E, ainda assim... não tinha medo dele. No início, ficara pre-
ocupada em entrar no carro dele, mas, depois, quando ele havia
começado a falar da família, aquela preocupação desaparecera.
Chloe tinha tentado forçá-la a reaparecer na cozinha, quando
insistira em ver o machucado em seu rosto, mas a verdade era
que ela não fugira por medo de que ele a machucasse. Não, ela
queria fugir por causa de um tipo completamente diferente de
medo. Medo de sua reação a ele. Do quão forte (e imediata)
tinha sido.
E lá estava ela, nua e molhada na água que esfriava rápido,
ainda sentindo aquela reação. Mais do que nunca, na verdade.
Irritada consigo mesma por conta dessa estranha fraqueza e
com Chase por ser tão obstinado, ela disse, com uma boa me-
dida de sarcasmo:
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- Você não entende muito bem quando recebe um toque,
não é?
Ele sorriu, um bonito sorriso que provocou uma reação es-
tranha na barriga dela.
- Sou melhor com pedidos diretos.
- Saia.
Ele sorriu de novo e, depois, deu uma boa gargalhada.
- Quer uma toalha primeiro?
- Então, com melhor você quis dizer terrível?
A resposta dele foi entrar mais no banheiro em vez de sair.
Puxou uma toalha grossa e peluda do suporte aquecido.
- Aqui está.
Ele segurou a toalha longe o suficiente para que ela tivesse
de se levantar, sair da banheira e andar até ele para alcançá-la.
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Enquanto protelava, ainda tentando decidir por que estava
entrando naquele jogo maluco que os dois empurravam um
para o outro, ela perguntou:
- O que aconteceu com a outra garota nua? Ainda está es-
perando o ménage?
- Eu a mandei para casa.
Chloe decidiu que não havia mais muitos motivos para se-
gurar sua língua afiada. Fez uma careta e soltou o comentário:
- Coitada. Ela ficou decepcionada por você ter chegado lá
tão rápido?
Chase deu uma risada abafada.
- Temo que não fosse o dia de sorte dela. Ela achou as
roupas e saiu logo depois de você.
Hum. Bem, aquela era uma surpresa. Ela não conhecia mui-
tos homens que pudessem mandar uma mulher bonita e nua
para casa sem aproveitar o que ela oferecia.
Por que ele não a deixava em paz também?
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E, mais importante, por que ela não queria ser deixada em
paz?
Os dois sabiam que, se ela começasse a gritar, se ela real-
mente quisesse que ele saísse, ele sairia. Em vez disso, ficavam
naquele joguinho.
Um joguinho com o qual ela estava se divertindo demais.
Tanto, na verdade, que, se continuasse por muito mais
tempo, com certeza faria algo muito idiota.
Muito, muito idiota.
Não.
Já bastava de ser idiota. Afinal, tinha agido assim durante
todo o casamento. E veja o que conseguira com isso. Um grande
e horrível ferimento no rosto, o carro em uma vala... Enquanto
ela se escondia na casa de um estranho e tentava ignorar o fato
de que ainda precisava descobrir como lidar com tudo aquilo.
O pensamento frustrante a fez esquecer o jogo com Chase
por tempo suficiente para que se levantasse para pegar a toalha
antes de perceber o que fizera.
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Pasma, ficou parada na frente dele, assustadoramente ciente
de cada gota d'água que escorregava pela sua pele e voltava
para a banheira.
As pupilas de Chase dilataram-se até seus olhos ficarem
quase pretos quando ele olhou para ela.
- Meu Deus, você é linda, Chloe.
Ela não sabia se ele tinha reparado que dissera aquilo em
voz alta, mas o tom de veneração a chocou. Ninguém nunca
tinha olhado para ela assim, como se nunca tivesse visto nada
nem ninguém tão bonito.
Não. Não bonito.
Lindo.
Talvez fosse o poder daquela palavra, quando, até então, ela
tinha ouvido apenas gostosa e sexy, que a segurava ali em pé,
ainda nua e pingando.
Esperando.
Ansiando.
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Querendo.
Tinha certeza do que aconteceria depois, podia quase coreo-
grafar o que qualquer homem da Terra faria naquela situação.
Chase iria seduzi-la para fazer sexo com ele e, de manhã, ela o
odiaria por tirar vantagem de sua fraqueza sensual, mesmo ela
não estando envolvida de verdade com ele. Mas, acima de tudo,
ela acabaria odiando a si mesma.
No entanto, conforme os segundos eram marcados pelos
batimentos altíssimos do coração dela, embora fosse claro que
Chase não queria nada além de arrancar as calças e entrar na
banheira, ele não fez isso. Apesar de os dois saberem que ele
era grande o suficiente e forte o suficiente para entrar nela
antes de ela piscar os olhos, ele não se aproximou nem um
centímetro.
Chloe não acreditava. Ela não tinha dado a ele permissão
para tocá-la e, por mais incrível que fosse, ele não estava
forçando nada, não estava aproveitando dela só por ser maior e
mais forte.
Uma dor aguda atingiu-a por trás dos ossos do peito, bem no
meio daquele coração que tinha sido tão magoado.
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Seria possível que, pela primeira vez na vida, tivesse mesmo
encontrado um homem que não tocaria nela, nem mesmo
tentaria nada... sem que ela deixasse? Era mesmo possível que,
apesar do desejo intenso estampado nas pupilas dilatadas dele
e na maneira como os músculos do seu maxilar lutavam contra
o autocontrole que ele estava usando para se manter imóvel,
Chase nunca colocasse as mãos (ou os lábios) nela a não ser que
ela pedisse com clareza? Seria possível que ele nunca juntasse
seus lábios aos dela a não ser que ela implorasse por um beijo,
até que estivesse pronta e desesperada pelo toque dele, para
fazer amor com ele?
As visões daquele desespero não deveriam ser tão claras
para ela, não deveriam já estar passando pela cabeça dela como
um filme sensual. Porém, eram tão ridiculamente claras - e
poderosas - que Chloe precisou de todo o seu autocontrole
para afastá-las antes de expelir as palavras de seus pulmões
ofegantes.
- Eu aceito a toalha agora, obrigada.
Nunca houve uma afirmação menos sexy dita entre um
homem e uma mulher.
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Então, por que ela de repente se sentia sem fôlego?
Minha nossa.
Chase já tinha feito uma boa cota de loucuras, participado de
várias sessões de sexo acrobático.
Porém, nenhuma daquelas noites chegava aos pés de ver
Chloe ter um orgasmo na banheira.
E não havia um único corpo de modelo que tivesse um grão
da sensualidade impregnada em cada célula do lindo corpo nu
de Chloe.
Ao olhar para baixo, ele percebeu que a toalha estava tre-
mendo em suas mãos.
Chase esforçou-se para ficar calmo. Não devia ter ficado no
banheiro, sabia disso. Porém, não conseguira evitar. E também
não achava que ela quisesse de verdade que ele saísse.
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Ainda assim, uma vozinha de racionalidade lhe dizia que de-
via dar a toalha a ela antes que ela se secasse sozinha. Entregou
a toalha e ela agarrou o tecido antes de erguer o olhar para en-
contrar o dele.
- Sr. Sexy?
Ele viu a surpresa aparecer no rosto dela pela forma como o
tinha chamado.
Sr. Sexy.
- Você está falando comigo, certo? - ele perguntou, feliz
em vê-la abrir outro daqueles belos sorrisos que quase o faziam
desmaiar.
- É um bom apelido, não acha? - Antes que ele pudesse re-
sponder, ela avisou: - Você precisa soltar a toalha.
Ele sabia disso. Mas, por Deus, não tinha certeza de que con-
seguiria se lembrar do próprio nome naquele momento. Como
poderia ativar o cérebro o suficiente para tirar os dedos da
toalha?
- Sinto muito.
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E ele realmente sentia muito, em especial porque ela se en-
rolou com rapidez na grande toalha.
- Essa banheira é ótima.
Ele com certeza parecia um idiota parado ali, sem conseguir
responder. Por acidente, tinha visto quando ela deu a si mesma
o que pareceu ser um orgasmo maravilhoso e tudo que ela tinha
a dizer era que a banheira era ótima?
- Não sei se a banheira teve alguma coisa a ver com isso -
ele disse, por fim.
Ele adorava o som da risada dela, adorava o fato de que
soava mais cristalina a cada vez que a ouvia.
Ela encolheu os ombros ao passar por ele, prendendo a
toalha em um ponto entre seus seios incríveis.
- Um homem nunca deve subestimar o poder de um jato
bem colocado - foi a resposta de Chloe quando caminhou até o
espelho e começou a pentear os cabelos com os dedos.
Como ele continuou parado ali a observando pelas costas,
ela ergueu uma sobrancelha, olhando para o espelho.
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- Tenho certeza de que você está cansado.
De jeito nenhum. Ele não estava cansado. Estava excitado.
Como nunca estivera antes.
- Não preciso dormir muitas horas.
Ela balançou a cabeça e virou-se para ele.
- Bem, eu preciso. - Com isso, ela saiu do banheiro e cam-
inhou até a porta que dava para o corredor. - Boa noite.
Ele seguiu, obediente, para a porta, muito depois de já ter
passado da hora de deixá-la sozinha.
- Boa noite.
Apesar de sua ereção ainda estar pulsando dentro das calças,
quando ele passou por ela, o beijo que queria lhe dar não a faria
implorar por outro orgasmo.
Não, o que ele queria mesmo era dar um beijo na testa dela.
Queria lhe dar um beijo gentil que a fizesse saber que estava se-
gura com ele.
Que ela sempre estaria segura com ele.
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Porém, não tinha ganho permissão para aquele beijo e sabia,
por instinto, que era melhor não fazer nada que ela não tivesse
oferecido.
Estava na metade do corredor quando a ouviu dizer:
- Sr. Sexy?
Ele novamente abriu um sorriso ao escutar o apelido que ela
lhe dera - tinha de ser um bom sinal, certo? - e virou-se.
- Sim?
Apesar do apelido, ela parecia séria de novo. Muito, muito
séria.
- Obrigada. Por tudo que você fez esta noite.
Ele sentiu um aperto no peito com aquelas palavras sinceras.
E com o "obrigada por tudo que você não fez" que ela não es-
tava dizendo, palavras não ditas que soavam com tanta clareza
quanto as palavras expressas em voz alta.
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- Você não precisa sair da casa de hóspedes e ir para a casa
do seu irmão. Acho que não tem problema você ficar no final do
corredor, em vez de do outro lado do vinhedo.
Ele esperava que ela quisesse dizer que se sentia mais segura
com ele na casa, em vez de ficar sozinha, e respondeu:
- Durma bem.
- Acho que vou dormir bem mesmo.
E, assim, a porta foi fechada e ele ficou olhando durante
bastante tempo para o lugar onde ela estivera.
Chase Sullivan não tinha percebido que, naquela noite, sua
vida mudaria para sempre.
Mas tinha mudado.