E então o humor do Oliver. Nos últimos dias ele tem estado terrível, brigando comigo por tudo. Se recusou a comer seu purê de ervilhas mesmo quando fiz "aviãozinho" com a colher. Voltou a acordar no meio da noite, algo que já não fazia em meses. Ele não estava muito interessado em brincar com seus brinquedos no berçário, e não quis cochilar. Comecei a pensar se não era a crise dos dois anos chegando mais cedo para o garoto.
As distrações me impediam de pintar. Eu tinha um processo e demorei dias para entrar num ritmo e conseguir que os fluidos criativos jorrassem. Vir para o lago com meu material era minha chance de voltar ao normal e começar a produzir arte de novo. Era quase como se Oliver tivesse percebido o que eu estava tentando fazer e estivesse lutando para chamar minha atenção. Eu amo meu filho com toda minha alma, mas isso estava começando a me deixar esgotado.
Agora a primeira entrevista para nossa nova babá terminou sem nem ao menos começar. Um pequeno erro embaraçoso – que nem foi tão embaraçoso assim – e Veronica fugiu como se a casa estivesse em chamas.
Liam e eu nos encaramos quando a porta da frente bateu. "Correu tudo bem", disse ele com sarcasmo.
"Eu não sei o que houve. Ela ficou envergonhada daquele jeito porque pensou que éramos um casal gay?"
"Ou a pergunta que você fez. Ela foi demitida de seu último trabalho como babá?"
"Aparentemente sim. Ela diz que foi por motivos pessoais, seja lá o que isso for."
"Parece que ela está escondendo algo. Que pena. Ela pareceu ser muito organizada."
"Uma pena", concordei. No momento em que abri a porta eu me senti cativado por Veronica. Cabelos loiros nos ombros, exuberantes lábios vermelhos, sobrancelhas pontiagudas e longos cílios que batem rapidamente enquanto ela fala. E que corpo...
Eu chacoalhei a cabeça. "Devo ir atrás dela?"
Liam hesitou. "Você tem certeza de que precisa de uma babá?" "Eu preciso conseguir pintar", eu disse. "Já faz muito tempo.
Você sabe disso melhor do que ninguém."
"Isso é verdade. Já tem muito tempo desde que suas últimas obras estiveram em exposição na minha galeria. Mas eu não quero uma babá atrapalhando todo o resto do que planejamos para a casa do lago.
Todo o resto do que planejamos. Essas palavras tinham múltiplos significados. Era um lembrete das razões reais pelas quais estávamos no lago este verão quando Pax chegou. Eu estava nervoso.
Na verdade, eu estava apavorado.
"Como uma babá pode atrapalhar?", eu perguntei.
Liam deu de ombros. "Ela pode julgar a situação. Especialmente se levar algumas tentativas para encontrarmos a mulher certa. A última coisa que eu preciso é de uma babá me olhando torto enquanto eu tento aproveitar."
Tentei imaginar a reação de Veronica se soubesse o que temos em mente. "Eu não acho que seria estranho para ela. Ela me parece o tipo de mulher que vai na onda."
"Talvez", disse Liam, duvidoso.
"O mais importante é encontrar alguém para ajudar com o Ollie", reiterei. "Isso é mais importante do que o resto todo. E a Veronica tem mais experiência do que as outras candidatas."
Liam terminou seu leite com chocolate pós-natação e me deu um tapinha no ombro. "Estamos aqui para você, cara. O que você quiser."
Mas eu não sabia o que queria. E esse era o problema.
Fechei a porta da frente atrás de mim e corri pelos degraus até o estacionamento. Lágrimas jorravam dos meus olhos. Eu não tinha apenas arruinado outra entrevista, mas também gasto as últimas quarenta pratas da minha conta no banco em gasolina pra chegar até aqui. Agora vou precisar estourar meus cartões de crédito.
Dívida no cartão de crédito é exatamente o que preciso, pensei, amargamente.
Parei do lado de fora do carro para tomar fôlego. Tudo o que eu tinha no mundo estava dentro do porta-malas. Eu não tinha para onde ir. Nenhuma entrevista para aguardar ansiosamente. Não tinha nada positivo na minha vida para me fazer continuar.
Eu contei até dez para conseguir me controlar.
O cascalho rangeu quando outro carro emergiu das árvores em direção ao estacionamento. Minha primeira suposição foi de que era outra candidata ao cargo de babá chegando para a entrevista, mas o carro que estacionou perto do meu era elegante e brilhante. Era um carro esportivo, tipo um Corvette só que mais novo. Também era completamente silencioso, exceto pelo barulho dos pneus no cascalho.
Um homem – claramente não era um candidato – desceu pela porta do motorista. Ele era alto e esbelto, de cabelos castanhos perfeitamente arrumados e um belo rosto emoldurado pelos óculos de sol. De calça social e camisa de botão, parecia que ele estava vindo do escritório. Ele tirou os óculos escuros e me olhou de cima a baixo com seus olhos verdes penetrantes.
"Por onde você andou minha vida toda?", ele perguntou.
Foi muito brega, se alguém em um bar me falasse aquilo, eu reviraria meus olhos, mas aquele cara era sexy demais para que eu me preocupasse, e naquele momento, precisava de um elogio.
"Connecticut", respondi.
"Foi uma pergunta retórica", ele disse, rindo. "Meu nome é Paxton, mas meus amigos me chamam de Pax."
Antes que eu pudesse apertar sua mão, a porta da frente se abriu e Bryce apareceu. "Espera! Não vá embora!"
"Vocês já estão convidando mulheres?", Pax perguntou a ele. "Vocês disseram que iam esperar até que eu chegasse."
Bryce abraçou Pax rapidamente, os dois se deram tapinhas nas costas. "Ela veio para a entrevista para o cargo de babá."
"Oh. Oh!", Pax olhou para mim com os olhos maiores do que bolas de bilhar. "Droga! Desculpa ter flertado com você. Pensei que você fosse... bem, não pensei que você fosse a babá. Se eu soubesse não teria agido assim. Você deve estar pensando que eu sou um grande imbecil."