tênis confortável e uma regata pois as noites nessa época do ano, em Nova
York estão calorosas.
Desço as escadas e vou em direção ao elevador, moro em uma das
coberturas de um dos vários edifícios da minha família, somos donos de uma
das maiores redes de hotéis, pousadas e resorts da América do Norte.
Saio do hall de entrada e uma brisa fresca invade meus sentidos e
começo minha corrida, é sempre assim quando tenho pesadelos que no caso
são mais como lembranças, já que realmente aconteceu.
Conheci Alícia na faculdade, eu tinha 22 anos e estava no meu
terceiro ano cursando administração e hotelaria até que ela chegou, ela era
apenas dois anos mais nova que eu, e frequentamos os mesmos lugares e
tínhamos o mesmo grupo de amigos, ela cursava moda e estava no seu
primeiro ano, até que aconteceu o primeiro beijo, ela era doce e carinhosa, até
então estávamos focados nos estudos, mas sempre ficávamos juntos, no ano
seguinte eu finalizei minha faculdade e começamos o namoro pra valer, dois
anos depois Alícia foi morar comigo, em um apartamento que eu tinha perto
da faculdade, eu mal ia para Seattle visitar meus pais, eles que sempre
vinham, sentia muita saudade de casa e dos meus amigos que tinha lá,
perdemos totalmente o contato, depois de tudo que aconteceu, eu nunca mais
voltei em Seattle, achei melhor seguir minha vida, assim como soube por
minha mãe que ela também estava seguindo a dela, o único com quem ainda
mantinha algum contato era David meu amigo de infância, David cursou
Administração, que assim como eu ficarei na presidência no lugar de meu
pai, ele ficará na vice presidência no lugar de seu pai na nossa empresa em
Seattle.
Uma hora e meia depois chego novamente em meu prédio e adentro
no elevador que me levará direto para minha cobertura, digito o código que
somente eu possuo.
Mudei para essa cobertura dois meses após o acidente, já não
aguentava mais olhar para todos os lados do apartamento que dívida com
Alícia e ver ela em todos os cantos e ver suas coisas, roupas, acessórios, seus
livros e objetos de trabalho, então assim que decidi me mudar, entrei em
contato com seus pais e perguntei se eu poderia doar, mas eles foram claros
em mais uma vez me acusar de ser o assassino de sua filha e que eu não tinha
o direito de dar nada que era da filha deles.
Então arrumei tudo que tinha e mandei meu segurança entregar no endereço
deles.
Logo as portas do elevador se abrem na minha sala.
Toda decorada por minha queridíssima mãe, uma arquiteta sensacional, que
hoje atua mais em nossas redes de hotéis ou pousadas em Seattle, mesmo não
querendo se estender muito, para não ter que fazer viagens cansativas e sem
meu pai.
É lindo e raro hoje em dia ver o amor que eles ainda transmitem um para o
outro a força, garra e cumplicidade que ambos sempre tiveram um com o
outro.
Mesmo que eu e Alícia, estivéssemos brigando muito, eu estava no
início da minha recém chegada a presidência do grupo Belleville Resorts &
Hotéis, precisava mostrar ao meu pai que eu era capaz de dirigir nossa
empresa, já fazia algum tempo que tanto eu quanto ela, estávamos bem
distantes um do outro e isso estava me deixando louco, porque eu gostava
dela.
Nunca fomos de fazer planos para o futuro, mas já estávamos juntos há
oito anos.
Eu estava viajando muito, pois estávamos com planos para expandir
os Resorts & Hotéis para a Europa, e ela nunca me acompanhava, dizia ser
chato e entediante todos almoços e jantares de negócios, sempre aceitei pois
jamais a obrigaria a fazer algo que não queria. Mas já fazia algum tempo que
eu percebia sua recusa com tudo que eu estava conquistando e aquilo me
deixava mal, pois sempre deixei claro meus objetivos e sonhos para com a
empresa da minha família, só queria que ela estivesse ao meu lado.
Mas então dois anos depois o acidente aconteceu e...
Não, definitivamente Não! - Eu só posso estar ficando maluco,
preciso de uma foda, pra aliviar tanto estresse e parar de pensar na pohaaa do
acidente, por que se não estou, com toda certeza irei ficar se continuar
pensando em tudo que aconteceu e tudo que perdi.
Olho pra bancada na cozinha e meu celular toca sem parar, ao olhar
quem é, atendendo rapidamente.
- Oi, Isadora! - Quanto tempo!
- Oi Joseph, como vai?
- Bem, Isadora, porque me ligou?
- Saudades querido, porque não nos vemos hoje? - Estarei na cidade
por dois dias antes de voltar a Seattle. - E já faz um tempo que não nos
vemos!
- Ok Isa, você está no hotel de sempre?
- Sim querido.
- Passo pra te pegar as 20 hrs, até mais tarde!
- Até Josh.
Odeio esse apelido que aquele idiota do David inventou quando
ainda éramos crianças e levou pra vida.
Isadora é uma amiga nossa da época da escola, que sempre que está
em NY saímos para jantar, ela assim como eu e David, também é, e ainda
reside em Seattle, de uma família rica, e conhecidos de meus pais, mas não
tão próximos a ponto de serem amigos, os pais dela sempre foram soberbos
como se tivessem o rei na barriga, mas Isa sempre foi diferente deles então
acabamos sempre andando com a mesma turma, ela sempre deu a entender
que gostava de um dos nossos amigos na época da faculdade João Pedro, mas
de uns anos pra cá eles não se falam mais e JP tem pavor do nome Isadora.
Fica todo nervosinho quando tocamos no nome dela.
Eu e David conhecemos JP logo no nosso primeiro ano de faculdade
e a amizade foi instantânea, hoje os dois são meus dois melhores amigos, na
época João Pedro, cursava medicina e hoje é um grande e respeitado
Cirurgião Pediátrico.
Já Isa ela nunca foi de ficar atrás de nós ou de qualquer outro
homem, sempre que vinha a NY saímos pra jantar ou almoçar, mas sempre
como amigos, mas de um tempo pra cá ela anda me ligando mais do que
deveria, insistindo pra sairmos ou se insinuando para termos algo, nunca
havia tido nada com ela até agora, pois jamais colocaria minha amizade com
JP em risco, mas atualmente ele está namorando uma garota, que cada dia
fica ainda mais sério, e não suporta ouvir o nome de Isadora, então hoje é um
caso isolado e não quer dizer que irá se repetir.
Afinal preciso de uma distração e Isadora até que é bonita do tipo
gostosa.
Uma foda apenas, ando sedentário para sair a caça como diz Jimmy
irmão mais novo de David e nosso mascote, já que ele é o mais novo da
turma e além de advogado da empresa, está cada dia mais perto, caso precise
assumir ao meu lado e de David.
Subo para meu quarto, indo direto para meu banheiro, preciso de um
banho, tiro minha bermuda de treino e entro no box, deixando a água morna
cair sobre minhas costas e relaxando meus músculos.
Saio e vou direto ao closet me trocar pois tenho uma reunião com um de
nossos fornecedores logo no primeiro horário.
Coloco meu terno feito por uma grife italiana chamada Zegna, meus sapatos
italianos.
- Quem olha assim acha que sou um italiano nato, com tantas marcas
italianas em mim. Mas não, apenas sou um apreciador do trabalho deles.
Pego meu relógio preferido um Rolex, que foi dado ao meu pai,
quando ele conquistou seu primeiro negócio a anos atrás, e passado para
mim, quando acabei minha faculdade e assumi seu posto na presidência dos
Resort & Cia, aqui em Nova York a sete anos atrás.
Por dois anos fui o assistente pessoal do Sr. Novack já que ele era o
presidente na época quando me formei.
Aos 26 anos me tornei Assistente Administrativo e Executivo
Sênior. Mas aos meus 30 anos o Sr. Novack teve um infarto e infelizmente
faleceu, sou muito grato a ele pois tudo que aprendi devo a ele, que sempre
me ensinou junto ao meu pai que mesmo longe sempre me incentivou, meu
pai assumiu a presidência também aqui da Belleville Resorts & Hotéis em
NY por um ano, mas estava sendo muito corrido para ele já que ele também
era presidente da sede que fica em Seattle, ele até tentou me convencer a
voltar, mas eu não estava preparado então aos meus 31 anos me tornei o CEO
da Belleville Resorts & Hotéis de Nova York.
Olhando em meu relógio e relembrando dos momentos, vejo que já
estou em cima da hora então me apresso.
Passo meu perfume, passo as mãos em meus cabelos e estou pronto para mais
um dia de trabalho.
Pego minha pasta e saindo da cobertura indo para a garagem, avisto
um de meus carros e logo estou entrando em meu Maserati Ghibli.
Olho pelo retrovisor e vejo Kadu meu segurança, que está comigo
há 7 anos, e até que somos amigos, pois ele já me tirou de muita merda feita
por mim, depois do acidente.
Tive uma fase ruim, primeiro veio a negação, depois o luto, foram
dias difíceis, a fase da bebedeira onde eu bebia vinte horas por dia e dormia
as quatro restantes, várias vezes Kadu precisou me tirar dos bares ou até de
brigas que eu me metia, já não estava mais ligando pra empresa, mal
comparecia às reuniões, foi uma fase péssima, até que eu bati em um cara em
um bar que estava e saiu uma nota no jornal:
-" Herdeiro da família Foster, se mete em briga em bar movimentado de
Nova York".
No outro dia meu pai bateu em minha porta, sentou comigo como se
eu fosse uma criança birrenta, nunca senti tanta vergonha de mim mesmo por
fazer meu pai sair de Seattle e vir me dar uma bronca, um marmanjo de 33
anos.
Naquele dia prometi a mim mesmo e ao meu pai que eu iria mudar ou pelo
menos tentar, eu tinha que fazer isso por eles, por meus pais, sou filho único
e o que seria deles se eu continuasse na vida que estava levando.
E eu mudei, não foi fácil, Kadu pegou muito no meu pé, me deu
conselhos por ser mais velho que eu cinco anos e ter servido ao exército e ter
bem mais experiência na vida do que eu, ele me ajudou muito.
Apesar de ainda estar passando pela fase da culpa, apesar de já ter
sido bem pior do que hoje em dia, os pais de Alícia nunca me perdoaram,
pelas perdas, e eu também não.
Ao chegar à garagem da sede da Belleville Resorts & Hotéis, vejo
que passei o caminho pensando na minha vida, acho que preciso de um agito
nessa monotonia que se encontra, quem sabe essa noite.
Saio do meu carro, comprimento Kadu e peço para que me
acompanhe até a minha sala pois tenho algumas coisas a pedir pra ele.
Pronto para finalmente começar o meu trabalho nessa manhã sigo
em direção ao elevador.