Entro na cidade e imediatamente noto uma movimentação de homens de preto, o sumiço de Klaus já está na boca deles e estão procurando por ele. Estaciono em frente a nossa residência, abro a porta e olho em volta como quem não quer nada. Assim que entro sou tomada por perguntas da minha amiga. - Eles estão em todos os cantos da cidade - Albuim entra na sala falando em um sussurro. - Percebi. - São muitos homens, não lembrava que a In Ergänzung era imensa. Willy ainda continua infiltrado na casa, ele nos informou que não era para ter sequestrado o homem, a mensagem avisava que era alarme falso, mas por algum motivo ela não foi enviada e tudo ocorreu da forma errada. - Albuim anda de um lado ao outro. - Heinz estava viajando com a esposa, chegou nesta madrugada e disse que pretende matar todos desta cidade até seu irmão aparecer. Tem noção da merda que fizemos? Esse homem não vai parar até achar quem sequestrou o seu irmão. Meu primo está quase chorando e eu me sinto culpada, pois coloquei todos nós em risco, até mesmo pessoas inocentes que não tinham nada a ver com essa história. - Vou dar um jeito, se for necessário me entrego, mas não colocarei sua família em perigo, primo. Sinto muito por isso. - Seguro suas mãos geladas. - Não vou deixá-la, Edvige, você faz parte da nossa família, vamos dar um jeito nisso tudo. - Me puxa para um abraço apertado e suas mãos afagam meu cabelo. - Klaus falou coisas horríveis do Luck e não me aguentei, o soquei - digo em meio ao abraço. - O que ele disse? - Separa o abraço e segura minhas mãos. - Ele viu Luck ser morto, disse que a morte foi rápida e o chamou de bastardo. Não aguentei e fui tomada por uma onda de fúria. - Isso quer dizer que eles não o torturaram como sempre fazem, o que chega ser uma incógnita. Por que o mataram rapidamente? Balanço a cabeça em negativa, sem saber o que responder. O sequestro está indo de mal a pior, odeio não ter o controle da situação e neste momento está tudo perdido, como se estivesse andando com uma venda em meus olhos. - Vai voltar para a casa? - Albuim pergunta. - Se não nevar, vou à noite, não posso ficar dando pistas. - Tem razão. Me afasto indo em direção ao meu quarto, preciso de um banho para tirar esse cheiro imundo de mim. Abro meu guarda-roupa e pego uma roupa leve, pois pretendo tomar um banho e dormir em seguida, talvez um bom sono me faça pensar com clareza. Com a roupa limpa em mãos, entro no banheiro e tiro minhas vestimentas sujas. Sigo para o chuveiro, ligo e deixo a água cair em meu corpo. Me sinto suja e impura pelo que tinha acontecido. Como quase caí nos encantos dele? Esfrego cada parte da minha pele, tentando tirar todos os resquícios dele. Meu pescoço onde seus lábios estavam, minha boca onde eles roçaram... Preciso tirar Klaus Zornickel da minha mente, ele não é um homem do bem. Treinei por anos para a chegada deste momento, agora preciso pensar com clareza. Esfrego meu cabelo, massageando minhas têmporas. Quando finalizo, desligo, saio, pego a toalha, seco meu corpo e em seguida visto minhas roupas. Estou tão cansada, que nem ao menos seco meu cabelo. Com o aquecedor do meu quarto ligado, deitei na cama. Durmo de qualquer maneira, não sem ao menos lembrar da existência de Klaus. Este homem está sendo minha perdição, minha confusão interna. ... Batuco o volante, a noite está estrelada e sem neve. Passo por ruas desconhecidas, mudando a rota. Ao meu lado está uma sacola de alimento, não sei como está a situação, mas presumo que alimento nunca é demais. Depoisdequaseduashorasdirigindochegoàcasa abandonada e estaciono ao lado do carro dos dois. Pego a sacola em minha mão, saio do carro e o som dos meus saltos ecoa no cascalho molhado. A casa está iluminada apenas por velas e luzes à base de bateria. Ao me aproximar da porta ouço risadas vindas de dentro da casa. Passo a mão na maçaneta entrando, vejo que os dois riem na cozinha e coloco a sacola sobre um móvel. - Como estão as coisas? - pergunto ouvindo Rex berrar enquanto joga cartas. - Nosso hóspede teve um tratamento de primeira classe - Ary diz em deboche. Deixo os dois sozinhos e caminho a passos rápidos entrando na sala. Abro minha boca diversas vezes e nada sai. Klaus está irreconhecível, deitado no chão, sem camisa, usando apenas sua calça e com marcas de bitucas de cigarro em seu peito. Neste instante me arrependo amargamente de ter liberado esses dois babacas. Me aproximo dele, observo seus olhos fechados diante do inchaço e não sei se foram meus socos que provocaram isso. - E aí gostou? - Ary pergunta entrando na sala. - Os dois podem ir embora. - Albuim pediu para não te deixar sozinha. - VÃO EMBORA - berro descontrolada. Não sou como esse clã, não faço essas coisas horríveis. Como pude deixar Klaus neste estado? - Mas... - Sem "mas", sumam daqui! Me deixem sozinha! Acham que ele neste estado pode fazer algo? Os dois olham para mim e para o homem caído no chão, logo acabam concordando e saem da casa. Assim que ouço os pneus cantando, me abaixo ao lado de Klaus. Seus olhos azuis abrem o suficiente para fazê-lo falar olhando para mim: - Agora sim está agindo como uma mafiosa. - Seu sussurro é tão baixo que é quase inaudível. - Acontece que não sou assim, tenho um kit de primeiros socorros no carro, vou te ajudar. CAPÍTULO NOVE Cada soco que Edvige me deu, atingiu um ponto que eu queria conhecer dela, pois merecia cada golpe. Quando ela revelou o nome do seu noivo me senti impotente, ver a angústia em seu olhar, algo que eu tinha culpa. Luck Cabot... Como esquecer esse nome? A primeira pessoa que tirei a vida, acabei com ele, atirei poupando o coitado de uma morte lenta que meu irmão causaria a ele. Edvige pensa que foi Heinz, mas eu matei seu noivo. Ficar sozinho com aqueles dois imbecis foi um belo de um castigo. Sentir as bitucas de cigarro queimarem meu peito, foi como sentir na pele o que Heinz faz com as pessoas que ele tortura. A sorte foi que eles passaram a maior parte do tempo discutindo entre si, esquecendo de mim. Fechei meus olhos depois de ver que os dois tinham cansado de me torturar, minhas vistas ardiam e meu corpo parecia ter sido triturado. Não me lembro por quantas horas permaneci assim. Um tempo depois ouvi um berro ecoar pela casa, Edvige estava expulsando seus comparsas. Tê-la ali me trouxe um pouco mais de alívio, não sei qual o motivo, já que ela provocou boa parte da minha dor. Quis fazer uma piada com ela, mas pelo visto ela não gostou, indo até seu carro para pegar um kit de primeiros socorros. Estou deitado de lado, minhas pernas amarradas uma na outra, assim como meus braços presos nas minhas costas. Respirar causa dor em meu peito, por isso me mantenho quieto. Ouço seu salto ecoar pela casa, com um olho meio aberto, noto que ela se aproxima. - Quer que eu te solte? - Sua voz é suave. - Tanto faz - sussurro. Seus dedos soltam a corda do meu pé, em seguida faz o mesmo com meus braços. Com os braços soltos, viro meu corpo, me deitando de barriga para cima. Edvige mexe em algumas coisas ao meu lado e não me preocupo em olhar, não fazendo qualquer esforço. - Isso pode doer um pouco. - Ótimo... - sussurro em sarcasmo. Consigo sentir seu cheiro perto de mim com sua respiração próxima ao meu rosto. Suspiro quando ela começa a limpar meus ferimentos, seus dedos são delicados e precisos. Ainda não consigo acreditar que ela tem toda essa força, tão delicada e ao mesmo tempo uma fera. Abro meus olhos, encontrando os seus muito próximos. - Não deveria ter te deixado junto com aqueles dois. - Acho que eu merecia. - Ninguém merece ser torturado assim. Edvige é uma alma boa querendo vingar seu amor. - Fui um babaca falando com você daquela forma, talvez meu orgulho tenha falado mais alto. - Tento reparar a situação. - Não precisamos voltar naquele assunto. Ter seus lábios tão próximos aos meus não está ajudando, mas desta vez não faria nada, meu corpo não aguentaria mais um soco. Edvige passa a ponta do seu dedo em minha cicatriz, aquela que meu irmão deixou me dando um soco. Seu hálito bate em meu lábio, meus olhos avaliam todas às suas ações, fascinado por ser o fascínio dela. Seus lábios finalmente tocam os meus, doces e ao mesmo tempo suaves. Fecho meus olhos sentindo cada pedacinho da sua pele. Abro minha boca, permitindo o início do beijo. Sua língua vai tomando conta da minha boca, e vou logo chupando, ouvindo-a suspirar. Obeijoélentoeerótico,comoseestivéssemosnos torturando. - Você precisa de um banho, mas... - Ergue o rosto cessando o beijo diante de uma careta. - Não sabe se tem água aqui, não é mesmo? Ela balança a cabeça concordando. - Se tem entrada para chuveiro deve ter água, já que a descarga funciona. - Vou ver e já volto - diz e se levanta. Fico sozinho, com toda minha força me sento e apoiando minhas mãos no chão me levanto, sentindo uma dor horrenda percorrer meu corpo. Ando apoiando nas paredes, chego ao banheiro, vendo-a conseguir ligar o cano que saí água. - Melhor que nada, não é mesmo? - Faz uma careta puxando seus lábios. - Não é um chuveiro mil e uma utilidades, mas o que vou vestir depois? - pergunto erguendo uma sobrancelha. - Trouxe uma muda de roupa do meu primo, talvez fique um pouco curta em você. Assinto abrindo o botão da minha calça. - Deixa que eu te ajudo. - Edvige se aproxima. Queria recusar, mas sei que no estado que me encontro, preciso da ajuda dela. Seus dedos descem a calça por minhas pernas e me apoio na parede para que ela tire meus sapatos. Agora só resta minha cueca. - Quer que eu te deixe sozinho para tomar banho? - pergunta desconcertada. - Você quem sabe. - Dou de ombros, fazendo sinal de que irei tirar minha cueca. Já teria que usar essa saída de água minúscula, não ficaria de cueca. - Ah, tá, eu... Eu... - Suas bochechas denunciam o quanto ela está constrangida. - Vou pegar um sabonete para você. Ela sai me deixando sozinho e deixo a cueca cair por minhas pernas. Entro no que parece ser um box, deixo o jato de água minúsculo cair em minhas costas, seguindo para meu peito e suspiro sentindo a água atingir as marcas de queimadura. - Aqui está. - Edvige aparece com o sabonete estendido para mim. Não tinha notado que ela estava ali, mas pego dos seus dedos. - Vou deixar uma muda de roupa no quarto onde dormimos ontem, aqui está uma toalha para se secar. - Aponta para a toalha que está sobre a pia amarelada devido ao tempo que estava ali. - Trouxe alimentos, vou deixar algo para você comer. Em nenhum momento ela abaixa seu olhar em direção ao meu membro. - Obrigado, Edvige - chamo sua atenção, fazendo com que ela me olhe novamente. - Não banque a egípcia a respeito daquele beijo. Ela não diz nada, apenas sai me deixando sozinho. Sei que é um erro insistir nesse beijo, pois sei que matei o seu noivo, mas sou egoísta o suficiente para querer provar um pouco das suas belas curvas. Não sei como isso pode acabar, mas de uma coisa tenho certeza, eu quero e vou ter Edvige gemendo em meus braços.