Ruiva virgem
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Capítulo 2 Ruiva virgem

- Meus pêsames por sua perda.

- Obrigado.

- Imagino que esteja sendo difícil para você.

- Deve estar sendo para todo mundo. Jonathan sempre foi o mais popular dos Miller.

- Seu irmão realmente foi um homem de exemplo. Todos sentiremos muita falta dele.

- Sim - resmunguei sem me delongar, não estava ali para conversar com um homem que eu nem sabia quem era. - Se me dá licença.

Tentei passar por ele, mas colocou a mão no meu peito.

- O que foi? - Empurrei a mão dele e assumi uma postura mais defensiva.

- Desculpe, não deve se recordar de mim.

- Não.

- Sou Felix Thompson, um dos advogados da corporação Athena, e fui responsável pelo testamento do seu irmão. Preciso que compareça ao meu escritório amanhã para a leitura.

- Eu dispenso. - Dei de ombros. Eu já tinha dinheiro o suficiente para me manter, seja lá o que o meu irmão houvesse deixado para mim, poderiam dar a outro.

- É importante.

- Quando se trata de bens e dinheiro é sempre importante. Isso a minha família tem muito e eu aprendi desde cedo.

- Seu irmão me passou instruções muito específicas em relação a isso. Preciso que compareça, era a última vontade dele. - Me entregou um cartão que eu enfiei no bolso sem nem olhar.

Fiz uma expressão de quem não iria, de quem não se importava, passei por ele e segui até os fundos da igreja.

Era a última vontade dele...

Por mais que eu fosse o rebelde de sempre, aquela frase ficou ecoando na minha cabeça e poderia mudar o curso da minha vida toda, tão potente quanto uma tempestade em mar aberto.

Capítulo dois

Alguns diriam que eu tive dois meses para me preparar para aquele momento, mas esse tempo só fez com que o fatídico dia se tornasse ainda mais doloroso. Sentia como se a minha vida inteira fosse pautada em perdas e sofrimento. Primeiro um homem, que não deveria ser chamado de pai, que batia na minha mãe e em mim. Quando finalmente nos livramos dele, minha mãe pôde ser feliz e eu entrei na faculdade. Tudo parecia ter entrado nos eixos, mas lá estava eu perdendo outra vez.

Conhecer o Jonathan foi um sinal de que pessoas boas também existiam no mundo, que elas traziam alegria e cor para nossa vida. Ele era muito mais do que o meu chefe, se tornara o meu melhor amigo, cuidava de mim e me fazia sorrir. Mesmo depois do acidente, que fez do meu mundo um lugar silencioso, ele estava ali para cuidar de mim.

Jonathan tentou o que pôde, pagou todos os médicos disponíveis, mas o traumatismo craniano que eu sofrera com o impacto havia danificado o meu nervo auditivo, responsável em transmitir o som para o cérebro. Cirurgias ou aparelhos não me fariam voltar a escutar. Estava condenada ao mundo sem as minhas músicas favoritas ou o som da voz da minha mãe, mas eu tinha o Jonathan para segurar a minha mão.

O pedido de casamento certamente fora a sua ideia mais louca.

Em um dia comum como qualquer outro, ele chegou na casa da minha mãe com um buquê de flores e me perguntou se eu queria me casar com ele. Achei que estava contando uma piada, me pregando uma peça ou qualquer atitude insana, mas suas palavras eram reais assim como o anel de diamante.

Jonathan e eu jamais seríamos homem e mulher, porque, para começar, ele nem se sentia atraído por mulheres, mas, segundo suas palavras, era o jeito de garantir que eu sempre estaria protegida, enquanto ele passava a imagem para os pais e colaboradores da empresa de que era um homem hétero com uma esposa.

Não tinha beijo, no máximo alguns selinhos, nunca fizemos sexo, na verdade, eu nunca tinha chegado perto disso com ninguém, mas me casei com o meu melhor amigo. Tinha risos garantidos de madrugada, piadas que ele

havia aprendido a contar em linguagem de sinal, a proteção e o cuidado de quem eu sabia que nunca me deixaria sozinha...

Mas ele me deixou...

Esfreguei os olhos mais uma vez ao me acomodar em uma poltrona verde diante da mesa do advogado. Sentia as minhas pupilas inchadas e a visão embaçada por todas as lágrimas que eu havia derramado desde que o médico disse que não tinha mais jeito, que Jonathan não voltaria para casa comigo.

Há exatos dois meses, estávamos na empresa quando ele teve o primeiro desmaio. Eu não podia mais atender telefone, mas fazia o possível no meu trabalho como secretária e me mantinha ocupada e satisfeita com a função, enquanto ele havia se tornado CEO da empresa familiar.

Estávamos na sala dele, repassando um relatório de produção quando ele apagou. Corri para pedir ajuda, alguém que pudesse ligar para a emergência por mim.

Depois de uma bateria de exames, o diagnóstico foi dado: um tumor maligno no cérebro. Assim como a minha surdez, não tinha cura. Ao contrário de mim, que tinha sido condenada a viver em um mundo silencioso, Jonathan possuía uma sentença: semanas de vida.

Perdê-lo tinha me destruído. Ele era a minha certeza de que o mundo poderia ser melhor, mas sem essa chama, a esperança tinha se extinguido.

Estava irritada, por mais que soubesse não ser culpa dele. Jonathan havia prometido sempre cuidar de mim, não poderia ter partido. Era tão injusto...

Senti Sarah tocar o meu ombro e levantei a cabeça para encarar o advogado. A minha madrasta, que era como uma segunda mãe para mim, era advogada e decidira me acompanhar na leitura do testamento. Eu ficava muito grata, pois, com toda a dor pesando o meu peito, não tinha a menor condição de ficar sozinha.

- Sinto muito pela sua perda, senhora Miller. - Li os lábios do advogado enquanto ele falava.

Como havia perdido a audição depois de adulta, momento em que eu já tinha aprendido a falar, isso facilitou a minha readaptação social, mas precisei compensar o sentido de outras formas para me comunicar, e uma delas foi a leitura labial, pois a maioria das pessoas não sabia usar a

linguagem de sinais. Passei a reparar nas expressões corporais de cada um, na forma como os lábios e o restante do rosto se mexia.

Quando estava diante de alguém em uma conversa em que a pessoa falava devagar, geralmente ela nem percebia que eu havia perdido a minha audição. Só ficava complicado quando me mandavam mensagem de áudio ou tentavam me ligar.

- Obrigada. - Voltei a esfregar as mãos uma na outra.

Percebi que a Sarah havia questionado alguma coisa porque o advogado respondeu:

- Só estamos esperando a mãe e o irmão do senhor Miller. Assenti, movendo a cabeça.

Deveria estar empacotando as minhas coisas na mansão naquele

momento para voltar para a casa da minha mãe, mas Sarah havia me convencido a comparecer à leitura do testamento. Mesmo que não fôssemos um casal de namorados, Jonathan e eu éramos casados.

Surpreendi-me quando braços me envolveram. Demorou um pouco para que eu notasse ser a Kristen, a mãe do Jonathan. Sentia a vibração do ar e sabia que ela estava falando algo, mas sem ver o rosto dela e ler seus lábios, não sabia o quê.

Em linguagens de sinais, disse para a Sarah:

- Peça para ela repetir e olhar para mim. Kristen apartou o abraço e parou na minha frente.

- Pobrezinha, eu sinto muito.

- Obrigada.

            
            

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