não pode estar achando que o Sr. Silverstone seria um pretendente à altura de Lady Aileen! - ela percebeu o quanto Benson estava contrariado com a possibilidade - os Silverstone venderam a alma, só isso explica o tamanho da sua fortuna, que não podemos esquecer, começou no convés de um navio pirata!

- Nem todos nascem em berço de ouro, Sr. Benson. Veja o senhor, trabalhou muito e a maior prova de que tornou-se um homem importante é a quantidade de pessoas ilustres que estiveram em sua comemoração - Emilly respondeu, e observou-o empertigar-se - tudo o que sei sobre a fortuna dos Silverstone, é que foi acumulada ao longo de anos de trabalho duro.

- Ele não serve para Lady Aileen - o homem insistia, fazendo Emilly pensar que já deveriam haver comentários sobre quantas valsas Damien e Aileen haviam dançado.

- Sr. Benson, isso não muda o fato de que Aileen ainda não tem um pretendente - a condessa parecia cansada daquela conversa.

- Ela tem a mim - ele levantou-se, nos olhos um brilho assustador, de quem faria qualquer coisa para que ela permitisse o casamento entre eles - por favor, milady, reconsidere. Tudo continuará como sempre foi. Lady Aileen e eu podemos viver aqui se a senhora preferir....

- Basta, Sr. Benson! - Emilly se irritou profundamente com a ideia de que Benson pretendesse viver ali, com sua doce Aileen, aquilo era inadmissível.

Ela observou Benson ajeitar a gravata discretamente, e logo em seguida os óculos, como se o choque de suas palavras o tivessem despertado de seus devaneios. O sorriso ensaiado de sempre voltou breve a seus lábios. Ela sentiu um calafrio, aquele homem era assustador e aquela insistência no desejo de casar-se com sua filha a preocupava.

- Terminamos por aqui - a condessa ergueu o queixo, pensando em como Dorian reagiria diante de tal despropósito - se o senhor puder me dar licença, como já havia dito, tenho muito à fazer.

Assim que teve uma oportunidade subiu para os aposentos da filha. Queria ver como Aileen estava, e havia proibido que as criadas contassem a ela sobre os comentários a seu respeito, não sabia quanto tempo levaria até que aquela noite fosse esquecida, e fazê-la sofrer ainda mais, sabendo que seu plano havia causado um imenso dano à sua reputação, diante da possibilidade de uma vida modesta que teriam assim que o novo conde tomasse posse à preocupava. Bateu de leve à porta do quarto, e logo que entrou viu que Sally estava lá, um tanto ressabiada, e Aileen estava levemente corada, ajeitando uma almofada em seu colo.

- O que estavam falando? - perguntou a condessa desconfiada, olhando da filha para a criada.

- Nada de mais - Aileen tentou sorrir, enquanto colocava a almofada novamente no lugar e sentava-se encostada na mesma, em sua poltrona - a senhora queria falar comigo?

- Sim, e vou falar assim que me contar o que está escondendo.

- Escondendo? - ela olhou para Sally, com sua melhor expressão surpresa, fazendo-se de desentendida - eu?

- Aileen Ballard, nunca a vi tão apegada a uma almofada - Emilly revirou os olhos, impaciente - o que está escondendo de mim?

Emilly viu Aileen ajeitar o vestido, como se estivesse procurando a palavras certas, e aquilo deixou-a preocupada, pensando que alguém havia dito algo a ela, Sally talvez. Logo percebeu que não estava sendo justa com a criada pessoal de Aileen. A mulher a adorava, e era de total confiança da família.

- A senhora não vai gostar do que tenho para lhe contar.... - disse a menina, preocupada.

- Só saberemos quando me contar, Aileen - ela sentou-se na poltrona de frente para a filha.

- Senhora, eu estava tentando dizer a ela - Sally disse, agitada - mas ela não me ouve.... - ela parou de falar ao ver que Lady Emilly havia sinalizado para que prestasse atenção em Aileen.

A condessa observou Aileen colocar uma das mãos atrás do corpo, e pegar algo que ela segurava indecisa, como se estivesse se sentindo culpada.

- Na noite na casa do Sr. Benson, o Sr. Silverstone me deu seu cartão - ela olhou para a mãe, e depois entregou a ela o cartão azul-escuro, com o brasão criado especialmente para a família no canto direito, a forma do lobo negro, as letras douradas que caprichosamente formavam o nome Damien Silverstone, e o endereço da companhia marítima - ele me disse para procurá-lo o mais rápido possível.

- E qual seria o propósito para tamanho atrevimento? - Emilly olhava incrédula para a filha.

- Foi isso que eu tentei fazê-la entender, milady - Sally se pronunciou, parecia um tanto incomodada com a situação - que ideia absurda essa, pedir para Lady Aileen ir até a companhia marítima para encontrá-lo!

- Aileen? - Emilly olhava para a filha em busca de respostas.

- Ele não me disse do que se trata - ela respondeu, não era sua intenção incomodar a mãe, mas ele havia dito que não permitiria que o Sr. Benson a importunasse, e Aileen àquelas alturas quase podia sentir os dedos pegajosos (pelo menos era como ela imaginava) de Michel Benson alcançando-a e levando-a para um acordo de casamento onde ela sabia que seria totalmente infeliz - ele apenas me disse que pode evitar que me case com o Sr. Benson.

Emilly pensou por um momento sobre o que significava aquilo. Se ele quisesse cortejar Aileen, deveria procurá-la, e não arriscar ainda mais a reputação já bastante arranhada da jovem a encorajando a um encontro na companhia da família. Era o mínimo que ele deveria fazer, pensava a condessa enquanto Sally falava o quanto aquele convite era inapropriado.

- Silverstones tem uma péssima reputação, milady - dizia a criada, pacientemente, tentando fazer Aileen entender - eles iludem jovens inocentes como a senhorita, e destroem sua reputação! Dizem que são cruéis, que não tem coração, por isso o símbolo no brasão é um lobo!

- Sally....

- A senhorita tem que fugir dele!

- Sally, por favor - era a condessa, que estaria se divertindo com as palavras da criada se não fosse a grave situação.

- Lobos, milady! - exaltou-se Sally, fazendo mãe e filha respirarem fundo.

- Enviarei uma mensagem ao Sr. Silverstone - disse Emilly, também curiosa sobre o que Damien teria a tratar com Aileen.

- Quando? - perguntou Ailee, curiosa.

- Amanhã - respondeu a mãe, ajeitando o vestido em frente ao espelho antes de dirigir-se à porta - fique tranquila, seja lá o que for, se o Sr. Silverstone tem algo à dizer a você, ele virá até nossa casa para isso.

Assim que Emilly deixou o quarto, Sally voltou-se para os vestidos que havia colocado sobre a cama da de sua jovem senhora antes de tentar convencê-la a desistir da ideia de encontrar Damien Silverstone antes mesmo que Emilly entrasse e surpreendesse Aileen tentando esconder o cartão.

- Amanhã pode ser tarde - Aileen suspirou.

- Sua mãe sabe o que faz, milady - dizia Sally enquanto ia para o anexo onde guardaria os vestidos - foi atrevimento da parte dele imaginar que a senhorita aceitaria ir até lá.

- Mal consigo dormir, pensando que não é justo que o tal primo tome o lugar do meu pai, e ainda pior, que o Sr. Benson seja minha única opção de casamento - Aileen sentiu-se enjoada novamente.

- Lady Emilly vai resolver tudo, a senhorita não deveria se preocupar - disse a criada, mesmo sabendo que muito provavelmente Lady Emilly também preferiria deixar tudo para trás a ver a filha casada com Michel Benson.

- Não - Aileen falou com convicção - amanhã pode ser tarde. Irei hoje mesmo à Companhia Silverstone.

- Milady, por favor, isso seria um escândalo - a criada aproximou-se de Aileen - esse tal Damien, não pode ter boas intenções querendo encontrá-la em segredo. Se não fosse assim, ele teria falado com Lady Emilly.

- Ele é um homem de negócios, Sally - Aileen falou tentando fazer a outra ouvi-la - se fosse para me cortejar, ele teria pedido à minha mãe. Ele pode ter alguma outra ideia de como nos ajudar.

- Meu Deus, se Lady Emilly souber que a estou ajudando, não gosto nem de pensar.... - Sally concordou, relutante - O que a senhorita tem em mente?

Aileen pediu uma capa para ocultá-la sobre o vestido azul-escuro que usava, era bonito e discreto, próprio para uma conversa com um homem na posição do Sr. Silverstone. Conhecia Lilly, e tinha impressão que todos naquela família eram extremamente inteligentes, contava com isso desde que ouviu Damien Silverstone dizer que tinha exatamente o que ela precisava. Se ele tinha a solução que ela não conseguia enxergar, precisava saber, não no dia seguinte, o quanto antes como ele dissera. Iria ao encontro de Damien.

                         

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