Capítulo 7 Não foi por Maldade

HENRIQUE

Sai da escola apressado, eu precisava ir andando para pensar bem na minha vida, pensar bem nas coisas que aconteceram nesses últimos três dias, as coisas haviam mudado em um passo de mágica, como uma maldita novata conseguiu acabar algo que construir em dois anos, quando ela só levou um dia. Eu estava tentando chegar em casa o mais rápido possível, eu precisava novamente escrever em meu diário.

Ao olhar para trás, pude ver um carro preto de placa IKP-758, eu conhecia bem aquela placa, até porque melhor do que ninguém, eu conhecia bem o dono do carro. Idiota, estupido e babaca. Eram as únicas palavras que eu conseguia pensar no momento em que vi o Eduardo levando a camila em seu carro. Talvez isso estivesse acontecendo desde o dia daquela maldita festa de comemoração, e como eu fui idiota de não perceber. Um sorriso irônico e um breve aceno foi dado da parte de Camila, se ela queria me deixar mal, parabéns, ela conseguiu perfeitamente, no momento eu estava me sentindo um lixo.

Meu coração doía, mas coração não dói, e se doer provavelmente significa que você está tendo um infarto, eu já estava na praça que ficava a poucos metros da minha casa quando sinto minha cabeça girar, de novo não, maldita ansiedade e maldito homem. Eu estava sentindo meu corpo amolecer, meus olhos cansar e lágrimas ousavam a aparecer , eu não podia chegar em casa assim, não nesse estado. Parei para descansar no parque e lá eu desabei, meus pulmões doíam a cada choro engolido, eu queria chorar, mas eu não podia, não em um lugar público. Sempre me considerei forte, mas dessa vez, eu admitia o quão fraco eu sou.

Sentado em um banco debaixo de uma árvore, apoiei minha cabeça nas minhas pernas e sustentei elas com a mão, lágrimas escorriam do meu rosto, e mais baixo o possível, soluços que saíram sem a minha permissão. Eu queria ficar sozinho e me isolar naquele parque vazio, mas uma voz me despertou e me fez rapidamente levantar a cabeça.

一 Não é legal ficar sozinho em uma praça deserta 一 O dono da voz estava parado bem na minha frente, também com um uniforme escolar, que pertencia a uma escola pública não tão longe da minha.

一 Então não era pra você estar aqui também 一 Respondi voltando a ficar na mesma posição em que estava poucos minutos antes dele aparecer.

一 Mas eu sou teimoso e não tem nada que me assuste mais que a minha mãe com raiva. 一 Mãe com raiva, seu comentário me fez lembrar de uma vez quando o meu pai comeu um pedaço de pizza que ela havia guardado no microondas e ela só o desculpou quando ele apenas comprou uma inteira para ela. 一 Não havia percebido que eu tinha dado uma gargalhada e quando me dei conta ele também estava rindo comigo.

一 Não sei o que aconteceu para você ter ficado assim e vindo chorar aqui, mas se alegre belo moço, provavelmente você se lembrou de algo que te fez rir, seja sempre assim, não deixe que a tristeza te abale. 一 Ele tinha razão, um total desconhecido me fez perceber que não posso me abalar por pouco.

一 É, você tem razão, obrigado por suas palavras.

一 Não há de que. Até mais, a gente se vê por aí. 一 Falou enquanto ia caminhando em direção a saída do parque.

Eu o acompanhei com o olhar até ele sumir da minha visão. Tomei coragem, me levantei e segui em direção a minha casa.

***

Assim que chego em casa, me deparo com uma mãe louca de tanto que chorava assistindo Um porto seguro, esse era o filme predileto dela, e sempre que ela podia, ela assistia para chorar.

一 Mãe eu cheguei.

一 Eu tava tão distraída que nem percebi. 一 Falou fungando.

一 E você tá aí, assistindo esse filme de novo.

一 Melhor do que ver aqueles mortos vivos, que nem cor tem né henrique.

一 Mas a senhora já viu o jake? Minha nossa senhora da bicicletinha sem freio.

一 Espera só até o eduardo ouvir isso.

Eduardo, eu nunca havia ficado desconfortável como eu fiquei ao ouvir o seu nome, e aparentemente a minha mãe tinha percebido, porque a mesma levantou as suas sobrancelhas.

一 Aconteceu alguma coisa entre vocês? você sempre fica vermelho quando escuta o nome dele, e agora você simplesmente abaixou a cabeça.

一 Sinceramente, mãe? Eu nem sei mais de nada, um dia estávamos bem, e no outro tudo desmoronou. 一 Falei enquanto abaixava a cabeça sentindo as lágrimas voltarem.

一 Senta aqui e fala com a mamãe. 一 Disse se sentando e dando leves batidas no sofá.

一 Ai mãe, tudo por causa de uma maldita novata. Ela é vizinha do João, o melhor amigo do Edu, e desde que ela chegou ele tá estranho, ele até deu carona para ela hoje.

一 Eu não sabia que você estava passando por essas coisas, mas tenha fé, vocês são novos ainda, teve uma época em que eu quase terminei com seu pai no nosso último ano do ensino médio.

一 E porque você ia fazer isso?

一 Bom, eu conheci um rapaz de outra sala, bom de conversa, eu admito, e comecei a nutrir sentimentos, mas depois percebi que o seu pai era o único homem que eu amava e precisava.

一 Então ficou tudo normal entre vocês depois? e o que a senhora fez em relação ao outro rapaz?

一 Sim, ficamos bem. Eu simplesmente me afastei, percebi que ele não fazia bem para mim.

Fiquei em silêncio por um tempo e depois avisei que iria para o meu quarto para tomar um banho e que logo descia para a acompanhar no almoço. Minha mãe trabalhava um dia sim e um dia não, existia revisão na clínica, já o meu pai, eu não o via muito, ele vivia em plantão e mais a noite estava em casa.

Ao entrar no meu quarto, me deparei com uma tremenda bagunça na minha cama, dei uma arrumada rápida e joguei a minha bolsa em cima da cama e fui direto para o banheiro. A água estava fria e quanto mais fria era melhor. Ao sair do banho, eu já tinha me vestido e fui deitar na cama para descansar e ao abrir o whatsapp percebi que tinha uma mensagem do Eduardo que apenas dizia: ''Me desculpe por hoje mais cedo, te procurei mas você não estava, então ela se ofereceu para ir comigo pois o joão não queria ir e eu apenas a levei em sua casa''

Bom, esses dias que se passaram ele havia me machucado bastante, mas como a minha mãe havia dito, ''somos muito novos ainda''. No primeiro momento pensei em ignorá-lo, mas eu realmente queria continuar com a minha relação e disse: ''Não se preocupe, eu estou bem.'' e o mesmo me respondeu imediatamente.

''Precisamos realmente ter uma conversa séria Henrique, e sem infantilidade.''

''Você deixou bem claro para mim que nossa relação não está boa, eu já entendi, amor.''

Não houve retorno vindo de sua parte e eu também não iria insistir em algo que não daria em nada, não iria fazer isso comigo novamente. Me levantei da cama e desci em direção a sala de jantar para acompanhar a minha mãe e conversar um pouco mais com ela.

Depois que almoçamos, começamos uma maratona de crepúsculo e por mais que ela não gostasse, ela nunca recusava as nossas tardes de filmes. Perdemos a hora e só quando já estava acabando o segundo filme percebemos que não havíamos feito o jantar ainda.

一 E se a gente comer pizza hoje? Não temos tempo para preparar um jantar.. 一 Minha mãe comentou enquanto coçava a sua cabeça.

一 Olhando assim nem parece que a senhora é nutricionista, você realmente tem um diploma, mãe? 一 Perguntei a fazendo rir.

一 Sim, eu tenho um diploma, e já mostrei diversas vezes para você! Mas sério, não temos tempo para fazer um jantar legal, vou pedir uma pizza.

一 Olhando assim, nem parece que tenho um pai cirurgião e uma mãe nutricionista. Só comemos besteira, mãe.

一 Talvez sim e talvez não. amanhã você prepara um jantar legal.

一 Como se você fosse ficar 24hrs na clínica e não pudesse me ajudar né, mãe.

一 Não vou, mas chegarei cansada. Vou pedir de quatro queijos e calabresa.

Apenas concordei com a cabeça, eu e minha mãe gostamos do mesmo sabor de pizza, então não teria objeção da parte de ambos. Depois de 40 minutos a pizza havia chegado e o meu pai também, acho que de nós três, eu era o único que me alimentava corretamente, mesmo minha mãe sendo nutricionista, ela vivia comendo besteira, mas sempre me alertou o quão alimentos gordurosos faziam mal para a saúde.

Meu pai havia se juntado a nós na nossa pequena maratona, e acabou comentando que ele e minha mãe iriam sair juntos com um casal de amigos dele que ele havia conhecido no trabalho.

一 E vocês nem pensam em levar o filho de vocês, não é? Mas que coisa feia.

一 Dessa vez será apenas para adultos, mas irei marcar um jantar aqui, vai que você faça amizade com a filha deles. 一 Falou o meu pai.

一 Acho que já está tarde para você ficar acordado filho, amanhã você terá aula. 一 Minha mãe falou apontando para o relógio e no mesmo instante em que vi o horário, pedi a benção e fui direto para o meu quarto para dormir.

Ao amanhecer, fiz minha higiene e coloquei o meu uniforme e vamos lá para mais um dia de aula, pelo menos seria a última aula da semana. Eu havia chegado um pouco atrasado, o professor permitiu a minha entrada e eu havia me sentado na carteira atrás de claryssa, na frente de Lucas.

一 Henry, você e o bombadão brigaram? 一 Lucas tinha me perguntado sussurrando e eu não havia entendido o motivo.

一 Sim e não, mas porque?

一 Ele pegou na bunda da novata hoje, bastante oferecida ela também.

Eu sabia que ele não tinha dito por mal, mas ao ouvir suas palavras o meu sangue ferveu, e no mesmo instante senti meu rosto arder e minha garganta travar, não tinha mais salvação para o meu relacionamento.

Eu não havia me concentrado o suficiente nas aulas, e quando percebi, o Lucas estava me chamando e só despertei quando a claryssa começou a brigar com ele.

一 Você não tinha nada que dizer isso para ele, olha só lucas, você só faz besteira.

一 Não foi por maldade, eu só fiz uma pergunta, não fica assim comigo vai.

Eu só ouvia zumbido, Claryssa levantava e abaixava a sua mão, enquanto Lucas apenas escutava calado, ela realmente estava detonando ele.

一 Pessoal, parem de brigar por favor. 一 Pedi com educação finalmente voltando a prestar atenção nas coisas.

一 Ele não tinha nada que comentar aquilo com você, esse bobalhão.

一 Eu já disse que não foi por mal, porque você não acredita em mim em?

一 Porque será não é? Você é mesmo um fofoqueiro de carteirinha lucas.

一 Pessoal, ta tudo bem.

Eu não queria ver eles começarem a brigar por algo que eu precisava saber, o Eduardo já não era o mesmo e eu estava reconhecendo isso.

一 Desculpa henry. 一 Lucas pediu abaixando a cabeça, ele estava arrependido.

一 Eu precisava saber para abrir meus olhos em relação a ele.

一 Tudo bem, tudo bem. Vamos comprar nossos lanches que estou morrendo de fome.

一 Diz uma coisa que você não está, você sempre tá com fome, garota. 一 Eu comentei a fazendo rir, pelo menos alguém estava se animando.

Depois que pedimos os nossos lanches, sentamos nas cadeiras da lanchonete e o Lucas comentou sobre a festa do seu primo.

一 Meu primo vai dar uma festa amanhã, ele passou na faculdade e vai dar uma festa de comemoração e mandou eu chamar meus amigos, vamos? 一 Ele perguntou.

一 Eu topo, preciso me divertir e acho que você também henrique.

一 Tudo bem, eu vou também.

Ficamos conversando um pouco mais e assim que o sinal tocou fomos direto para a sala de aula, eu havia prestado mais atenção nas aulas que já tinham passado e agora eu estava na última aula que era de educação física.

Após já estarmos todos com o uniforme da aula de educação física, o professor chamou todos nós para o centro da quadra que lá, ele iria começar um jogo e eu até imaginava que jogo seria, acho que seria o que eu mais odiava em, todo o mundo, Queimado.

一 Então pessoal, pra quem não me conhece sou o professor Jailton de Educação física. Hoje eu quero fazer uma brincadeira com vocês, mas direto, um jogo.

一 Ai professor, estou morrendo de cólicas, quer me dispensar dessa não? 一 Andrenia uma menina magrela comentou.

一 Não lindinha, pois o jogo te ajudará bastante, o movimento te ajudará na dor.

一 Então pessoal, jogaremos queimado, e como só tem dezoito alunos, vou dividir em grupos de nove pessoas.

Ao ver a lista de alunos, ele separou por nome, na verdade mais por escolha e eu fiquei no mesmo time que o eduardo, antes do jogo começar vi que a camila tinha chegado perto dele e disse alto o suficiente que queria ver ele acertar ela do mesmo jeito que ele acertou na bunda dela, e no mesmo instante comentários maldoso surgiram, como por exemplo. ''Além de corno é corno manso'', esses comentários estavam me deixando bastante chateado.

A aula passou voando tipo um beija flor, e todos nós fomos colocar a calça para largar novamente, e dessa vez, voltei para casa acompanhado por Lucas e Claryssa e como todos os dias, foram muitas risadas.