na Barra da Tijuca, um bairro também chamado carinhosamente por todos os
cariocas que não moram lá como "longe pra porra". Ainda que eu fosse de
metrô, precisaria pegar um Uber assim que soltasse na estação Jardim
Oceânico.
Eu tinha sido pontual. Estava na porta do condomínio exatamente às 15h.
Eu só não esperava que lá dentro ainda precisasse esperar por um daqueles
carrinhos de aeroporto para me levar até o restaurante. Levaram 15 minutos.
QUINZE MINUTOS DENTRO DO PRÓPRIO CONDOMÍNIO. Devia ser
muito bom ser rico.
Parei na porta do restaurante e me conferi nos vidros uma última vez antes
de entrar. Eu usava uma saia midi rosa plissada e uma blusa branca básica.
Nos pés, meu bom e velho tênis branco. Respirei fundo e entrei no
restaurante.
― Boa tarde, a senhora tem horário reservado? ― a recepcionista me
perguntou, simpática.
― Ahn... Eu acredito que tenha uma reserva no nome de Arthur Birkman?
― ela olhou para o tablet em sua mão.
― O senhor Birkman já está te esperando. Pode vir comigo. ― a mulher
começou a andar e eu fui atrás dela. De longe, reconheci Arthur sentado em
uma mesa no canto, mexendo no celular. Paramos ao lado da mesa e a mulher
anunciou minha chegada.
― Sua convidada chegou, senhor Birkman.
― Obrigado, Thaís. E pode me chamar de Arthur, você sabe. ― ele
respondeu a ela. Levantando-se, veio em minha direção e me cumprimentou
com um abraço e dois beijos no rosto. Eu acho que morri e fui para o céu.
Arthur usava um short de ginástica preto e uma camisa cinza que deixava
seus braços de fora. Obrigada por isso, Deus. Aqueles braços eram
espetaculares. Ele certamente iria treinar depois do nosso encontro. Quer
dizer, reunião de negócios. Tanto faz.
― Que bom conhecer você pessoalmente, doidinha. ― ele disse puxando a
cadeira para que eu sentasse.
― Meu nome é Maya.
― Eu sei. Suas mensagens me divertiram muito, sabia? ― ele tomou
um gole do seu suco e chamou o garçom para anotar nossos pedidos. ―
Então, doidinha, por que estamos aqui?
― Tudo começou no 4º ano quando eu consegui o papel da
Chapeuzinho Vermelho. ― Arthur me encarava enquanto eu contava a ele
tudo que tinha acontecido da minha infância até o famigerado dia do
reencontro. Em alguns momentos da história ele não conseguia segurar a
risada. Quando contei sobre o incidente do story, que resultou no meu pedido
desesperado por ajuda, ele jogou a cabeça para trás de tanto rir, parecendo
uma criança. Ele claramente não entendia o drama dessa situação toda. ― E
foi assim que eu vim parar aqui para te pedir para ser meu namorado fake. Só
um encontro, Arthur. E depois eu invento que eu cansei de você e te dei um
pé na bunda.
― Princesa, você acha mesmo que alguém em sã consciência
terminaria comigo? ― revirei os olhos.
― Arthur, até outro dia eu nem sabia quem era você.
― Beleza, mas agora que você me conhece, pessoalmente inclusive,
vai negar que me acha gostoso?
― Você é... bonitinho. ― eu disse de forma irônica.
― Bonitinho? ― ele sorriu. ― Pelo que eu me lembro, você disse que
nem um guindaste te tirava de cima de mim.
― Eu estava bêbada.
― Para uma atriz, você é uma péssima mentirosa.
― Arthur, vamos voltar ao ponto principal dessa conversa? O que você me
diz? Você vai aceitar ser meu namorado de mentira por uma noite?
― É o seguinte, Maya Moura. Você é uma doidinha de sorte. Acontece
que recentemente eu me envolvi em algumas pequenas polêmicas.
― Eu não acho que 21,5 cm seja algo considerado pequeno.
― Então você decorou até os milímetros? Interessante.
Eu não acredito que eu tinha acabado de dizer aquilo em voz alta. O que há
de errado comigo?
― Volta pro foco, Arthur.
― Como eu estava dizendo, me envolvi em algumas polêmicas. Grandes,
por sinal. ― ele abriu um sorriso convencido. ― E meu agente, Henrique,
não ficou nada satisfeito com isso. Acontece, princesa, que eu estou sendo
cotado para apresentar um programa sobre MMA em um grande canal
esportivo da TV à cabo. Trabalhar com jornalismo esportivo sempre foi meu
sonho e essa é minha grande chance. Enfim, os produtores do programa e o
Henrique querem que eu pare de aparecer em fofocas envolvendo,
principalmente, mulheres.
― O que isso significa? ― perguntei preocupada. Será que por causa disso
ele não aceitaria minha proposta?
― Significa que o Henrique acredita que estar em um relacionamento sério
vai melhorar minha reputação de mulherengo e aumentar minhas chances de
assinar esse contrato. Indo direto ao ponto, eu topo ser seu namorado fake, se
você topar ser a minha.
― Mas é claro que sim! ― a verdade é que eu faria qualquer coisa que ele
me pedisse só para ter o prazer de ver a cara da Lívia quando ele aparecesse
comigo na casa dela. ― E por quanto tempo eu teria que interpretar o papel
de namorada apaixonada?
― Uns três ou quatro meses.
― Acho que consigo fingir que você me faz feliz durante alguns meses.
― Gatinha, nunca nenhuma mulher precisou fingir comigo. Se é que você
me entende. ― eu me engasguei levemente com minha bebida. ― O
Henrique faz questão que a gente assine um contrato dessa parada de namoro
fake. Algum problema pra você?
― Não. Sem problemas. Quando podemos assinar?
― Amanhã. ― entregando o próprio celular para mim, ele completou. ―
Salva seu número na minha agenda. Mais tarde eu te mando os detalhes da
reunião de amanhã. Preciso confirmar com o Henrique.
Depois de salvar meu contato no seu aparelho, desbloqueei meu
celular e dei para que ele fizesse o mesmo.
― Eu preciso ir agora, doidinha. ― ele anunciou olhando para o relógio.
― Não posso chegar atrasado no treino. ― antes de ir embora, Arthur se
abaixou ao meu lado e sussurrou no meu ouvido. ― Sabe, já que vamos ser
namorados falsos, podíamos aproveitar alguns benefícios de um namoro real.
― deu um beijo no canto da minha boca e foi embora, me deixando um
pouco tonta e sem ar. Arthur só podia estar brincando. Não é?
À noite, quando eu estava arrumando minha janta, meu celular apitou
avisando que uma mensagem tinha chegado.
Arthur Gostoso Birkman: Fala, gatinha! Tá aí a localização do
escritório do Henrique. Marquei às 18h, td bem pra vc?
Maya: Arthur Gostoso Birkman? Sério mesmo?
Arthur Gostoso Birkman: Fiquei entre esse ou Arthurzão 21,5cm.
Qual vc prefere?
Maya: Esse horário tá ótimo. Nos vemos amanhã.
Arthur Gostoso Birkman: Ah, e só pra vc saber, seu contato tá salvo
como Doidinha.
Um sorriso involuntário apareceu nos meus lábios. Não respondi a
ele, mas também não mudei o nome dele na minha agenda de contatos.
ARTHUR
O escritório do Henrique ocupava um andar completo de um prédio
localizado na zona sul da cidade. A agência tinha surgido na sala do seu
pequeno apartamento na Barra e hoje em dia era uma das mais reconhecidas
do Brasil. Depois da morte prematura e inesperada de sua esposa, há 3 anos,
Henrique dedicava todo seu tempo às duas coisas que ele mais amava:
Thomas, seu filho, e essa empresa.
Avistei Maya quase entrando no prédio enquanto estacionava minha moto
e buzinei para chamar atenção dela.
― Não sabia que você era fã de motos. ― ela disse, se aproximando de
mim.
― Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, gatinha. Ainda. ― tirei
meu capacete e ajeitei o cabelo. ― Pronta pra se tornar oficialmente minha
namorada?
― Namorada fake. ― ela corrigiu.
― Eu falei sério, você sabe.
― Sobre o que exatamente? ― Maya questionou.
― Sobre aproveitar alguns benefícios de um namoro real. ― respondi.
Maya era bonita. Não seria sacrifício nenhum ficar com ela.
― Ai, Arthur, para de palhaçada. ― ela respondeu sem graça.
Subimos de elevador até o último andar do prédio, onde ficava a agência.
Assim que a porta do elevador se abriu, segurei a mão de Maya. Ela me olhou
esquisito.
― Se vamos namorar, gatinha, é melhor a gente já ir treinando. ―
atravessamos o andar todo até chegar na sala de Henrique. Notei que vários
funcionários focaram sua atenção em nossas mãos grudadas enquanto a gente
passava.
― Oi, Simone. ― cumprimentei a secretária de Henrique. Uma jovem
senhora na faixa dos 50 anos. Ela trabalhava ali desde sempre e o conhecia
melhor do que ninguém. ― Você pode avisar àquele mala que eu cheguei?
― Com prazer, Arthurzinho. Você andou sumido. Eu estava com
saudades. Quem é essa bela jovem com você? ― ela perguntou enquanto
ligava para a sala dele.
― Eu sou a Maya. ― minha mais nova namorada disse corando por causa
do elogio. ― Prazer.
― Pode falar a verdade pra ela, amorzinho. ― eu disse fazendo Maya
apertar minha mão com força e corar ainda mais. Descobri, naquele
momento, que fazer ela corar poderia facilmente se tornar uma das minhas
atividades preferidas. ― Ela é minha namorada linda, Simone. Sou ou não
sou um cara sortudo?
― Ah, que ótima notícia. Vocês formam um lindo casal. Como vocês
jovens dizem mesmo? Ah, eu shippo vocês.
― É muito gentil da sua parte, Simone. ― Maya agradeceu.
― Oi, Henrique. ― Simone disse ao telefone. ― O Arthur e a namorada
estão aqui. Posso mandá-los entrar? ― ela riu de alguma coisa que meu
agente tinha dito do outro lado da linha e logo desligou. ― Ele está
esperando vocês lá dentro, querido.
Entrei na sala de Henrique sem bater.
― Fala, parceiro. Essa é a Maya, minha namorada.
― Prazer em finalmente conhecê-la, Maya. ― ele disse levantando-se para
apertar a mão dela. ― Tem certeza que vale a pena namorar esse otário
mesmo de brincadeira?
― Estou me questionando isso, Henrique. ― ela respondeu brincando.
O celular de Henrique tocou.
― Vou ter que atender essa ligação. Vocês podem me esperar aqui alguns
minutos? ― assenti e ele saiu da sala.
― Uau, esse Henrique é um gato. Loiro, olhos azuis, alto, gostoso. Ele
também não está precisando de uma namorada fake não?
― Por que você iria querer ele quando tem a mim, gatinha? ― indaguei,
abrindo um sorriso de lado.
Alguns minutos depois Henrique voltou.
― Desculpa, pessoal. Era da escola do Thomas.
― O pirralho tá bem? ― perguntei preocupado. Eu adoro aquela criança.
Ele é como um sobrinho para mim já que, infelizmente, meus sobrinhos
moram longe demais e a gente se vê menos vezes do que eu gostaria.
― Uma pequena confusão com um colega de classe. Conversarei com ele
quando chegar em casa.
― Se ele precisar aprender a dar uns socos bem dados, pode dizer que o
Tio Arthur vai ficar feliz em ensinar.
― É por isso que eu nunca deixo você tomar conta do meu filho. ―
Henrique falou fazendo Maya dar uma risada. ― Então, vamos ao que
interessa. ― ele disse tirando uma pasta de dentro da gaveta e colocando uma
cópia do contrato na frente de cada um de nós. ― O documento diz,
basicamente, que vocês concordam em manter o namoro de fachada pelo
prazo mínimo de quatro meses, podendo ser estendido se for do interesse de
ambos. Vocês terão que comparecer a alguns eventos sociais juntos, como
lançamentos das marcas que são patrocinadores do Arthur e eventos
beneficentes. Também acredito que seja interessante manter uma rotina de
encontros públicos para gerar conteúdo para a imprensa e esses Instagrans de
fofoca que estão em alta. Maya, isso é um problema para você?
― Na verdade, eu acredito que isso pode até ajudar a alavancar minha
carreira de atriz. Aparecer mais na imprensa, sabe. Então, não vejo
problemas.
― Ótimo. Foi o que eu pensei também. A propósito, vou disponibilizar
uma pessoa da minha equipe para gerenciar sua agenda nos próximos meses.
Acredito que, se tudo sair como planejado, você irá precisar disso. Tudo
bem?
― Ai meu Deus! É sério isso? ― Henrique assentiu. ― Isso é
incrível! Eu estou me sentindo super importante nesse momento. Obrigada,
Henrique.
― E a cláusula do sexo com o namorado fake pelo menos uma vez por
semana, você colocou? ― Maya arregalou os olhos quando ouviu minha
pergunta.
― Não liga para esse ótario, Maya. ― Henrique respondeu. ― Ele quer só
brincar com a sua cara.
― Estraga prazer. ― reclamei sorrindo.
― Por fim, a multa. A quebra desse contrato, e da confidencialidade
exigida por ele, implica numa multa de cem mil reais. Leiam o contrato e
assinem na linha final se estiverem de acordo. Caso queiram mudar alguma
coisa, falem agora.
Henrique deu alguns minutos para que lêssemos os papéis à nossa frente.
Depois de ler e tirar algumas dúvidas, Maya assinou a parte dela e eu a
minha. A partir de agora eu era, oficialmente, o namorado de Maya.
4.